Peguei essa matéria do Bruno Galo lá no blog novo do caderno Link do Estadão.

Depois de uma bem sucedida passagem por São Paulo, a exposição interativa Rebobine, Por Favor criada pelo criativo diretor francês Michel Gondry se prepara para aterrissar no Rio de Janeiro, a partir da terça-feira, 9.

Na comédia homônima dirigida por Gondry e que já está disponível em DVD, Jack Black e Mos Def vivem uma dupla que, após apagar acidentalmente as fitas VHS da locadora em que um deles trabalha, passa a recriar os filmes destruídos (como Robocop e Os Caça-Fantasmas) em versões toscas ou “suecadas” (sweded, em inglês), como eles chamam no filme.

Mesmo antes do lançamento, Gondry explorou, com grande sucesso, a “suecagem” na campanha de marketing do longa. A brincadeira virou até mania no YouTube. É possível encontrar versões de fãs para Kill Bill, O Senhor dos Anéis, Forrest Gump, entre muitos outros.

A idéia do “faça você mesmo” está na essência da exposição, que fica no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, até 9 de agosto. Lá visitantes previamente inscritos no site do evento recebem orientação para criar os seus próprios curtas em cenários reais do filme. Como no longa, o resultado fica disponível para “locação”, em uma loja cenográfica que faz parte dos cenários. Confira! Eu fui e recomendo.

Trailer do documentário Stolen, sobre o roubo do Isabella Stewart Gardner Museum em Boston em 18 de março de 1990. Na ocasião 2 homens disfarçados de policiais bateram a porta dos fundos anunciando que o museu havia sido invadido, os seguranças abriram a porta e foram rendidos. Os 2 ladrões afanaram 12 obras de Vermeer, Degas, Manet, Rembrandt e Flinck. Nenhuma das obras foi recuperada, esse roubo é considerado um dos maiores de todos os tempos.

No site do FBI é possivel saber mais detalhes e ver as imagens.

Nesta quarta-feira, 3 de junho, às 18h30, no Centro Cultural Branco do Brasil, Centro do Rio de Janeiro, mais uma sessão mensal sobre jornalismo literário, com dois convidados e Marechal (o Alvaro Costa e Silva) dando uma de mestre de cerimônia, fazendo a mediação no debate com o público. A dupla de convidados? Os craques Ruy Castro e Sérgio Cabral. O tema em jogo? As biografias de mitos nacionais… Oh Carmen Miranda! Oh Nara Leão! Imperdíveis! Imperdível!

lá do Correio da Lapa

É o meu novo vício. Correio é invenção do grande jornalista Alfredo Herkenhoff (irmão do Paulo e do Augusto). Correio é uma mistura de poesia, delírio, cinema, fotolog, notícia, coluna social e muito mais. Fiquei chocado com a descoberta tardia (a terceira do domingo maravilhoso com gol de cabeça do Adriano Imperador da Gávea e do Alemão. A primeira foi o blog do Henrique Pereira e depois o da Noemi Jaffe). Alfredo é anterior ao dilúvio, fez a cobertura de Noé construindo sua arca e convocando os animais. Vivia as noites da Lapa até outro dia mas agora tá mais quieto em casa. Tem oito anos de material pré-produzido pra injetar no blog Cooreio anarquico da Lapa. Nesse material Alfredo me disse que tem entrevistas antigas, algumas inéditas, outras semi-ineditas, tem Helio Oitiica com Antonio Dias etc. No Correio da Lapa Alfredo publica uma porrada de fotos dele, inclusive essa série obsessiva do Pão de Açucar (ao todo são 2000 fotos da pedra que ele fez entre 2003 e 2004).





Ontem também descobri o blog quando nada está acontecendo da Noemi que está linkado lá no Cicero. De novo um sentimento de delicia (pelas coisas que vou ler) e tristeza (por nao ter lido ainda) tomou conta de mim. São textos lindos que enchem a cabeça de alegria e deixam o corpo leve com vontade de voar. Peguei alguns lá e coloquei aí embaixo mas bom mesmo é visitar e se perder pelo blog com calma.

Domingo, 31 de Maio de 2009
armênia
não conheço a armênia. mas hoje, nos olhos do dono de um restaurante, eu a conheci.
Postado por noemi às 16:56

Sábado, 30 de Maio de 2009
sono
quando eles dormem, embora já grandes, parecem pequenos, na desproteção livre do seu sono. olho, beijo e acaricio o cabelo de cada um. lembro de quando eu os carregava no colo. tudo isso me dá uma pequena paz, que é tudo de que alguém precisa.
Postado por noemi às 08:11

Domingo, 17 de Maio de 2009
arte
conheci uma mulher que trabalha como arrumadeira numa galeria de arte. com o tempo, de tanto ver as obras e os artistas, ela criou sua própria coleção imaginária. uma coleção mental, mas numerada, catalogada e avaliada toda na memória. outro dia ela veio correndo e disse: comprei! comprei mais um! ela escolhe as obras minuciosamente, demora para arrematá-las e finalmente decide. então cataloga na memória e numera. já possui quatrocentas e tantas. agora diga: quem é o artista aqui?
Postado por noemi às 08:11

Sexta-feira, 15 de Maio de 2009
ninho
coleciono ninhos. mas só ninhos já abandonados pelas mães passarinhas: aqueles que caem ou os que ficam abandonados nas árvores. e não os procuro. são eles que precisam vir até mim, se não não quero. o porteiro da escola veio hoje me mostrar um ninho de beija-flor incrustado numa fenda do muro do estacionamento. enfiou a mão lá dentro e o retirou. uma concha de paus, barbante e fio de nylon muito bem entrelaçados, formando uma trama mínima. menor do que uma palma da mão fechada. lá uma beija-flor fêmea chocou e de lá nasceu um beija-flor pequeno, que agora já deve ser grande e já deve ter beijado milhares de flores, numa velocidade maior do que o nosso olhar é capaz de captar. e o ninho dele, sua casa, mora na minha parede. ninho – que nome lindo para uma casa.
Postado por noemi às 06:33

Quinta-feira, 14 de Maio de 2009
lagarta
o marceneiro que estava aqui em casa me disse: olha!. na ameixeira do quintal tinha uns doze papagaios. grandes, azuis e verdes, comendo ameixas. comiam como se fossem macaquinhos. descascavam a pele, mordiam e cuspiam o caroço fora. fiquei dançando pela casa como uma lagarta listrada. à noite falei pro joão: vieram doze papagaios aqui. ele disse: nada, eram só maritacas.
Postado por noemi às 07:06

Quarta-feira, 13 de Maio de 2009
amarelo
hoje eu vi um corcel amarelo da cor do pudim de laranja que minha avó fazia.
Postado por noemi às 07:42

Terça-feira, 12 de Maio de 2009
água
a leda pegou um táxi outro dia. ele viu que ela lia um livro e disse que adorava ler. que seu ídolo era o fernandes. fernandes? é, o millor fernandes. que ele tinha um livro dele em casa, e que não venderia nem por um milhão de reais. que tinha sido pescador e que pra ele deus existia, sim, mas era a água.
Postado por noemi às 05:39

Coluna do Antonio Cicero publicada na “Ilustrada”, da Folha de São Paulo, sábado, 30 de maio. Peguei lá no excelente blog dele. Mais uma assinado RSS – Google Reader…

O FILÓSOFO Gilles Deleuze diz que “uma boa maneira de ler, hoje em dia, seria tratar um livro assim como se escuta um disco, assim como se vê um filme ou um programa de televisão, assim como se acolhe uma canção: qualquer tratamento do livro que exija para ele um respeito, uma atenção especial, corresponde a outra época e condena definitivamente o livro”.

Por mim, cada qual que leia o que quiser da maneira que lhe aprouver. Contudo, quando leio, por exemplo, as bobagens ou trivialidades que são cotidianamente escritas sobre Nietzsche por alguns dos seus fãs, tenho a impressão de que hoje praticamente todo o mundo já adotou a maneira de ler recomendada pelo autor de “Diferença e Repetição”. E então tendo a achar que Heidegger é que estava certo, quando recomendava aos seus alunos que adiassem a leitura de Nietzsche para depois que estudassem Aristóteles durante uns dez ou 15 anos.

Deleuze jamais concordaria com isso, pois considerava repressiva a história da filosofia. Segundo ele, as pessoas não se sentem no direito de pensar antes de terem lido Platão, Descartes, Kant e Heidegger. Talvez. Mas eu diria antes que quem não quer pensar sempre acha uma desculpa para tal. Se, na França, é a história da filosofia, no Brasil é a filosofia contemporânea que tem esse papel. Tradicionalmente o brasileiro, tendendo a considerar-se atrasado em relação ao que se discute no Primeiro Mundo, não se dá o direito a pensar antes de estar a par do “dernier cri” europeu ou norte-americano. Ora, mal se conhece o “dernier cri” e ele já deixou de o ser, de modo que, correndo-se atrás do próximo, deixa-se para pensar por conta própria mais tarde.

Além disso, quem só deseja estar “up to date” acaba por jamais ler os clássicos. A leitura dos contemporâneos toma-lhe todo o tempo. Tal pessoa espera que os autores da moda lhe indiquem quais dos autores do passado ainda devem ser respeitados (por exemplo, Spinoza e Nietzsche) e quais devem ser desprezados (por exemplo, Descartes e Hegel). E, no mais das vezes, como aquilo que os contemporâneos escrevem sobre os autores que recomendam é considerado justamente o supra-sumo destes, torna-se supérflua a leitura dos originais.

Pensemos no significado desse desejo de ser contemporâneo. “Contemporâneo” quer dizer “do mesmo tempo” ou “do mesmo tempo que”. Quando dizemos, por exemplo, “Mário e Oswald foram contemporâneos”, queremos dizer: “Mário e Oswald foram do mesmo tempo”; e quando dizemos “Leonardo foi contemporâneo de Michelangelo”, queremos dizer: “Leonardo foi do mesmo tempo que Michelangelo”.

Quando, por outro lado, digo que uma coisa ou pessoa é contemporânea, sem explicitar de quê ou de quem, fica sempre implícito que essa coisa ou pessoa é contemporânea de mim, que estou a dizê-lo. Se digo, por exemplo, “Giorgio Agamben é um filósofo contemporâneo”, quero dizer que ele é meu contemporâneo: o que poderia ser dito pelas palavras “Giorgio Agamben é um filósofo do mesmo tempo que eu”. Ou seja, o que quer que seja contemporâneo, sem mais, é contemporâneo de mim (seja quem eu for). É claro que, como a contemporaneidade consiste em uma relação comutativa, não posso deixar de, reflexivamente, me reconhecer contemporâneo das coisas ou pessoas que me são contemporâneas.

Isso significa que não tem sentido que eu – seja quem eu for – me diga contemporâneo, sem mais. “Eu sou contemporâneo” significa apenas: “Eu sou do mesmo tempo que eu”. Assim também, não tem sentido desejar ser contemporâneo, sem mais, pois “desejo ser contemporâneo” significa apenas: “Desejo ser do mesmo tempo que eu”. Finalmente, não tem sentido desejar ser contemporâneo de alguma coisa ou pessoa contemporânea, uma vez que eu já sou, evidentemente, contemporâneo de quem me é contemporâneo.

Assim, o desejo do contemporâneo não passa de sintoma de um agudo provincianismo temporal. Quando se manifesta no campo da filosofia, talvez o melhor antídoto para ele seja exatamente a leitura cuidadosa dos clássicos.

E, de volta a Deleuze, devo dizer que, no lugar de tratar um livro como normalmente se escuta uma canção, acho mais proveitoso, de vez em quando, escutar algumas canções com o respeito e a atenção especial que o bom leitor jamais deixará de dedicar aos bons livros.

É um post que peguei lá no excelente blog do psicologo doutor professor Henrique Pereira chamado Cidade e Alma. Foi a dica da madrugada do Marcelo irmão do Henrique (que lá pelas 2h da matina chafurdava o blog do Antonio Cicero e tentava comprar sem sucesso “o mundo desde o fim”, livro de filosofia do Cicero, onde ele defende uma concepção de modernidade mas que está esgotado no Brasil, disponível apenas numa edição portuguesa…). Cidade e alma é mais um blog assinado no esquema RSS – Google Reader e daqui pra frente não perco mais nada. Delícia. Obrigado Pereiras.

Os Beatles e a Anima

Nelson Rodrigues dizia que ele não seria quem era sem suas “obsessões”. Pois eu também tenho as minhas. E uma de minhas obsessões mais incorrigíveis são os Beatles.

Para quem esteve ausente do planeta Terra nos últimos 50 anos, aqui vai uma breve explicação. Os Beatles foram um dos maiores fenômenos culturais do século XX. Fenômeno a um só tempo de comportamento, indústria e, principalmente, música. A maior parte de suas canções suportou o impiedoso teste do Tempo e continua, depois de quase quarenta anos do término da banda, a alegrar nossos corações. Continua, é preciso dizer, a influenciar uma nova geração de músicos, como é o caso do extraordinário pianista de jazz Brad Mehldau e de Elliott Smith, talentoso cantor e compositor já falecido (“buon’anima!”).

Gostaria de falar dos Beatles de um prisma diferente do habitual, isto é, do musical. Gostaria de imaginar a música do quarteto de Liverpool da perspectiva da psicologia junguiana.

A música dos Beatles foi profundamente marcada pelo que Jung chamou de anima. Por “anima”, entenda-se a face imaginativa, erótica e feminina da psique. James Hillman, analista junguiano, explica:

“Funcionalmente, a anima opera como aquele complexo que conecta nossa consciência habitual com a imaginação, ao provocar desejo ou obnubilar-nos com fantasias e devaneios, ou aprofundando nossa reflexão. Ela é ambos ponte para o imaginal e também para o outro lado, personificando a imaginação da alma. Anima é psique personificada, como Psyché na sua historia antiga de Apuleio personificava a alma”.

Eu diria mesmo que a música dos Beatles pode ser entendida como uma experiência da e com a anima. Primeiramente, a anima surge projetada na figuras de garotas e no relacionamento amoroso juvenil. É o caso de canções dos primeiros discos da banda, algo ingênuas para os ouvidos de hoje, tais como I saw her standing there, I wanna hold your hand e From me to you.

Aos poucos esta projeção foi sendo desfeita ou, antes, transformada. A anima foi tornando-se mais uma espécie de potência imaginante a investir outras temáticas e mesmo outras formas de fazer música. As canções dos Beatles foram então ficando mais complexas na forma e no conteúdo. Começam a romper com o formato de combo, introduzindo elementos orquestrais e instrumentos exóticos, como a cítara. Surgem experimentações com feedback. A anima dos fab four passou a ser vivenciada como a própria imaginação criadora — a femme inspiratrice — do grupo.

Mas foi depois da segunda metade de 1966, quando a banda decidiu parar de apresentar-se ao vivo, que a criatividade dos Beatles parece ter de fato explodido. Interessante observar que a retirada da projeção da anima coincide então com a retirada dos Beatles dos palcos.

De 1966 em diante, os Beatles vão se tornando musicalmente mais ousados. O trabalho em estúdio se sofistica. A cada faixa de cada disco uma surpresa, uma revolução sonora: they boldly go where no man has gone before. A criatividade da banda do sargento pimenta parecia inesgotável. Deste período, podemos citar, dentre tantas canções maravilhosas, Tomorrow Never Knows (influência indiana, budismo tibetano e experimentação eletrônica), Honey Pie (foxtrot), Revolution (temática política), Blackbird (reinvenção de música erudita, temática ético-política), Something (o fascínio misterioso da amada), Because (reinvenção do clássico), Sun King (surrealismo), Her Magesty (ironia iconoclasta).

Personificada, a anima se revela, por exemplo, nas personagens femininas de Eleonor Rigby, Lovely Rita, Lady Madonna, Julia e Let it be (“Mother Mary comes to me”).

Para finalizar: imaginemos os Beatles como um fenômeno arquetípico. O quarteto inglês como uma espécie de mandala, uma imagem arquetípica do si-mesmo. Por emanar um fascínio mítico, sua música tem encantado tanta gente durante tanto tempo. Lennon & McCartney (seguidos de perto por Harrison), esses herois pós-modernos, ajudaram e ajudam a tornar a miséria de nossa condição humana mais suportável.

Por Francisco Bosco e Eduardo Socha

foto de Emiliano Capozoli Biancarelli

CULT – Em seu blog, você se mostra encantado pela influência de São Paulo e procura até mesmo esterilizar todo juízo de valor relacionado à força dessa influência, quando coloca lado a lado o Museu da Língua Portuguesa, a Sala São Paulo, a Daslu e o res-taurante Fasano. Por que São Paulo não aparece em suas novas canções?
Caetano – Porque moro no Rio e passei todo o ano de 2008 no Rio, construindo o repertório do novo disco. É um disco carioca de nascença e de formação. Fala de lugares e pessoas do Rio. Sempre tenho saudades de São Paulo. E me orgulho muito de ver a força da cidade se afirmando cada vez mais. Você está certo em notar que é significativo que o Fasano e a Daslu apareçam ao lado do Museu da Língua Portuguesa e da OSESP. Várias pessoas no blog protestaram, como se eu tivesse dito uma blasfêmia. Mas o momento de percepção da força não é o momento do julgamento moral ou político. A visão que inclui o Fasano é da mesma natureza da visão que surge em “Sampa”. Acho tolice pensar que maculei meu texto sobre São Paulo por incluir conseguimentos empresariais marcantes, mesmo que envolvam denunciadas ilegalidades. Desejo é passar mais tempo em São Paulo e, mesmo sem isso, escrever músicas em que coisas e climas da cidade apareçam.

CULT Há muito afeto dedicado ao Rio nas letras e na ambientação sonora deste último disco. Por outro lado, comparado àquilo que você fala de SP, tem-se a impressão de que o Rio está passando por um grande deficit de autoestima. É só impressão?
Caetano – Não é só impressão. Embora eu preferisse não usar aqui a expressão “defict de autoestima”. O Rio passa por longa ressaca da perda do status de capital e enfrenta gradativa relativização do status de centro cultural do país. Baianos entendem muito disso. Mas a autoestima arraigada na formação dos cariocas não se desfaz facilmente. Ela se conflitua, perde o relaxamento, mas estamos longe de poder falar em deficit.

CULT – Seu trabalho anterior, , é um disco de rock. Antes dele, A foreign sound trazia canções estadunidenses (apesar de pouco eufônico, considero esse o termo conceitualmente correto), por meio das quais você pensava as relações entre a música do Brasil e a dos EUA. Agora você apresenta um disco, zii e zie, com a noção de “transamba”. Pois bem, por que dedicar um pensamento cancional ao samba, nesse momento? Há alguma razão cultural, histórica nesse interesse? E como você entende essa noção de “transamba”?
Caetano – Eu só fiquei com vontade de pegar umas maneiras bem simplificadas de tocar samba no violão (a partir de umas estilizações que Gil fazia – e que eu usei em “Madrugada e amor” e “Eleanor Rigby”) e levá-las para a banda de rock que armei com Pedro Sá pro . Fui compondo já pensando nisso. Como era uma espécie de reprocessamento de elementos rítmicos do samba, me ocorreu a palavra transamba para apelidar o lance. O Marcos Maron já tinha usado essa palavra num disco dos anos 70. Mesmo assim, mantive a palavra na capa do disco (nunca foi pensada para ser o título). Agora, a motivação histórica eu não sei. O samba é tema perene para quem lida com música no Brasil. Mas não posso deixar de notar que esse disco sai num período em que muita gente grava samba. Há também uma fagulha rebelde: samba e rock são as áreas mais protegida criticamente e as que mais autorrespeito exibem – mexer nesses santuários me excita.
Achei gozado você dizer “estadunidense”, pois no blog discuti com uma argentina que implicava com a palavra “americano” para caracterizar os que nascem nos Estados Unidos. Mas é que não gosto de fingir que não se sabe do que se está falando, quando se sabe. Se digo “filme americano”, “música americana”, “ele é americano”, todos sabem do que estou falando. Para ir fundo na questão do nome do país mais rico do mundo, temos de começar por constatar que ele não possui um. Tanto eu em Verdade Tropical quanto Godard em Eloge de l’amour dissemos isso extensivamente. “Estados Unidos” não é um nome – e América é o nome do continente em que aquele país (aliás o nosso também) se estabeleceu. Os hispanoamericanos escrevem “estadounidense”, com o “o” de “estado” (mas sem o “s” do plural). Em português, esse ditongo “ou” pesaria no meio da palavra. Evitamos. A nossa palavra é um pouco melhor. Mas me é ainda tão incômoda que não vejo no esboço ressentido de problematização do nome do irmão do norte razão para usá-la. A Foreign Sound tem muito a ver com isso: é um disco rechea-do de inteligência sobre os meandros da força imperial. Há dicas de sobra nas notas do encarte a esse respeito. O rock de vem eivado de discussão íntima e pública dessa complexa textura histórica. O transamba de zii e zie é complemento natural desse passo. Isso é parte do que eu diria, se estivesse constante e conscientemente levando em conta esses aspectos da criação a que você se refere em sua pergunta.
CULT – Ao contrário das letras de , que eram concisas e curtas, as letras de zii e zie tendem à expansão. A letra brevíssima de “Base de Guantánamo” é uma frase em prosa sobre uma indignação política. Durante os shows de Obra em progresso, você abria um espaço em que comentava temas da atualidade. Finalmente, houve a criação do blog, onde você propôs discussões cujo leque abrangia da lingüística ao carnaval, do rock à filosofia. Você diria que está tendendo cada vez mais à discussão verbal, ao amor pelas idéias? É claro que sua obra cancional sempre foi reflexiva – e também sua obra em outras linguagens -, mas você diria que isso está se radicalizando (se é que é possível)?
Caetano – Eu sempre brinco com isso. Mas a piada mais radical que fiz nesse sentido foi O Cinema Falado. Adoraria fazer um filme totalmente narrativo, popular, e com poucas palavras. No caso da obraemprogresso, acho que coisas que aconteceram no palco levaram ao uso do blog como lugar para discutir qualquer assunto. Começou com o alegado racismo de Noel em “Feitiço da Vila”. De fato, aquele “feitiço sem farofa, sem vela e sem vintém, que nos faz bem” parece dizer que o samba, tendo chegado à classe média de Vila Isabel, se livrou dos aspectos africanos e passou a ser “decente”. A Vila, aliás, tem “nome de princesa”, a que assinou a lei abolindo a escravidão. Tudo isso é demasiado sugestivo para que ninguém tenha tentado entrar na questão. Claro que eu não classifico Noel como um racista, mas esses aspectos do “Feitiço da Vila” (bairro que, aliás, é descrito na letra como não tendo ladrão) sempre me pareceram gritantemente negligenciados.
Quando o discurso sócio-político brasileiro se racializou, para o bem e para o mal, eu cedo meditei sobre essa canção. Não queria deixar de contar isso, levantar essa lebre. Depois veio Fidel escrevendo que eu e Yoani Sánchez (que tem um blog crítico da vida em Cuba) somos exemplos de submissão ao imperialismo ianque. Depois meu pé atrás com os sociolingüistas, que passei a conhecer um pouco melhor justamente porque revelei meus grilos com eles. (Acho que eles podem contribuir muito, mas temo que eles tenham estado demasiado eufóricos com a cientificidade da matéria que estudam e ponham a gramática sob suspeição, antes que encorpemos um projeto de letramento das massas brasileiras – e tudo isso demasiado evidentemente atrelado à política partidária e mesmo eleitoral.) Assim, tudo no blog virou discussão de botequim. Bem legal. Mas eu não creio que eu tenda a me dedicar mais à discussão de ideias do que já tenho feito. Não estou preparado para fazer isso sistematicamente.

CULT – Um dos filósofos mais debatidos no mundo, hoje, é Slavoj Zizek, a respeito do qual você disse, em seu blog: “não penso como Zizek mesmo!”. Você poderia explicar em que consiste essa divergência exclamativa?
Caetano – Talvez a exclamação se devesse ao contexto da discussão daquele momento. Zizek é pop. Ele também é um intelecto superexcitado e tem erudição em várias áreas. Ampara-se em Hegel e Lacan para louvar Matrix, filme que, para mim, é um abacaxi de caroço. Ele gosta desses esquemas que dizem que somos sempre manipulados. Quanto mais claro pensamos, mais presos estamos a ideologias que camuflam interesses. Mas eu fico com Antonio Cicero quando lembra Hanna Arendt a esse respeito. Zizek tem o charme de falar no que a esquerda em geral evita mencionar: ele prefere ter algo positivo a dizer sobre as paradas fascistas da Coréia do Norte do que fingir que não as vê. Eu li Bem vindo ao deserto do real, um livro curto, e In defense of lost causes, um grosso volume. Ele convoca Robespierre, Lênin e Mao e exalta a revolução violenta. No fim, ele elege a causa ecológica como a escolha certa da esquerda para exercer o terror.
Eu tinha lido um artigo de Nelson Ascher na Folha predizendo isso. Na altura, achei o artigo de Ascher reacionário e algo simplista. Ao ler a conclusão de In Defense of Lost Causes, achei que Ascher tinha razão. Para Zizek, toda crítica à liberdade de expressão nos países comunistas é mera tramóia liberal burguesa. Além disso, ele grila com o café descafeinado. Qual o problema? Café não é cafeína. Nesse caso, ele faz uso indevido das palavras. Bem, além desses dois livros, li artigos esparsos e vi dois documentários americanos sobre ele (lá nos States, passa no cinema e tudo: ele é uma estrela). Num, segue-se uma turnê de palestras. No outro, vê-se Zizek comentando filmes. Assisti à palestra dele na UFRJ. Ele é um cara enérgico, engraçado, sua muito e pronuncia todas as letras das palavras inglesas – com a adição de um cicio. Resulta simpático. Achei irresponsável ele dizer aquelas coisas a um bando de jovens brasileiros. Mas acho que a exclamação no meu comentário se deve a ele ter falado mal do carnaval.
Só preciso te dizer que leio sempre, mas sempre muito sem método ou mesmo critério. Por exemplo, comprei Coração das trevas no aeroporto, em dezembro, indo para Salvador. Ao chegar lá, comentei com Paulo César Sousa a qualidade da tradução de Sérgio Flaksman. Paulo então me disse que acabara de ler um romance estranhíssimo de Conrad, chamado Under western eyes – e me trouxe o exemplar. É um livro incrível, em que Conrad conta uma história que prende o leitor como Crime e Castigo e onde ele mostra que a autocracia russa, marca do Csarismo, estava presente no espírito dos revolucionários russos que se refugiavam na Suíça. E prediz o estilo autocrático que sairá de uma revolução feita por eles. O romance é de 1908, creio. Estava impressionado com isso, quando uma amiga americana me trouxe de Nova Iorque um exemplar de The Nigger of The Narcissus (ela e eu tínhamos uma discussão sobre o problema da palavra “nigger” no país dela) e Tuzé Abreu, me ouvindo falar de três livros de Conrad me trouxe Lord Jim e Linha de sombra. Passei grande parte do verão lendo Conrad, coisa que não planejei, nem sequer imaginei que fosse fazer. Paulo ainda me deu um livro chamado The Great Tradition, um estudo crítico da ficção inglesa, em que Conrad aparece ao lado de George Elliot e Henry James como os seus maiores representantes. Aí li com atenção especial a parte sobre Conrad. É assim, minhas leituras são definidas pelo acaso. Agora estou lendo The Pirate’s Dilemma, um livro otimista sobre internet, pirataria e desrespeito aos direitos autorais. Então, minhas opiniões sobre cultura livresca devem ser tomadas com um grão de sal.

CULT – Ainda em seu blog, num post a respeito da história recente e do papel cultural, político e econômico das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, você declara: “Só mais tarde tomei contato com pessoas que olhavam para o Brasil com um jeito arrogante, como se fossem de uma grande cidade do mundo e tivessem que arrastar essa África às costas. Entendi que alguns queriam salvar o Brasil, outros, livrar-se dele. Passei a chamar isso (irresponsavelmente) de USP”. Você poderia desenvolver essa passagem e nos explicar como compreende o papel da USP na história recente do Brasil?
Caetano – Acho o papel da USP impagável. (E adorei chegar à dubiedade semântica dessa palavra.) No blog eu estava falando meio poeticamente sobre São Paulo. O aceno risonho à USP surgiu rápido demais no parágrafo. Além de contribuir com a elevação do nível da “massa crítica”, a USP orientou nossa política real. Tanto FH quanto Lula são crias da USP. Sei que os dois grupos reagem contra essa simplificação. É que não é uma simplificação. É uma complexificação para além do pensamento (predominantemente paulista) que opõe PT a PSDB. Eu gosto de Marina Silva.

CULT – Você parece manter uma relação de amor e ódio com a USP, reconhecendo a importância política (incluindo aí FH e Lula) mas tratando o pensamento uspiano como aquele que queria se livrar do Brasil. Existe ainda função política ou “civilizacional” da universidade?
Caetano – Percebi cedo em São Paulo as oscilações entre querer livrar-se do Brasil, querer salvá-lo ou querer alcançá-lo em sua brasilidade. Muitas vezes a inveja, o desprezo e a condescendência se mesclam numa mesma pessoa. Não acho que a USP seja exemplo do desejo de se livrar do Brasil. Não foi o que eu escrevi no blog. Todas as nuances dessa particularidade paulista se encontram na USP (e a particularidade descrita não repre-senta o todo da relação de São Paulo com o resto do país). Mas a “brasilificação do mundo” não significa a mesma coisa para José Miguel Wisnik e para Paulo Arantes. Oswald de Andrade e Haroldo de Campos não significam a mesma coisa para Roberto Schwartz e para Leyla Perrone-Moisés. Se lêssemos a Folha de S.Paulo entre os anos 1980 e 90, sentiríamos que a USP dominava a imprensa, era seu núcleo crítico. Ainda hoje o adornianismo impera até em cadernos de rock’n’roll para adolescentes. O que é a ironia das ironias.
Assim, os neo-conservadores (com todas as grossuras que lhes são características) brilham como um grupo contrastante em ambiente dominado. Não nos enganemos: não estamos falando da USP, mas de uma certa esquerda desenvolvida na USP. Pois há conservadores na USP, inclusive convidados a preencherem as janelas de direita que os jornais descobriram que precisavam abrir. A reação é mais geral: é contra a hegemonia da esquerda. Natural que, sobretudo em São Paulo, algum jornalista se anime a falar em “esquerdopatas da USP”. Eu acho esse tom cafajeste e sem graça porque é superficial. Não apenas esse período FH-Lula não seria possível sem a esquerda uspiana: a universidade tem tido e ainda terá grande papel a desempenhar no nosso amadurecimento político e civilizacional.
A razão de minha birra com o que chamo de USP está descrita pelo próprio Fernando Henrique na conversa com Mário Soares: ele conta que, como sociólogo, ele tinha se oposto a Gilberto Freyre, mas que o exercício da presidência o tinha levado a rever seu julgamento. Como eu gosto de Gilberto Freyre sobretudo por suas conseqüências políticas (as conseqüências históricas do mito luso-tropicalista se tornaram mais palpáveis a FH quando ele teve de enfrentar o Brasil real), considero a crítica que o ex-presidente sustentava antes aquém da intuição mais lúcida do significado da experiência brasileira. E toda teimosia em manter os termos dessa crítica hoje me parece caricatural. FH deu uma desmunhecada quando se abriu vaidosa e descuidadamente para João Moreira Salles na revista Piauí. Lula em geral está além, e não aquém, da intuição luso-tropicalista. É um presidente que soa sempre eufórico e deslumbrado. Mas há algo real no móvel do deslumbamento de Lula. A USP é top de linha na vida acadêmica brasileira. Ainda tem muito a dar. Mas a vida acadêmica brasileira terá de mudar muito – e espero que isso venha como conseqüência de alguma inspirada revolução no ensino básico. Mas entenda que eu próprio não sou luso-tropicalista: a escolha da anedota de FH versus Freyre foi apenas paradigmática.
CULT – Paulo Arantes fala da tendência sociológica que vê uma “brasilianização do mundo”, ou seja, a exportação do nosso modelo social de favelização, precarização do trabalho, distanciamento maior entre centro e periferia e também do nosso jeitinho para negociar com a norma. Para essa tendência, o Brasil virou o país do futuro, mas de um futuro nada romântico. Em “Falso Leblon”, por outro lado, você pergunta melancolicamente “o que faremos do Rio quando, enriquecendo, passarmos a dar as cartas, as coordenadas de um mundo melhor”. Que mundo seria esse, inspirado pelo Brasil?
C aetano – Seguramente não seria o mundo descrito pelo americano que Paulo Arantes cita. O Brasil não corresponde, quando o olho com lucidez, à visão que Paulo Arantes tem dele. No início do século 20, você lê a comparação feita por Lima Barreto entre o Rio e Buenos Aires. Antes disso, você lê em toda parte que as universidades e a imprensa chegaram aos países hispanoamericanos séculos antes de chegarem ao Brasil. No entanto hoje eu tenho às vezes de ser condescendente com argentinos que sentem despeito da arrancada brasileira. E Machado e Euclides chegaram aonde chegaram. E Guimarães Rosa. E João Gilberto, Jobim, Niemeyer, Pelé, Chico Buarque. Partimos de um país selvagem, inculto, de cidades sujas, cheias de negros ex-escravos e mestiços desrespeitados. As mudanças que tenho visto desde a minha adolescência são muito rápidas e muito grandes para que os mais letrados entre nós só repitam que não andamos. É loucura.
Mas sem crítica e sem lamentos tampouco se anda. Então está bem. Mas alguém precisa alertar para os conseguimentos, senão não há responsabilidade. O que se ouve em “Falso Leblon” é algo que pode se dar ao luxo de ser dito em tom melancólico: não precisa de euforia. Um solitário entristecido pela visão de uma bela jovem degradada pode meditar sobre o possível enriquecimento e fortalecimento do país onde nasceu e vive. Jorge Mautner diz que “ou o mundo se brasilifica ou vira nazista”. Eu sou diferente de Mautner, mas também o amo muito por dizer isso. Nosso “jeitinho para negociar com a norma” talvez contenha mais elementos do que sonha a sociologia de Arantes. Nenhum país real produz um futuro real que seja o que hoje podemos chamar de “romântico”. Se o futuro que o Brasil esboça é desde já criticável, é sinal de que já estamos longe de poder simplesmente rir do livro de Stefan Zweig. E que o Brasil já é visto como algo que desenha mesmo o futuro do mundo.
Eu não estou tão convencido, apesar de Arantes e seus colegas aglófonos catastróficos. Há europeus continentais (é o caso de um italiano que escreveu “Hedonismo e medo”) que veem o Brasil como modelo para o futuro do mundo – para o bem e para o mal. Mais para o bem, já que o “jeitinho para negociar com a norma” é visto por eles como um modo interessante (e misteriosamente promissor) de metabolizar os males sociais.
CULT – Você foi uma das primeiras pessoas no Brasil a chamar a atenção para o pensamento de Roberto Mangabeira Unger. No livro O que a esquerda deveria propor?, o atual Ministro defende um pensamento alternativo de esquerda, para além da nostalgia e da social-democracia. O que mais te atrai nessa proposta?
Caetano – Quem me deu a dica foi José Almino. Ele me mandou ler os artigos de Mangabeira na Folha. Desde os anos 80 que o que ele escreve me interessa. É uma contribuição sofisticada e original. Para mim, o importante do Brasil é ser essa oportunidade de originalidade. Lendo Mangabeira, senti que gente como ele pode elaborar o que eu não poderia senão sonhar. Sempre me interessei por alguma coisa que supere o estágio a que chegamos na história humana. Sou artista, me sinto no direito de não fazer por menos. Zizek, que, erroneamente, contrapõe sua preferência por Chávez ao apoio a Lula dado por Toni Negri, menciona Mangabeira de raspão entre os pensadores de esquerda que tentam pensar algo novo. Pois bem, requentar Stalin e Khomeini para se mostrar valente diante da lucidez liberal não me parece novo. É louvar a velha sangueira que produz opressão. Mangabeira vai fundo na análise do conceito de “capitalismo” em Marx, por exemplo, para chegar a propor grandes transformações que prescindam da guerra. Isso para mim é novo. É sonhar com mudanças que mudem mesmo. Eu já sonhava isso para o Brasil antes de conhecer o professor Agostinho da Silva. Ler Mangabeira, com essa perspectiva, apoiando Brizola quando eu apoiava, Ciro quando eu apoiava, me fez repetir o nome dele por mais de uma década para uma imprensa que se recusava a publicá-lo. Há algo de religioso em tudo isso. A aposta dele, como a de Agostinho, é num milagre. Eu não sou religioso. Mas desejo mudanças do tamanho de milagres. Isso não me parece necessariamente irrealista.

CULT – O mandato de Lula termina no ano que vem. Em 2006, em entrevista à CULT, você disse que, embora o achasse mítico e simpático, não votaria na sua reeleição de jeito nenhum. Você acha que o “esse é o cara” do Obama mostra apenas que Lula é um mito que ultrapassou fronteiras ou acha que isso sinaliza de fato uma transformação geopolí-tica maior?
Caetano – Obama se espelhou em Lula. Até “boa pinta”, que ele é mas Lula não, rolou na fala. Mas esse espelhamento não teria permissão para se declarar se não conviesse ao poder americano que Lula fosse agraciado com elogios. Há transformação. Lula e Obama a simbolizam bastante bem. E a crise dá espaço para hipóteses ambiciosas. Ou meramente catastróficas. Mas o Brasil que saiu da era das ditaduras, com a abertura do mercado efetivada por Collor – e que passou pela globalização nas mãos de Fernando Henrique e Lula – é um país com maior peso internacional. Vi ontem Anabasys, o belo filme sobre a feitura de A idade da terra, e nele ouvi Glauber xingar Delfim Neto. Glauber o faz de um ponto de vista da esquerda estatista que ele representava ao apoiar Geisel (corretamente lido como um estatista-nacionalista que faria a abertura), embora a esquerda o atacasse por apoiar um presidente militar. Hoje Lula ouve conselhos de Delfim, a quem faz elogios.
Lula vive a euforia de ver o amadurecimento econômico do país acompanhado de um crescente prestígio das coisas brasileiras aos olhos do mundo. Nisso eu me identifico mais com ele do que com seus críticos. À esquerda ou à direita. Embora eu seja mais cético e, em comparação, um tanto melancólico. Sua chegada ao poder, a de um operário iletrado, é um êxito enorme na Europa desde o começo. Durante a crise do mensalão, vi reações de proteção a Lula na Itália e na França, mais até do que entre petistas brasileiros. Lula é figura internacional. Obama reafirmou isso. Os Estados Unidos precisam de um Lula forte e um Chávez negociador. Ninguém é burro nessa turma. Votei em Lula chorando de emoção. Nunca me arrependi de tê-lo feito. Acho que ele se sente capaz de aproveitar o plano real de FH, o milagre brasileiro de Delfim/Medici, a industrialização de Juscelino (que, aliás, tornou possível seu surgimento) e o populismo getulista. Nunca antes neste país.
Mas nunca desejei que Lula se reelegesse. Nem desejo que ele eleja Dilma e volte em seguida. Aliás, em minha impaciência, votei contra (e torci contra) a reeleição de FH e de Lula. Achei que 16 anos de esquerda uspiana no poder seriam demais. Mas até que o resultado é, para nossos parâmetros, bastante bom. Mesmo porque, mal chegam lá, eles se veem longe da visão que os engendrou como figuras políticas fortes. Muitas vezes se chama de traição a simples evidência de amadurecimento. Odeio políticas antiquadas de favores, corrupção e fisiologismo, odeio mensalão também – mas não desprezo a aproximação entre Lula e Delfim, nem entre FH e Toninho Malvadeza. No primeiro caso, era preciso chegar lá – e nenhum presidente não petista poderia ter um economista da ditadura, apoiador do AI-5, em posição de guru. No segundo, às vezes só se supera um quadro arcaico confundindo-se com ele e, astuciosamente, desconstruindo-o. No final do governo FH, ACM, Jader Barbalho e Sarney pareciam figuras superadas. Voltaram com tudo na era Lula. Mas Lula tem força própria e uma vaidade histórica do tipo que me parece útil agora. Pareço dizer loucuras? Mas se sua pergunta já começa com aquela do Paulo Arantes…
CULT – Se fosse preciso (você pode recusar tal necessidade), como você se definiria politicamente? De esquerda, de direita, de centro, social-democrata, liberal?
Caetano – Nessa hora eu adoraria ser americano: nos EUA “liberal” quer dizer “de esquerda”. Eu estaria unido a palavras que produzem bem-estar. Aqui tenho de me contorcer e dizer que sou de uma esquerda transliberal. Digo também que sou de centro mas não estou em cima do muro: estou muito acima do muro. Mas isso tudo é fanfarronice de artista.
Eu aplico o termo “direita” a conservadores reacionários. Todo o pessoal de esquerda gosta de citar Alain dizendo que se alguém diz que não há tal divisão “direita e esquerda”, esse alguém é de direita. A observação é aguda e engraçada. Mas pode servir justamente a propósitos conservadores. Volto a Antonio Cicero: há uma reação à modernidade que se organiza em áreas do que chamamos direita e em áreas do que chamamos esquerda, hoje. Concordo com ele que desqualificar os direitos individuais, os direitos humanos propriamente ditos, é uma manobra conservadora profunda – que você pode encontrar tanto em Olavo de Carvalho quanto em Slavoj Zizek. Tanto no cardeal que excomunga os médicos que fizeram o aborto da menina estuprada pelo padrasto quanto no dirigente comunista que nega o direito de ir e vir dos cidadãos do seu país. Ou o direito de crítica. Cicero não é bobo de pensar que todos os sofisticados da academia não pensam que ele simplesmente quer limpar o terreno de toda a riqueza conceitual que vem desde Heidegger e Wittgestein, passando pelos frankfurtianos, até os pós-estruturalistas, para voltar – num movimento de contravanguarda filosófica – ao racionalismo vulgar dos iluministas. Cicero sabe que enfrenta essa questão com bravura.
Para ser sincero, com meu espírito místico e meus instintos de vanguarda, não sinto as coisas como ele sente. Além de ser muito ignorante para de fato entrar no debate. Mas não dá para seguir em frente repetindo Adorno ou ecoando Deleuze sem responder as questões que Cícero põe. Ele vem de um marxismo estruturalista (Althusser) e reencontra o melhor do liberalismo inglês e do racionalismo francês porque pensou mais do que os que apenas se ilustraram ou mesmo se refinaram muito. Ou seja: para se ir adiante tem-se que superar a crítica que ele faz. Eu o encontro em meu realismo radical, em minha paixão pela lucidez e pela justiça. Somos amigos e ele também é artista (na verdade, poeta), mas se eu encontrasse O mundo desde o fim por acaso, e não conhecesse o autor, eu ficaria tomado. Eu considero minhas confusões e a limpidez do pensamento de Cicero à esquerda de todas as formas de negação da modernidade. Digam-me que uma razão unívoca não pode dar conta dos nós da superpopulação (sou louco pelo Lévy-Strauss de Tristes Trópicos – e adorei ler hoje que Euclides da Cunha profetizou com grande clarividência os problemas ecológicos que enfrentamos), dos enigmas da mecânica quântica, do mistério complexo das culturas. De acordo. Mas não usem esse espantalho para desenterrar formas já testadas e já rejeitadas. Pode ser que haja um grande retrocesso na civilização. Mas ele não terá em mim um de seus arautos.
CULT – O que pensa da proposta de alteração da lei Rouanet? Ela de fato impulsiona o dirigismo estatal na cultura? Que implicações dessa mudança você veria, em particular, na produção musical?
Caetano – Sinceramente, nunca pensei a lei Rouanet do ponto de vista da música popular. Sempre considerei o negócio da música muito bem-sucedido no Brasil. Não parecia precisar de incentivos maiores do que os que já tinha. A área que me vem à mente logo que se fala em lei Rouanet é a do cinema. Quando da tentativa de se instaurar a ANCINAV, eu reagi vigorosamente. Toda a força que o cinema brasileiro ganhou desde que se livrou da política assassina de Ipojuca Pontes, ministro de Collor, se deveu à lei Rouanet. E, depois, à lei do audiovisual. Não tenho talento para acompanhar tecnicalidades jurídicas. Mas naquela altura, era nítida a tendênca dirigista. Até sugestão de que as obras estivessem de acordo com as políticas de governo (mormente o projeto Fome Zero!) constava do documento. Desta vez, noto que o ponto mais criticável da proposta é o desaparecimento da cláusula que desautorizava julgamento subjetivo do valor artístico, político ou moral da obra. Também a insinuação de que os trabalhos passariam, em certa medida, a pertencer ao Estado dentro de um determinado prazo. A caracterização do poder executivo (o MinC) como co-produtor é incorreta e suspeita. Não creio que Juca seja um dirigista. Ouço-o falar e acredito nele. Mas leis são feitas para serem usadas por governos sucessivos. Não pode haver brecha para dirigismo. E esse novo projeto é muito vago em tudo o mais, dependendo de futuras decisões a respeito de detalhes importantes. Mas, como da outra vez, acho que o bom-senso prevalecerá. Naquela ocasião foi o próprio Lula quem cortou o mal pela raiz. Antes disso, eu fui pessoalmente agredido na revista Carta Capital por ter feito coro aos protestos de cineastas. Passei a chamar a Carta Capital de “a Veja do Lula”. Mas Lula driblou as ingenuidades do projeto da ANCINAV. Agora não é caso para ele entrar diretamente na briga. Mas Juca deve ouvir a queixa dos produtores.
CULT – Seu disco comprova mais uma vez que a canção permanece, apesar daqueles que não hesitam em decretar o fim do gênero, um campo aberto para a reflexão sobre a própria linguagem (como se percebe no deslocamento métrico da guitarra/baixo com a bateria na reinterpretação de “Incompatibilidade de gênios”, ou no minimalismo que vincula harmonia e letra em “Perdeu”, ou na fusão rítmica entre rock e samba que está em outras canções). Mas o gênero ainda aparece também como campo para declarações políticas e de protesto (mais visível na declaração sobre Lula e FH em “Lapa”, Osama e Condoleeza em “Diferentemente”, e na pancada monocórdica de “Base de Guantánamo”). Apesar disso, você concorda com um certo esgotamento do potencial estético e também político da canção?

Caetano – Sou um apaixonado da canção. Meu amor imenso por João Gilberto vem de perceber que ele é o conhecedor profundo do espírito da canção. A cultura pop, tal como a conhecemos, com a canção e o cinema na frente, é algo que chegou ao ápice no século 20. As transformações tecnológicas, políticas e econômicas por que estamos passando esboçam um novo quadro. Chico Buarque comenta que alguém – creio que um italiano – chamou sua atenção para o declínio da forma canção, comparando-a à ópera no século 19. Além disso, Chico se impressionou, com razão, com o fenômeno do rap, que surgiu como a música de protesto escrita diretamente pelos que estão à margem das áreas dominantes da sociedade, e não por compassivos garotos de classe média. Sou mais pop do que Chico, então vivi esse entusiasmo no início dos anos 80 (por causa do filme Beat Street escrevi “Língua”, música que, na própria letra, se intitulava “samba-rap”, profetizando o que Marcelo D2 faria mais de uma década depois).
Passados tantos anos, cansei da insistência na ostentação de carros, jóias, mulheres como objetos de luxo, desaforos raciais, namoro com chefetes do tráfico: vi essa cultura influenciar os garotos de Santo Amaro (minha cidade natal) e de Guadalupe (bairro de minha infância no Rio) e tendi a perceber fragilidade na política desse gênero de expressão. Mas sempre soube que julgamentos políticos de obras artísticas não funcionam. Então, além de o rap me interessar formalmente (adoro as batidas que enganam a expectativa rítmica do “suíngue”, ou as divisões dos vocais canto-falados que executam drible igual), acho que o interesse conteudístico de suas manifestações está na poesia que nasce dessas contradições, desses desacertos – na tragédia dessa forma de ex-pressão. Mas não acho que o rap represente algo pós-canção. É, talvez, um dos sintomas de que o tempo da canção está passando. Se é que está mesmo passando. Formas artísticas não se prendem ao seu tempo. Ninguém sabe o que futuros amantes encontrarão em canções como “Flor da idade” ou “Blackbird”, “Don’t think twice” ou “Maracatu atômico”. A canção gravada em disco e tocada em rádio é marca do século 20. Isso é que está mudando. Mas A CANÇÃO é velha como a humanidade: cantos japoneses, poemas provençais, Lieder alemães do século 19 – tudo isso veio antes da canção do século 20 – e muito mais virá depois.

29/05/200918h34

da Folha Online

da Reuters, em Nova York

Obras dos artistas brasileiros Lygia Pape (1927-2004) e Helio Oiticica (1937-1980) bateram recorde de preço em um leilão realizado nesta sexta-feira na Christie’s de Nova York.

"Metaesquema 19", de Helio Oiticica, bateu recorde para o artista em leilão nos EUA

A pintura “Metasquema 19”, de 1957-1958, de Oiticica, foi vendida por US$ 186,5 mil (R$ 368 mil). Já um trabalho sem título, realizado por Pape em 1954, alcançou US$ 86,5 mil (R$ 170,7 mil).

“Artistas brasileiros, cubanos e mexicanos continuaram a ter uma performance sólida”, afirmou Virgilio Garza, do departamento de arte latino-americana da casa de leilões.

Ao todo, o leilão levantou mais de US$ 11 milhões (R$ 21,7 milhões). Outros artistas se destacaram nas vendas, como Willys de Castro (1926-1988) e Mira Schendel (1919-1988), nascida na Suíça, mas radicada no Brasil.

“Composição Azul”, um trabalho em guache de Castro, foi vendido por US$ 47,5 mil (R$ 93,7 mil).

Uma obra sem título de Schendel foi vendida por US$ 52,5 mil (R$ 103,6 mil). O recorde anterior da artista era, segundo a Christie’s, de US$ 18 mil (R$ 35,5 mil) e foi atingido em um leilão em 2005.

México, Cuba e Argentina

A obra com o maior preço atingido durante o leilão foi “Fuego en el Batey”, do cubano Mario Carreno (1913-1999), de 1943, que atingiu US$ 2,1 milhões (R$ 4,1 milhões).

A obra “The Giantess” foi arrematada por US$ 1,42 milhões (R$ 2,8 milhões). A autora, a artista mexicana nascida na Inglaterra Leonora Carrington ainda vive e está com 93 anos.

Um autorretrato de Diego Rivera (1886-1957) de 1941 foi outro destaque no leilão. Vendido por US$ 1,02 milhão (R$ 2 milhões), a obra foi realizada quando o artista tinha 55 anos.

“Pintura” (1988-1989), do argentino Roberto Aizenberg (1928-1996), alcançou US$ 146,5 mil (R$ 289,1 mil).

Passa hoje na ESPN as 19h30, o doumentário do Spike Lee sobre o jogador de basquete Kobe Bryant do Los Angeles Lakers. O filme faz parte da série “30 for 30” que a ESPN produziu para comemorar seus 30 anos, e que tem outros 29 cienastas convidados. Hoje na Ilustrada tem uma matéria do Inacio Araujo a respeito. Obs: Spyje é torcedor fanático do NY Knicks.

do SOBREMUSICA escreveu o texto abaixo. Eu não fui mas ouvi dizer e li em um montão de lugares que o show realmente foi especial.

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SOTAQUE

Uma das grandes mudanças do mundo de internets e coisas-e-tais é a nova e inevitável convivência com sotaques. Não dá pra fugir de um sotaque, seja lá qual for. Uma possível explicação seria que em mídias de massa predominantes anos atrás, a padronização era viável e economicamente interessante. Dava tempo de botar todos os elementos para seguir normas estabelecidas. Hoje, por maior que seja a empresa, há uma concorrente ágil nas decisões que tem um outro jeito de dizer a mesma coisa. A solução geral não é combater um r espichado ou um s chiado, mas incorporá-lo, sempre. Para o bem ou para o mal, a fluidez está batendo a rigidez, a novidade ganha as ruas antes dos testes de praxe, e a gente se livra de filtros. Os ouvidos estão espertos e não dá mais pra entender só o que soa como de costume. Vai-se com o que está na ponta da língua.
Siba e a Fuloresta são antes de mais nada uma banda com sotaque. Portanto, antes que a aparência fale mais alto e leve em um raciocínio apressado a sons regionais, a conclusão certa é outra. Troque a pressa pela agilidade. Siba e banda têm sotaque, logo são artistas de um mundo século XXI, de uma lógica de internet e coisas-e-tais. De cara dá pra perceber isso. Na capa do disco ou no cenário, estão os magrelos amarelos de cabeça grande e olhos pequenos de grafite de Osgêmeos. Nos metais, frases rápidas que em outras bandas poderiam ser de baile black. Nos tambores, células rítmicas que repetidas incessantemente dispensam a necessidade de uma base de harmonia. Pode soar complicado, mas é coisa que está em rave e baile funk. A voz é o que guia a melodia, e a ginga dela é que vai guiar também a cadência, o groove. Moderno não é o contrário de tradicional.IMG_1157IMG_1085'
O que significa que baile é baile, festa é festa, e não importa o sotaque. Siba de mestre-de-cerimônia sabia na noite de terça, no Rival, que embora a qualidade de som fosse muito melhor, não poderia repetir o calor que tinha causado na outra apresentação do disco Toda Vez Que Eu Dou um Passo/O Mundo Sai do Lugar, em Santa Teresa, na experiência doida e deliciosa da Embaixada de Pernambuco. Daquela vez, em uma sala apertada e quente, uma pequena multidão se aglomerava em pé enquanto pulava batendo ombro e bunda mais ou menos por ocasião e circunstância.
Na noite de terça, o público estava sentado, e só uma fogueira em tanta mesa e cadeira podia abrir espaço para alguma coisa. Não foi de uma hora pra outra, nem foi tão ao pé da letra, mas umas duas ou três rodas de ciranda se abriram já na terceira parte do show, segundo a divisão enunciada pelo próprio Siba. Até ídolo de myspace e twitter deu as mãos pro sogro: rei!
A primeira parte era o concerto – hora de ouvir o deboche do amor ao time na terceira divisão (pensa bem se não é uma temática universal que caberia em um disco solo do Noel Gallagher) ou a conquista do mundo com a batuta de maracatu em punho de Toda Vez Que Eu Dou Um Passo…, misto de número de cantador, maracatu, abre-alas e referência óbvia a Chico Science (um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar). Não à toa, Galego do Trombone emendava passos de folclore da Zona da Mata com outros de break de Bronx no início dos anos 80.IMG_1119'IMG_1143'
Depois da participação de Jam da Silva, o pernambucano a quem se deve prestar atenção agora, começou o que Siba chamou de baile. Ficaram mais coniventes os namoros com marchas de carnaval, frevos, e tantas confusões quanto é possível quando se esquece o que é rural, urbano, centro, periferia e tantos outros conceitos que ficam pra trás na velocidade… de um passo.
A terceira parte foi a invasão do espaço da escuta, quando o palco ficou vazio. Depois de uma e duas ameaças, Siba puxava o cortejo entre as mesas apertadas e as cadeiras já abandonadas. Aos poucos, entre rimas e ataques de metal e pele de tambor, a festa espalhava mobília e empilhava gente e obstáculos. Hora da fogueira. Era o mais perto que o teatro da Petrobras podia ficar da sala sem ventilação de Santa Teresa. Mais que aquilo, na terça, nem milagre.
Aí alguém há de perguntar: mas misturar música e botar cadeira em cima da mesa não é uma coisa que rola até em sarau de banda cover em colégio? A resposta é: não, não com sotaque (uma das grandes mudanças do mundo de internets e coisas-e-tais, de que não dá pra fugir, seja l…).
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Heitor Martins é eleito presidente da Fundação Bienal.

Matéria de SILAS MARTÍ da Folha de S.Paulo.

O empresário Heitor Martins, 41, foi eleito nesta quinta-feira (28) presidente da Fundação Bienal de São Paulo. Candidato único ao cargo, ele teve 28 votos a favor, um contra e duas abstenções –27 conselheiros foram à reunião na Bienal e quatro votaram por meio de procuração. Sócio-diretor da consultoria financeira McKinsey, Martins é investidor e colecionador de arte, casado com Fernanda Feitosa, criadora da feira SP Arte.

Além dele, foram eleitos ontem para a diretoria e o conselho todos os nomes que havia sugerido, priorizando profissionais do setor financeiro para dirigir a instituição e colecionadores para integrar o conselho.

Minutos após a eleição, Martins adiantou à Folha a intenção de convidar mais de um curador para realizar a próxima Bienal, sendo um deles estrangeiro. Ele terá como prioridade agora apresentar propostas para realizar a mostra em outubro de 2010 –o evento corria o risco de ser adiado para 2011 por falta de verbas e atrasos na escolha do curador.

“Essa é a primeira missão, fazer a Bienal em 2010 e expandir a sua conexão com o governo e com diversos níveis da sociedade”, disse Martins.

Com apoio declarado do ministro da Cultura, Juca Ferreira, com quem se reuniu na última terça, Martins diz que vai buscar agora estreitar laços com os governos do Estado e do município, além de patrocinadores da iniciativa privada.

Também disse que a escolha do curador será uma decisão dele e de sua diretoria, em vez de uma eleição de projetos submetidos à fundação, como ocorreu nas duas últimas edições da mostra. Segundo ele, serão nomes que nunca fizeram uma Bienal de São Paulo.

Estão na nova diretoria Jorge Fergie, sócio de Martins na consultoria McKinsey; Eduardo Vassimon, ex-vice-presidente do banco Itaú BBA; e os empresários Luis Terepins e Pedro Barbosa. Outros membros são Justo Werlang, ex-presidente da Bienal do Mercosul, o colecionador Miguel Chaia e o advogado Salo Kibrit.

Por indicação de Martins, passam a integrar o conselho da Fundação Bienal: Alfredo Egydio Setúbal, Carlos Jereissati Filho, José Olympio Pereira, Paulo Sérgio Coutinho Galvão Filho, Susana Steinbruch e Tito Enrique da Silva Neto.

Aqui tem uma entrevista, que saiu quarta na Ilustrada onde Heitor afirma que a dívida da Bienal não é tão absurda.

Achei foda essa idéia! Bom resultado financeiro para a instituição e diversão para artistas e compradores. Peguei aqui.


On May 2, 2009, the Santa Monica Museum of Art hosted its fifth annual INCOGNITO, a benefit exhibition and art sale. There were 674 pieces, each 8 x 10 inches and priced at $300. Some pieces are by big name artists like Barbara Kruger and Ed Ruscha. Others are by total unknowns. The catch is, buyers don’t find out who they’ve bought until after they’ve handed over their money.


Each piece of art is tagged with a number — patrons trade the tag (and $300) for the actual work and the name of the artist who created it.


The doors to the show open and patrons rush to claim pieces of art.


Patrons flood the exhibition.


Dave Kalstein discovers he bought a work by artist Raymond Pettibon

written by Stefanie Keenan


Inaugura na próxima sexta a exposição Quadro a Quadro no Centro Cultural da Justiça Eleitoral. Com curadoria de Frederico Coelho, design de Sonia Barreto, arquitetura e videos de Gustavo Moura e produção Automatica a exposição é um retrato amplo da obra e vida do fotografo e produtor de cinema Luiz Carlos Barreto em fotos, filmes, documentos, textos etc.

Também na Folha saiu esse texto aí do Marcos Nobre na página 2.

Muggles

“‘HARRY POTTER’ é uma série que marcou a primeira geração para a qual celular, computador e mundo virtual são naturais. Naturais como Nutella. Ao tratar de magia, fala, no fundo, do admirável mundo novo virtual.

A série reserva o nome de ‘Muggles’ para pessoas que não têm poderes mágicos. Traduzido em novos termos, são pessoas que não conseguem se orientar na magia do mundo digital.

Quem passou por experiências como as do mimeógrafo, da máquina de escrever, dos LPs e do fax é um sério candidato a Muggle. Mas, ao contrário do que apregoa a série, ser Muggle não é destino. É uma construção social.

A discussão sobre a chamada ‘pirataria’ na internet, por exemplo, é assunto de Muggles. Parte da falsa premissa de que é possível estabelecer direitos de propriedade na rede como no mundo não virtual.

Na vida da rede, dinheiro e autoria têm novo significado. As práticas colaborativas não têm autor definido. Seus produtos são obras coletivas que se valem de ferramentas inovadoras como as de tipo ‘wiki’ (cujo produto mais conhecido é a ‘Wikipédia’). Refletem a realidade como produto cotidiano coletivo e não segundo a imagem romântica de um mundo forjado por uns poucos gênios e líderes incomuns.

Não que o espaço para o desenvolvimento de individualidades e de grupos tenha desaparecido. Pelo contrário. Consumir cultura na rede transforma a relação de consumo clássica. Já não é absurdo que artistas e grupos possam pensar em viver de contribuições diretas, pulverizadas e praticamente anônimas. E que expressam algo como uma adesão voluntária a um projeto, a uma ideia, a uma forma de levar a vida.. Uma maneira direta de financiar a produção cultural e artística que mina o oligopólio da indústria e dos mecenas, estatais ou privados.

A eficácia da repressão e das campanhas que estigmatizam o compartilhamento de arquivos como ‘pirataria’ não tem que ver com punições, cada vez menos aplicáveis. Tem que ver com o cultivo e a sobrevida do espírito Muggle, com que os detentores de direitos autorais de expressão procuram adiar o inevitável. Aproveitam esse período de transição para explorar ao máximo o patrimônio de que ainda dispõem, até inventarem novas maneiras de ganhar dinheiro com arte e cultura.

Defender a propriedade no mundo virtual nos mesmos moldes do mundo não virtual só tem sentido enquanto ainda sobreviver o mugglismo. Coisa para uma ou duas décadas talvez. Ou para daqui a pouco, caso um súbito movimento organizado de terabytes resolva engoli-lo de uma hora para outra.”


Saiu na coluna NA REDE, na Ilustrada da Folha SP de hoje, esse texto da Fernanda Ezabella.

“De perto, ninguém é normal. Ou, numa variação cinematográfica do ditado popular: de perto, todo mundo tem um quê de personagem de filme de David Lynch. Para quem duvida, é só acompanhar os 121 curtas-metragens comissionados pelo diretor norte-americano de ‘Cidade dos Sonhos’ e ‘A Estrada Perdida’, que serão postados na internet, um a cada três dias, durante um ano, até junho de 2010.

O primeiro será liberado na próxima segunda-feira, inaugurando o ‘Interview Project’. Segundo o próprio Lynch, os curtas são documentários de três a cinco minutos, ‘retratando americanos comuns e, às vezes, bem incomuns, de todo o país’.

A série de curtas foi realizada por um time de diretores, liderado pelo filho do cineasta, Austin, e por um misterioso Jason S. A equipe cruzou mais de 30 mil km da América profunda, durante 70 dias, para coletar dezenas de histórias.

‘É um projeto pé na estrada, onde as pessoas foram sendo encontradas e entrevistadas’, diz Lynch no vídeo de apresentação do site. ‘O time achou essas pessoas dirigindo pelas rodovias, indo a bares, em lugares diferentes. É tão fascinante ver e ouvir essas histórias. É uma chance de conhecer essas pessoas, é algo humano, que você não pode deixar passar.’

‘Como eu me descrevo?’, pergunta uma mulher que teve sua história registrada e aparece no vídeo de apresentação. ‘Quais eram meus sonhos de criança?’, diz outro entrevistado. ‘Meus planos para o futuro?’, continua um terceiro.

Um aperitivo da série

Apesar de só começar na semana que vem, três vídeos já foram liberados, todos com introdução de David Lynch. Dois estão em tiny.cc/lynch853. O terceiro pode ser visto em tiny.cc/lynch210.

Em Bozeman (Montana), a equipe achou Jenny Brown, 17, cujo sonho era ser bailarina. Com sua voz infantil e corpo largo, ela conta que o pai a tratava mal quando criança e que a mãe tentava protegê-la. Imagens dela no sofá de casa são intercaladas com cenas de peixes num aquário e um cachorro branco de três pernas. Anthony é o protagonista do segundo curta. Lynch diz que ele foi encontrado andando de bicicleta em Dumas (Arkansas). Sem os dentes da frente, ele faz seu monólogo sentado numa cadeira no quintal malcuidado de sua casa, porém enfeitado com um anão de jardim.

O terceiro vídeo, que Lynch divulgou em twitter.com/DAVID_LYNCH, conta a vida do aposentado Sean Freebourn, 62, em Missoula (Montana), cidade natal do diretor.

‘Tive câncer e precisei me aposentar’, explica Freebourn. ‘Não fui a nenhum médico. Era uma noite de Ano Novo e eu desabei, fui parar no hospital, fiquei um mês por lá.’ Uma câmera estática colhe o depoimento do homem de barba branca, sotaque pesado, ao lado de uma cerca capenga. Poderia muito bem ser um personagem de ‘A História Real’, filme de Lynch que, como outros, se passa numa cidadezinha.”

A coleção Todas as Artes, da editora Martins, lança Pós-produção e Estética Relacional, do teórico e crítico de arte Nicolas Bourriaud (já havia falado dele aqui por ocasião da Trienal da Tate).

Os livros apresentam pontos em comum ao descrever a sensibilidade coletiva na qual se inserem as novas formas da prática artística, tomando como ponto de partida o espaço mental que a internet abriu para o pensamento. Enquanto Estética Relacional trata do aspecto convivial e interativo dessa revolução, Pós-produção apreende as formas de saber geradas pelo surgimento da rede, propondo orientações diante do caos cultural e deduzindo novos modos de produção a partir dessa desorganização.

Estética Relacional é uma obra composta por textos – atualizados e revisados – publicados em revistas especializadas, como Documents sur l´Art, e em catálogos de exposições, além de alguns inéditos. No final do livro há um glossário para facilitar a leitura e familiarizar o leitor com os termos empregados na área de artes.
Bourriaud levanta questões sobre os verdadeiros interesses da arte contemporânea, suas relações com a sociedade, a história e a cultura. Discute a necessidade de saber interpretar as novas abordagens da arte com relação a sua forma material, tendo como ponto de partida a arte dos anos 1960.

O escritor investiga a sensibilidade coletiva em que se inscrevem essas novas formas da arte, detendo-se na vertente convivial e interativa dessa revolução, procurando saber por que os artistas passaram a produzir modelos de socialidade e a se situar dentro da esfera inter-humana.

Com as relações humanas estabelecidas dentro de espaços de controle que decompõem o vínculo social em elementos distintos, a prática artística aparece como um campo fértil de experimentações sociais ao efetuar ligações que possibilitam abrir algumas passagens obstruídas e várias utopias de proximidade.


Em “Pós-produção”, o autor nos mostra como entender e interpretar as novas manifestações artísticas de arte em nossa época abordando as relações entre a cultura, em geral, e a obra, em particular. Todas essas práticas, embora muito diferentes em termos formais, recorrem a formas já produzidas. Elas inscrevem a obra de arte numa rede de signos e significações, em vez de considerá-la como forma autônoma ou original.

O ponto de partida da obra é o espaço mental mutante que a internet – ferramenta central da era da informação – abriu para o pensamento, apreendendo as formas de saber que o gera. Assim, é possível orientar-se no caos cultural em que estamos mergulhados, deduzindo, a partir dele, novos modos de produção.

Bourriaud mostra que, surpreendentemente, as ferramentas mais utilizadas para produzir esses modelos relacionais são as obras ou estruturas formais preexistentes, em que os produtos culturais e as obras de arte constituem um estrato autônomo capaz de fornecer instrumentos de ligação entre os indivíduos.

Sobre o autor:
Nicolas Bourriaud (França, 1965). Escritor, crítico de arte, curador de várias exposições, fundador da revista Documents sur l”Art, é autor de teorias sobre a arte contemporânea, explicitadas em seus títulos: Formes de vie – L”art moderne et l”invention de soi e Pós-produção – Como a arte reprograma o mundo contemporâneo, também lançamento da Martins.

ESTÉTICA RELACIONAL (Coleção Todas as Artes)
Autor: Nicolas Bourriaud
Editora: Martins
ISBN: 978-85-99102-97-8
Preço: R$ 25,50
Páginas: 152 pp.
Tradução: Denise Bottmann

PÓS-PRODUÇÃO – COMO A ARTE REPROGRAMA O MUNDO CONTEMPORÂNEO (Coleção Todas as Artes)
Autor: Nicolas Bourriaud
ISBN: 978-85-61635-11-4
Preço: R$ 19,80
Páginas: 112 pp.
Tradução: Denise Bottmann

Informações para a Imprensa:
Martins Editora e Livraria
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Tel. (11) 3116-0000



Festival Multiplicidade
está de volta ao Oi Futuro alí na Rua 2 de dezembro 63, no bairro do Flamengo. Como já havia adiantado aqui, na próxima 5ªf dia, 28 de maio, rola o encontro dos mineiros Cao Guimarães + O Grivo.

Segue o resto da programação para 2009 no OI FUTURO:
Muti Randolph e Clara Sverner > 25 de junho
CineMacalé (Jards Macalé + Samir Abujamra) > 23 de julho
Moo > 3 de setembro
Nina Becker e Nuno Ramos > 24 de setembro
JamdaSilva + Oestudio > 29 de outubro
Arto Lindsay e convidados> 26 de novembro

Haverá também no fim do ano 3 apresentações no teatro OI CASA GRANDE, no Leblon. As datas de 10 de novembro e 15 de dezembro ainda estão em aberto mas no dia 13 de outubro já está confirmado o encontro do Dj Dolores e o músico Nana Vasconcelos no espetáculo intitulado Blind Date. Além disso o curador e organizador Batman Zavareze também me contou que ao longo de 2009 acontecerão o lançamento do novo catálogo, itinerância por outras cidades, uma grande exposição reunindo todos os artistas que já participaram do projeto e muito mais. O Multiplicidade cresce sem parar e precisa ocupar mais espaço, outros suportes e mídias. Fico pensando na importância desses desdobramentos e me vem a cabeça a imagem do Mulitiplicidade se espalhando pelo Rio e por outras cidades. O jogo está apenas no começo. E eu estarei/estou na torcida. Vamos nexta!

Recebi a newsletter eletrônica da Secretaria Municipal de Cultura e o texto é esse ai ambaixo…

A rua é o espaço mais democrático da cidade e a grande vitrine da diversidade cultural carioca. É sobre essa premissa que a Secretaria Municipal de Cultura realiza durante os dias 5, 6 e 7 de junho o primeiro Viradão Carioca. Ruas, praças, teatros, cinemas, bibliotecas, lonas e centros culturais terão cultura por todos os lados. “A rua é a sala de visita do carioca e durante as 48 horas do Viradão vai ser o palco de shows, peças, concertos, exposições, leituras, performances, filmes, literatura e circo”, disse a secretaria de cultura Jandira Feghali.
Serão cerca de 300 eventos acontecendo nos quatro cantos da cidade com programações gratuitas ou com preços populares. Toda a cidade vai ser convidada a se mobilizar para o evento, incluindo atrações por adesão. “Esse é um evento multicultural que pretende fazer o carioca conhecer e reconhecer sua cidade”, afirma Jandira. “Nosso lema é a cultura como um direito à cidade e ocupar a rua e os espaços públicos é um passo em direção a isso”.

Além de virar duas noites seguidas com programação ininterruptas, o Viradão quer virar a cidade culturalmente, quebrando paradigmas: vai ter show de rock em trio elétrico, hip hop em quadra de samba, boate nas lonas culturais, música clássica em Santa Cruz. Boa parte dos cerca de 300 eventos programados acontecerá em locais abertos, como os quatro “palcões” na Praça Quinze, Santa Cruz, Madureira e Cidade do Samba, ou ainda nos palcos itinerantes – Viramóvel e Palco sobre rodas – que passarão por diversos bairros.

A Secretaria Municipal de Cultura pretende com o Viradão, que vai fazer parte do calendário anual da cidade, manter a ocupação permanente dos espaços públicos. “O Viradão não é apenas um evento, é uma expressão do objetivo da Secretaria que é a pluralidade. Queremos descentralizar as práticas culturais pois a diversidade e a universalidade do acesso à cultura são os motores da sociedade”, afirmou Jandira.

Dentre as atrações confirmadas – vem muito mais por aí! – estão Mart’nália e Dudu Nobre na abertura do evento na Praça XV, Sandra de Sá e Toni Garrido fazendo um tributo à Tim Maia, na Lona de Santa Cruz, e Elza Soares acompanhada do grupo Farofa Carioca, na Lona de Campo Grande, homenageando Simonal. O Viradão também abre alas para o Cordão do Boitatá, na Rua do Mercado. Além das atrações musicais, o Viradão apresenta exposições e cinema ao ar livre, festas em museus, concurso de esculturas de areia, batalha de jukebox, leituras de Nelson Rodrigues e muitas outras atrações que em breve serão divulgadas.

Peguei lá no ionCine blog escrito pelo A

Além de “À Deriva”, outro filme brasileiro participa do Festival de Cannes 2009: “No Meu Lugar” de Eduardo Valente. Crítico de cinema e diretor de curta-metragens premiados, ele faz a sua estréia em longas com produção da VideoFilmes. O filme ganhou um site oficial e lançou o trailer na internet. Confira:

Popout

Além de acompanhar a exibição do seu filme, o diretor aproveitou para dar uma entrevista que faz uma comparação interessante entre suas expectativas há sete anos atrás (quando o seu curta-metragem “Um Sol Alaranjado” foi premiado pelo Cinefundación em Cannes).



Neste sábado, 23, rola o lançamento do novo pocket book da Aline e também da coletânea de tiras “No divã com Adão” que saiu no ano passado. Vai ser na Livraria HQMIX (Praça Roosevelt, 142 – Centro) as 19h30. Apareçam.