Saiu no Segundo Caderno d’O Globo de sábado passado esse perfil do Tunga. 

O artista plástico Tunga / Foto de Márcio Lima
Susana Velasco, enviada especial a Salvador

SALVADOR – Numa viagem a Bangcoc, na Tailândia, Tunga foi parar num mercado de amuletos bizarros, como lagartixas trançadas e excrementos petrificados, entre outras bugigangas que deram um susto no artista plástico:
– Parecia que eu tinha ressuscitado ali.
Tunga viu ali parte do repertório de objetos míticos que desde os anos 70 compõe a sua obra, criada a partir de elementos que se contaminam e se alimentam: tranças, ímãs, serpentes, rãs, pentes, bengalas, ossos, crânios, redes e cálices repletos de gel, líquidos e substâncias que remetem a fluidos corporais. Com essa extrema presença física dos materiais, o artista criou uma obra que, hoje aclamada internacionalmente, trata de questões transcendentais.
– A busca do anímico é uma forma segura de se falar de poesia e arte – afirma Tunga, aos 58 anos. – A arte que me interessa é a que articula os sentidos que não são passíveis de serem revelados por uma mediação crítica. O momento de calar é o momento em que a poesia fala.
Apesar de ressaltar o indizível de sua obra, Tunga fala sem pudor sobre ela, com sua multiplicidade de discursos. Em algumas horas, no intervalo da montagem da exposição “À luz de dois mundos”, em Salvador, ele fala sobre Winnicott, Tristan Tzara, Newton, Santo Agostinho, San Juan de la Cruz, Freud. Sobre psicanálise, filosofia, História da arte, religião, literatura, arqueologia, antropologia, erotismo:

– Fazer arte é se interessar por tudo. O artista é uma espécie de clínico geral que lança mão dos seus especialistas quando necessário. Na hora de criar, me coloco na posição de sujeito múltiplo, como se dispersasse uma identidade. O que temo da postura da arte contemporânea é a presença excessiva de especialistas, que cria categorias empobrecedoras.
O interesse infindável se materializou numa obra inconfundível – sempre se vê Tunga numa obra de Tunga -, com a qual o pernambucano radicado no Rio se tornou um dos mais importantes e singulares nomes da arte brasileira. Tunga foi o primeiro artista contemporâneo a expor no Museu do Louvre, em Paris, onde cerca de quatro milhões de pessoas viram a monumental “À luz de dois mundos” sob a pirâmide do museu. A obra também já foi montada no P.S.1, centro de arte contemporânea do MoMA, em Nova York, e, inédita no Brasil, desde este sábado está exposta no Palacete das Artes Rodin Bahia, em Salvador, no programa de escultura contemporânea Quarta Dimensão.
Ali, Tunga dispôs uma balança que equilibra, de um lado, um grupo de crânios, e, do outro, cabeças de esculturas (réplicas de peças do Louvre) presas por tipitis – cilindros usado pelos índios para espremer mandioca. Entre os dois mundos, um esqueleto negro sem cabeça deita numa rede. A obra ainda carrega objetos típicos do vocabulário de Tunga, como tranças e uma bengala e um pente gigantescos.
– Na arte contemporânea, o Tunga é aquele que consegue dar força poética, materializar visualmente com muita força conceitos muito abstratos, questões filosóficas. Ele usa elementos imediatamente comunicativos e consegue criar uma escala espetacular sem espetacularizar a obra – diz o crítico de arte Paulo Sergio Duarte, que montou uma apresentação com imagens da produção e da exposição de “À luz de dois mundos”, exibida agora em Salvador.

Saiu na Istoé de ontem esse pequeno texto abaixo sobre a exposição Cuidado Quente que fica em cartaz até o próximo sábado (4/9) na galeria Nara Roesler em São Paulo. 
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Já tem anos que o artista carioca Raul Mourão presta atenção nas malhas geométricas casualmente desenhadas pelo mobiliário urbano do Rio de Janeiro. Das traves de quadra de futevôlei nas praias às gaiolas de ferro que trancafiam portas e janelas, tudo é transportado para seu universo de invenção artística. Sob o olhar e o gesto libertários desse artista que pensa o cotidiano em linhas, grades viram esculturas. Hoje, na individual do artista na galeria Nara Roesler, essas esculturas ganham movimento ao serem tocadas pelo espectador. Como moinhos de vento soprados pelo cavaleiro da triste figura, os objetos de Mourão desprendem formas e sentidos ocultos. Ainda são malhas urbanas, mas abrem-se a um imaginário atemporal, tornando-se fantasmas, fantasias, personagens de um desenho animado.

Excelente notícia que eu peguei lá no Urbe do Bruno Natal.


Miike Snow no Rio: CONSEGUIMOS! 

Que alegria poder escrever esse título!
Compre sua entrada pelo preço único de R$50.
Presentes na escalação dos principais festivais do mundo, uma das banda que mais remixam e é remixada, abaixo estão os detalhes da missão que foi confirmar o show do Miike Snow no Rio.
Hoje em dia diversos shows internacionais vem ao Brasil – mas não ao Rio. O motivo alegado é simples e sempre o mesmo: desinteresse do público. É triste ouvir isso.
Acreditando que há sim um público interessado na cidade, semana passada, cansados de esperar, eu, Tiago LinsFelipe ContinentinoPedro Seiler e Lucas Bori, resolvemos tentar fazer algo pra mudar essa situação.
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“Animal”
Com a colaboração de 60 cariocas e do apoio da Tecla MusicGrupo Matriz, da produtora Das Duas e do canalMultishow, nós conseguimos! Aprendemos muito nessa última semana, sofremos com as mudanças de data, mas o que interessa é que o show está confirmado.
Miike Snow queria tocar no Rio. Porém, o show não era confirmado porque ninguém quis arriscar pagar o custos da banda, um cachê de US$ 8 mil + 12 passagens RJ-SP, R$ 2.980 de hospedagem, alimentação e transporte, totalizando, com o dólar no valor de hoje, um valor arredondado de R$ 20 mil*.
Procuramos a produção do Circo Voador e propusemos pagar os custos da banda se eles assumissem os custos da casa (limpeza, segurança, funcionários, aluguel de equipamentos) e dividíssemos o valor do ingresso depois de descontar 5% da bilheteria relativo ao ECAD. Eles toparam.
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“Cult Logic”
Por email, organizamos uma campanha entre amigos para rachar os custos e viabilizar a vinda da banda. Nascia o “Miike Snow no Rio”.
Distribuímos o valor total em 100 unidades de R$ 200. Cada um que pagasse teria direito a um ingresso e, com todas as unidades vendidas, o show estaria garantido (se não fossem vendidas todas as cotas, não haveria show e o dinheiro seria devolvido).
Vencida essa primeira etapa, começaria a venda de ingressos. Com 800 vendidos todos que compraram uma unidade teriam dinheiro devolvido e assistiriam o show de graça. O prazo para confirmar com a banda era curtíssimo, menos de um dia. Mesmo assim, o objetivo foi cumprido em tempo recorde.
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“Black & Blue”
Não apenas 60 unidades evaporaram, como a empresa de music branding Tecla MusicGrupo Matriz e Das Duas e o canal Multishow apoiaram a mobilização e diminuíram o risco de quem pagou R$200. Agora precisam ser vendidos apenas 480 ingressos para conta empatar.
A motivação não é ganhar dinheiro com o show, embora isso possa acontecer. Nossa vontade é tirar a cidade da inércia. É quebrar este círculo vicioso (e viciado) segundo o qual o Rio não teria público que justificasse a vinda de artistas que não sejam consagrados.
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“Sylvia”
Por isso quanto mais gente engajada no projeto, mais forte ele fica, em termos de repercussão na mídia, capacidade de atrair público e sucesso. O Rio nunca precisou disso, mas agora nossa força como público se faz necessária.
Isso não é campanha de nada, mas sim uma iniciativa de pessoas com vontade de continuar vivendo numa cidade interessante e heterogênea e relevante internacionalmente.
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* O valor de 20.000 é um estimativa do custo máximo, por isso o valor arredondado, pois há pequenas variações no preço das passagens, por exemplo. Ao fim do evento acertaremos com os participantes o custo realizado, que se for menor, será reembolsado mas se for maior ninguém precisará pagar a mais.

Inaugura no próximo dia 2 no Akademie der Künste a exposição com curadoria de Luiz Camillo Osorio (Rio de Janeiro) e Robert Kudielka (Berlin). Peguei lá no site deles.



In the late 1950s Brazil found itself in an unprecedented period of cultural, social and economic change. Brasília, the new capital, was designed at the drawing board and constructed in just a few years. The bossa nova revolutionized the music scene. And the fine arts articulated a new artistic outlook in Neoconcretismo – geometric strictness of concrete art combined with sensuous pleasure in playfullness, subjectivity and expressiveness.

The exhibition at the Akademie der Künste presents a survey of the enormous artistic powers of creativity characterizing this period. Works by the most influential artists of this epoch will be shown, for instance by Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Ivan Serpa, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro and Franz Weissmann. The exhibition also illustrates the mutual interlacing of art and culture with architecture, focusing primarily on the icons of Brazilian architecture of that era, Lucio Costa and Oscar Niemeyer, the designers of Brasília. The pioneering period of Brazilian culture in the 1950s becomes apparent. An independent Brazilian Modernism, for whose breakthrough this economically supported revolutionary spirit offered a favorable climate, was created from the adaptation of “Western” Modernism.

Installation, sculptures and films by Iole de Freitas, Waltercio Caldas, Carlos Bevilacqua, Carla Guagliardi, Cao Guimarães and Pablo Lobato, will provide insight into the developments from Neoconcretismo and its traces in Brazilian art today. 

Curators: Luiz Camillo Osorio (Rio de Janeiro), Robert Kudielka (Berlin)

A catalogue publication accompanies the exhibition: Das Verlangen nach Form – O Desejo da Forma. Neoconcretismo und zeitgenössische Kunst aus Brasilien [The Desire for Form – O Desejo da Forma. Neoconcretismo and Contemporary Art from Brazil] (Ger./Eng.), 167 color illustrations, 296 pages, 27.5 x 21.5 cm, Akademie der Künste, Berlin 2010, ISBN 978-3-88331-162-3, 35 Euros

Running time  Sept. 3 – Nov. 7, 2010 Venue Akademie der Künste, Hanseatenweg 10, 10557 Berlin-Tiergarten, Germany, Tel. + 49 (30) 200 57-2000, info@adk.de Opening hours Tues – Sun, 11 am – 8 pm Admission 6 euros, 4 euros (reduced rate)
Free admission on the 1st Sunday of the month and for visitors under 18 years of age
Exhibition oppening  Thursday, September 2, 2010, 7 pm, free admission

Depois de longo período volto a publicar a seção Influenza? que teve início com Komatsu e Damasceno em outubro de 2008 e depois seguiu com as duplas Laura Gilbert e Cildo, Lucia Koch e Nicolás Robbio, Cornelia Parker e Antonio Manuel, eu e Maurizio Cattelan, Miranda July e Tatiana Grinberg, Barrão e Yee Sookyung, Ricardo Villa e Adriana Varejão, eu e Sol LeWitt.

Abaixo seguem obras de 2 grandes pintores que aprecio muitíssimo. O bom e velho carioca Daniel Senise e o jovem portugues Manuel Caeiro que está com exposição em cartaz na Lurixs.

Influenza? _ 11 será com as cadeiras de Enrica Bernadelli e Charles Ray. Só falta eu conseguir a foto da Enrica que está em cartaz na Laura Alvim com curadoria de Ligia Canongia…

Os galpões do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo recebem de 22/09/10 a 28/11/10 a mostra Paralela 2010 // A Contemplação do Mundo, evento que chega à 5ª edição e completa oito anos de existência. A curadoria é assinada por Paulo Reis. Participam 82 artistas. A entrada é franca. O tema desta edição – A Contemplação do Mundo – é título de uma obra do sociólogo francês Michel Maffesoli, que, por meio de conceitos como cultura, tempo, memória, lugar e história, busca a compreensão da passagem do século 20 para o 21. Com a proposta de ser uma mostra complementar à Bienal de São Paulo (que acontece de 20/09/10 a 12/12/10, no Parque Ibirapuera), a Paralela destaca a participação de jovens artistas, ao lado de alguns dos principais nomes dos anos 1990. 
Os artistas participantes da Paralela 2010 são: Adriana Varejão, Alex Cerveny, Alexandre da Cunha, André Komatsu, Brígida Baltar, Bruno Dunlay, Cabelo, Cao Guimarães, Carla Zaccagnini, Carlos Bevilacqua, Chelpa Ferro, Chiara Banfi, Daniel Acosta, Débora Bolsoni, Detânico & Lain, Dias & Riedweg, Ding Musa, Eder Santos, Edgard de Sousa, Eduardo Verderame, Erica Verzutti, Felipe Barbosa, Felipe Cama, Felipe Cohen, Felippe Segall, Fernanda Chieco, Fernanda Gomes, Flávia Metzler, Georgia Kiryakakis, Gustavo Rezende, Héctor Zamora, Iran do Espírito Santo, Jarbas Lopes, João Loureiro, José Rufino, Laura Belém, Laura Vinci, Lais Myrrha, Lenora de Barros, Lina Kim, Lucas Bambozzi, Marcellvs L., Marcelo Amorim, Marcelo Moscheta, Marcelo Solá, Márcia de Moraes, Márcia Xavier, Marcos Chaves, Marepe, Mariana Manhães, Mariana Palma, Marina Rheingantz, Mauro Piva, Milton Marques, Nicolás Robbio, Niura Bellavinha, Ogrivo, Osgêmeos, Patricia Osses, Paulo Climachauska, Paulo Nenflídio, Pedro Motta, Rafael Assef, Rafael Carneiro, Raul Mourão, Regina Parra, Reginaldo Pereira, Renata Lucas, Rodolfo Parigi, Rodrigo Bivar, Rodrigo Matheus, Rogério Degaki, Rosana Palazyan, Rosana Ricalde, Sandra Cinto, Thiago Rocha Pitta, Tiago Carneiro da Cunha, Tiago Tebet, Tonico Lemos Auad, Valdirlei Dias Nunes, Vânia Mignone e Wagner Malta Tavares. | 
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo 
r. Jorge Miranda, 676, Centro, próximo à estação Tiradentes do Metrô, São Paulo (SP). 
Ter. a sex., 12h/18h; sáb. e dom., 10h/18h. 
Abertura para convidados: 22/09/10. 
Período da mostra: 23/09/10 a 28/11/10. 
Mais informações: www.paralela10.wordpress.com

Manuel Caeiro – Up Side Down
A Lurixs: Arte Contemporânea apresenta a partir de 19 de agosto, para convidados, e do dia seguinte para o público, a exposição “Up Side Down”, com obras inéditas do artista português Manuel Caeiro, feitas especialmente para esta exposição. O artista, que vive em Lisboa, está fazendo uma residência no Rio de Janeiro desde o dia 18 de julho, onde está produzindo, no espaço Lurixs 2 (do outro lado da rua), obras para esta mostra e também para a exposição que fará em novembro no MAM Rio de Janeiro. 
Na exposição na galeria Lurixs Arte Contemporânea, o artista apresentará quatro pinturas, de 180 x 180 cm, da série “Trompe-l’oeil” (“enganar o olho”, em francês), e a escultura “Twins”. 
“A pintura é um exemplo de trompe-l’oeil em si”, afirma Manuel Caeiro, que anda pela cidade absorvendo tudo o que vê. Nesta sua segunda estada no Rio, mais longa do que a primeira – em abril do ano passado, quando expôs na Lurixs – ele diz perceber mais a cidade, com uma intensidade maior. Isso pode ser observado em seus novos trabalhos, que possuem mais luz e nuances de cor, e onde a perspectiva trabalha de maneira diferente do que nas obras anteriores. “Tem a ver com o processo de como eu vivi a cidade, os vestígios na memória, e com a própria obra: tensão e descanso, contraluz x luz”, observa. 
“Na primeira exposição que fiz no Rio, na galeria Lurixs, em 2009, os trabalhos mostravam o que eu imaginava da cidade. Agora os trabalhos são diferentes e mostram de que forma eu interpreto a cidade e como a vivenciei até agora”, explica o artista. “Sofro influências da cidade todos os dias ao caminhar nas ruas e essa influência cotidiana é refletida no meu trabalho”, diz. “Há uma procura mais ambiciosa, uma repercussão da maneira como eu capto a realidade sobre o objeto, que é o motivo do trabalho. Agora pude captar mais nuances da cidade, a fabricação ficou mais elaborada. Quando ando pela cidade é como uma esponja, tudo é absorvido”, explica. 
O nome da exposição (de cabeça para baixo, em inglês) tem a ver com o fato de que as telas podem ser viradas de ponta-cabeça, invertendo seu plano e sua perspectiva. Manuel Caeiro comenta que suas pinturas podem ser consideradas abstratas ou figurativas, e que este “meio termo” o agrada. “As obras sugerem um espaço figurativo, mas quando você entra nelas, está em um plano abstrato”, observa. “São exercícios em que a simulação do quadrado acaba por se acumular em um plano junto a nós”, explica.
Ele cria a pintura diretamente nas telas de linho, e usa um caderno apenas para anotar suas ideias. A tela é presa diretamente na parede e só depois de pronta é colocada no chassi. “É um processo puramente mental, em que as ideias surgem e se realizam através da intuição. Gosto de pensar aquilo que já não lembro. É aí que a intuição aparece. Intuição é o maior grau de pureza da minha alma. É ela que dá espaço para que os outros pensem sobre o trabalho. Gosto de acreditar que as pessoas vão perceber a obra a partir de sua própria intuição, que vão pensar as coisas que quiserem”, diz. 
Manuel Caeiro conta que ao ver as “peças quadrigêmeas”, a série “Trompe l’oeil”, pensou que sua solução estava na escultura “Twins”, que fez em alumínio e esmalte sintético, com luz fluorescente vermelha.  São as próprias pinturas em três dimensões, como peças que reverberam na escultura. “Foi um processo natural de todo esse percurso, e que acontece no ateliê, tem a ver com os materiais usados, com a seqüência de pensamento sobre a obra, e acaba quase que gratuitamente”. Entretanto, ele ressalta: “Não sou um escultor, mas um pintor que faz esculturas”, complementando que a escultura foi um prolongamento necessário de sua pintura: “Essas esculturas têm que existir no processo da própria pintura e são pintadas exatamente da mesma maneira”, observa. 
A exposição na Lurixs terá ainda uma série de desenhos em preto e branco, que são uma espécie de estudo para as pinturas. 
Manuel Caeiro segue um princípio construtivista que investiga as relações entre o desenho, a pintura e a arquitetura. Estruturas pintadas com um extremo realismo flutuam no fundo branco da tela onde simultaneamente aparecem os registros ou “sujidades do processo da pintura”, como linhas de estudo para a composição, respingos de tinta, vestígios de solvente etc. As pinturas são inspiradas em construções que o artista vê na rua. “A minha idéia é fazer um contraponto entre realidade e abstração”, explica. “Pego elementos do dia a dia e trago para a tela. Transformo algo que aparentemente não tem valor em uma realidade plástica nobre”, afirma. 
Serviço: Manuel Caeiro – Up Side Down
Abertura: 19 agosto de 2010, às 18h
Visitação: 20 de agosto a 17 de setembro de 2010
Segunda a sexta, das 14h às 19h
Aos sábados, agendamento por telefone
Rua Paulo Barreto 77, Botafogo



22280-010 Rio de Janeiro RJ Brasil
Telefone: 21 2541 4935

Entrada franca
Andre Weller velho de guerra me mandou esse flyer e o release abaixo do seu mais novo curta q estréia nesta próxima sexta no Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

Só vou de balanço
Uma aula de piano e de balanço, como o próprio nome em inglês, o esperto “Swing Master Class”, do novo curta de André Weller nos sugere. Desde seu primeiro e surpreendente filme, o premiado “No tempo de Militinho”, que o cineasta e músico exercita o que costuma chamar de “investigação musical” e que a crítica nomeou merecidamente de “cinema sincopado”. 
“No balanço de Kelly”, o curta com lançamento no Festival Internacional de Curtas de São Paulo nesta próxima sexta,  também não é diferente: uma apurada pesquisa do estilo do compositor da música mais executada em todo Brasil, “Cabeleira do Zezé”, o irreverente e divertido João Roberto Kelly. Mas também poderia ser um gostoso bate papo entre amigos de fato e de direito, eliminando a diferença de idades, entre uma gargalhada e um gole de cerveja, ao redor do piano. Sim, os dois estão ao piano, dividindo a mesma banqueta. O “sorriso de marfim” serve para ilustrar a conversa entre os dois pianistas. É “cinema a quatro mãos”, como eles gostam de definir orgulhosamente este trabalho. Weller conheceu Kelly na televisão. Das surpresas vespertinas, entre uma música, uma mulata, e outra, o futuro diretor e estudante de piano percebeu, ainda nos áridos anos 80, que o piano tocava algo além de Beethoven e Chopin. As reminiscências de André servem como força motriz para reviver os programas de João. Seu curta bem poderia ser um making of deste despretencioso show de intimidades na telinha. Ou seria um making of de um filme? 
“No balanço de Kelly” também pode ser um desfile de pérolas, um bloco dos relicários, tesouros escondidos por aí. O que falar do encontro emocionado e emocioante do compositor bonachão e de um inspirado Grande Otelo cantando apaixonadamente a “Dança do Bole Bole” em imagens de arquivo de 78? Ou da raridade do piano a quatro mãos mais balançado do mundo entre um jovem João e o luminoso Luis Reis, ainda em 74, alimentando a fogueira do sambalanço? “Mulata Iê Ié Ié” e “Rancho da Praca XI” estão lá também: um fragmento colhido por Weller e que agora pode ser visto e saboreado junto com uma receita de como fazer marchinhas pelo maior compositor vivo (e bem vivo…) do gênero. Não satisfeito em reviver estas pérolas, o diretor ainda promove uma outra definitiva: um ensaio tocante e indescritível entre dois grandes da música: Elza Soares canta, em meio a lágrimas, acompanhada por um piano camerístico e surpreendente de João Roberto Kelly. É arrebatador.
Aula de piano, investigação musical, um despretencioso bate papo entre amigos. Um making of, um desfile de pérolas. Um ensaio. “No balanço de Kelly” pode até ser tudo isso. Pode até ser um documentário sobre uma das figuras mais geniais, intrigantes, queridas, mais cantadas e menos conhecidas dos últimos 50 anos. Muito além das marchinhas, “No balanço de Kelly” é um dos documentos mais reveladores já registrados. E é saboroso também. Se o corte de Weller em “No tempo de Miltinho” foi  o próprio tempo, o balanço é agora a sua tónica neste seu novo trabalho. A única diferença é a que para mostrar todo o balanço, o swing do experiente compositor, André teve que experimentar e beber da fonte. O resultado só vendo.

Essa matéria aí embaixo do Leonardo Lichote saiu no Segundo Caderno do Globo semana passada. Eu estive lá no show do Rio Rock & Blues Club e estarei logo mais no MOFO aqui na Lapa. João do Morro é diversão garantida e música da melhor qualidade. Imperdivel mesmo.


João do Morro, sambista de Recife, faz shows no Rio

RIO – A roda de samba no bar na franja do Morro da Conceição, em Recife, era igual a outras tantas nas quais João Pereira da Silva já havia cantado suas músicas. Mas naquele dia o sinal fechou na hora certa, e um grupo que apenas passaria de carro por ali gostou do que ouviu e resolveu ficar para conhecer melhor aquelas canções – bem-humoradas crônicas, com base de pagode baiano. Começava o nascimento de João do Morro, o mito – mais um, entre tantos da era digital, de periferia chegando ao centro e vice-versa. O músico se tornou fenômeno ao mesmo tempo popular (nas carrocinhas de CDs piratas) e “alternativo” (em festivais como o RecBeat e boates nobres da capital pernambucana). Daí para a internet (e para o posto de personagem-cool-da-semana em algum momento de 2009) foi um pulo. Agora, ele ultrapassa mais uma fronteira, com seus primeiros shows fora do Nordeste: toca hoje no Rio Rock & Blues Club, e, no dia 17, no Mofo Lapa Bar, ambos na Lapa.

João lembra o dia em que seu samba – formado na infância, quando aprendeu a tocar percussão numa escola de música de sua comunidade, e, depois, nas bandas de axé e pagode das quais participou – começou a dar seus passos para fora do Morro da Conceição:
– Os caras pararam no sinal e daí a pouco perguntaram: “É perigoso ficar aqui?” Falei que estava tranquilo, eles gostaram e, na saída, disseram que iam me ligar para eu fazer umas festas. Foi assim que caí nas festinhas da burguesada.
João estranhou quando, pouco tempo depois, foi chamado para animar um “Shabat”:
– Achei que era aquela história judaica. Só depois descobri que era “chá-bar”, um chá de panela que a pessoa faz num bar para não sujar a casa.
Do chá-bar para casamentos e aniversários, o nome de João começou a circular na “burguesada”. Dessa relação surgiu um apoio de R$ 1.500 para gravar seu primeiro disco.
– Gravei por R$ 250 e fiz mil cópias por R$ 1.200 – conta.
João decidiu então sair do açougue onde trabalhava havia seis anos e investir na carreira artística. Ia a bares com música ao vivo para vender CDs e dar canjas – uma delas foi gravada e virou disco pirata.
– Ouvi minha música numa carrocinha e perguntei: “Quem é esse aí?” “É João do Morro, tá estourado.” Perguntei quanto era, ele disse: “Para você é R$ 5.” Comprei – lembra João, que gravou depois o CD “Do morro ao asfalto”.
O apelo de suas músicas vem do humor popular, que flerta com a vulgaridade, aliado a um olhar esperto sobre o cotidiano da periferia – do garotão sustentado pelo homem mais velho (“Papa-frango”) ao alisamento capilar (“Balaiagem”), passando pelo papo de usuário (“O avião”). Um “cronista social”, enfim, como apareceu nas primeiras reportagens locais.
– Só soube que o que fazia era crônica social depois que me disseram. Não sabia quem era Noel Rosa, que meu empresário me mostrou – diz, lembrando outra referência. – Acho massa Bezerra da Silva falar só do morro, mas quero cantar do barraco à cobertura. Só que moro no Morro da Conceição até hoje. Porque planta sem raiz murcha.


CASA FRANÇA-BRASIL_21 a 28 de AGOSTO 2010
Chelpa Ferro_Cadu_Rafael Cardoso_Eucanaã Ferraz_Raul Mourão_Chacal_Alice Sant’anna_Domingos Guimaraens_Mariano Marovatto_Rabotnik_Arto Lindsay_Dancing Cheetah
O termo “happening” (do inglês, acontecimento) foi cunhado pelo artista norte-americano Allan Kaprow (1927-2006) e refere-se a ações coletivas, podendo combinar elementos visuais e teatrais, espontaneidade ou improvisação, muitas vezes com a participação do público. As raízes do happening remontam às performances dadaístas e futuristas, e seu desenvolvimento desemboca na assim chamada arte da performance.
Durante uma semana em agosto – de 21 a 28 –, o projeto HAPPENINGS vai ocupar a Casa França Brasil com ações coletivas que envolvem performances, espaço para conversação, poesia e sonoridades experimentais. O conceito é mostrar um panorama do que há de interessante e relevante no cenário da arte contemporânea do Rio de Janeiro de forma espontânea, plural, utilizando diversas mídias e formatos e olhares transversais.
O lançamento, com um grande repertório de atividades artísticas, será no dia 21 de agosto, das 14:00 às 20:00. Durante este dia, o público presenciará as instalações escultóricas que exploram imagem e som através da interatividade do público, cortesia dos artistas Chelpa Ferro e Cadu, além de uma performance com os poetas Chacal, Alice Sant’anna e Domingos Guimaraens, e de uma conversa sobre os riscos do imprevisível na arte com o historiador e escritor Rafael Cardoso e o convidado Raul Mourão. HAPPENINGS também conta com a música instrumental (meio noise, meio trilha sonora) do Rabotnik e do Arto Lindsay, e, encerrando a programação a festa de ritmos eletrônicos periféricos, Dancing Cheetah. 

> Programação
EXPO_de 21 a 28 de agosto:

Galeria 01: Chelpa Ferro (Microfônico)
Galeria 02: Cadu (Avalanche)
SÁBADO_21 de agosto:
14:00 – 16:00 
Discussão com Rafael Cardoso, Eucanaã Ferraz e Raul Mourão
Tema: “Os riscos do imprevisível”
16:00 – 17:00 
Performance Sonora/ 1ª parte: Chelpa Ferro
17:00 – 17:30 
Performance artística: Chacal, Alice Sant’anna, Domingos Guimaraens e Mariano Marovatto
17:30 – 18:30 
Performance Sonora/ 2ª parte: Rabotnik & Arto Lindsay
18:30 – 20:00 
DJ set: Dancing Cheetah
Participantes

Chelpa Ferro, Cadu, Rafael Cardoso, Eucanaã Ferraz, Raul Mourão, Chacal, Alice Sant’anna, Domingos Guimaraens, Mariano Marovatto, Rabotnik, Arto Lindsay, Dancing Cheetah
> Expo
Artista_01: Chelpa Ferro com a obra MICROFÔNICO
Apoio: Galeria Progetti – www.progettirio.com
Junto a parede, vasos de diferentes diâmetros são posicionados lado a lado. A 3 metros de altura, é instalado na parede um trilho motorizado que conduz o microfone pendurado por seu próprio cabo. Ele passa rente a boca dos vasos captando as vibrações criadas a partir da reverberação do espaço interno dos mesmos. Ouve-se então uma microfonia amplificada, e a medida que o microfone vai passando sobre os vidros de diferentes tamanhos, diferentes frequências e notas vão surgindo, criando uma composição sonora parcialmente programada e parcialmente randômica. Para ligar o motor que movimenta o trilho e conduz o microfone é necessário que o espectador ative o pedal industrial que se mantem ligado por um período pré-determinado pelo temporizador.
Chelpa Ferro é um coletivo criado no Rio de Janeiro pelos artistas Luiz Zerbini, Sergio Mekler e Barrão, em 1995 e que é referência no terreno da arte contemporânea multimídia no Brasil, misturando música eletrônica, esculturas e instalações tecnológicas. Suas obras condensam objetos, performances e instalações sonoras, refletindo o trabalho individual de seus membros – objetos com cacos; pinturas e edição de imagens. Entre suas exposições coletivas, destacam-se: Laços do Olhar, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2008); 30° Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo (2007); Geração da Virada – 10 + 1: os anos recentes da arte brasileira, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2006); 51ª Biennale di Venezia (2005); 25ª Bienal de São Paulo, São Paulo (2002). Entre suas exposições individuais, destacam-se: Jungle Jam, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador (2008); Jardim Elétrico, Galeria Vermelho, São Paulo (2008); HUM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (2003). Em 2010, o Chelpa Ferro participa do prêmio Nam June Paik, em Dusseldorf, Alemanha.
Artista_02: Cadu com a obra AVALANCHE
Apoio: Galeria Vermelho – www.galeriavermelho.com.br
Caixas de música são mecanismos baseados na gravação de relevos em matrizes que posteriormente são convertidos em sons. Usualmente, esses objetos são adquiridos com melodias, não sendo possível compor sobre essas estruturas. Uma caixa de música de grandes proporções foi desenvolvida por Cadu, para que o público possa experimentar este processo. Batizada de Avalanche, a instalação é composta por um cilindro de aço contendo 750 locações para parafusos em diferentes tamanhos. A engrenagem estará disponível para manipulação por parte do visitante que poderá criar novas estruturas sonoras.
Cadu é artista plástico doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio e da Escola de Arte Visuais do Parque Lage. Contemplado com a bolsa de residência artística Iberê Camargo em 2001 no London Print Studio e durante 2008 artista visitante na Universidade de Plymouth a convite do Arts Council (Reino Unido). Dentre as mais recentes exposições coletivas de que participou, destacam-se a 7a Bienal do Mercosul (Porto Alegre – Brasil), “After Utopia” (Prato – Italia), “Estrategia” (Plymouth Arts Centre), Nova Arte Nova (Centro Cultural Banco do Brasil Rio e São Paulo). Realizou exposições individuais nas galerias Vermelho (São Paulo) e Laura Marsiaj (Rio).
Atualmente é membro do grupo docente do Projeto Dynamic Encouters do professor Charles Watson e desenvolve projetos em parceria com o British Council.
> Discussão
Horário: 14:00 – 16:00
Mediador: Rafael Cardoso 
Convidados: Eucanaã Ferraz e Raul Mourão
Tema: “Riscos do Imprevisível” 
“Nos últimos 40 anos, happenings, instaurações e performances têm sido vistos como meios aptos para manter alguma distância entre arte e mercadoria, sociedade e espetáculo. Segundo esse raciocínio, quando tudo está à venda, é interessante produzir obras invendáveis. E quando tudo tende a se tornar espetáculo, o melhor antídoto seria a experiência imediata, compartilhada presencialmente. Qual o resultado atual desse senso comum? Essas proposições continuam válidas e/ou relevantes? Quais as vantagens e desvantagens da arte que se faz ao vivo? Quem sabe, faz ao vivo? O ‘ao vivo’ implica sempre em risco? Qual o impacto da cobertura midiática sobre os eventos de arte? Está aberta a discussão.” Rafael Cardoso

Essa aí embaixo eu peguei lá no Vitrola do Ronaldo Evangelista.


O grande Letieres Leite aparece com sua poderosa orquestra afro-baiana Rumpilezz em São Paulo esse final de semana: dois shows no Sesc Pinheiros, participação de Ed Motta. Se preciso avisar que é imperdível, é porque você ainda não tá ligado.




Começo do ano conversei com Letieres e escrevi matéria pra Folha, comentando o álbum, capa no play acima:

Na linha de frente, cinco músicos de terno branco, tocando percussões típicas afro-baianas, como os atabaques rum, rumpi e lé. Logo atrás, em formação semicircular, outros 15 instrumentistas, tocando diferentes sopros, de chinelos, bermudas e regatas.

A inversão de hierarquia vem também no som: no centro das músicas estão desenhos rítmicos da música ancestral da Bahia com influência africana, envolvidos por camada jazzística de sofisticados arranjos de trompetes, trombones, saxes, tuba.

É a Orkestra Rumpilezz, do maestro, compositor e saxofonista Letieres Leite, que lançou há pouco o primeiro disco, homônimo, pela gravadora Biscoito Fino.

Formada em 2006, em Salvador, a orquestra foi a realização das ideias esboçadas por Letieres nos anos 80, quando estudava em conservatório em Viena e teve o estalo de criar a partir do universo percussivo baiano.

“Busquei a música sacra do candomblé como recurso criativo para a música instrumental”, explica ele. “Percebi que as estruturas rítmicas da música afro-baiana estavam extremamente organizadas, mas não de modo formal, dentro da academia. Tudo foi preservado nas esquinas, nas ruas de Salvador, nos terreiros de candomblé.”

Letieres passou a criar, a partir desse ponto central, composições nascendo do encontro com as matrizes africanas e com as particularidades das culturas de tribos que vieram parar aqui na escravidão. Um universo rítmico que existe na cultura afro-baiana soteropolitana, segundo ele. Em Caetano, Gil, Carlinhos Brown, Olodum, Ivete Sangalo.

Letieres sabe: há anos é saxofonista e arranjador da banda de Ivete.

Mas a Rumpilezz existe num universo paralelo, instrumental, com percussões baianas típicas e harmonias notadas por sopros, cada naipe ligado a um tambor. Influência do jazz? Claro, mas não só -há muito improviso, mas também composições inteiras pela pauta.

O trabalho de arranjador não se esconde: ele ouviu muito Moacir Santos, Gil Evans e Sun Ra, admite. Mas se é para reconhecer um nome no jazz, é John Coltrane. “Ele foi quem mais escutei”, conta. “Me influencia não só pelo lado musical. Sempre gostei de como usava recursos, a Cabala, “A Love Supreme”, a busca espiritual.”

Busca espiritual que encontra paralelo na relação com o candomblé? “Sou simpatizante da religião, mas a Rumpilezz não é culto, não é chamamento, é estritamente musical”, separa. “Ainda assim, a força dessa música é clara. Como compositor, quero tocar o coração das pessoas. Todo mundo quando toca busca mágica na música.”

Camila Molina – O Estado de S. Paulo

Nuno Ramos, um dos artistas mais produtivos do cenário contemporânio nacional, diz aos 50 anos, que ‘se identifica com a vontade de totalização da vida’. Foto: André Lessa/AE
Há três meses, durante todos os dias, o artista Nuno Ramos está imerso em um galpão na zona norte de São Paulo realizando a obra que ele considera ser, tecnicamente, a mais difícil de sua carreira. Fruto Estranho, trabalho protagonista da mostra, de mesmo nome, que ele vai inaugurar em 14 de setembro no Museu de Arte Moderna do Rio, é a criação de uma imagem forte, desconcertante, monumental.
Duas árvores têm, cada uma, carcaças de aviões monomotores da década de 1970 embrenhadas em seus galhos, formando dois conjuntos a serem cobertos por 4 toneladas de sabão. Ainda para completar, dos flamboyants saem tubos de ensaio de onde goteja soda cáustica (o “veneno” lido em poema do russo Alexander Pushkin) em contrabaixos transformados em pequenos poços de banha quente, abrindo, assim, espaço para mais saponificação. Somando tudo, são mais de 10 toneladas de obra, que na próxima semana, vai ser transportada em dois caminhões e três carretas para o Rio. Depois, serão mais 22 dias de montagem até a abertura da exposição.
“Esse trabalho tem uma força alegórica maior do que outras coisas que fiz”, afirma o artista. “Parece uma espécie de acidente e tem opostos, uma coisa de movimento que parou. Me parece um pássaro que quer voar e por isso pus as asas dos aviões meio moles”, ele continua. Já foi falado que Nuno Ramos está sempre à beira de um abismo por criar obras – geralmente, em grande escala – juntando elementos tão inesperados, imprevisíveis como vaselina, breu, areia socada, mármore, música, poesia e até animais.
Em Fruto Estranho – título inspirado na música Strange Fruit de Billie Holiday sobre negros mortos e que será cantada em vídeo no local expositivo com cena do filme A Fonte da Donzela, de Ingmar Bergman – prevalece, mais do que a imagem de fusão árvore/avião (espécie de “cópula”), as toneladas de sabão que vão materializar de forma extraordinária aquela cena em branco puro. “Para ser menos óbvio, há algo mais intenso que o sabão carrega, uma espécie de ciclo entre morte e vida, sujo e limpo, uma coisa orgânica feita através de operação química”, descreve o artista.
Mais ainda, a mostra no MAM do Rio, com curadoria de Vanda Klabin, se completa com as obras Verme – formada por duas grandes esferas de areia socada de onde, por aberturas, saem a projeção de dois filmes, um com texto de Nuno encenado por atores da Companhia do Feijão e outro pornográfico misturando o gênero musical choro e sexo explícito – e Monólogo para Cachorro Morto, já exibida em Brasília. O investimento para a exposição, patrocinada pelo Bradesco Seguros, é de R$ 600 mil. Depois será lançado amplo catálogo.
Político. Aos 50 anos, Nuno Ramos resiste a qualquer classificação e é considerado, indubitavelmente, um dos criadores mais inquietos do cenário contemporâneo brasileiro. Está sempre a se renovar, a dar um giro a cada trabalho -, mas colocando ao mesmo tempo o lado sombrio da vida evidente em suas obras. “Meu lance é opor, criar ressurreição entre extremos. Me identifico com uma vontade de totalização da vida, em que o carnaval possa incluir a Quarta-Feira de Cinzas”, define. Árvores com aviões e sabão falam de vida e morte, assim como os urubus da obra Bandeira Branca, que Nuno vai exibir no espaço de maior destaque da 29.ª Bienal de São Paulo, a partir de 25 de setembro, remetem ao luto. Com duas atuais exposições de impacto e com o lançamento de dois livros (leia mais acima), este é, enfim, um momento especial na carreira do artista, iniciada na década de 1980.
Sua participação na 29.ª Bienal é considerada por Nuno a mais importante de sua trajetória (esteve nas edições do evento em 1985, 1989 e 1994). “Já é um outro Nuno, senhor de tudo o que ele vem trabalhando”, diz Agnaldo Farias, curador, ao lado de Moacir dos Anjos, da 29.ª Bienal. Bandeira Branca (sua primeira versão foi apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília) ocupará todo o vão central do pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer, podendo ser olhada, assim, por três pavimentos do edifício e da rampa que une os andares. “É onde já estiveram Joseph Beyus, Tunga, Anish Kapoor”, continua o curador.
No interior de uma grande área delimitada por uma rede, estarão três peças geométricas, três postes de areia negra, três urubus vivos em ambiente em que se ouve as músicas Bandeira Branca (cantada por Arnaldo Antunes), Carcará (por Mariana Aydar) e Boi da Cara Preta (por Dona Inah). “Os urubus ficam voando e parece um réquiem, bem calmo, na árvore do mau agouro, o Goeldi (artista) explícito”, afirma Nuno Ramos. No fim das músicas, os três cantores se unem num coro que diz: “Nada é.”
Esta obra potencializa a questão que a 29.ª Bienal quer tratar, a relação entre arte e política. “Penso que esse trabalho tem tudo a ver com uma espécie de anti-anos 50, uma pitada negativa naquele desenvolvimentismo”, diz o artista, fazendo a relação da instalação de Bandeira Branca na emblemática arquitetura de Niemeyer daquele período. “Acho que é o que estamos vivendo de novo, um desenvolvimentismo cego, mais amplo, mais potente, com mais gente envolvida e mais cego”, continua.
Nuno, um artista das letras
No próximo dia 27, Nuno Ramos lançará na Livraria da Vila o livro O Mau Vidraceiro, pela Globo Livros. O artista plástico também é escritor, inclusive, foi o vencedor do Prêmio Portugal Telecom de 2009 pela obra Ó (Editora Iluminuras) e já tem lançados outros trabalhos literários como Ensaio Geral (reunião de ensaios) e O Pão do Corvo (ficção). O Mau Vidraceiro é mais um livro de ficção, com contos, textos, pensamentos, como diz Nuno. Já para coincidir com a 29ª Bienal de São Paulo, entre setembro e outubro – ainda em data indefinida – o artista vai lançar pela Editora Cobogó uma ampla edição sobre toda a sua carreira.

peguei lá no nossadica.

LETIERES LEITE & ORKESTRA RUMPILEZZ
No lançamento do CD “Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz”No lançamento do CD “Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz”

Dia 12 de agosto – Quinta–feira às 20h30

Atribuindo à ancestral música baiana uma roupagem harmônica moderna, o maestro, compositor, arranjador e saxofonista Letieres Leite criou a Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (com K como no original grego). O grupo de percussão e sopro tem suas composições e arranjos concebidos a partir das claves e desenhos rítmicos do universo percussivo baiano.
Com as composições inspiradas na cultura rítmica do centro de Salvador, nos toques de orixás da música sacra afro-baiana, em grandes agremiações percussivas, como o Ilê Aiyê, Olodum e em Sambas do Recôncavo, a nova amálgama é repleta de significações, sensibilidade rítmica e uma influência jazzística em formato de Big Band.
A Orkestra tem em seu nome a representatividade dos três atabaques do candomblé: o Rum, o Rumpi e o Lé, acrescido do ZZ de Jazz.
Ao longo de três anos, a Rumpilezz já trouxe ao palco grandes nomes da música mundial Ed Motta, Armandinho Macêdo, Toninho Horta, Stanley Jordan, Retrofoguetes e Max de Castro.
“Este trabalho foi realizado para o reconhecimento dos nosso músicos doutores, os percussionistas Bahia, que elaboraram, preservaram e difundiram este tão rico e diverso Universo Percissivo Baiano”. Letieres Leite.

Participação especial de Ed Motta

Teatro Rival Petrobras (472 lugares) Rua: Álvaro Alvim, 33/37 – Cinelândia.
Dia 12 de agosto– Quinta–feira às 20h30
Preço: R$ 30,00(Inteira) R$ 30,00 (Inteira) R$ 20,00 (Os 100 primeiros pagantes) R$ 15,00 (Meia).
Classificação: 16 anos. Reservas: 2524 – 1666 www.rivalpetrobras.com.br

Emicida: ótima surpresa na programação do festival

Enquanto não confirma – nem desmente – a vinda do Dinosaur Jr para o Brasil, o Coquetel Molotov divulga as primeiras atrações para o festival esse ano. Além das bandas, antecipa também a novidade que, nessa edição, além das duas datas tradicionais de shows – que voltam a acontecer no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco – o festival segue a atual tendência de outros eventos do tipo no país e se descentraliza.

A programação vai se estender pelo Nascedouro de Peixinhos, Teatro Apolo e no Memorial Chico Science.
Falando do que mais interessa, esse ano o festival vai contar com Otto, que fez o melhor disco de música brasileira ano passado, o rapper Emicida e a cantora francesa SoKo (um dos mil hypes do momento, apontada como The Next Big Thing por alguns jornais). Além desses, a programação repete a tradicional Invasão Sueca com três atrações. São Taxi Taxi!Taken By Trees e Anna Von Hausswolff.

Ainda dá para esperar por bem mais, ainda mais com o patrocínio da Petrobras esse ano, pela primeira vez, ao evento.

Outro nome que ainda não está confirmado, na fileira das bandas independentes, são os cariocas do Do Amor. Também quem deve se apresentar é A Banda de Joseph Tourton, que lança disco pelo selo do Coquetel agora no segundo semestre.

Saiu hoje na Ilustrada da Folha de São Paulo a matéria abaixo.

Raul Mourão cria esculturas pendulares
Galeria exibe formas geométricas feitas em aço que balançam no ar num ritmo controlado pelo próprio peso

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Uma vertigem metálica domina o espaço. São prismas, cubos e retângulos vazados, arestas de aço equilibradas em pontos fulcrais.
Balançam no ar, num ritmo ditado pelo próprio peso. Raul Mourão ocupa o espaço com seus esqueletos pendulares. Na individual que abre amanhã na Nara Roesler, suas obras adensam traços do desenho, materializam a forma ao mesmo tempo que emolduram o vazio.
“Tem esse caráter gráfico mesmo”, diz o artista. “É um equilíbrio instável, uma ação que dá certa vertigem.” É como se traduzisse para três dimensões as linhas desenhadas sobre o papel. Mas, nessa transposição, a forma se desdobra também em movimento, como se todo o potencial do traço fosse contido nesse vaivém geométrico. “Faço uma composição de formas”, descreve Mourão.
“É a busca da beleza ali, empilhando um cubo no outro.” Destoa de outras buscas desse artista, que já construiu carros e até a imagem do presidente da República em pelúcia. Mourão aqui muda para uma rota formalista, descarta resquícios literais.
Único dado concreto ou medida é o tempo. Cada escultura tem como título a duração em minutos e segundos do movimento pendular que percorre no espaço. De certa forma, “20’46″”, “57’44″” e outros tempos são registros mensuráveis de algo efêmero, a tentativa de preservar um ato único, desafiando mesmo o acaso, como se atrito, fricção e temperatura não fizessem oscilar esses intervalos mecânicos.
Nesse ponto, sua vertigem silenciosa lembra “4’33″”, célebre música sem música de John Cage, partitura que indicava à orquestra que não tocasse o instrumento ao longo de seus três movimentos.
Tempo aparece como a mais concreta das dimensões, dispensando, no primeiro, a medida espacial e, no segundo, o peso do som. “Tem um certo clima de concerto”, diz Mourão. “São essas coisas se mexendo.”

RAUL MOURÃO

QUANDO abertura amanhã, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h
ONDE galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344)
QUANTO grátis

Joshua Callaghan (o artista plástico correspondente do b®og em LA com foto e mini perfil aí na barra lateral) viajou bastante este verão e nesse texto aí embaixo nos manda notícias da ESPAÑA. Lá vai:

Cheguei recentemente de uma exposição interessante em Castilló, uma cidade na costa mediterrânea a uma hora de Valencia.  Lá tem um centro de arte contemporânea chamado ESPAI. Parece que é patrocinado pelo governo estadual, mas na verdade eu nao sei quem pagou a conta.

A esposição atual é um prêmio chamado 5 x 5. A idea é a seguinte, a diretora do ESPAI, Lorenza Barboni, convidou cinco artistas famosos a indicar mais cinco artistas que eles achassem interesantes. Esses vinte e cinco artistas integram uma exposição e um deles ganhará um prêmio e a obra exposta vai fazer parte da coleção do ESPAI. 


O prêmio é de 60,000 Euros. Meu Ford está na corrida e se ganho, o choppe será por minha conta!  Agora sério, uma chance em 25 não é exatamente uma corrida fácil para mim, mas vamos ver. Os juizes anunciarão o resultado dia 26 de setembro. 

Apesar dos espanhois terem ganhado a copa um dia antes de eu chegar para montar minha escultura, Castelló era uma cidadezinha quieta e cheia de ruas vazias. Parece que no verão, o povo desaparece. Fiquei supreso quando na abertura dessa grande exposição, nesse espaço bacana, com uma estrutura profissional, não tinha mais de 50 pessoas do público local. A praia de Bencasim, a cidade ao lado, estava lotada, mas o museu vazio. Em Los Angeles vinho e ar condicionado gratuito garantem sempre alguma quantidade de público.

Mesmo assim, me diverti muito. Esse prêmio só tem dois anos nesse formato, espero que a reputação dele venha crescer no futuro. Aqui o site http://www.eacc.es/

Seguem algumas fotos…




Eu e o guarda na frente do meu trabalho.

A praia no mediterraneo é legal, mas eu prefiro o Posto 9 qualquer dia.







Escultura do Terence Koh.




Minha escultura, com o trabalho do Ricardo Basbaum a esquerda.




Siesta em Castelló, assim se celebra a copa!




Artista finlandesa Tarja Pitkänen-Walter e a assistente de direção do ESPAI, Maricruz Morales na vernissage.  Vinho tinto muito bom, mais o povo local não apareceu.




Trabalho de artista francesa  Anne-Marie Cornu.




Dando mãos de tinta fresca, a performance do artista finlandes Roi Vaara.




Instalação da Tarja Pitkänen-Walter.