Nesta quarta, dia 29 de junho, Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a exposição individual do artista carioca Marco Veloso, que ocupa um lugar de destaque no panorama do desenho contemporâneo em nosso país. 


A mostra ocupará os dois espaços do andar térreo com um conjunto totalmente inédito de seis séries -com 16 desenhos cada- além de 16 desenhos individuais, produzidos especialmente para esta exposição. As séries, quase todas produzidas nos últimos meses, são feitas em carvão sobre papel. Uma única delas apresenta partes em pastel oleoso. 


Como é característico de seu trabalho, os desenhos têm traços fortes e marcantes, explorando os vários matizes do cinza, do preto e do branco. Dando prosseguimento a seu trabalho dos últimos anos, esta mostra também apresenta fundamentalmente uma série de paisagens imaginárias nas quais “o urbano e o natural, da mesma forma que a abstração e a figuração, são encontrados lado a lado. Um detalhe figurativo pode ser apresentado de forma inteiramente abstrata, enquanto uma configuração abstrata pode se revelar parte de uma forma reconhecível”.


June 26, 2011, to January 8, 2012

Chelpa Ferro is a Brazilian collective comprised of artists Barrão, Luiz Zerbini, and Sergio Mekler that was formed in 1995. Already independently renowned, they got together under the umbrella “Chelpa Ferro”—Portuguese slang for money and steel—with the objective of doing some leisurely experimentation outside the constraints of their primary individual art careers.
Chelpa Ferro’s first US exhibition will bring their fresh, somewhat chaotic, and savvy interdisciplinary approach to objects that they transform into animate sculptures and sound-creating devices to The Aldrich Contemporary Art Museum on June 26, 2011. The artists and their ensemble will give a live performance after the opening reception and the project, which has received funding support from the National Endowment for the Arts, will remain on view through January 8, 2012.
Chelpa Ferro is well known for squeezing a rhythmical sound from seemingly non-musical devices such as electric toothbrushes, drills, sewing machines, or juice makers, and using them in their installations and performances. At The Aldrich, the Acusma installation will fill the gallery with a sound resembling a group of people coming together to sing. However, the sound does not visually match the source, which turns out to be a series of beautiful Brazilian ceramic vases spread out on the gallery floor, with loudspeakers playing up to five different recorded voices inside each vessel.
Curator Mónica Ramírez-Montagut says, “In Chelpa Ferro’s work, the blend of high-tech equipment (speakers, cables, computers, and sophisticated computer programming) is integrated with traditional Brazilian crafts and domestic objects, providing a new and surprising visual representation of sound and conferring an aura of mystery upon these mundane objects.”
An eloquent example of this blend is found in the thirty motors of kitchen blenders used in the Jungle Jam installation. The motors are displayed in a horizontal line around all the walls of the gallery space, with plastic bags from vendors local to The Aldrich attached to each one. When the motors are running, the plastic bags hit the gallery wall, creating different sounds. The motors are coordinated through a computer system that functions as an orchestra conductor, directing the whole ensemble.
The Aldrich Contemporary Art Museum will celebrate the opening of Chelpa Ferro: Visual Sound along with five otherCollaborations exhibitions at a reception where guests are invited to meet the artists, on Sunday, June 26, 2011, from 3 to 5 pm (FREE with the price of admission: $7 adults; $4 seniors; FREE for members, pre-K-12 teachers, and children 18 and under). Immediately following, a special performance by Chelpa Ferro (included in the price of admission to the reception) will take place at Ridgefield’s Jesse Lee Memorial United Methodist Church from 6 to 7 pm. FREE onsite parking is available, as is round-trip transportation from the Metro North Katonah Train Station to the Museum for the June 26 afternoon reception only. Also on view: Kate Eric: One Plus One Minus One; MTAA: All the Holidays All at OnceType A: Barrier and Trigger; Jessica Stockholder: Hollow Places Court in Ash-Tree Wood; and Judi Werthein: Do You Have Time?
The Aldrich is supported, in part, by the Connecticut Commission on Culture & Tourism. Chelpa Ferro: Visual Soundreceived special funding from the National Endowment for the Arts. Art Works. The official media sponsors of exhibition openings are Ridgefield Magazine and WSHU Public Radio.

Nosso correspondente local Frederico Coelho está revoltado porque perdeu o show da Sharon Jones na última terça e também porque não consegue publicar coisa nenhuma no seu velho blogspot. Daí que o homem resolveu mandar esse texto sobre o disco novo do Rômulo aqui pro nosso b®og. (Na barra lateral direita do b®og tem uma apresentação do Fred pra quem ainda não conhece a figura)



Folha de São Paulo: Caminhando para o fim da primeira década do século 21, já é possível identificar um traço comum entre os artistas surgidos na música brasileira a partir dos anos 2000?

Romulo Froes: É uma geração de artistas-operários, surgida em plena derrocada das grandes gravadoras e que, alijada da indústria, se viu obrigada a dar conta de todo o processo de construção de uma obra musical. Esse abandono, aliado ao avanço e ao acesso facilitado à tecnologia, constituiu uma geração especialmente ligada ao processo de gravação. O “som” produzido por ela, talvez até mais que suas canções, é o que a destaca em relação às demais. E, uma década mais tarde, milhares de discos produzidos depois, não é difícil imaginar o grau de excelência técnica a que se chegou. Pois agora, de posse de sua obra e de sua carreira, é chegada a hora dessa geração conquistar uma voz mais forte, que diga a que veio e que rompa a barreira do anonimato imposta à ela.
Em sua recente e excelente entrevista para a Folha de São Paulo, Romulo Fróes expôs alguns dos argumentos mais contundentes sobre a música brasileira contemporânea. Instado pelo jornalista a dar conta de uma grande narrativa crítica sobre sua geração de músicos (a minha geração, a geração dos nascidos entre 1968 e 1980), Romulo não foge da raia, responde perguntas capciosas, enfrenta a necessidade frenética de recorte, de marca coletiva, de sentido em comum dentre as dezenas de bandas, vozes e músicas que surgiram nos útlimos dez anos.
Romulo, porém, em um momento chave da entrevista, reivindica ao jornalista algo inusitado para os dias de hoje. Algo que se não fosse dito por ele, passaria em brancas nuvens na conversa e em todas as outras conversas. Algo que passa ao largo até mesmo dos textos acadêmicos recentes, das brilhantes reflexões em blogs ou matérias de revistas de cultura. Algo que, cada vez mais, fica em segundo plano quando discutimos música ou cultura em geral no Brasil. Romulo pede que os que escrevem sobre a “nova música brasileira”, ouçam e falem SOBRE A MÚSICA.
Qual é o maior equívoco que a imprensa em geral comete em relação aos artistas pós-queda da indústria?

O principal equívoco é não falar de música. Entendo que o jornalismo esteja passando por uma crise muito semelhante à nossa, com o iminente fim de formatos estabelecidos e com as novas formas de apreensão ao nosso trabalho. Mas penso que seria muito mais rico, para todo mundo, se tentássemos entender este momento em que vivemos, através da produção autoral. Minha geração foi afastada do conceito de autoria. É entendida como um todo, sem se singularizar –e este é um erro não só do jornalismo, mas do ouvinte em geral. Não somos parecidos, somos muito diversos. Mas insistem em nos ligar e isso se dá menos por um pensamento crítico, mas muito mais por uma análise, quase sociológica. Eu, por exemplo, sou muito mais reconhecido pelo que penso, pelo que falo em entrevistas, que por meus discos. Não que não me interesse pela discussão –muito pelo contrário. Mas ficaria muito mais satisfeito se ela surgisse estimulada por minhas canções e não por minha fala. Acredite: tudo o que digo está incorporado à minha canção e construído ao longo dos meus quatro discos. Mas, nesse tempo de agora, parece não mais haver espaço para a fruição estética.
Romulo aqui vai direto ao ponto: nossa geração foi engolida pela rasura do papel do autor. Pela pressão em não sermos mais autores capazes, autores que atingem níveis de qualidade dos autores de outrora. Por isso não somos individualidades criativas, mas somos impelidos ao afã modernista de formarmos de alguma forma “um movimento”, uma “tendência”. E nesse esforço de unir as pontas soltas, criam-se perspectivas artificiais de convergências. O fato de Curumim participar de um disco de Romulo ou do Arnaldo Antunes não quer dizer que eles fazem parte de um movimento, mas, como diria Rogério Duarte, eles são parte de um momento. Um momento que, como mostra Romulo em suas palavras e seu som, está inserido em um movimento amplo da cultura brasileira, que incorpora a precariedade profissional do mercado fonográfico com a expansão acelerada dos recursos de registro, produção e distribuição da mercadoria música. Romulo está na rede, liberou seu disco para Download e venderá o disco físico também. Veicula informações para uma ampla comunidade de consumidores/parceiros de seu trabalho.
A geração não carece de potencial mercadológico? Não estamos criando um pensamento de “como eu não preciso de dinheiro de gravadora pra fazer disco, posso fazer o que eu quiser; se posso fazer o que eu quiser, não preciso agradar a ninguém”?

Não é verdade. Essa geração, como qualquer outra, tem artistas que fazem canções pop, mais intelectuais, mais experimentais, populares, cafonas, ingênuas, desencanadas, engajadas: tudo igual a qualquer época. O perverso é que estejam todos no mesmo patamar, sem que se distinga os graus de popularidade através de sua própria música. Estamos todos no mesmo barco, atravessando os mesmos mares revoltos.
O fato de estarmos todos no mesmo barco, de muitos músicos no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, em Cuiabá, Em Porto Alegre, em Belém do Pará estarem trabalhando de forma colaborativa não quer dizer que sejam coletivos ou pessoas esteticamente vinculadas umas as outras. Não se configura aqui necessariamente um compromisso estético coletivo como foi o Cinema Novo ou o Neoconcreto. São amigos, músicos que se conhecem a partir dos seus trabalhos, festivais, shows, espaços em comum de atuação (Como o Studio SP ou o circuito de SESCs em São Paulo ou o que o Solar de Botafogo começou a fazer recentemente no Rio de Janeiro). Há uma necessidade, e eis a importância do alerta de Romulo, em se falar mais dessa suposta convergência geracional do que da capacidade criativa dos músicos e compositores. Não se discute os discos do ponto de vista musical. A discussão principal é sempre guiada pelo ponto de vista “social” ou sociológico, como preferir.
Sua geração tem medo do sucesso, é isso? Ela precisa se “desproteger”?

A questão não é ter medo do sucesso, a questão é não querer demais o sucesso. Porque o sucesso como o conhecemos –da mitificação, do artista que entende e traduz uma nação– talvez não se realize mais. O nó dessa geração é que ela não precisa dialogar com o sucesso para produzir sua obra, talvez por isso mesmo nunca o alcance.
E o disco de Romulo? Um Labirinto em cada pé é um disco fundamental. Para entender o que Romulo diz, devemos ouvir sua música. É aí que reside sua grande reivindicação. Romulo, através das letras de Nuno Ramos e Clima, através do som de sua banda, incorporando o cavaco de Rodrigo Campos, transformando suas músicas em um equilíbrio das duas frentes exploradas no disco anterior, No chão, sem chão, de 2009. O samba impera não como espaço de reverência, mas como trampolim para vôos amplos sobre a base clássica de percussão e cavaco, como na redonda “Rap em latim”, cantada por um malemolente Arnaldo Antunes e seu final elegante. A bateria também cumpre seu papel de trio de bossa jazz enquanto guitarras cruzam os céus dos espaços sonoros de cada arranjo. Há canções secas, sem refrão, há canções que abrem e brilham quando crescem em seus refrões, sentimos um eco de afrobeats, um certo ar da cozinha dos Hermanos (a bateria de Barba, principalmente, que é marcante na música pop brasileira da última década ao lado de bateria de Pupilo e Domenico) em “Boneco de Piche”,  música que casa com “Jardineira”, outra que aponta para a aposta em uma filosofia sombria e, paradoxalmente, solar do samba.
As letras de Nuno Ramos e Clima são cravadas de Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho e Campos de Carvalho, de absurdos que são enunciados na mosca por Francisco Bosco em seu texto de apresentação do disco no blog de lançamento. Letras que não falam com ninguém, que narram personagens impessoais, errantes entre objetos e sensações, cristos redivivos, entre marchas carnavalescas que falam de morte, de fumaça, de pedra e sol, de cus de urubus, de sexos confusos, fomes, caminhadas, de muros, de mares, de madrugadas, silêncios, cassinos da Urca e arcos da lapa. Quem leu os livros de Nuno Ramos sente-se confortável (se é que podemos usar essa palavra neste caso) com a opacidade e a ausência de referências explícitas ou histórias definidas nas letras do disco. Um mundo caótico, gorduroso e assim mesmo, leve, cômico, que sabe rir de sua própria tragédia.
Romulo faz rock em 2011, no Brasil. Ponto. Seu rock está defendido em sua guitarra e no seu baixo, em sua bateria e na sua voz. Mas tudo isso é profundamente mergulhado na sua ideia de cultura brasileira, na sua percepção de que o samba não é um gênero ou um arquivo, mas sim um espaço criativo que todos nós podemos entrar e reorganizar no âmbito da música pop. O samba que foi feito pelos Mutantes, por Sérgio Sampaio, pelos Novos Baianos, por Jards Macalé, Itamar Assumpção, Luiz Melodia, Pelo + 2, por Caetano Veloso nos seus dois últimos discos, o samba de Jorge Ben em “As rosas eram todas amarelas”e “Charles Jr.”, o samba transtornado de Curumim, da Nação Zumbi, de Ronei Jorge, de Lucas Santanna, o samba que atravessa todo compositor brasileiro que se interessa pela informação e a história da música brasileira.
A música que pode definir isso é “Cilada”, uma espécie de maracatu, com sua bateria solta e sua marcação marcial, seu violão de cantador e sua guitarra climática, desenhando distorções. Eis que quando nos encontramos tranqüilos, indo em um belo e longo passeio nostálgico do cassino da Urca ao Cacique de Ramos, uma mulher surge, lambe a voz que canta,ela  lembra, ela diz ah sei lá, e aos poucos leva o ritmo da música em uma espiral crescente de distorção/tensão, somada a uma voz feminina que não alivia, mas sim precipita o fim fantasmagórico da canção que inicia singela e termina sinistra.
Um labirinto em cada pé é um disco que apresenta sem firulas o que o seu autor nos diz na entrevista: é preciso ouvir a música que está sendo feita hoje, sem filtros geracionais, sem buscas de consensos ou ligações com as modas. Romulo Fróes é um dos principais músicos brasileiros de hoje e um dos seus principais pensadores. Para além de cenas. Para além de matérias que precisem de pautas. Um músico que se impõe cada vez mais pelos seus discos e pela sua capacidade de traduzir em sua sonoridade os nossos tempos luminosos e trágicos.
O que é preciso para que essa sensação de “fase de transição” termine? Que a indústria, o que quer que ela venha a ser, encontre seu caminho? Ou é uma questão existencial dos artistas?

Tempo, é preciso tempo, mas parece que não o teremos mais.
Frederico Coelho, junho 2011

Peguei o texto abaixo do Lawrence Lessig lá no site do caderno Link do Estadão.







O futuro da internet não está aqui
Por Lawrence Lessig

Especial para o ‘Estado’
PARIS – Imagine um alcoólatra. Não aquele que não para em pé de tão bêbado ou que frequente os Alcoólicos Anônimos. É só o alcoólatra comum, que luta para controlar o vício. Mas ele tem, além do álcool, outro vício. Não se trata de um vício debilitante. E ele não é um ex-viciado em drogas. Ele apenas tem, também, um outro vício que continua a puxá-lo em outra direção, afastando-o do que ele quer fazer. Uma pessoa com dois vícios, que a puxam em direções diferentes, tornando-a vulnerável, suscetível às tentações de ambos. Para ela, resta aprender a regular esses vícios e ser capaz de mantê-los sob controle.
Sugiro essa imagem porque acredito que ela é uma representação bastante fiel dos governos democráticos modernos. Eles têm dois vícios distintos. São constantemente puxados pela loucura, uma loucura parcial, que emerge quando as pessoas o pressionam a fazer aquilo que não é do interesse público. Pense no peronismo ou no populismo que inflou bolhas nos bancos e no mercado imobiliário dos EUA. Por outro lado, há o vício nos interesses especiais — vamos chamá-los de titulares — que submetem constantemente o governo à tentação de fazer alguma insensatez nas políticas públicas com o objetivo velado de beneficiar esses titulares. E, ao menos nos EUA, esse vício afetou o debate de praticamente todos os grandes temas da administração pública. Diante destas forças submetendo o Estado a uma constante tentação, o governo vê-se numa posição sempre vulnerável.
Inovação. Pois bem, a internet é uma plataforma, uma arquitetura que acarreta consequências, que possibilita a inovação. Pensemos em alguns exemplos da história da inovação na internet: o Netscape foi criado por um desistente da faculdade; o Hotmail, por um imigrante indiano e vendido à Microsoft por US$ 400 milhões; o ICQ, por um garoto israelense cujo pai tentou vender o programa à AOL por US$ 400 milhões; o Google, por dois jovens que pularam fora de Stanford; o Napster, por um desistente e por alguém que nem teve a oportunidade de se tornar um desistente da faculdade, e que está presente aqui hoje; o YouTube, por dois alunos de Stanford; o Kazaa e o Skype, por jovens da Dinamarca e da Suécia; e, finalmente, Facebook e Twitter, inventados por jovens.
O que elas têm em comum? Todas foram criadas por jovens, que largaram os estudos ou não são norte-americanos. Foi para eles que a nova arquitetura abriu as portas. Tratou-se de um convite à inovação vinda de fora. Ora, a inovação vinda de fora é uma ameaça aos titulares.
O Skype ameaça empresas de telefonia; o YouTube, emissoras de TV; o Netflix, operadoras de TV a cabo; o Twitter ameaça à sanidade, mas a sanidade nunca teve titular. E então os ameaçados respondem à ameaça. E sua tática é apelar ao viciado – o governo democrático moderno — e chantageá-lo com sua droga preferida. No caso dos EUA, a oferta ilimitada de recursos para financiar campanhas políticas. A droga garante aos titulares proteção contra as ameaças.
Acredito que foi essa a questão levantada pelo jornalista e ativista Jeff Jarvis ao sugerir que os governos se limitassem a “não causar males” à internet.
Não atrapalhem. O presidente Sarkozy ouviu a sugestão, não a aceitou, mas reconheceu que há neste debate questões importantes de medidas públicas. Mas aí é que está. Já percebemos que há “questões importantes de medidas públicas” em debate. O problema é que não confiamos nas respostas que o governo dá. E temos boas razões para isso, afinal, a resposta dada pelo governo democrático moderno é aquela que por acaso beneficia os titulares. A resposta que poderia encorajar ainda mais a inovação é ignorada.
Pensemos nos direitos autorais: é claro que precisamos de um sistema de direitos autorais que garanta aos criadores a compensação por seu trabalho e também a independência de sua criatividade. A questão não é se os direitos autorais devem ser protegidos ou não. A pergunta é como proteger os direitos autorais na era digital. A arquitetura dos direitos autorais, criada para o século 19, faz sentido no século 21? Como seria uma arquitetura que faria sentido hoje? Será que é esta a pergunta que o governo se faz?
Acho que a resposta é “não”. Em vez disso, a proposta dos governos democráticos modernos de todo o mundo, e em especial da França, pode ser definida pela lógica irracional do limite das três infrações, que por acaso beneficia os titulares.
O potencial inovador que poderia surgir de uma nova arquitetura de proteção aos direitos autorais está sendo ignorado. Não sou só eu que digo isto. O recente relatório Hargreaves, elaborado pelo governo conservador britânico, diz: “Será possível que leis criadas há mais de três séculos com o objetivo claro de proporcionar incentivos econômicos para a inovação por meio da proteção aos direitos dos criadores estariam hoje obstruindo a inovação e o crescimento econômico?” Sim.
O relatório segue: “No caso das políticas para os direitos autorais, não resta dúvida que o poder de persuasão de celebridades e importantes empresas britânicas associadas à criatividade distorceu o resultado das políticas elaboradas.” E isso não ocorre só na Grã-Bretanha.
Pensemos nas políticas para a banda larga. A Europa foi bastante bem sucedida na promoção da concorrência no ramo do acesso de banda larga, e isto impulsionou o crescimento desse mercado. Neste aspecto, os EUA foram um grande fracasso. O país, antes no topo do ranking de difusão do acesso via banda larga, ocupa agora uma posição que varia de 18ª a 28ª, dependendo dos critérios adotados. Essa mudança foi o resultado de políticas que prejudicaram a concorrência entre provedores de banda larga.
A resposta dos provedores de banda larga, trazidas por eles ao governo, fez que as leis os beneficiassem, destruindo os incentivos para que concorressem entre si de uma forma que estimulasse a difusão do acesso de banda larga.
O mínimo. Diante de exemplos como estes, é perfeitamente justo manifestar amplo ceticismo em relação às respostas oferecidas pelos governos democráticos modernos. Devemos alertá-los para que tomem cuidado com as soluções políticas apresentadas pelos titulares. Afinal, o trabalho dos titulares não é o mesmo que o trabalho do governante.
O trabalho deles, titulares, é buscar o lucro individual. O trabalho do governante é garantir o bem público. E é justo que afirmemos o seguinte: enquanto esse vício não for solucionado, devemos insistir no minimalismo em tudo aquilo que o governo fizer. O minimalismo a que Jarvis se referia quando falou em “não causar males”.
Uma internet que adote os princípios do acesso livre e gratuito, uma rede neutra, para proteger o ‘outsider’, o forasteiro. O futuro da internet não está aqui. Não é o Google nem o Facebook. Ele não foi convidado e nem sabe como ser, pois ainda não conhece em fóruns como este. O mínimo que podemos fazer é preservar a arquitetura dessa rede que protege este futuro que não está aqui.
/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Em seis encontros, o curso analisa como, ao longo do século XX, o Brasil constituiu para artistas e profissionais da cultura um campo autônomo de ação e criação, ligado ao mercado, à auto-gestão de recursos e ao Estado. As formas coletivas de atuação que, contra crises e falta de recursos, possibilitaram alguns dos modelos e soluções para os desafios do século XXI. De 7 a 12 de junho. 

Arte e cultura no Brasil – Crises e saídas
professor Frederico Coelho
local Cinemateca do MAM
terças-feiras, das 18h às 20h
de 7 de junho – 12 de julho
inscrição R$50,00

ementa

O objetivo deste curso é, a partir de seis encontros, analisar como, ao longo do século XX, o Brasil constituiu para seus artistas e profissionais da cultura um campo autônomo de ação e criação – hora ligado mais ao mercado e à auto-gestão de recursos, ora ligado ao Estado. Ao mesmo tempo, pensar como esse campo autônomo desenvolveu uma série de formas coletivas de atuação que, sempre contra crises e falta de recursos, possibilitaram alguns dos modelos e soluções para os desafios do século XXI.

Coletivos culturais, rasura do papel do autor, investimento em “economias criativas”, todas essas experiências hoje em voga encontram-se espalhadas em outros momentos de nossa história cultural. Ao estudá-las, sempre faremos um diálogo com os desafios que encontramos hoje – uma época plena de possibilidades, meios e tecnologias e ainda carente de recursos e certezas profissionais.

programa 
AULA 1 – Perspectiva geral do curso
História cultural brasileira e os desafios da arte no país ontem e hoje.

AULA 2 – Arte, técnica, reprodutibilidade
Texto de leitura: Walter Benjamin: “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”.

AULA 3 – Modernismos e modernidades no Brasil
Textos:
– Oswald de Andrade: “Manifesto da Poesia Pau Brasil” e “Manifesto Antropofágico”.
– Eduardo Viveiros de Castro: “Entrevista”, in COHN, Sergio, REZENDE, Renato e CESARINO, Pedro. Azougue – edição especial 2006-2008. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.

AULA 4 – Museus e Vanguardas: construtivismo brasileiro e renovação do sistema da arte

AULA 5 -Arte, cultura e dinheiro: como financiar a utopia?
Textos:
– Glauber Rocha: “Economia e técnica” in Revisão do Cinema Novo. São Paulo: Cosac e Naify, 2003, pp. 167-176
– Ronaldo Brito: “Análise do Circuito”, in Malasartes, n°1, 1975.
– Pablo Capilé: “Entrevista” (Articulador do Circuito Fora do Eixo), in: Produção cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2011.

AULA 6 – Arte, cultura, web e tecnologia: impasses e saídas

bibliografia

A bibliografia a seguir será complementada ao longo do curso com outras mídias que podem surgir durante os debates.

AXT, Gunter e SCHÜLER, Fernando Luís (org.). Fronteiras do pensamento – ensaios sobre cultura e estética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas – magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BEY, Hakim. Caos – Terrorismo poético e outros crimes exemplares. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2003.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp, 2000.
CHACAL. Uma vida à margem. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2010.
COELHO, Frederico. Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado – cultura marginal no Brasil dos anos 1960 e 1970. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
COHN, Sergio, REZENDE, Renato e CESARINO, Pedro. Azougue – edição especial 2006-2008. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
COHN, Sergio e SAVAZONI, Rodrigo. Cultura Digital.com.br. Rio de Janeiro: Azougue, 2010.
COMPAGNON, Antoine. O Trabalho da Citação. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
LADAGA. Reinaldo. Estética de La emergência. Buenos Aires: Adriana Hidalgo editora, 2006.
MORACE, Francisco (org.). Consumo Autoral – as gerações como empresas criativas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009.
PIRES, Ericson. Cidade ocupada. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
SERRES, Michel. Ramos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
ZARVOS, Guilherme. Branco sobre Branco. São Paulo: Ateliê editorial, 2009.

YÚDICE, George. A conveniência da cultura – Usos da cultura na era global. Belo Horizonte: UFMG, 2004.

Na próxima quinta, dia 9/6, no Parque Lage acontece o lançamento do livro MOV e um breve debate com Frederico Coelho e Felipe Scovino. Segue abaixo o release.

MOV – Publicação bilíngue documenta a série de esculturas cinéticas do artista Raul Mourão

A série de esculturas cinéticas aa qual o artista plástico Raul Mourão se dedica desde 2010 acaba de ganhar um livro bilíngue. Em 87 páginas, a publicação reúne, entre fotos que mostram a evolução do trabalho que já foi exposto em três individuais e três coletivas no Rio, em São Paulo e Porto Alegre, uma apresentação do artista; a transcrição de uma conversa via Skype realizada entre ele, a curadora Maria do Carmo Pontes e o pesquisador Frederico Coelho; e textos escritos para as exposições individuais onde a série foi apresentada, por Jacopo Crivelli Visconti, Felipe Scovino e Frederico Coelho.

A série Balanços começou no final de 2009, quando a Intrépida Trupe esteve no ateliê do artista e levou esculturas da série Grades para a sala onde ensaiavam o espetáculo Projeto Coleções. “Semanas depois, ao visitar um dos ensaios, me deparei com duas esculturas balançando uma sobre a outra no meio dos improvisos que iriam definir a coreografia do espetáculo. De volta ao ateliê, resolvi fazer novas experiências reproduzindo aquele movimento, e isso detonou toda essa série de esculturas cinéticas registrada em MOV”, conta o artista.

Segundo o crítico de arte Felipe Scovino, as obras “têm compromisso com o diálogo; são lúdicas ao mesmo tempo em que impõem a constante do afeto. Se nos minimalistas, a produção tende a ser fechada em si mesma, impossibilitando um diálogo com o público, a não ser quando se coloca como ameaça ou obstrução, Balanços se projeta como território de passagens, incorporando tudo aa sua volta”.

Raul Mourão nasceu no Rio de Janeiro, em 1967, estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e apresenta seu trabalho desde 1991. Sua obra abrange a produção de desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, vídeos, fotografias, textos, instalações e performances. Em 2010, sua recente série de esculturas cinéticas, que são objeto deste livro, foi exibida nas exposições individuais Balanço Geral, no Atelier Subterrânea, Porto Alegre; Cuidado Quente, na Galeria Nara Roesler, São Paulo; e Chão, Parede e Gente, na Galeria Lurixs Arte Contemporânea, Rio de Janeiro.

Elas também estiveram nas exposições coletivas Projetos (in)provados, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro; Ponto de Equilibrio, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; e Mostra Paralela 2010: A Contemplação do Mundo, no Liceu de Artes e Oficios, São Paulo.

MOV foi possível graças ao apoio do Programa Brasil Arte Contemporânea, da Fundação Bienal de São Paulo e do Ministério da Cultura e tem distribuição gratuita. Os exemplares serão distribuídos para profissionais do meio artístico, imprensa e instituições culturais do Brasil e do exterior. Após o lançamento, o livro será disponibilizado para download sob a licença Creative Commons no site www.automatica.art.br.

Projeto, produção e edição
Automatica
Coordenação editorial
Marisa S. Mello
Projeto gráfico
João Doria
Produção
Camila Goulart
Estagiária de producão
Luisa Hardman
Revisão
Duda Costa
Versão para o inglês
Paul Webb
Transcrição da conversa
Verônica Tomsic

Peguei lá no site d”O Globo a matéria da Suzana Velasco que saiu no Segundo Caderno na sexta passada.



foto Leonardo Aversa

Artista plástico e compositor Cabelo une suas 
duas facetas pela primeira vez em exposição embalada por baile funk



RIO – Se tudo que Cabelo faz, música e obra de arte, vem da poesia, MC Fininho é um de seus heterônimos. No lar do compositor de funks melódicos, o Estúdio Área de Lazer é um ambiente escuro, com desenhos em LED e lambe-lambes nas paredes, onde ele grava e toca suas composições. No resto da casa, ele espalha seus livros, CDs, LPs e as obras de arte de sua coleção, todas de autoria do artista plástico Cabelo. Fininho nasceu há alguns anos, mas, nas últimas cinco semanas, deu um pulo da infância à independência. Pois agora o MC entra em cena, na galeria A Gentil Carioca, onde vai se apresentar ao lado de convidados do mundo do funk, sábado, a partir das 17h.
A história começou a tomar forma há pouco mais de um mês, numa conversa entre Cabelo e o artista plástico Raul Mourão, seu amigo. Com uma data para expor na galeria e tomado pela música por conta da preparação de um CD – seu primeiro solo -, Cabelo criou 11 funks em uma semana. E, junto com Raul, que se tornou o curador da mostra, concretiza o primeiro projeto em que une suas facetas de artista visual e compositor, “Cabelo apresenta: MC Fininho e DJ Barbante no Baile Funk (Gentil) Carioca”. A música volta e meia aparece em suas obras, porém como um elemento pontual. Agora, ela vai tomar um tanto do espaço da galeria. Sobretudo no dia da abertura, quando, num grande baile funk, Fininho será o destaque.

– A exposição é um bônus – brinca o artista.
O palco montado na Rua Gonçalves Ledo receberá os DJs Artur Miró, Saens Peña, Alex MPC e Nado Leal, que vai fechar o bailão tocando clássicos do funk. No meio da programação, às 19h, Cabelo, ou MC Fininho, vai cantar cada uma de suas 11 parcerias compostas com os tais convidados para a mostra – unidos sob a alcunha de DJ Barbante -, e que um estúdio montado na galeria vai executar nos outros dias de exposição. O time de músicos e DJs que o MC conseguiu reunir em poucos dias mostra seu prestígio: Sany Pitbull, Berna Ceppas, Kassin, Lucas Santtana, Marcelo Callado, Marcelo Lobato, Ricardo Imperatore, Leo Saad, Rafael Rocha, DJ Nepal, Jongui e Monjope, além do artista visual que trabalha com música Paulo Vivacqua. Mérito de Cabelo, que transita pelo mundo cultural carioca e não tem problemas com o improviso. Pelo contrário.
– O funk também tem esse tempo imediato, direto. É cru, simples, não tem um primor de acabamento, assim como minhas obras visuais, em que eu tenho a liberdade de me apropriar de qualquer coisa, do pão, do inseto que mexe no pão… Meu trabalho surge muito do improviso, a coisa acontece na hora. Não faria sentido essa exposição ser muito planejada – diz.
Com exceção da “Melô do bombeiro”, cantada por Ana Tsunami (a atriz Ana Abbott, que também estará no baile), os funks são todos interpretados por Fininho. Apesar da crueza da batida, as letras são bem-humoradas, menos densas que suas obras visuais, ácidas e contundentes. Como conta Cabelo, essas obras também costumam ser criadas em regime de urgência, em “empreitadas”. Seu ateliê, em Copacabana, é repleto de elementos adormecidos: rodas de skate, espelhos, pinturas, anotações, desenhos, letras de música. De repente, acontece uma combustão:
– Meu ateliê é o instante.
Para Raul, a faceta musical de Cabelo é a oportunidade de mostrar uma leveza que o meio das artes desconhece, um senso de humor presente na vida do artista e em suas canções. Não é de hoje. Em 1998, Cabelo gravou o CD “Abracadabra” com o grupo Boato, criado no início dos anos 1990, entre a poesia falada, a performance e a música. Teve um projeto de disco que Lulu Santos começou a produzir, mas não foi adiante. Pedro Luís, Cidade Negra e Ney Matogrosso gravaram músicas suas. Agora, o artista-compositor prepara um CD, que deve ser lançado no fim do ano. Segundo ele, será um disco de >ita
– Tem samba, muita música dançante. São dez faixas, old school – diz Cabelo. – Tenho um modo simples de compor. Minhas músicas têm dois, três acordes. Quatro é jazz.
Não foi simplesmente a imersão na produção do disco que impulsionou o formato da exposição. Cabelo já tinha um projeto de CD de funk, mais um de seus elementos adormecidos. Já escrevera trechos de letras, alguns usados nas novas composições. E estrofes que remetiam ao Miami bass, o batidão que influenciou o funk carioca, já permeavam a obra “Mianmar miroir, the corridor”, apresentada em 2006 na feira Miami Art Basel, e no ano seguinte na galeria 3+1 Arte Contemporânea, em Lisboa.
Além de resgatar a faceta musical, incorporada por Fininho, será uma oportunidade de ver a obra visual de Cabelo, que não tem sido muito mostrada no Rio. Sua última exposição na cidade foi em 2007, na Galeria Paulo Fernandes. Na mostra da Gentil Carioca, que agora também representa o artista, internacionalmente inclusive, há pinturas, desenhos e objetos antigos, além de obras criadas para a coleção do MC, como desenhos com versos dos funks e dez serigrafias em lambe-lambe, suporte que costuma ser usado na divulgação dos bailes.
– O Fininho ganhou muito dinheiro e passou a investir nas obras do Cabelo – brinca o artista.

Manifestando poesia

Cabelo despontou nos anos 1990, com um trabalho em que o corpo sempre esteve presente, e no qual já criava personagens, como o Pastor das Sombras. Nos últimos anos, levou suas performances ao exterior, como “O marujo mascate”, apresentada em 2008 na feira Arco, em Madri, com seres se arrastando pelo chão, entre eles um anão. No ano passado, fez uma performance na inauguração de “No jardim dos jardins ambulantes”, no Carpe Diem, em Lisboa, que contou com três rappers brasileiros que Cabelo conheceu nas ruas da cidade. Foi o curador do espaço português, o brasileiro Paulo Reis, morto em abril deste ano, que organizou e escreveu o texto do livro que Cabelo lançou pela editora Dardo em maio na feira SP Arte, em São Paulo. Ele será lançado no Rio no dia 30 de junho, na Livraria da Travessa de Ipanema.
– O funk é uma das manifestações mais originais do Rio, e tem sido massacrado. É uma cara rejeitada da sociedade rejeitada, considerada agressiva. Mas, se não houvesse o funk, o Rio estaria muito mais violento – diz Cabelo.
Seja na música ou na obra de arte, Cabelo, que transita entre as diversas cenas culturais cariocas e mistura tudo sem hierarquias – poemas de Rimbaud, melôs e performances densas -, só quer dar ritmo à poesia.
– Tudo que faço é uma forma de manifestar poesia. O poeta é um sismógrafo, capta as frequências do mundo e as transforma – afirma ele, que, esbelto, diz ter passado por apenas uma transformação para incorporar o MC Fininho. – Tive que emagrecer dez gramas.
Conheci Cabelo nas oficinas de desenho da Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1988 e ele já tinha naquela ocasião uma atuação múltipla, participando de saraus de poesia, ensaios de bandas de rock e outras experimentações. De lá pra cá participamos de exposições coletivas no Paço Imperial (Novos Noventa em 1994 e Os 90 em 1999), na Mostra Paralela 2010: A Contemplação do Mundo – Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo entre outras. A exposição Cabelo apresenta Mc Fininho e Dj Barbante no Baile Funk (Gentil) Carioca que assino a curadoria é nossa primeira parceria pra valer. Mc Fininho é um personagem fictício para dar voz a persona musical de Cabelo que está muito presente na vida cotidiana dele e que é desconhecida do público que acompanha apenas sua produção visual. O texto abaixo estará no catálogo da exposição junto com outros de Frederico Coelho, Felipe Scovino e Silvio Essinger. A exposição inaugura no próximo sábado com um baile-show celebrando o Funk Carioca, a programação é a seguinte: 
17h Dj Artur Miró

18h Dj Saens Peña
19h Show com Mc Fininho e convidados
20h Dj Alex MPC
21h Dj Nado Leal


É tudo mentira – Raul Mourão, maio de 2011
É tudo invenção da cabeça de Cabelo. Mc Fininho não existe na vida real, é um personagem fictício, funkeiro ancestral, animador de bailes, pesquisador musical, antropólogo das biroscas, repórter das vielas e florestas e compositor de funks. DJ Barbante, seu parceiro, assistente e responsável pelas bases musicais, não existe também. É um personagem coringa que esconde os inúmeros parceiros. É tudo ficção. Cabelo saiu de sua cabeça e deixou entrar Fininho, que depois tomou conta de seu corpo também. Pessoas diferentes habitando a mesma mente. Troca de personalidades, caboclos, entidades, espíritos do além, forças do bem. 
Na verdade a ideia da exposição funk-carioca de Mc Fininho e DJ Barbante n’A Gentil começou no Cabidinho, bar 24hs que não fecha não na esquina da Mena com a Paulo Barreto. Era um grupo grande e animado ocupando algumas mesas depois da exposição do Afonso Tostes na Lurixs, Cabelo me contou que tinha uma data marcada na Gentil e que queria injetar música na exposição. Partimos para a Lapa com Dado Amaral no carro para uma apresentação-relâmpago do saudoso grupo Boato. No bar Arco Íris Cabelo retomou a conversa sobre a exposição na Gentil e sugeri que ele incorporasse Mc Fininho ao repertório. Cabelo respondeu enfático: “Vamô fazê” _ e no dia seguinte esquecemos do assunto. 2 dias depois a ideia da exposição de Mc Fininho e DJ Barbante me voltou com força, liguei e convoquei Cabelo para debatermos o assunto. Nos encontramos no ateliê dele na Souza Lima na segunda dia 2 de maio e também na terça. 
Matutamos e matutamos e ficou decidido que Frederico Coelho escreveria a biografia não autorizada, Felipe Scovino um texto crítico e Silvio Essinger faria uma palestra com trilha sonora sobre a breve história do funk carioca e nos deixaria também um texto. 11 parceiros seriam convocados a compor funks a partir de letras do Mc Fininho. Uma exposição com as coisas, sons e pensamentos de Fininho ocuparia a Gentil dividindo o espaço em 2 ambientes: a Caxanga de Fininho (lar/morada/dormitório/sala de estar) e o Estúdio Área de Lazer (onde o Mc grava suas músicas, recebe amigos e organiza pequenas festas). Na inauguração da exposição um grande baile/show em homenagem ao funk carioca na rua em frente à Gentil. Farra e festa. E provocação e nonsense. No final da terça, 3 de maio, começou um jogo novo e aberto, com poucas regras e muito improviso.  
Os dias se passaram com o relógio em contagem regressiva atazanando nossa rotina. Um pavio curto e aceso com uma bomba no final. 11 funks produzidos em 1 semana no estúdio Jaula do Vampiro, do Rafael Rocha, no Monouaural, do Kassin e do Berna, e no computador de cada parceiro. As músicas chegaram por email. Versões, letras, correções. Imagens, vozes, Aninha Tsunami, compassos e descompassos, BPMs por telefone, arquivos wav, microfones, reverbs, dubs e cachaça. O funk ganhou vida e forma. Virou real num território de fantasia pura. Depois chegou a hora das pinturas, desenhos, objetos e fotografias. Mete tudo na kombi e parte pra Gentil. Uma parede vermelha e outra preta, um desenho luminoso aparece na última hora, uma televisão toca funk (Telefunk-en?), máquina de fumaça, cartaz lambe-lambe, fotografias da Dani Dacorso, o vídeo documentário “Favela on Blast”, do Leandro HBL, e o “Cante um funk para um filme”, do Emílio Domingos e Marcus Faustini. 
Sempre enxerguei fúria, raiva e violência na obra do Cabelo. Agora vejo também graça, humor, festa e farra, e também raiva e fúria como sempre. Divirtam-se com a exposição de Cabelo/Fininho. Celebração da vida, do afeto pelos amigos, da alegria e contra a arte pobre, chata e medíocre que assola e emburrece nosso tempo. 

PS: Fininho manda avisar que o bagulho está só começando. Ano que vem vai rolar o primeiro Festival Fininho de Funk Carioca, a TV Fininho transmitindo 24hs de funk, disco na praça, músicas no rádio, shows pela cidade e os produtos de cama, mesa e banho…
Segue abaixo a coluna do André Urani que saiu hoje no DIA. Urani é economista, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e escreve semanalmente n’O DIA.
Quebrando o tabu

Descriminalizar as drogas: este é o mote de “Quebrando o tabu”, filme estrelado pelo ex-
Presidente Fernando Henrique Cardoso (e produzido, entre outros, por Luciano Huck), que
estréia, em circuito nacional, nesta sexta-feira.

O tema é polêmico, mas a causa vem ganhando mais e mais adeptos. FHC está cada vez mais
envolvido com ela, a ponto de presidir a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, da qual
também participam, entre outros, os ex-Presidentes César Gavíria (da Colômbia), Ernesto
Zedillo (do México) e Ruth Dreifuss (da Suíça), o ex-Comissário para as Relações Exteriores
da União Européia, Javier Solana, e os escritores Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa. Nosso
Governador, Sérgio Cabral, manifestou-se a favor, logo que assumiu seu primeiro mandato.
A Presidente Dilma não se manifesta muito sobre o assunto, mas parece ser contra, uma vez
que não hesitou em demitir, logo no início de seu governo, o Secretário Nacional sobre Drogas,
Pedro Abramovay, quando este declarou ser favorável à descriminalização dos “pequenos
traficantes”.

A clivagem não é entre esquerda e direita ou entre caretas e doidões. Defender a
descriminalização não significa fazer a apologia do uso ou do tráfico de drogas; o ponto de
convergência dos que se alinham nesta frente do debate é o reconhecimento do fracasso de
políticas meramente repressivas, como a guerra contra as drogas comandada pelos EUA nas
últimas décadas. Se a idéia é a de incentivar a redução do consumo, os recursos seriam muito
melhor empregados se fossem direcionados à educação e ao combate à dependência. Ou seja,
se o tema fosse tratado como uma questão de saúde pública, e não de polícia.

Alguns países, como Portugal, Itália, Espanha e Alemanha, têm realizado avanços importantes
nesta direção. Com resultados interessantes. Aqui no Rio, como em outras grandes cidades
brasileiras, poderia ser um elemento a mais da estratégia de diminuição da violência em curso.
Dada a visibilidade internacional que teremos por conta dos grandes eventos, poderíamos
assim contribuir para dar um maior peso a esta questão no debate político mundial, e assumir
um papel de relevo neste debate.

Saiu na FactMag o texto do Bernardo Oliveira sobre a festa de logo mais de 5 anos do RoncaRonca na Oi Fm…
Amanhã, 29 Abril, o radialista, DJ, fotógrafo e jornalista Maurício Valladares, o popular Mau Val, comemora 5 anos do programa Ronca Ronca na rádio Oi FM com uma festa no Cordão do Bola Preta, no Rio. A festa conta com a participação de um dos grupos cariocas mais bacanas da atualidade, o Do Amor. O aniversário também será marcado pelo lançamento oficial do compacto em vinil de 7” Ronca Ronca ao vivo, com shows de Tulipa Ruiz, Otto, Cidadão Instigado e Do Amor (que pode ser baixado neste link).
Trata-se de uma celebração da maior importância para aqueles que admiram, gostam, trabalham e vivem ligados de alguma forma à música no Brasil. Não somente pela celebração, mas pela relevância do trabalho de Mau Val para a música no Brasil – tanto em relação à música produzida, como também pelo alargamento do ambiente sonoro e da tolerância à diversidade musical. Exagero? Vejamos.
No final dos anos 80, antes da internet, do mp3, dos podcasts e de todo o contexto digital que nos circunda, a pesquisa musical não era um trabalho simples. Lojas de discos, locadoras de CD e programas de rádio nos informavam o que acontecia no mundo – considerando o mundo segundo o prisma das grandes gravadoras, isto é: Europa e EUA, com reservas.
Basta dizer que não tínhamos nenhum álbum do Funkadelic lançado no Brasil em 1992. Nem Fela Kuti, nem Robert Wyatt. E pouquíssima coisa de Zappa, Stooges, Lou Reed. Sem contar a própria discografia de música brasileira, que se encontrava desprovida de títulos fundamentais como Mutantes, Jacob do Bandolim, Moreira da Silva ou Novos Baianos.
No início da década de 90, costumava escutar o programa Radiolla, na Globo FM, um verdadeiro oásis no contexto indicado acima. Pela primeira vez pude escutar uma faixa inteira do Funkadelic – o que parece uma piada, diante das condições de hoje. Mas, logo em seguida, a surpresa maior: Mau Val emendou uma faixa da cantora brasileira Clementina de Jesus.
Foi um choque. Como alguém se atrevia a juntar no mesmo bolo o funk psicodélico e o samba de partido-alto? E isto em plena rádio brasileira pós-80, sitiada pelos interesses das multinacionais, setorizada de acordo com estes mesmos interesses? Pois bem, Mau Val costuma surpreender seus ouvintes com inserções improváveis, apostando na música, sem distinções preconceituosas de épocas e gêneros, com a mesma paixão.
Trabalhou em uma porção de jornais e revistas, como o Jornal da Música e o Jornal do Brasil, cobrindo música basicamente. Na década de 80, na saudosa Rádio Fluminense FM, foi o primeiro a tocar demotapes de artistas como Legião Urbana, Plebe Rude, Biquini Cavadão e Paralamas do Sucesso, que mais tarde formariam o BRock (rock brasileiro). Programas de rádio, fez alguns, como o Ronca Tripa, na Panorama FM, e, a partir de 2000, o Ronca Ronca, que comemora 5 anos em sua nova casa.
Minha tese parece improvável, mas assumo: Mau Val foi um dos responsáveis pelos rumos tomados pela música brasileira nos últimos 30 anos, particularmente em relação à música do sudeste brasileiro. Sem sua intervenção, sem seus programa de rádios, sua militância artísitica, tolerância e sede pelo novo, certamente essa produção seria outra. Nos resta dizer longa vida ao Mau Val e parabéns pelo aniversário.
Festa Ronca Ronca
Centro Cultural Cordão do Bola Preta
Rua da Relação, 3, Lapa (2240-8049).
R$25. 18 anos. Cap.: 800 pessoas.
6ª, às 21h.
Bernardo Oliveira



abertura/opening 
05.maio.2011 – 19h>23h
may 5th, 2011 – 7pm>11pm

exposição/exhibition 
06.maio > 04.junho.2011
may 6th > june 4th, 2011
seg/mon > sex/fri — 10h>19h
sab/sat — 11h>15h 


Sempre interessado no espaço e na paisagem, Eduardo Coimbra traz à Galeria Nara Roesler seus trabalhos recentes e intriga uma vez mais o espectador com uma arquitetura insólita, neste caso, a “arquitetura do jogo”.

Na exposição, maquetes, objetos e desenhos subvertem a lógica, fazendo com que seus significados tomem outras direções. Como apontado por Agnaldo Farias por ocasião da exposição Do Conceito ao Espaço, realizada no Instituto Tomie Ohtake (2003), com suas intervenções em espaços públicos (maquetes), Coimbra “estilhaça as fronteiras de cada um destes territórios, demonstrando que a obra de arte é um objeto que traz aos olhos do espectador aquilo que até então ele não imaginava ser possível pensar”. 

Logo na vitrine da galeria, Coimbra cria um objeto plano, Piscina – construído com um mosaico de azulejos -, que da rua parece tridimensional, iludindo os passantes pela trama da profundidade. Em Estádios, três maquetes trazem jogos inventados pelo artista, sempre com uma dinâmica espacial em que o “público” da arquibancada inserido no trabalho, participa também da “jogada”. Os campos têm composições distintas: um com labirintos, outro com a superfície inclinada e o terceiro dividido em dois quadrados. Já na maquete Bairro, dois quarteirões são vistos de cima – paisagem aérea que fixa telhados com duas águas. 

Entre os objetos que compõem a mostra está Escotilhas, série formada por três peças criadas a partir de janelas de navio, mas sugerindo os holofotes de piscinas, cuja luz projeta três imagens distintas do interior de piscinas. Já Dados, par de dados espelhados de 66 cm com furos quadrados indicando os números, traz a galeria para dentro da obra ao criar um jogo de espelhos.

Em outra obra, Dan Descendo a escada, uma referência ao artista francês Daniel Buren, Coimbra trabalha o desenho e a tridimensionalidade ao construir uma escada com listras e espelhos, criando a sensação de “uma escada dentro da escada”. Outros dois trabalhos da exposição travam um diálogo entre o desenho e o objeto, fazendo surgir imagens em 3D instigantes que, assim como os desenhos de Escher, brincam com a ordem das coisas.



O texto Escotilha para outra idéia de espaço que Adolfo Montejo Navas escreveu para o catálogo da exposição está lá no site da galeria.

Casa Daros apresenta o programa
Meridianos
A partir de maio, dez artistas latino-americanos se encontrarão no Rio para falarem de suas trajetórias. Os artistas conversarão em duplas – um brasileiro e um estrangeiro – em encontros abertos ao público.
04 de maio, às 16h30 – Cinemateca do MAM
Carlos Cruz-Diez [1923, Caracas] e Waltercio Caldas [1946, Rio]
05 de julho, às 19h – Oi Futuro do Flamengo
Teresa Serrano [1936, México] e Lenora de Barros [1953, São Paulo]
09 de agosto, às 16h30 – Cinemateca do MAM
Gonzalo Diaz [1947, Santiago do Chile] e José Damasceno [1968, Rio de Janeiro]
04 de outubro, às 19h – Oi Futuro do Flamengo
Leandro Erlich Leandro Erlich [1973, Buenos Aires] e Vik Muniz [1961, São Paulo]
29 de novembro, às 18h30 – CCBB Rio
Julio Le Parc [1928, Mendoza, Argentina] e Iole de Freitas [1945, Belo Horizonte]

A Casa Daros apresenta o programa Meridianos, que compreende cinco encontros gratuitos com a participação de dez artistas de diferentes gerações e países. Em comum, o fato de serem latino-americanos e terem trabalhos na Coleção Daros Latinamerica, sediada em Zurique, que reúne 1.100 obras, de 106 artistas. Eles se reunirão em duplas para falarem de suas trajetórias profissionais, suas escolhas e influências, e suas próprias noções de meridianos, propiciando um encontro rico e aberto ao público.
Isabella Nunes e Eugênio Valdes, diretores da Casa Daros, explicam que Meridianos atende a um dos principais objetivos da instituição, que é “o dar voz ao artista e colocar em debate a conjuntura da sua obra”. “Além disso, o programa traduz a essência da Casa Daros, que reúne arte, educação e comunicação”, afirmam. 
O evento de abertura, que reunirá Carlos Cruz-Diez e Waltercio Caldas no dia 04 de maio, às 16h30, na Cinemateca do MAM Rio, será mediado pelo curador do Museu, Luiz Camillo Osorio.  Devido à capacidade limitada de lugares, os interessados devem  confirmar presença pelo email meridianos@casadaros.net.
OBRA CINÉTICA
Para celebrar o início do programa Meridianos, Cruz-Diez fará um mural estruturado sobre o tapume que contorna a Casa Daros, um casarão centenário em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio, que está em obras de revitalização.  O trabalho de Cruz-Diez, “Indución Chromática a Doble Frecuencia” (Indução cromática em dupla freqüência), de 2011, é uma obra cinética, impressa em lona sobre estrutura de metalon, integrando a série de “muros exteriores”, que o artista realiza há décadas. Este trabalho, desenvolvido especialmente para o local, medirá 87m de comprimento por 2,5m de altura. 
OFICINA E CARTILHA
No dia 07 de maio, Cruz-Diez estará no MAM, à tarde, para uma conversa com o público e a realização da oficina “Cores no Espaço”, em que serão confeccionadas pipas (ou “papagaios”, termo também usado em espanhol) criadas por ele, com desenhos cinéticos.  A atividade integra o programa trimestral DouAções, do Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM Rio, e está voltada para  famílias, jovens e adultos.  Os participantes receberão uma cartilha em que Cruz-Diez detalha a “Didática e a Dialética das Cores”, feita originalmente em 1984 para o catálogo de uma exposição realizada na Colômbia na galeria Jairo Quintero. Gentilmente cedida pela Fundação Cruz-Díez, a publicação terá um apêndice em português. 
PROGRAMA DE REFLEXÃO E MEMÓRIA
Meridianos pretende abranger as áreas de reflexão, registro, memória e pesquisa, e além dos encontros dos artistas com o público, o programa prevê ainda a realização de um DVD e a produção de um livro a serem destinados a bibliotecas e acervos documentais de outras instituições.  O DVD irá conter entrevistas com cada um dos artistas, o registro de visitas dos artistas estrangeiros a ateliês de artistas brasileiros, e a cobertura das mesas-redondas realizadas. O livro conterá as falas dos artistas, além de outras informações relacionadas a eles, como biografia e obra. Estão previstas ainda visitas de Cruz-Diez aos ateliês de Abraham Palatnik e Cildo Meireles, que serão documentadas em vídeo.  “Meridianos tem como objetivo reunir e disseminar informações valiosas sobre a arte latino-americana”, informa Isabella Nunes.
Por conta da monumental e detalhada obra de restauro e reforma do casarão de 1866, a Casa Daros irá realizar os encontros públicos em instituições parceiras, como o MAM Rio, Oi Futuro e CCBB. A Casa Daros está com abertura ao público prevista para 2012.
MERIDIANOS
O nome “Meridianos” foi retirado de uma fala do venezuelano Carlos Cruz-Diez durante uma mesa-redonda em 2008, em Zurique, por ocasião da exposição “Face to Face”, no espaço de exibição da Daros Latinamerica. Ele explicava sua decisão de deixar sua cidade para viver e trabalhar em Paris na década de 1960, pois lá era a “cidade pela qual passava um dos meridianos da arte e da experimentação”. 
“Desde então pensamos em realizar algo a partir dessa afirmação”, conta Isabella Nunes, diretora da Casa Daros, à frente do programa junto com o diretor de arte e educação Eugênio Valdes.  Eles ressaltam que a própria Daros Latinamerica pode ser percebida dentro deste parâmetro de cruzamento de meridianos, “já que se trata de uma coleção de arte da América Latina baseada na Suíça, com um programa para o continente a partir do Rio de Janeiro”. “Essa conjuntura singular atravessa distintos objetivos e ideias, que estimulam o debate rico em torno da arte no ano que antecede a abertura da Casa Daros”, afirma Eugênio Valdes. 
 “A noção de meridiano não tem a ver somente com um aspecto espacial, cartográfico. Um meridiano é uma localização que leva em consideração referências espaciais e temporais que cada um decide ‘habitar’”, ressalta.
CARLOS CRUZ-DIEZ E WALTERCIO CALDAS: PEQUENAS BIOGRAFIAS
CARLOS CRUZ-DIEZ
Nascido em Caracas em 1923, é considerado um dos principais expoentes da arte contemporânea. Vive e trabalha em Paris desde 1960.
Sua origem remonta ao Movimento Cinético dos anos 1950 e 1960. O desenvolvimento de sua reflexão visual ampliou as noções sobre a cor, demonstrando que a percepção do fenômeno cromático não está associada à forma. Cruz-Diez concebeu sua proposta no que ele qualifica como estruturas espaciais, “Cromoestruturas” ou suportes para acontecimentos cromáticos, dando origem ao que conhecemos como “Fisicromia”, “Transcromia”, “Indução Cromática”, “Cor aditiva” e “Cromossaturação”. Em suas obras demonstra que a cor, ao interagir com o observador, se converte em um acontecimento autônomo capaz de invadir o espaço sem a ajuda da forma, desprovida de símbolos.
Descreve a si mesmo como um artista que pratica a disciplina do investigador. “Em minhas obras, nada foi feito ao acaso|; tudo está previsto, programado e codificado. A liberdade e o afeto só contam na hora de eleger e combinar as cores, tarefa à qual imponho uma única restrição: ser eficaz no que quero dizer. É uma integração do racional e o afetivo. Eu não me inspiro, eu reflito”.
Suas obras figuram em coleções permanentes da Daros Latinamerica, em Zurique, Suíça; do MoMA de Nova York; Tate Modern, em Londres; Centre Georges Pompidou, Paris; Museum of Fine Arts, Houston; Wallraf-Richartz Museum, Colônia, Alemanha; e Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, entre outras.
WALTERCIO CALDAS
Waltercio Caldas, nasceu em 1946 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. É um dos artistas brasileiros de maior reconhecimento, tanto nacional quanto internacionalmente.
Sua obra é reflexiva e requer do observador o tempo da interioridade meditativa. O início de sua trajetória artística começa na década de 1960, quando inicia seus estudos em pintura com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio. Na década seguinte, edita a revista “Malasartes”, que, embora tenha tido curta duração, tornou-se um marco no panorama artístico brasileiro. É ainda nos anos 1970 que começa a expor e a dar aulas de arte e percepção visual no Instituto Villa-Lobos. 
Sua poética sutil – mais alinhada ao “silêncio” do que à espetacularização do objeto artístico – transita entre a escultura, o desenho, os espaços cenográficos e as artes gráficas. Waltercio lança mão de poderoso raciocínio formal na composição de suas obras, ainda que elas, muitas vezes, tragam elementos bem-humorados, desordenando o olhar habituado ao juízo comum.
Recentemente, Waltercio expôs “Salas e Abismos”, no MAM Rio, uma de suas maiores retrospectivas. Participou de muitas exposições internacionais, como a Bienal de Veneza, em 1997, a 9ª Documenta de Kassel, além de duas exposições no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York. Seus trabalhos estão nos acervos de algumas das principais instituições culturais do mundo, como a Daros Latinamerica, em Zurique, Suíça; o MoMA de Nova York; a Neue Galerie, em Kassel, Alemanha, além de museus brasileiros como os Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro.
SERVIÇO: PROGRAMA MERIDIANOS
Encontro com os artistas Carlos Cruz-Diez e Waltercio Caldas
04 de maio de 2011, às 16h30 – Cinemateca do MAM
Inscrições pelo email meridianos@casadaros.net
Entrada franca
Oficina “Cores no Espaço”, com a presença de Carlos Cruz-Diez
MAM Rio
07 de maio de 2011, das 14h às 17h30
14h – Início do evento com uma conversa na galeria na exposição permanente “Genealogias do Contemporâneo” especificamente no núcleo “Respirações Geométricas”, que propiciará um diálogo com a obra de Carlos Cruz-Diez. 
15h – Encontro com o artista para uma pequena conversa sobre a “Didática e dialética da Cor”, e a intervenção com as pipas cinéticas “Cores no Espaço”.
15h30 às 17h30 – Intervenção “Cores no Espaço”, em que o público será convidado a montar pipas com desenhos cinéticos criados pelo artista, e soltá-las nas imediações do Museu. 
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
De terça a sexta, das 12h às 18h Sábado, domingo e feriado, das 12h às 19h (A bilheteria fecha 30 min antes do término do horário de visitação).
Ingresso: R$8,00
Estudantes maiores de 12 anos R$4,00
Maiores de 60 anos R$4,00
Amigos do MAM e crianças até 12 anos entrada gratuita
Domingos ingresso família, para até 5 pessoas: R$8,00
Quarta-feira – entrada franca a partir das 15h
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85
Parque do Flamengo – Rio de Janeiro – RJ 20021-140 
Telefone: 21.2240.4944
Mais informações: CW&A Comunicação   
       Claudia Noronha / Marcos Noronha / Beatriz Caillaux 
                               21 2286.7926 e 3285.8687
                                claudia@cwea.com.br / marcos@cwea.com.br /
                                beatriz@cwea.com.br /

Paulo Reis, querido amigo, curador, produtor e agitador incansável faleceu sábado em Lisboa. A tristeza por aqui é gigante. Paulo foi cedo demais e nem se despediu dos amigos. Vai fazer uma falta imensa. Segue abaixo a matéria do Mauro Ventura que está lá no Globo Online. (Mauricio Valladres comentou a perda lá no TicoTico)


RIO – Um magnífico curador, um entusiasta da arte e um grande amigo. Assim Paulo Reis foi definido pelo crítico e curador David Barro, com quem fundou a revista “Dardo”, na Espanha, dedicada à arte contemporânea. Uma opinião compartilhada pelo mundo das artes plásticas.

– Ele era um sujeito enorme – conta o artista plástico José Bechara, dizendo-se muito “chocado e comovido” com sua morte, aos 50 anos.

Desde 2005, o carioca Reis morava em Portugal, onde criou em 2009 em Lisboa com dois amigos o Carpe Diem – Arte e Pesquisa, uma instituição instalada no Palácio Marquês de Pombal direcionada para a produção e realização de exposições, além da organização de conferências e master classes. “Arte e pesquisa’ é o mote de nosso projeto. Aliar a criação que deriva de um pensamento de arte ao pensamento sobre a própria arte”, definia. Sobre a gratuidade das ações, justificava dizendo que recebia apoio do governo e, portanto, tinha dever ético com o dinheiro público. Achava estranho produtores e instituições receberem apoio estatal e cobrarem ingresso e lucrarem. “E, na primeira oportunidade que aparece, não se inibem de falar mal do Estado. É uma vergonha, é indecente, é imoral”, disse ao site Artecapital.

Segundo o ensaísta António Pinto Ribeiro, ele era um “verdadeiro embaixador cultural entre os artistas e os curadores” de Brasil e Portugal. Seu trabalho foi importante para a internacionalização de vários artistas brasileiros na Europa, como foi o caso do próprio Bechara.

– Ele construiu um trabalho muito sólido. Gostava de abrir caminhos, expandir territórios. Era um investigador incansável da produção dos artistas, fossem eles jovens ou consagrados. Seu trabalho deu uma contribuição notável para a circulação pública e internacional dos artistas – diz ele. – Todo mundo perde muita coisa com Paulo. Era um homem bom e uma pessoa muito generosa e gentil.

A última grande exposição sob sua responsabilidade foi a “Paralela 2010”, em São Paulo, no ano passado.

Professor, curador e crítico de artes plásticas, Paulo Reis morreu no fim da tarde de sábado, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa. Em fevereiro último, teve uma pneumonia que se complicou com uma tuberculose. O funeral será nesta segunda-feira às 15h e a cremação, às 16h, em Lisboa.

hoje lá em CosmoCopa…

e o release que o Jozias me mandou por email diz assim:

A editora Apicuri começa o ano com uma novidade que promete empolgar o circuito das artes. A editora está lançando no primeiro semestre de 2011 o livro Pintura como ato de Fronteira do artista visual e Mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ Hugo Houayek, que inaugura o selo Pensamento em arte, já com mais outros títulos em preparação para lançamento no segundo semestre deste ano.

A coleção, organizada pelo artista visual Jozias Benedicto, busca expandir o canal de diálogo e discussão sobre o potencial do pensamento em arte, através da publicação de textos de artistas, críticos, teóricos e historiadores; oriundos ou não da pesquisa acadêmica. Procurando estar em contato tanto com o mundo acadêmico como com o público interessado em arte, a coleção busca proporcionar aos seus leitores o acesso a amplo e diversificado material para debate e reflexão.

Pensamento em arte pretende ser uma coleção em que fiquem nítidas a interdisciplinaridade, a excelência, a horizontalidade e a heterogeneidade nas relações entre autores e os mais diversos assuntos no campo das artes, com ênfase nas artes visuais contemporâneas.

O próximo livro que irá compor a coleção é Sobre o Vago – Indefinições na Produção Artística Contemporânea, do artista plástico e Mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ Álvaro Seixas, e a editora está em negociações e planejamento para a edição de outros livros de importantes curadores no Rio de Janeiro e em Santa Catarina.

De acordo com Rosangela Dias, editora da Apicuri, a proposta é ampliar o contato do público com as artes plásticas através de textos que pensam as artes plásticas e o que é produzir arte. Estes primeiros textos são Dissertações e Teses realizadas na Academia, mas que possuem teor poético. São textos de artistas plásticos que se aventuraram pelo arriscado caminho de refletir, não só sobre o que fazem, mas também sobre a produção de outros artistas.

Para mais informações entre em contato com a editora através do email: divulgacao@apicuri.com.br ou pelo telefone: (21)2533-7917.