RoncaRonca – 5 anos no Bola Preta
Oswaldo Goeldi > Cena Urbana em Londres
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Mesas na SP Arte
Auditório Lina Bo Bardi | MAM
Entrada gratuita, vagas limitadas
12 MAIO | QUINTA-FEIRA
Jones Bergamin [Bolsa de Arte]
Olav Velthuis [Universidade de Amsterdã. Autor de Talking Prices]
Pedro Barbosa [Colecionador]
Patricia Sloane [Curadora, México]
Virgílio Garza [Christies NY]
Alessandra D´Aloia [Presidente ABACT]
Luis Camillo Osorio [Curador, MAM RJ]
Marcelo Araújo [Diretor da Pinacoteca do Estado de Sao Paulo]
Tadeu Chiarelli [Diretor MAC USP]
Maria Hirszman [Jornalista O Estado de S.Paulo]
18h | José Olympio Pereira [Colecionador] e Gunnar B Kvaran [Diretor Astrup Fearnley Museu de Arte Mofderna, Oslo]
19:30h | Bernardo Paz [fundador Instituto Inhotim]
14 MAIO | SABADO
15h | Nelson Félix e Rodrigo Naves
16:30h | Nuno Ramos e Alberto Tassinari
Celia S. de Birbragher [Editora da Revista ArtNexus | Arte en Colombia]
Paula Alzugaray [Editora da Revista Select]
Adriano Motta na Mercedes
Zocchio no Maria Antonia
O Rio à espera de mudança – A cidade na cabeça dos seus criadores
Tá lá no site do jornal Público.
Ruy Castro, escritor. Lia Rodrigues, coreógrafa. Raul Mourão e Ernesto Neto, artistas plásticos. Enrique Diaz, encenador. BNegão, músico. O que o Rio de Janeiro é, e pode vir a ser, são todas as cidades que eles têm na cabeça.
Será a grande cidade do século XXI? Vai acabar num grande McDonald”s? Estava decadente e renascerá? Mudará por dentro ou só na fachada? E será que precisa de mudar? Na fé e na dúvida, o que se segue é o debate amoroso de seis criadores brasileiros com a cidade onde vivem, a propósito do que deve e não deve ser diferente no Rio de Janeiro, a três anos do Mundial de Futebol e a cinco das olimpíadas.
Para começar, Ruy Castro, 63 anos. Os leitores podem encontrá-lo num livro publicado pela Cotovia, Rio de Janeiro. Mas no Brasil há muito mais livros cariocas pela sua mão, da bossa nova ao Flamengo, de Garrincha a Nelson Rodrigues. Ruy Castro é um cronista da cidade.
E não está zangado.
Se lhe perguntarmos – por escrito, a seu pedido – qual o estado de espírito face às mudanças que se anunciam, a resposta será: “O melhor possível.” E a explicação é esta: “O Rio tem levado os últimos 50 anos sendo roubado, perseguido e, de modo geral, passado para trás por Brasília. Nunca recebeu as devidas compensações quando deixou de ser a capital federal (função que, com diversos nomes, exerceu por quase 300 anos). Veja o que aconteceu com Bona, por exemplo – foi capital por cerca de 30 anos e, quando esta voltou a ser Berlim, está recebendo benefícios até hoje. O Rio, não, foi só espoliado. E tudo que era federal e não pôde ser transportado para Brasília foi simplesmente abandonado pelo poder federal: a Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, inúmeros hospitais (até então referências mundiais), a Biblioteca Nacional, o Observatório Nacional, o Parque Nacional da Tijuca, até o Cristo Redentor!”
Houve motivações políticas nisto, aponta Ruy Castro: “Os ditadores militares (1964-1985) nunca se conformaram com que o Rio fosse o principal reduto da oposição no Brasil e, por isso, tentaram esvaziá-lo de toda a forma, política e economicamente. Uma maneira de fazer isto se deu em 1975, quando o ditador Ernesto Geisel (1974-1978) promoveu a fusão do rico estado da Guanabara (a cidade do Rio de Janeiro) com o pobre estado do Rio sem consultar as populações carioca e fluminense. Mas, a provar que o Rio é mesmo abençoado, apenas dois anos depois descobriu-se petróleo no estado do Rio!”
O que acabou por beneficiar… os paulistas: “Uma manobra marota do então deputado José Serra por São Paulo fez com que, na única excepção imposta na Constituição, o petróleo pagasse impostos no consumo, não na produção – todos os outros produtos brasileiros beneficiam o produtor, não o consumidor -, e, com isso, o petróleo do Rio passou a financiar a prosperidade de São Paulo, onde há o maior consumo. Com tudo isso, é fácil perceber como o actual surto de realizações no Rio (e sua nova afinidade com Brasília) é motivo de euforia para todo mundo aqui.”
Há o risco do “excesso repentino de dinheiro ser usado para projectos menos importantes ou até nocivos”, mas, se tudo der certo, crê Ruy Castro, será a hora do Rio. “Já está sendo. Nesse ponto não é diferente do Brasil. Aqui reagimos por espasmos, por euforias súbitas, somos ciclotímicos. Da mesma forma, podemos cair em depressão súbita. Mas muitas medidas que serão ou estão sendo tomadas – a pacificação dos morros, a revitalização da zona portuária, o porto de Sepetiba, a volta de muitas indústrias, o influxo turístico – deverão ter alcance pelos muitos anos a seguir.”
Resultando em quê? “Na cidade que – o carioca sabe, mas fora daqui quase ninguém acredita – é o melhor lugar do mundo para viver.”
Em qualquer outro lugar do mundo, o melhor crítico é sempre local. No Rio, não: carioca ama ser carioca.
Favela é cidade
Agora liguemo-nos via Skype à mais internacional coreógrafa brasileira, Lia Rodrigues, 55 anos, que calha estar na Holanda. Por correr o mundo não deixa de ter os pés fincados no Rio de Janeiro, onde há 30 anos escolheu morar, sendo paulista. E morando no Jardim Botânico, em plena Zona Sul, fincou os pés na Maré, uma das maiores favelas da Zona Norte, onde desenvolve um projecto com a organização não governamental REDES.”Não separo a favela da cidade”, diz Lia. “E isso é essencial: quando a gente consegue enxergar a favela como parte do todo. Quem mora lá tem todos os direitos, inclusive de decidir o que fazer com o seu próprio bairro. E eles sabem o quê. Pensa-se sempre na favela como o lugar da falta, mas é um lugar rico, de pessoas, de projectos. A REDES mudou o meu jeito de olhar para a cidade.”
Que sejam precisos os Jogos Olímpicos para mudar o Rio parece-lhe “um pensamento do lado avesso”, mas espera que “esses eventos possam mudar a forma de pensar a cidade, que é complexa, com muitas diferenças”. Durante anos, parte do Rio “esteve abandonada pelo poder público” e agora “não se trata apenas de pacificar, há que entrar com todas as garantias que um cidadão deve ter”.
As UPP – Unidades de Polícia Pacificadora, que gradualmente estão a ocupar os morros, levando à saída do tráfico – “são uma estratégia necessária”, mas apenas “um primeiro passo”. “Não pode ficar por aí. Tem de haver uma mudança radical dentro da própria polícia, porque a corrupção é uma doença que afecta tudo. No Brasil, é uma doença que atinge quase todos os estratos da política. Não adianta ter uma pacificação e mudar de uma facção do tráfico para a milícia.”
O centro do mundo
O Rio na cabeça do artista plástico Raul Mourão, 43 anos, será “bárbaro”. Fim de tarde no velho Bairro da Lapa. Há dez anos que Raul e amigos partilham um prédio dividido em ateliers. “A Lapa estava voltando a ser ocupada”, diz ele, que já lá ia antes. “O meu pai me levava no [restaurante] Nova Capela, no Bar Brasil, em frente havia a boîte de striptease Novo México, o botequim Arco-Íris… Era um deserto de gente, escuro. E o Circo Voador [um espaço cultural] que ficou fechado anos por causa de uma briga política! Quando o Circo reabriu [em 2002], coincidiu com o regresso da Lapa.” Que fora coração da boémia nos anos 30, tempo de Madame Satã, gangster reconvertido em drag queen, entre chulos, prostitutas e compositores de samba.
A entrada do prédio está cheia de barras de ferro, o material que Raul tem usado para as esculturas a que chama “cinéticas”, duas ou mais peças em equilíbrio instável. “O espectador é que bota ela em movimento”, mostra, empurrando uma suavemente.
Mas também se vêem vestígios de uma série anterior, inspirada pela obsessão com a segurança no Rio: grades de janelas. “Era um comentário sobre o medo, a paranóia. Tinha uma conotação política.”
Carioquíssimo – cresceu em Laranjeiras e no Flamengo, viveu em Copacabana, Ipanema, Humaitá, Santa Teresa, Urca e agora no Baixo Gávea -, Raul transita pela cidade como pelos materiais, com “liberdade”. “Para o bem e para o mal haverá mudanças, é indiscutível. Podem ser grandes e belas, ou pequenas. Parece-me que serão grandes e belas.” Contrariando uma decadência? “A decadência é a mais pura verdade. Principalmente por maus governantes. O Rio perdeu a capital, teve uma crise de identidade, e, depois da abertura democrática, má gestão, conflito de interesses, o estado brigando com o município, a falta de um projecto. Com a posse do Sérgio Cabral [actual governador do estado] e do Eduardo Paes [actual prefeito], ambos com contacto fácil com o Lula, isso começou a mudar. Esse grupo conquistou as olimpíadas.”
Deixando para trás a queda face a São Paulo. “Há 30 anos, São Paulo era uma cidade caipira [provinciana]. Quando entra em ascendência, o Rio começa a descer uma ladeira vertiginosa, população crescendo em zonas de protecção ambiental, transporte público informal na mão de mafiosos, degradação dos serviços… Para comprar material do atelier, compro em São Paulo!”Onde tudo parece disponível, e mais barato.
“Mas no meio desse caos, tem o Carnaval, que é uma experiência deslumbrante, tem uma grande qualidade de vida, uma vitalidade que compensa. Há decadência e há uma potência. Duas forças que eu espero que se encontrem agora.”
O momento político e económico é favorável e o entusiasmo de Raul levanta voo. “Tem uma sintonia de poderes [municipais, estatais, federais]. Tem um bilionário como o Eike Baptista [o homem mais rico do Brasil], que mora aqui e tem projectos na cidade, como a limpeza da Lagoa, a recuperação do Hotel Glória e da Marina, uma escola de Gastronomia…”
Há os projectos de museus. Raul cita o Museu da Imagem e do Som, o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã, todos eles com a Fundação Roberto Marinho por trás, e previstos para 2012.
Há o projecto da Casa Daros. “É uma fundação privada suíça, que tem a maior colecção de arte latino-americana fora da América Latina. Eles querem uma cidade aqui e escolheram o Rio, compraram um palacete em Botafogo. Então vamos ter um novo espaço de arte a sério, com orçamento e residências.”
Se a isto se juntar a Cidade da Música, ambicioso edifício abandonado na Barra da Tijuca, “a cidade terá cinco novos espaços culturais”, destaca Raul. “Imagina cinco novos espaços em Lisboa! Agora soma isso ao que Eike quer fazer, às reformas da olimpíada, às coisas da Copa [de Futebol]… E a Faculdade de Arquitectura de Columbia quer abrir um escritório aqui…”
As obras da Cidade da Música inacabadas na anterior gestão municipal custaram “mais de meio bilhão de reais”, disse ao P2 Victor de Martino, assessor da prefeitura do Rio. A actual gestão garante que vai acabá-las em breve: “O arquitecto francês Christian de Portzamparc veio ao Rio para definir os detalhes finais com o secretário de Cultura, Emilio Kalil, que disse que as obras estarão concluídas em Julho.”
A prefeitura também vai pagar um quinto da primeira feira de arte contemporânea, a ArtRio. Confirmada para entre 7 e 11 de Setembro, nos armazéns do porto, contará com um milhão de reais municipais (430 mil euros) e cinco milhões privados (2,15 milhões de euros), e das 77 inscrições 28 vêm de outros países, incluindo Portugal.
Voltemos à Lapa. Raul recosta-se e acautela: “A mudança pode ser desastrosa, se ficar na mão errada, dos tecnocratas. A cultura tem de ter um papel estratégico na construção da nova cidade. Os políticos andam de carro blindado pedindo para abrir o trânsito, mas quem vive a cidade somos nós, e o Rio tem uma história de arte fantástica, na música, no cinema, na literatura, nas artes plásticas. A criação não sofreu essa decadência, é fantástica, de deixar você embasbacado!”
Todos os dias tem exemplos. “Ainda ontem eu estava numa laje da Praça Tiradentes [centro histórico] ao entardecer, e tinha uma dupla nova de música pop. O centro estava muito abandonado, e ainda está. Mas agora num condomínio da Lapa [perto do centro] em três dias venderam 700 apartamentos!”
Ao contrário de outras cidades, diz Raul, o Rio pode crescer em bairros tradicionais. “Na zona portuária, São Cristóvão, Gamboa, Santo Cristo e Saúde. A própria Lapa. O Estácio [entre o centro e o Maracanã]… São Paulo pode melhorar, mas não pode mudar de cara. O Rio pode. Pode ficar cafona [piroso], demasiado para turistas, tem sempre esse risco, e perder identidade. Mas o meu lado optimista acha que vai ser bárbaro.”
E aí vai o carioquíssimo, descolando, numa corte à cidade: “O Rio é mulher, completamente. Mulher linda, maravilhosa, tem de cuidar direitinho…”Mas quando aterra, olha em volta, acautela de novo: “Uma coisa é eu fazer estas peças, outra é elas irem parar a museus. Isto é arte, mas não é cultura.” Ou seja, enquanto estiver aqui não está acessível aos outros. “Temos uma produção poderosa reconhecida, samba, DJ, escritores. Mas a cultura não chega na casa das pessoas, não é um bem, não é património. Com o que produz, o Brasil podia ser a capital cultural do planeta!”
O que há de origem é imenso: “Aqui se inventou o samba, o chorinho, a bossa nova. Buenos Aires só inventou o tango, Lisboa só inventou o fado… O Museu da Imagem e do Som vai ter essa dimensão importantíssima, devolver a cara da cidade.”
A cultura é que pode “redefinir a identidade do Rio”, ser “o garante de que o Rio seja o que é”, acha Raul. “A movida de Madrid mudou a cidade tanto ou mais que a olimpíada de Barcelona.”
Portanto: boa conjugação política, um bilionário, museus, bairros para recuperar, e talvez “o mais importante: uma produção artística oprimida”, no sentido de não ter explodido em todas as direcções possíveis, alcançando a gente. “Uma consequência da decadência é que as pessoas ficaram nos condomínios sem usar a cidade, ver o sol, ver a lua, ir na Lapa.” Então, “existe uma poderosa cena artística pronta para desabrochar” e “o poder público tem de apoiá-la como nunca antes”, por exemplo, financiando ingressos. “Vamos encher os teatros, consumir cultura para valer. A cultura é uma economia também.” Mas a grande mudança só vai acontecer se os artistas entenderem que está em curso. “Têm de se falar loucamente, levar o trabalho para outra escala, dar-lhe uma potência nova.”
Chinelo no pé
Existem umas festas no Rio que são “as festas do Ernesto Neto”. Um forasteiro pode não ter visto a exposição dele na Tate, ou mesmo nunca ter ouvido falar dele, mas vai ouvir falar dele mal pisa no Rio.
Lá fora, é um dos mais bem sucedidos artistas contemporâneos brasileiros. Para muita gente aqui, é esse cara de calção e chinelo, a beber “chopp” com a mulher e amigos (um alemão, dois dinamarqueses, uma mineira, e vão acabar todos convidados para casa dele), mais as crianças correndo ao redor.
Estamos no Leme, pequeno bairro na ponta norte da baía de Copacabana, na esplanada do mais célebre restaurante local, o Fiorentina, que serve quase de terraço lá de casa, porque Neto mora mesmo aqui por trás.
Se Raul é carioquíssimo, mas tem cara de podia-ser-europeu, Neto, 46 anos, é um todo, fala, cara e caracóis transpirados: o carioca.
A ideia não é falar das suas grandes esculturas-instalações orgânicas, sensoriais, que fazem do espectador um agente. Mas há certamente Rio de Janeiro nisso: corpos em praça pública, experiência de texturas e temperaturas.
Por exemplo, o chão de algodão de uma delas, montado no estrangeiro. Quando Neto voltou ao Rio, pisou na praia e percebeu: “Aquilo não era mais do que a praia, um lugar onde as pessoas se encontram.”
Esta é a parada dele: “Criar um ambiente para que as pessoas se encontrem.” As festas vêm daí, na verdade desde criança. Muita festa em casa, pai amigo dos sambistas da Portela. “Sempre gostei de farra e sempre fui muito gregário.” Então calha que um dia ia passando com dois amigos por um churrasco entre o calçadão e as barracas, no Posto 9 de Ipanema. Quiseram barrá-los e eles começaram a cantar Martinho da Vila. Neto mostra como, cantando: “Esse churrasco é particular… / Esse churrasco é particular…” Rio e particular não liga bem. “Depois da gente cantar muito deixaram a gente entrar.”
E aí, com amigos, surgiu a ideia de fazer um churrasco no Posto 9, depois do poente, para não incomodar. Ao todo, só num Verão, acabaram por ser dez churrascos. Era 1998. “Começou essa coisa gregária.” Entrou coluna de som, virou festa, vieram aniversários e réveillons. “Desde o princípio que a gente pensou que não queria fechar o churrasco, porque a praia é pública. Aí, quando botámos o som, já havia uma multidão em volta. Eles sabiam que a festa era de alguém. As pessoas normalmente não querem os penetras, mas nós queremos atrair outras pessoas. Essa coisa pública do Rio, onde as pessoas se misturam sem saber quem é quem.” Até certo ponto. Porque, como admite Neto, “claro que a praia está toda dividida”, cada posto com as suas tribos, ao ponto do Posto 9 ter hoje várias subdivisões: a galera do PT, a galera jovem, a galera pop… No caso de uma festa, a fronteira natural é a música. Como Neto e os amigos não passam funk, provavelmente também não vão atrair “funkeiros”. O problema é que atraíram “marketeiros”: há uns anos a prefeitura resolveu fazer a sua própria festa no Posto 9, cheia de patrocínios, e com música de bate-estaca, ou seja, tecno. Então Neto e os amigos mudaram para o Arpoador, a ponta entre Ipanema e Copacabana que tem o melhor pôr do sol da Zona Sul. Aí estão, o último réveillon foi lá.
“A festa da prefeitura deu errado, porque eles só pensaram em marketing”, resume Neto. “O que pode destruir o Rio de Janeiro é o marketing, porque marketeiro não pensa na felicidade humana, visa o lucro. E existe uma vontade de higienização que é uma vontade de ocidentalização.”
O que este carioca tem descoberto é “que é maravilhoso não ser ocidental”, e o Brasil tem de entender isso. “A gente não vai conseguir instalar um sistema político aqui, se quiser ser como o Ocidente, porque a gente é misturada. Acho que o Lula jamais achou que era ocidental e isso fez muito bem para o Brasil. O brasileiro culto tem vontade de ser ocidental, mas quando vai à Europa acha aquilo um saco.”
Então o Brasil tem de parar de querer ser o que não é: “A gente não estuda o índio, o negro, e isso é uma estupidez, está dentro da gente!” Tal como a separação entre arte e público aqui é fisicamente menor, acha Neto. “Num show tem altar e plateia, mas no samba as pessoas dançam em volta.” Tal como na praia “a festa acontece em torno dela, porque não tem paredes”.
No Renascimento, o Ocidente racionalizou o mundo, separando países, lembra Neto, e a ciência começou a classificar. “Então o que é ser ocidental? Separar uma coisa da outra, a regra, os apartamentos, uma hora. Claro que isso é extremamente produtivo. Claro que o Ocidente é fundamental, não significa que não faça parte da gente, mas temos outros temperos.”
São esses temperos que Neto teme que acabem com a política chamada Choque de Ordem na praia ou o receio do coco aberto à machadinha. “Aqui em frente [aponta o quiosque] você não toma coco na machadinha. Eles abrem um furo, e você não vê a água de coco e não tem a dança do cara abrindo o coco! Então na hora que você empacotar o coco, entra a Coca-Cola e a Nestlé!”
Se “a corrupção desaparecer, as mudanças podem ser boas”, admite. “Mas se forem feitas com a prefeitura dirigindo, corremos o sério risco de virar um McDonalds.” A não-aposta municipal na cultura até agora é um sintoma. Neto espera para ver se esta tendência será invertida pela recente nomeação para a Secretaria de Cultura de Emilio Kalil, que chega da Bienal de São Paulo com um forte currículo. “É uma entrada legal, mas será que ele vai poder fazer algo? Acho que a prefeitura não compreendeu a importância cultural do Rio de Janeiro. O que gera riqueza é a cultura.”
A arte da rua
Filho de paraguaio e paulista, nascido no Peru, o encenador Enrique Diaz, 43 anos, viveu quase sempre no Rio, onde hoje dirige a Cia dos Atores. E isso significou viver na pele a queda da cidade.
“Você só fazia porque queria fazer, nada te ajudava a vencer a adversidade”, diz ele, na sua casa das Laranjeiras, num daqueles fins-de-tarde-com-dilúvio. “Havia uma decadência no sentido em que era uma cidade muito turística, mediática de um jeito meio bobo. Tudo era turismo, mercado, mass media. Mas a cultura era muito rica, e isso é que era louco. A sensação de que as coisas se interrompiam por falta de relação com o público, com a universidade, com os media. Parecia que a cidade estava fadada para um pensamento tacanho, mas riquíssimo de ritmos, histórias, olhares. Tanto que sempre adorei morar no Rio, sempre fui muito feliz aqui.”No Rio há mundos que não convivem, e, no entanto, o que parecia imutável talvez não seja, crê Enrique. “É bom ser céptico, mas é muito difícil você não pensar: “Nossa, tem alguma coisa mudando…”” Por exemplo, as UPP nas favelas. “Quando começou essa ocupação, eu perguntava: “Que acordo é esse? É para durar até às eleições, à Copa, à olimpíada?” Porque parecia impossível.”
Se agora não parece, isso “deve-se muito ao Governo Lula”, acredita Enrique. “Há uma auto-estima da classe trabalhadora. E essa é uma mudança muito saborosa, um olhar interessante. É o começo de uma nova conversa.”
Não o preocupa se o Rio será a grande capital. “O Brasil é muito mais complexo que o Rio. Minha família é PT, Teologia da Libertação, e ver o Brasil de agora é uma diferença tão grande que a gente começa a ter uma felicidade diferente. Isso do Rio ser sempre um glamour, acho uma bobagem. Mas começo a sentir a mudança de retina.”
Que também passa por um embrião de comunidade batalhando: “São Paulo criou a Lei do Fomento [fundamental no apoio às artes] com uma campanha. No Rio isso é inimaginável. Mas existe cada vez mais uma irrigação nova entre criadores e produtores.”
Talvez a melhor defesa contra uma “institucionalização” ou “apossamento” por parte dos poderes municipais. Enrique acha o prefeito Eduardo Paes “meio Barra Tijuca” (a faixa de prédios, shoppings e novos-ricos, na parte ocidental do Rio). A ideia de proibir o coco cortado a golpes de machadinha é só um exemplo. “Claro que tem de ter obra e limpeza, mas até onde é que o estado auxilia a inteligência e até onde é que se apossa da cidade, e ela vai sendo loteada? O dilema agora é esse: o pessoal que fez a cidade ter de pagar ingresso para a própria cidade.”
Exemplo do que o Rio voltou a ser, e ainda bem: carnaval de rua. “Qualquer lugar cria bloco, você vai e se diverte. É uma mudança enorme ter uma cidade que se diverte por oposição a uma cidade que consome. E vejo muito mais artistas a quererem trabalhar com a rua.”
Nas traseiras
BNegão. A 21 de Abril, lisboetas, podeis vê-lo e ouvi-lo, com DJ Negralha no Clube Ferroviário de Lisboa, mas neste momento ele está em casa, aqui no Rio, a tomar conta dos dois filhos, enquanto tecla no Skype. Sendo protagonista da cena rap e funk brasileira, não deixa de ser “um pai activo”.
O B é de Bernardo, 37 anos, nascido e criado nos altos e baixos de Santa Teresa, bem lá para cima, à beira da favela. Mas parte da sua família é da Baixada Fluminense, e a Baixada é mesmo a traseira de tudo.
Por tudo isto, o Rio de Janeiro que BNegão tem na cabeça é bem diferente do dos artistas que o precedem.
“Quando as UPP foram instaladas em outras comunidades, o meu bairro [Santa Teresa] teve um aumento de mais de 600 por cento no índice de violência.” Agora, “mudou completamente”, porque a UPP também chegou lá. Mas o ponto principal de BNegão é este: “Alguns lugares devem estar um verdadeiro inferno, pois todos [os traficantes que fugiram das favelas ocupadas por UPP] foram para lá. O que se diz é que na Baixada, em São Gonçalo e na Região dos Lagos [subúrbios], o bicho “tá pegando [a situação está grave].”
De que forma? “O pessoal do tráfico recebe os fugitivos, mas não divide os lucros das “bocas” [venda de droga]. Daí, os “visitantes” têm de se virar, assaltando, e fazendo o que mais rolar, nas redondezas de onde estão “acampados”. Então, resolve um lugar, e aumenta o caos do(s) outro(s).”Nos anos 70 e 80, quando a violência se concentrava na Baixada Fluminense, “ninguém, nenhuma autoridade fazia nada por isso”, lembra Bernardo. “A violência só começou a ser “percebida” pelos meios de comunicação quando chegou à Zona Sul, que por acaso é onde esse pessoal mora, os “formadores de opinião”. Enquanto não os incomodava a eles, nada acontecia. E corremos o risco disso acontecer de forma mais violenta, novamente, agora.” De a violência ficar oculta da Zona Sul, das vias de acesso que vêm do aeroporto internacional e que levam a outros estados, enquanto explode nos fundos, nas traseiras, dominadas por tráfico e milícia.
BNegão não quer dizer com isto que a política das UPP seja de fachada. “Sempre há obras e atitudes de fachada por parte de políticos, é inerente à profissão deles, mas acho que não é o caso das UPP. O que digo é o seguinte: nem 8 nem 80. Nem “tá tudo maravilhoso”, nem “são atitudes de fachada”. O momento agora é para observar.”
O que deve ser feito? “Se vai fazer esse lance de UPP, teria de ser em todas as comunidades, pois a polícia não é uma instituição “do bem”. Tem vários policiais-bandidos na instituição, portanto não é um alívio completo para a população.” Falta “acompanhamento”, das pessoas da comunidade e de fora, “que as denúncias de abuso sejam apuradas e não arquivadas como é o comum”, “que as autoridades tomem providências reais”.
E como vê o diálogo entre os vários mundos separados do Rio? Como “algo próprio do homem”, não especificamente ocidental. “O Ocidente faz isso de forma profissional há vários anos, mas se virmos a cultura hindu, com o regime de castas, as épocas dos impérios no Japão, na China, até hoje a África e suas tribos se matando, enfim…”
Será que o Brasil, e em particular o Rio, pode dar outro exemplo de uma fusão? “Pode e não pode. Mas é errado falar: “O Brasil é um país sem racismo”, porque existe isso também.”
Como seria a cidade na cabeça de BNegão? “Um Rio onde todos possam ir e vir tranquilamente, sem receio nem dos bandidos, nem da polícia. Com cultura para a população, acesso real a escolas públicas de e com qualidade, como eram antigamente. Em que o dinheiro dos impostos volte à população em forma de melhorias, porque o que se vê é a gente pagando impostos absurdos, entre as maiores taxas do mundo, e as pessoas morrendo nas filas de hospitais, sem atendimento, as ruas cheias de buracos, e acidentes por causa disso. Vários pedaços do Rio derrubados naquela última chuva violenta continuam destruídos. Não na Zona Sul, com certeza…”
PROXIMA-SEGUNDA-OUTONO-SOLAR
ateliê hoje
Festival Performance Arte Brasil
De 22 a 27 de março no MAM do Rio de Janeiro.
Entrada Franca
Performance Arte Brasil é um encontro nacional de artistas, curadores e pesquisadores da arte da performance, voltado para a discussão de seus desdobramentos estéticos no campo das artes visuais. O evento tem a duração de seis dias consecutivos e oferece em sua programação ações ao vivo, palestras, vídeos, filmes de artistas e videoinstalações, reunindo cerca de cinquenta profissionais que lidam com a prática performática nas diferentes regiões brasileiras.
As atividades apresentadas aqui proporcionam ao espectador-participante experiências calcadas no tempo presente e na ação real, que dispensa recursos de representação para se alinhar com o risco do acaso. Desse modo, todo o festival se dedica à fruição e também à reflexão da performance arte: esta peculiar prática artística interdisciplinar que processa e ressignifica em ações presenciais de alta carga poética atos extraídos do cotidiano.
A pluralidade de artistas e propostas que integram a programação foi conseguida graças à equipe curatorial formada por especialistas de diferentes estados brasileiros. Conceitualmente, pode-se dizer que as atrações se dividem em dois núcleos: o Contemporâneo, que localiza artistas e pesquisadores com carreiras iniciadas há menos de quinze anos; e o Histórico, que discute artistas, obras e acontecimentos de referência cuja revisão crítica integra o projeto de construção de uma historiografia da performance arte nacional, ainda em formação.
Em um momento em que a performance arte se reposiciona com força no cenário artístico contemporâneo, eventos de caráter nacional como este são importantes para afirmar a qualidade deste tipo de produção e refletir sobre a sua potência estética, no Brasil e no mundo.
Performance Arte Brasil é um encontro inédito, neste formato, junto a uma instituição de referência como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Sua realização foi possível por meio do apoio para Festivais de Fotografia, Performance e Salões da Funarte/MinC.
A todos os artistas, curadores, técnicos e espectadores envolvidos no acontecimento desta grande experiência estética, expressamos aqui o nosso muito obrigado.
Daniela Labra – Curadora-geral
+ infos www.mamrio.org.br
MC LDN #9
Ateliê hoje
Marcolini em Copa
Ateliê hoje
Adeus Barcelona!
achei la no blog da Katia Lessa.
“O brasileiro Lucas Jatobá viveu em Barcelona e fez esse vídeo despedida para agradecer o tempo que passou na cidade.
Deixar Barcelona é sempre tão dramático, né?
Abaixo, o making of:”
o papel de Chiara na Gavea
VERÃO DA CULTURA. URGENTE!!!

Para onde vai a cultura do século XXI e quais futuros possíveis podem ser construídos hoje, a partir das práticas culturais em seus vários formatos, projetos e conceitos? Estas são algumas das questões com as quais a Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e os agentes culturais do Estado têm se deparado no seu trabalho, nas suas práticas e experiências.
Para traçar um panorama da produção e refletir sobre a cultura do estado do Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Cultura organizou o seminário Verão da Cultura.Urgente. O evento tem curadoria de Heloisa Buarque de Hollanda. Serão dois dias de debates sobre temas centrais da agenda cultural e projetos culturais de sucesso, com a participação de grupos, artistas e produtores de todo o estado. Entre os convidados para participar de
mesas redondas e redes estão Oskar Metsavaht, Batman Zavareze e Perfeito Fortuna.
Como resultado desses dois dias de atividades, o Verão da Cultura.Urgente trará subsídios para a elaboração de políticas públicas de Cultura para os próximos anos, no contexto da preparação do Plano Estadual de Cultura, atualmente em curso. Estão sendo convidados representantes de Pontos de Cultura e agentes culturais do interior do Estado. O material dos encontros estará disponível na web.
Para a Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes, “o Verão da Cultura.Urgente é um termômetro que ajudará a traçar políticas públicas para todo o estado. É uma tomada de pulso para um novo ciclo que, com certeza, vai gerar frutos para a cultura do Rio de Janeiro”.
“É gente que transita com conforto entre as várias linguagens e entre os vários
territórios sociais e culturais da cidade. Esta é uma tendência clara da cultura de hoje”, diz Heloísa Buarque. “Pretendemos, então, fazer um diagnóstico do que está acontecendo no ‘. agora’ , em termos de inovação na área da cultura, e pensar nas perspectivas futuras. Por isso, os painéis são chamados Futuro.Agora, Cidade. Agora”, conclui.
O programa é constituído por mesas de debate, como a de abertura, Cidade.Agora, pelas Redes de experiências e de ideias, e por uma exposição coletiva, Arte.Agora. (que pretende debater temas centrais da agenda da cultura hoje), e a Rede de experiências, discussão de projetos culturais de sucesso e inovadores
A exposição coletiva Arte.Agora é um panorama da produção recente de um diversificado grupo de artistas do Rio de Janeiro, reunido pelo curador Marco Antonio Teobaldo. A mostra é dividida em três áreas: Praça, no entorno da piscina, Território Urbano (na área externa) e Estação Tecnológica (no Salão Nobre). Na Praça serão apresentados trabalhos em pintura, desenho, escultura, street art e performances; na Estação Tecnológica serão exibidos trabalhos desenvolvidos com uso de novas tecnologias. Da entrada do Parque Lage até o caminho que leva às salas de debates será possível observar as intervenções e as obras desta exposição.
Programação:
Sábado 19 de março
Arte.Agora
Exposição coletiva durante todo o evento
Mesas
Cidade.Agora
14:00hs
Convidados: Ernesto Neto, Hugo Barreto, Pedro Rivera, Chacal, Perfeito Fortuna, Ericson Pires, Marcus Vinicius Faustini.
Coordenação: Ilana Strozenberg
Rede de ideias
14:00hs
As novas praças da cultura
Como a criação de espaços culturais inovadores podem modificar antigas hierarquias
Apresentadores: Vera Saboya e Adhemar de Oliveira
Mediador: Ana Claudia Souza
Rede de ideias
15:30hs
Novos modelos de negócios no mercado cultural
Quando as oportunidades econômicas estão nos modelos alternativos
Apresentadores: Pedro Augusto e Junior Perim
Mediador: Anabela Paiva
Cultura.Agora
16:00hs
Perspectivas de inovação (artística, social e econômica) hoje no campo da produção cultural, entre outros temas
Convidados: Marcio Botner, Bruno Vianna, Leandra Leal, Bel Lobo, Sergio Magalhães, Deborah Colker
Coordenação: Heloisa Buarque de Hollanda
Rede de ideias
17:00
Novas geografias da cultura no Rio de Janeiro: outras redes e lideranças
Apresentador: Marcus Vinicius Faustini e Marta Porto
Mediador: Ilana Strozenberg
Cultura.Agora
18:00hs
Convidados: Nobuyuki Ogata, Marcos Chaves, Fred Gelli, Ciça Gianetti, Silvia Ramos, Batman Zavareze, Alberto Renault e Gilberto Gawronski, Fernanda Abreu
Coordenação: Heloisa Buarque de Hollanda
Rede de idéias
18:30
A terceira margem da cultura
Apresentadores: Charles Feitosa e Ecio Salles
Mediador: Beá Meira
Futuro.Agora
20:00hs
Como está se redefinindo a noção de arte para o século XXI e as mudanças que já se anunciam no que diz respeito à função social da arte?
Convidados: Bia Lessa, Vik Muniz, Oskar Metsavaht, Marcello Dantas, Luiz Alberto Oliveira, Manuel Thedim e Paul Heritage
Coordenação: Adriana Rattes.
Domingo 20 de março
Arte.Agora
Exposição coletiva e performances
Performances: Mary Fê, Adriana Tabalipa, Crent Crew
Rede de Experiências
14:00hs
Cultura, controle e conflito
Apresentadores: Jailson de Souza e Dudu do Morro Agudo
Mediador: Pedro Strozenberg
Rede de Experiências
15:30hs
Cultura, memória e mobilização comunitária
Apresentadores: Edson Diniz e Regina Novaes
Mediador: Ilana Strozenberg
Rede de Experiências
17:00hs
Cultura, arte e educação
Apresentadores: Claudius Ceccon e Maria Antônia Goulart
Mediador: Ilana Strozenberg
Rede de Experiências
18:30hs
Cultura, comunicação e redes sociais
Apresentadores: Heraldo HB e Ivana Bentes
Mediador: Anabela Paiva
Encerramento
20:00hs
Orquestra Voadora
VERÃO DA CULTURA.URGENTE
Serviço:
Sábado, dia 19: de 14h às 20h; domingo, dia 20: de 14h às 20h.
Local: Parque Lage – Rua Jardim Botânico 414.
Informações: Evento gratuito. Sujeito à lotação.
See, Search, & Share your life
O Retrato da Presidenta (e da Ministra também)
O videozinho abaixo é ou não é o retrato oficial da cafonice suprema e do atraso máximo? Segundo a ministra “a presidenta é fã de artes plásticas”.
CHACAL informa: terça tem MISCELÂNEA
CINELÂNDIA:
19h / 20h DJ Jorge LZ
20h / 22h Me Beija
CINEMA ODEON:
20:15h Carnaval do Rio 1955 (filme)
20:30h Manuel Bandeira (c/ André Pessoa, Chacal, Justo D’Ávila)
20:45h Tono (banda)
21:15h “ex-magali” (vídeo)
21:30h Letuce (banda)
22:15h clip e coroação da atriz Maria Gladys pelo bloco “Me Beija”
23:00h Songorocossongo
NO CAFÉ DE CIMA DO ODEON
22h as 00h: DJ Jorge LZ
O genial Allan Sieber informa:
“UM DIA HISTÓRICO > É com prazer inenarrável que anuncio o novo site da Toscographics!! Por pressão popular o chefinho aqui cedeu e agora temos até twitter e facebook, vejam bem, quanta decadência em nome do vil metal! Além disso tem a nova loja, com muitas traquitanas e meus originais.
E a partir de hoje toda sexta entra no ar o “Tosco Friday“, onde recebo desenhistas e amigos (raramente são a mesma pessoa) para uns drinks aqui na Tosco. O primeiro convidado é ninguém mais ninguém menos que Tiago Lacerda, vulgo Elcerdo, desenhista classudo que muito admiro.”
Peguei lá no blog dele.
Jamaica in Rio
Ateliê hoje
Nina Becker no Solar de Botafogo
Ateliê hoje
Adriana Varejão bate recorde em leilão na Christie’s
Lá no site do Estadão saiu assim:
Jotabê Medeiros e Tonica Chagas – O Estado de S.Paulo
A obra “Parede com Incisões à La Fontana II”, de 2001, da artista brasileira Adriana Varejão, foi vendida ontem na Christie”s de Londres e se tornou a obra mais cara de um artista brasileiro vivo vendida. Alcançou US$ 1,7 milhão (cerca de R$ 2,72 milhões), incluindo a comissão do leiloeiro.
O recorde anterior pertencia à carioca Beatriz Milhazes, que em 2008 alcançou US$ 1,049 milhão (R$ 1,7 milhão) pelo quadro O Mágico (2001), em leilão na casa Sotheby”s de Nova York. A tela de Beatriz pertencia à Galeria Elba Benitez, de Madri.
Na ocasião, Beatriz, nascida em 1960, batia o recorde anterior de artista brasileiro vivo, que já pertencia a ela: sua tela Laranjeiras (2002/2003) foi vendida por US$ 465 mil em leilão da Christie”s, em outubro de 2007.
Adriana Varejão nasceu no Rio em 1964 e é uma das criadoras brasileiras de mais destaque, com obras em museus como Guggenheim (NY), Stedelijk (Amsterdã) e Fundação Cartier (Paris). Em 2005, ela casou com o mecenas mineiro Bernardo Paz, dono do Instituto Inhotim. Em 2009, sua tela Azulejaria de Cozinha com Peixes, de 1995, da série sobre o canibalismo cultural brasileiro, foi estimada entre US$ 120 mil e US$ 180 mil.
Curioso notar que, no mesmo lote da Christie”s em que foi vendida a tela de Adriana em homenagem a Lucio Fontana (1899-1968), foram vendidas duas obras do próprio Fontana, que alcançaram US$ 3,6 milhões (R$ 5,7 milhões) e US$ 4,3 milhões (R$ 6,8 milhões).
FC/RIO #3 – Dinheiro é um pedaço de papel?
Nosso correspondente local Frederico Coelho foi a Brasilia falar no seminário sobre Helio Oiticia e depois saiu para beber com Sergio Martins e Felipe Scovino. Chegou ontem ao Rio e mandou sua terceira coluna. (Na barra lateral direita do b®og tem uma apresentação do Fred pra quem ainda não conhece a figura)
Dinheiro é um pedaço de papel?
Um dos temas que debatemos diariamente no meio cultural brasileiro atual é o seguinte: qual o valor do meu trabalho? Os que trabalham com o que estão começando a chamar por aqui de economia criativa ou com ações relacionadas ao meio intelectual e estético vivem se fazendo esta pergunta pois o mercado sempre lhe pergunta isso na hora do contrato. Nas artes visuais, essa pergunta é mais dramática: “como faço para ganhar dinheiro como artista”? Ou melhor: “se vivo entre o limite trágico-libertário do criador e a necessidade pragmática das contas no fim do mês, como posso fazer dinheiro”? Ou mais: quem paga o artista? O mercado de arte? O colecionador? O Estado? A galeria? Ou simplesmente o seu investimento concentrado em seu trabalho? Quantos intermediários o artista precisa para circular sua mercadoria e poder vendê-la como forma de sobrevivência no capitalismo nosso de cada dia?
Outro exemplo deste dilema, posto de outra forma. Na música, as páginas do Segundo Caderno d’O Globo alimentam, depois de séculos, uma polêmica pública. Política? Talvez. Cultural? De certo ponto de vista sim. Mas a polêmica é, mesmo, relacionada a quem paga quem. Na troca de cartas entre Antonio Adolfo, ECAD, Ronaldo Lemos, Joyce e nos artigos de Hermano Vianna e de Caetano Veloso (não tomando nenhuma posição contundente e deixando em aberto a dúvida tensa, o que também é importante), todos discutem, cada um do seu ponto de vista, o pagamento (ou não) de direitos autorais na música brasileira. Quem debate são os jovens músicos da era digital, os novos nomes da cena musical brasileira? Não. Quem debate e defende posições são compositores ligados à geração que fundou a MPB – e, de certa forma, a profissionalização do músico brasileiro nos aos 60 do século passado. São eles que debatem em público com novos agentes da cultura-século XXI que apresentam a opção legítima e complexa de refundar formas de distribuição do produto, que reivindicam uma proposta descentralizada de direitos, uma nova forma de circulação livre das informações e conteúdos culturais.
Simplificando deveras, os proponentes do Creative Commons constroem sua representação pública como os que querem ser risco, experimento, invenção, liberdade, criação de laços sociais universais – tudo que a arte alimenta no mundo e no homem; já os compositores e músicos passam a imagem de tradicionais, institucionais, nacionais, exigem direitos, querem ser reconhecidos como trabalhadores da cultura. Eles querem o reconhecimento de uma vida profissional que precisa do controle do mercado: ouviu, paga. Sem julgamentos de certo ou errado, quem trabalha merece seu reconhecimento simbólico e – no capitalismo – financeiro. Você vale mais se trabalha mais, ou melhor. Grandes compositores vendem mais, arrecadam mais, tocam mais e por isso não dependem tanto do ECAD quanto pequenos compositores que tem um hit ou apenas dois discos bem sucedidos. E o que os novos músicos e compositores têm a dizer sobre isso? Iniciam suas carreiras apostando nas novas formas de circulação da mercadoria “música” ou se aferram ao direito garantido de um pagamento via recolhimento de imposto por parte de uma agência central como o ECAD?
E os artistas visuais? A arte é imagem e a imagem é o que mais circula no mundo atual pela web, sem dúvida. Um trabalho pode ser registrado por terceiros e circular infinitamente através do Google image. Os sites de artistas estão aí escancarados para quem quiser ver, assim como livros e outros suportes que divulgam essas imagens. Porém, nada disso substitui a EXPERIÊNCIA de estar com ou conviver com a obra (ir à exposição, ao museu, ao ateliê ou comprá-la para ficar admirando em casa). Eu posso ouvir a obra completa do Caetano ou da Joyce em casa e não perderei tanto assim do seu objetivo inicial quando foi feita. Mas se eu ficar em casa vendo por livro uma obra de Richard Serra ou Chelpa Ferro, não viverei nem um décimo do que realmente está em jogo durante sua criação e exibição. Assim, o que o artista vende não é a execução da obra (como na música) ou a máxima possibilidade da série (como o cinema/DVD e a música/CD). Quanto mais o artista torna-se produtor de séries infinitas e mercadológicas, vazias de questões pertinentes ao meio crítico e histórico da arte, menos ele vale como artista para o seu campo de pares. Vide Romero Brito, artista milionário e totalmente desprestigiado entre os artistas brasileiros. Portanto, o artista vive de VENDER SUA OBRA. Ou de bolsas. Ou de prêmios.
Um jovem artista, hoje, no Brasil, quer o que? Claro que esta pergunta é retórica, já que cada pessoa vive a partir de uma motivação pessoal insondável aos outros. Porém, vamos fazer esse esforço de generalização: um jovem artista hoje no Brasil inicia sua carreira JÁ VISLUMBRANDO a profissionalização através da arte. E isso não é um problema. Isso é o amadurecimento de um sistema da arte que conta com universidades, cursos, galerias, escolas, certa expectativa de colecionadores etc. O mercado vive do fresh and new, numa espécie de capitalismo à La Pound (Money is news that stay news). Assim, novos artistas disputam com artistas maduros ou consagrados o mesmo campo, as mesmas listas, os mesmos prêmios. A questão é saber se todos precisam utilizar as mesmas PRÁTICAS para se relacionar com esse sistema que o Brasil constrói a duras penas nos últimos cinqüenta anos. Há muitos caminhos para se estabelecer como um artista profissional (no sentido de ocupação)? Ou há apenas os caminhos estreitos que serão reproduzidos por todos, sejam eles radicais, conservadores, inventores, diluidores, mestres ou monstros?
Semana passada Daniela Name postou em seu blog alguns comentários e artigos refletindo sobre a ausência de artistas cariocas na lista final do Premio Marcantonio Villaça deste ano – assim como no PIPA do ano passado. A repercussão foi ampla dentre os que freqüentam o blog. A questão que Daniela colocou é mais um sintoma do que um problema, apesar do sintoma raramente ser debatido ou posto em xeque. O problema mesmo não é entender a precariedade institucional de uma cidade em contraste com a organicidade entre insitituições, galerias, compradores, museus e universidades. O problema é entender se pode existir uma especificidade em cada espaço criativo regional ou se todos terão que trabalhar e viver sob o mesmo diapasão que emana do grande centro financeiro. É o mercado que consagra a arte feita em São Paulo? Não creio. Assim como não é o fracasso institucional do Rio de Janeiro que impede a ascensão de artistas cariocas em certos meios. A questão é saber, novamente, o que o artista espera do seu trabalho como forma de vida, profissão. O investimento agudo e solitário na linguagem que se escolhe como arte é um trabalho árduo e, na perspectiva romântica porém real, sem retorno financeiro garantido. Como investir na linguagem e ser um profissional remunerado por um mercado volátil e uma ausência completa ou quase completa de aquisição de obras por parte das instituições e do Estado? Matemática difícil de se resolver.
Mas a grande notícia, o grande tema da história cultural brasileira atual é a promessa de Jorge Ben(Jor) em apresentar um show completo com todo o disco Tábua de Esmeraldas, tocado do mesmo jeito e se possível com os mesmos músicos. Isso é a maior notícia do ano. E não tem preço.
Terceira Metade + Zilio no MAM – Rio
Epheitos Kolaterais na Cia. dos Atores – Lapa
“Epheitos Kolaterais (Novas Metamorfoses)” é o mais recente espetáculo do autor e diretor Henrique Tavares (“Açaí e Dedos”, “A Arte de Escutar”, “Barbara não lhe Adora“…), que reestreia no dia 11 de fevereiro (6ª feira), na Sede da Cia. dos Atores. Protagonizada por Carla Faour, Charles Fricks, Rita Elmôr e Anderson Cunha, o espetáculo volta aos palcos após uma bem sucedida temporada no Espaço SESC Copacabana, em 2010.
Ministério da Cultura quer economia criativa
Deu na Folha de SP de domingo…
Cultura quer foco em economia criativa
Inspirado em Barcelona e no Reino Unido, ministério estuda gerar núcleos criativos em áreas urbanas degradadas
Arquitetura, música, cinema e design vivem boom global e geram, no país, R$ 380 bi; desafio é profissionalizar
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
A terceira maior indústria do mundo, atrás de petróleo e de armamentos, tem como principal insumo a criatividade.
Da moda ao design, passando por cinema e literatura e incluindo a produção de software, a chamada indústria criativa movimenta mais de R$ 380 bilhões no Brasil, segundo estimativa da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
O setor ganha neste ano maior relevância institucional, com a criação, no Ministério da Cultura, da Secretaria da Economia Criativa.
O conceito vem dos anos 90: indústrias criativas são aquelas com potencial de geração de riqueza e emprego por meio da utilização de propriedade intelectual.
Do conceito surgiram experiências de cidades ou núcleos criativos, como forma de transformação de áreas degradadas e de desenvolvimento sustentável.
Caso de Glasgow, que uniu todas as disciplinas em uma só escola no meio de uma área degradada e violenta. Por meio do envolvimento dos alunos – designers, estilistas e artistas – com a comunidade, a área foi recuperada.
A criação de núcleos e redes de cidades criativas é uma das prioridades da nova pasta, revelou à Folha a secretária de Economia Criativa, Cláudia Leitão.
Ela diz que quer se aproximar do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão do próprio Ministério da Cultura, para estimular a geração de núcleos criativos.
“Temos que promover uma ocupação de prédios históricos que seja inclusiva e que gere riqueza”, diz Leitão, ex-secretária de Cultura do Ceará e professora da Universidade Federal do Ceará.
“Temos muito o que aprender com as experiências de fora, da Austrália, de Barcelona.”
CONTRAEXEMPLO
Já o exemplo do que não fazer vem de Salvador. “A reforma do Pelourinho tinha enganos graves. Foi feita a partir de uma visão do turismo, de exclusão. Temos de incluir a população local.”
Outro exemplo de patrimônio com potencial de se transformar em cidade criativa é o centro de São Luís.
“O Maranhão precisa tornar a diversidade um ativo para a sua economia. Precisa ir muito além do título de Patrimônio da Humanidade.”
Interessada no tema desde o início dos anos 2000, Leitão foi para Brisbane, na Austrália, estudar com os grandes pensadores da área.
“Esse é um conceito novo, que precisa ser compreendido pela sociedade”, diz Leitão. “Você tem ainda uma visão negativa, que nasce com a Escola de Frankfurt, com uma visão apocalíptica da indústria cultural.”
Segundo ela, o Brasil precisa empreender mais na área e exportar a diversidade cultural, do mamulengo ao software e à arquitetura.
“A criatividade é um insumo que não acaba e a economia criativa pode ser uma grande estratégia de desenvolvimento com distribuição de renda.”
ATRASO
O tema chega ao Brasil com atraso de 17 anos. Em 1994, a Austrália foi o primeiro país a apontar a necessidade de desenhar políticas públicas para estimular a economia movida a cultura e criatividade.
Mas o termo indústria criativa só ganhou visibilidade internacional em 1997, quando o governo britânico do trabalhista Tony Blair criou a Força-Tarefa das Indústrias Criativas.