RoncaRonca 5 anos na Oi FM
Saiu na FactMag o texto do Bernardo Oliveira sobre a festa de logo mais de 5 anos do RoncaRonca na Oi Fm…
Amanhã, 29 Abril, o radialista, DJ, fotógrafo e jornalista Maurício Valladares, o popular Mau Val, comemora 5 anos do programa Ronca Ronca na rádio Oi FM com uma festa no Cordão do Bola Preta, no Rio. A festa conta com a participação de um dos grupos cariocas mais bacanas da atualidade, o Do Amor. O aniversário também será marcado pelo lançamento oficial do compacto em vinil de 7” Ronca Ronca ao vivo, com shows de Tulipa Ruiz, Otto, Cidadão Instigado e Do Amor (que pode ser baixado neste link).
Trata-se de uma celebração da maior importância para aqueles que admiram, gostam, trabalham e vivem ligados de alguma forma à música no Brasil. Não somente pela celebração, mas pela relevância do trabalho de Mau Val para a música no Brasil – tanto em relação à música produzida, como também pelo alargamento do ambiente sonoro e da tolerância à diversidade musical. Exagero? Vejamos.
No final dos anos 80, antes da internet, do mp3, dos podcasts e de todo o contexto digital que nos circunda, a pesquisa musical não era um trabalho simples. Lojas de discos, locadoras de CD e programas de rádio nos informavam o que acontecia no mundo – considerando o mundo segundo o prisma das grandes gravadoras, isto é: Europa e EUA, com reservas.
Basta dizer que não tínhamos nenhum álbum do Funkadelic lançado no Brasil em 1992. Nem Fela Kuti, nem Robert Wyatt. E pouquíssima coisa de Zappa, Stooges, Lou Reed. Sem contar a própria discografia de música brasileira, que se encontrava desprovida de títulos fundamentais como Mutantes, Jacob do Bandolim, Moreira da Silva ou Novos Baianos.
No início da década de 90, costumava escutar o programa Radiolla, na Globo FM, um verdadeiro oásis no contexto indicado acima. Pela primeira vez pude escutar uma faixa inteira do Funkadelic – o que parece uma piada, diante das condições de hoje. Mas, logo em seguida, a surpresa maior: Mau Val emendou uma faixa da cantora brasileira Clementina de Jesus.
Foi um choque. Como alguém se atrevia a juntar no mesmo bolo o funk psicodélico e o samba de partido-alto? E isto em plena rádio brasileira pós-80, sitiada pelos interesses das multinacionais, setorizada de acordo com estes mesmos interesses? Pois bem, Mau Val costuma surpreender seus ouvintes com inserções improváveis, apostando na música, sem distinções preconceituosas de épocas e gêneros, com a mesma paixão.
Trabalhou em uma porção de jornais e revistas, como o Jornal da Música e o Jornal do Brasil, cobrindo música basicamente. Na década de 80, na saudosa Rádio Fluminense FM, foi o primeiro a tocar demotapes de artistas como Legião Urbana, Plebe Rude, Biquini Cavadão e Paralamas do Sucesso, que mais tarde formariam o BRock (rock brasileiro). Programas de rádio, fez alguns, como o Ronca Tripa, na Panorama FM, e, a partir de 2000, o Ronca Ronca, que comemora 5 anos em sua nova casa.
Minha tese parece improvável, mas assumo: Mau Val foi um dos responsáveis pelos rumos tomados pela música brasileira nos últimos 30 anos, particularmente em relação à música do sudeste brasileiro. Sem sua intervenção, sem seus programa de rádios, sua militância artísitica, tolerância e sede pelo novo, certamente essa produção seria outra. Nos resta dizer longa vida ao Mau Val e parabéns pelo aniversário.
Festa Ronca Ronca
Centro Cultural Cordão do Bola Preta
Rua da Relação, 3, Lapa (2240-8049).
R$25. 18 anos. Cap.: 800 pessoas.
6ª, às 21h.
Bernardo Oliveira