O livro Arquivo Contemporâneo, do crítico de arte e professor Felipe Scovino (organizado a partir da bolsa de estímulo à produção crítica em artes concedida pela Funarte/MINC em 2008) insere a escrita ou o depoimento do artista como ponto de reflexão. Num universo de 13 entrevistas (Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Artur Barrio, Carlos Vergara, Cao Guimarães, Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Ernesto Neto, Raul Mourão, Ricardo Basbaum, Tunga e Waltercio Caldas) Arquivo Contemporâneo tece uma rede de atravessamentos de trajetórias e suportes, localizando a produção desses artistas no contemporâneo; e fundamentalmente, instaurando a vitalidade e atemporalidade da obra de arte, independente do ano, artista ou contexto em que foi criada.


O lançamento do livro é no próximo sábado no MAC NIteroi a partir de 17h. Na mesma ocasião acontece a ianuguração da exposição coletiva com obras dos 13 artistas e o lançamento do livro a Experiência REX de Fernanda Lopes.

O livro de Fernanda é isso tudo aí embaixo e muito mais. Lançamento no próximo sábado.


A Experiência Rex: “Éramos o time do rei”

Em junho de 1966, o Grupo Rex, formado por Geraldo de Barros, Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, Frederico Nasser e José Resende, inaugurou suas atividades em São Paulo com a abertura de um espaço de exposições, a Rex Gallery & Sons, localizada na Rua Iguatemi n. 960 (dividindo espaço com a loja de móveis Hobjeto, de Geraldo de Barros), e o lançamento de um jornal-boletim, o Rex Time. O nome da galeria, gravado em uma placa pendurada logo na entrada, e da publicação, eram sempre em inglês para dar o ar de seriedade, de credibilidade das tradicionais firmas inglesas que passam de pai para filho durante gerações.

A manchete estampada em letras maiúsculas na capa da primeira edição do Rex Time, publicado em 3 de junho de 1966, dava conta da postura do grupo. “Aviso: É a Guerra” era o título do editorial escrito pelo poeta e jornalista Thomaz Souto Correa, que anunciava: “Tem gente que, depois de pensar e sofrer bem, achou que do jeito que está a situação das artes plásticas no Brasil não pode continuar. E, sempre pensando bem e sofrendo mais ainda, eles resolveram dar um grito de ‘basta!’. (…) Essas gentes são os Rex, que me pedem para comunicar e eu comunico”. O grupo queria pôr fim às relações viciadas das instituições culturais, das galerias e leilões. Buscando espaço para a nova produção artística, os Rex “baixam a ponte levadiça, pois a guerra é justamente para levar mais gente para dentro do castelo”. Em quase um ano de atividade marcado pelo humor e pela ironia, promoveram conferências, sessões de filmes experimentais e documentários, organizaram cinco exposições, uma delas reunindo jovens artistas, e editaram cinco números do jornal Rex Time.

A Experiência Rex: “Éramos o time do rei” busca analisar a formação e atuação do Grupo Rex no contexto da arte brasileira da segunda metade dos anos 1960, marcado no campo sóciopolítico pela ditadura militar a partir de 1964 e, no campo artístico, pelas discussões estruturadas a partir do movimento de Nova Figuração. O grupo foi uma das tentativas que se organizaram na segunda metade dos anos 1960 de reavaliação das artes plásticas no Brasil, voltando sua atenção para o circuito artístico, então baseado na existência de alguns museus, galerias e leilões, voltados para a exibição e comercialização da arte moderna e da arte abstrata brasileiras. A busca de alternativas contemporâneas para a produção artística e novas formas de comunicação com o público, desenvolvidas pelos artistas naquele momento, também implicava a abertura de novos espaços no circuito artístico onde essa produção pudesse circular.


lançamento do livro A EXPERIENCIA REX, da Fernanda Lopes, editado pela Alameda. R$ 45 (272 páginas). No sabado, MAC Niteroi a partir de 17h, junto com a inauguração da exposição e lançamento do livro Arquivo Contemporâneo (7 letras), do Felipe Scovino. Vou tentar conversar com os autores e colocar algo aqui no b®og.

Artigo do designer italiano, Roberto Galisai, e do arquiteto brasileiro, Tuti Giorgi, publicado no “Giornale dell‘architettura”, periodico de Turim, Italia, em fevereiro de 2009, seção de urbanismo.

O “Giornale” è uma publicação com circulação entre pensadores e especialistas da área de arquitetura, design e cultura.

«Grandeur» brasileira

A “Cidade da Música” de uma nota só.

Inaugurado antes de sua conclusão o complexo de Christian de Portzamparc no Rio de Janeiro.

A prática de inaugurar obras incompletas è habitual nos políticos de todo o mundo.

Em fins de dezembro passado o então Prefeito do Rio, próxima da entrega do cargo, tratou de inaugurar a inacabada “Cidade da Música”, a fim de de poder associar o próprio nome com a obra monumental que o levou a comparar-se com o grego Péricles, fundador do Partenon.

O uso político e inadequado dos recursos públicos gerou muias polêmicas em torno do complexo projetado para abrigar a OSB – Orquestra Sinfônica Brasileira e atividades em torno ao tema.

A empreitada da obra faraônica de 96.000 metros quadrados atrasou em quase 3 anos, seus custos cresceram mais de 400% chegando perto dos U$ 400.000.000, até agora. E tudo isto para um trabalho ainda inacabado.

Mas que já suscita a idéia de uma oportunidade (cara) perdida. Por ao menos três razões:

Primeira: a riqueza musical brasileira não está fechada na música sinfônica e desconsiderar isto è tratar da questão de um modo colonizado, remete à idéia de alta/baixa cultura, antigo e sem compreensão da própria riqueza.

Segunda: houve a oportunidade rara, prefeito e arquiteto puderam escolher o terreno a partir de um vôo de helicóptero, e sobre um terreno no encontro dos eixos principais de circulação previstos por Lucio Costa em seu plano urbanístico para a Barra da Tijuca,

Não nasceu, todavia, um elemento urbanístico capaz de resgatar a imagem do bairro, símbolo mais recente da especulação imobiliária. Ao contrário, o complexo de perde (e então se acha) entre os tantos aglomerados de condomínios blindados e shoppingcenters em estilo “nova Miami” que povoam a região.

Terceiro. A julgar pelas polêmicas – esperamos ser desmentidos – a gigantesca intervenção urbanística não parece ser capaz de reforçar as relações entre a cidade e a Barra da Tijuca, com poucas conexões fisicas e distantes em espírito e estilo de vida, ao ponto da Barra ter pretensões de autonomia.

A grandeza do projeto è uma metáfora do papel histórico de centro cultural do Rio de Janeiro, capital política do Brasil até 1960, quando foi inaugurada Brasília.

La grandeur carioca è filha daquela francesa. Não è por acaso que um arquiteto francês desenhe, no Rio de Janeiro como em Paris, um complexo dedicado à música. Sem entrar no mérito de quanto seja ultrapassado o conceito de parque temático dedicado `as artes, o que surpreende è a influência cultural que Paris exerce sobre o imaginário do Rio (a outra tentativa de grande equipamento cultural da cidade, uma filial do Museu Guggenheim, se deu com o também francês Jean Nouvel), e como os cariocas nutrem ainda um sentimento colonial de francofilia.

As raízes deste sentimento remontam à época imperial, ao século XIX, e as missões artísticas “civilizatórias” francesas, passando pelas reformas urbanas `a la Haussmann e o papel que teve Le Corbusier no brilhante modernismo de Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

É a essa arquitetura que Portzamparc disse reverenciar em seu projeto. Mas se compararmos os resultados vemos a distancia da síntese e elegância dos mestres brasileiros, e percebemos que tal inspiração não passou da intenção

Roberto Galisai e Tuti Giorgi

peguei o texto abaixo e as imagens lá no Vitruvius. recomendo q ele seja lido no próprio site, ao importar textos e imagens aqui p o blogspot a coisa ficou emabaralhada e perde-se a coluna de imagens da direita.

Cidade da Música do Rio de Janeiro: a invasora (1)
Otavio Leonídio

Otavio Leonídio, arquiteto, doutor em História, Professor da PUC-Rio

“Disseram no Brasil que a forma do edifício ecoa a arquitetura brasileira dos anos cinqüenta”.
(Christian de Portzamparc) (2)

Inaugurada e inclusa, a Cidade da Música do Rio de Janeiro transformou-se, inesperadamente, numa campeã de matérias jornalísticas. Infelizmente, nada do que tem sido escrito recentemente diz respeito às qualidades (ou à eventual falta de qualidade) do projeto arquitetônico, de autoria do arquiteto francês Christian de Portzamparc (Casablanca, 1944). Por regra, a imprensa tem abordado o grande complexo cultural sob um único prisma: as supostas irregularidades cometidas ao longo de sua construção. Bem entendido, tais matérias não são assinadas por arquitetos. Como de costume, os arquitetos estão – salvo raríssimas exceções (3) – calados.

Embora previsível, o mutismo do meio arquitetural brasileiro com respeito à Cidade da Música do Rio de Janeiro é particularmente incômodo, além de eloqüente. Pois, do ponto de vista da arquitetura brasileira, esse não é – ou pelo menos não deveria ser visto como – um projeto qualquer.

Arquitetos brasileiros gostam de pensar que, diferentemente de tudo ou quase tudo que se fez no Brasil em matéria de arte moderna, a chamada “arquitetura moderna brasileira” foi uma realização estética e cultural verdadeiramente excepcional, desde logo em virtude de sua festejada repercussão internacional. É isso, pelo menos, o que vimos repetindo desde 1943, ocasião em que o Museu de Arte Moderna de Nova York/MoMA supostamente se rendeu à força e à originalidade da arquitetura nacional.

Sabe-se hoje o quanto essa percepção se deveu à força das idéias do grande campeão da arquitetura moderna brasileira, Lucio Costa (1902-1998). O fenômeno não passou despercebido ao tirocínio da historiografia da arquitetura brasileira. Desde meados da década de 1990, ela tem sido bastante pródiga em identificar (em alguns casos, de denunciar) a “trama narrativa” ou a “montagem discursiva” da arquitetura moderna brasileira, localizando nos enunciados de Costa a origem do tropo discursivo (4).

Por outro lado, a historiografia brasileira parece pouco atenta a uma outra dimensão do fenômeno arquitetura moderna brasileira: como a percepção ou imagem dessa arquitetura marcou uma infinidade de arquitetos europeus formada ao longo dos anos 1960 (5).

Minha própria percepção do fenômeno se deu fora do Brasil, no início dos anos 1990, quando trabalhava no escritório parisiense de Christian de Portzamparc. De imediato, chamava a atenção como, naquele ambiente de trabalho, eram constantes as menções a arquitetos brasileiros. Niemeyer, Reidy, Costa – esses e outros nomes povoavam conversas e projetos. E isso sem falar dos nomes que eu mesmo desconhecia. Lembro de uma menção a Bina Fonyat (um arquiteto cuja existência eu simplesmente ignorava à época) e de como tive vergonha de dizer que não conhecia seu projeto para o Teatro Castro Alves, em Salvador. Já nessa época Portzamparc viajava muito ao Brasil (quase sempre de férias, em companhia de sua mulher, a arquiteta Elizabeth de Portzamparc); cada uma dessas viagens era marcada pela descoberta entusiasmada de um novo aspecto da arquitetura brasileira.

Depois, houve um episódio muito marcante para mim, quando, após dois anos de escritório, decidi deixar a França. No dia de minha volta, de um telefone público no aeroporto Charles de Gaule, telefonei para Portzamparc. Eu estava apreensivo e ele seguramente percebeu isso; então, me disse a frase que jamais pude esquecer:

“você pode ser algo que eu sempre quis ser, mas que, no entanto, jamais poderei ser: um arquiteto brasileiro” (6).

Isso foi em março de 1993. Portzamparc tinha à época 49 anos; ainda não tinha recebido o renomado prêmio Pritzker, mas, desde a inauguração de sua Cité de la Musique de Paris (1990), já era bastante conhecido fora da França. Dentre outras coisas, ele se destacava como integrante de um grupo específico de arquitetos europeus – aqueles que, tendo vivido intensamente os anos 1980 (leia-se, a avassaladora voga do pós-modernismo), agora, no início dos anos 1990, sentiam-se cada vez mais atraídos pela arquitetura européia do entre-guerras e pela arquitetura brasileira dos anos 1950. Fazia parte, portanto, do grupo (chamado num primeiro momento de “neo-modernos”) que, no início dos anos 1990, começava a reabilitar a arquitetura do movimento moderno.

Rem Koolhaas também podia ser incluído no grupo. Em 1993, Koolhaas não era a celebridade que é hoje; não tinha tantos textos publicados (embora já tivesse publicado Delirious New York) e, sobretudo, suas idéias apenas começavam a ganhar o impacto que tem hoje no debate internacional.

Para mim, no entanto, Koolhaas fazia parte de uma categoria especial de arquitetos: aqueles que, de manifestamente, cultuavam a arquitetura moderna brasileira. Eu, afinal, não esquecera o que ele dissera numa entrevista de 1990. Como Portzamparc, Kollhaas também tinha um sonho impossível de realizar:

“até os catorze anos de idade […] queria ser uma espécie de arquiteto brasileiro” (7).

Como na maioria dos depoimentos dados pelos integrantes desse grupo, o tom da fala de Koolhaas era confessional; deixava perceber um misto de melancolia e esperança. Como se uma grande afinidade unisse sua própria juventude à força ingênua, selvagem, descompromissada – à inocência e à paixão da arquitetura moderna brasileira.

Significativamente, era um tom bastante diverso daquele adotado por boa parte dos integrantes da geração precedente. Para estes, Brasília, sobretudo, era tudo menos frescor, vitalidade, promessa. Ao contrário: não passava de um equívoco, e podia mesmo ser tomada como um embuste, uma tentativa de desviar os olhos da irracionalidade de fundo que caracterizava o processo da modernidade em geral e o movimento moderno em particular.

Um personagem do romance Les belles images, de Simone de Beauvoir (espécie de quintessência do intelectual europeu da geração que precede a de Portzamparc e Koolhaas) ilustra bem essa postura. Para Gilbert, Brasília era sobretudo sinônimo de exclusão social; afinal, a cidade não havia sido feita para aqueles que a haviam construído com seus próprios braços. Morar na periferia, em “casas de madeira” era a única alternativa que lhes restava:

“Eles não tinham escolha […] O preço do aluguel em Brasília está muito além de suas possibilidades” (8).

Para a geração seguinte, no entanto, a experiência – a aventura! – da arquitetura moderna brasileira podia ser vista e admirada de um ponto de vista completamente diferente. E isso não obstante a consciência das mazelas sociais da empreitada. Com a palavra, uma vez mais, Koolhaas:

“Penso que Brasília indubitavelmente tenha sido o mais completo depoimento da cidade moderna. […] pouco após a inauguração de Brasília, ficou claro que, além de Brasília, ainda havia uma contra Brasília: as invasões. Fato esse que aqui na Europa foi relatado como o fracasso da verdadeira Brasília. Para mim o importante é a tentativa” (9).

Brasília era inspiradora, e não apenas para arquitetos, mas também para futuros cineastas. Foi isso precisamente o que admitiu recentemente um contemporâneo de Portzamparc e Koolhaas, o cineasta alemão Win Wenders:

“Minha história com o Brasil começou quando eu era criança. E não tinha a ver com filmes, mas com cidades. Eu era apaixonado pelo Niemeyer e impressionado com a idéia de construir uma cidade no meio da selva – ou, pelo menos, era assim que sua obra era apresentada na Alemanha. Na parede do meu quarto tinha todas as informações e imagens que podia ter sobre Brasília” (10).

Imagino que, como Portzamparc e Koolhaas, há por aí toda uma plêiade de arquitetos europeus formada nos anos 1960 cujos projetos trazem a marca da arquitetura moderna brasileira. Imagino também que, mais do que um determinado repertório, o que marca a produção desses arquitetos é, digamos, o espírito de nossa modernidade arquitetural – aquilo que outro estrangeiro, o antropólogo norte-americano James Holston, chamou “o espírito de Brasília” (11).

II

Se, como creio, essa é uma interessante pesquisa acadêmica a ser feita, o projeto arquitetônico da Cidade da Música do Rio de Janeiro é, desde logo, um estudo de caso excepcional, por diversas razões. A primeira delas tem a ver com a nacionalidade de Portzamparc.

A densidade das relações culturais entre Brasil e França é conhecida. Quando veio pela primeira vez ao Brasil, em 1935, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss tinha em mente a realização de uma etnografia de povos indígenas. No entanto, o interesse de seu relato de viagem, o livro Tristes trópicos, não reside apenas no estudo que empreende dos hábitos e costumes de cadiuéus, bororos e nambiquaras. Tão ou mais interessante é a etnografia que faz da elite brasileira – uma elite que tomava a França do século XIX como modelo de civilização.

Não surpreende, pois, que, mais ou menos no mesmo momento em que Lévi-Strauss se dá conta das afinidades muito particulares que ligam a elite brasileira a uma certa cultura letrada francesa, Lucio Costa (assim como Affonso Eduardo Reidy, um brasileiro nascido… na França!) se volte para a Paris em busca de um norte para a nova arquitetura brasileira. As circunstâncias que resultaram na vinda de Le Corbusier ao Brasil em 1936 são, hoje, razoavelmente conhecidas (12) Sobretudo, sabe-se que foi graças a Lucio Costa que, como percebeu o historiador Giulio Carlo Argan, o Brasil fez sua opção pela França, em detrimento da vertente alemã do movimento moderno (13). Especialmente interessante, no entanto, é perceber como, aos olhos de Costa, toda a formação da arquitetura brasileira podia ser interpretada em termos de uma dívida contraída para com a França.

Significativamente, é para a França que Costa se volta quando, em 1951, sente-se seguro o bastante para tratar da história da arquitetura moderna brasileira em termos de uma inapelável vitória (14). Aos olhos de Costa, a vitória em questão significava, acima de tudo, que “a dívida contraída com o velho professor” havia sido “fiel e honrosamente saldada no prazo vencido de um século” (15). O velho professor, no caso, era ninguém menos que Grandjean de Montigny, o arquiteto francês, integrante da chamada Missão Francesa, que, no segundo quartel do século XIX, havia introduzido o ensino formal de arquitetura no Brasil.

Como se vê, para Costa, a grande realização da arquitetura moderna brasileira era, em grande medida, esta: havia sido capaz de inscrever-se numa tradição da qual faziam parte ícones franceses como Grandjean de Montigny e Le Corbusier. (Significativamente, Costa sempre insistiu no fato de que, não obstante ter nascido em território suíço, Le Corbusier era, na verdade, francês) (16).

Os episódios que ilustram a solidez e a persistência das relações França-Brasil no território da arquitetura são incontáveis. Não seria possível enumerá-los aqui. No que se refere à relação Costa-Le Corbusier, podemos concluir lembrando apenas que, quando da morte do francês, em 1965, o traslado de seu corpo desde Roquebrune, na Côte d’Azur, onde morreu, até Paris ficou a cargo de… Lucio Costa, e que o décor do funeral, ocorrido na Cour Carré do Museu do Louvre, foi concebida por… Maria Elisa Costa, filha de Lucio.

III

Quarenta anos separam a morte de Le Corbusier e o projeto da Cidade da Música do Rio. Nesse entretempo, os vínculos entre a produção francesa e a brasileira fraquejaram. Em muitos momentos, prevaleceu o desinteresse mútuo. A produção francesa dos anos 1960 e 1970 não era muito animadora. A nossa própria produção tampouco entusiasmava os franceses. Foi sobretudo com a renovação da arquitetura francesa, iniciada no primeiro governo François Mitterrand, que o interesse mútuo ganhou novo fôlego.

Não foi contudo para a arquitetura contemporânea brasileira que a nova geração francesa voltou os olhos a partir dos anos 1980. Se, por aqui, vicejavam pós-modernistas e “regionalistas-críticos” (vale lembrar que a atual voga da arquitetura paulista ainda não havia começado, é Severiano Mario Porto quem, no final dos anos 1980, encarna o papel de grande expoente da arquitetura contemporânea brasileira), na França, para além de Zanine (17), os olhos estão voltados para… Niemeyer, Reidy, Costa.

A familiaridade com a obras de Niemeyer (que chegou a manter um escritório em Paris, onde desenvolveu projetos como a sede do Partido Comunista Francês, localizada na mesma cidade) e o fato de o arquiteto brasileiro estar vivo e trabalhando talvez tenham ajudado. Num ambiente de crescente insatisfação com a arquitetura produzida nos anos 1970 e 1980 (leia-se, a arquitetura pós-modernista), a boa e velha arquitetura niemeyeriana podia, em todo caso, ser vista agora menos como anacronismo (ou solipsismo, ou teimosia, ou ignorância, ou auto-suficiência, ou carrancismo, ou vulgaridade) e mais como evidência em favor do argumento do moderno como “projeto inacabado” (18).

Bem entendido, a superação do pós-modernismo empreendida por arquitetos como Portzamparc não implicava um retorno puro e simples ao credo modernista. Sua visão de cidade, sobretudo, era radicalmente diversa da versão mais difundida do urbanismo moderno – com sua ojeriza à rua e à quadra tradicionais. Nesse sentido, aliás, o abandono da estética pós-modernista era uma espécie de aprofundamento da experiência contemporânea. Uma experiência forjada tanto pela percepção inicial dos limites do movimento moderno quanto pela posterior curiosidade acerca de seus significados alternativos e suas potencialidades inexploradas.

Ainda assim (ou por isso mesmo), a relação que os novos mantinham com os mestres modernos era de enorme interesse e admiração. Testemunhei isso pessoalmente, quando, em 1998, junto com João Pedro Backheuser, levamos Portzamparc para conhecer Niemeyer. Foi um encontro revelador. O francês estava visivelmente nervoso; ia, afinal, conhecer o arquiteto que, segundo dizia, havia sido decisivo em sua opção pela arquitetura; trazia consigo um grande volume monográfico sobre seu trabalho – um presente a ser oferecido ao mestre. A dedicatória foi escrita em português e nela Portzamparc afirmava que fora vendo imagens das obras de Niemeyer que decidira estudar arquitetura – uma declaração que, alguns anos depois, fez questão de tornar pública:

“Como muitos arquitetos de minha geração, comecei a descobrir o Brasil pelo cinema, e depois pela arquitetura, em fotos e livros, antes mesmo de iniciar meus estudos de arquitetura. E foi vendo imagens de Niemeyer que tive vontade de me tornar um dia, como ele, arquiteto” (19).

Como não conhecesse o trabalho de Portzamparc, Niemeyer começou a folhear o livro burocrática e silenciosamente. Mas isso durou pouco; logo percebeu que entre as formas da arquitetura do francês e sua própria obra havia uma enorme familiaridade. E então, diante de uma foto que destacava um aspecto particularmente niemeyeriano da obra do colega, foi enfático:

“– C’est beau ça!” (“Que bonito isso!”).

IV

Como era de se esperar, na obra de Christian de Portzamparc, Niemeyer não foi capaz de ver outra coisa senão a si mesmo. Mas, e Portzamparc, o que viu e ainda hoje vê na obra de Niemeyer, de Reidy, de Costa? Acima de tudo, creio, uma potencialidade – como se os feitos dessa arquitetura pudessem dar lugar a realizações inesperadas, novas, atuais. Nesse sentido, creio que o projeto da Cidade da Musica do Rio de Janeiro se pretende didático – exemplar que é de um modo de reprocessar uma certa tradição moderna. O uso extensivo, laborioso e exuberante do concreto armado (expressão do que Portzamparc vê como uma verdadeira “cultura” brasileira do concreto armado); a exaltação do pilotis “brasileiro”; a valorização de uma certa cultura da sombra e, de modo geral, do dado climático como fator determinante da forma; a adequação ao Plano Piloto da Barra da Tijuca, de autoria de Lucio Costa; a aposta renovada em uma arquitetura concebida segundo os princípios da forma compositiva; a crença na força emancipadora da beleza, ou, nos termos de Argan, da conjugação de técnica e beleza – essas e outras características indicam que, como em nenhum outro projeto precedente de sua autoria, Portzamparc quis e pôde demonstrar (graças, bem brasileiramente, à presença do Estado como agente promotor e de um administrador voluntarioso como idealizador), para bem ou para mal, o que é ainda possível fazer de uma certa herança moderna.

Vem daí, me parece, a dificuldade dos arquitetos brasileiros de lidar com esse projeto. Porque, antes de tudo, ele é fruto de uma desenvoltura para com a tradição da arquitetura moderna brasileira diametralmente oposta da inibição reverente com que nós outros ainda hoje olhamos para o que Abílio Guerra chamou de “a esfinge silenciosa” (20). Essa desenvoltura tem uma explicação: não é apenas a proximidade mas também a distância o que aproxima Christian de Portzamparc de Niemeyer, Reidy, Costa. Por maior que seja sua admiração por nossos pais fundadores modernos, aos olhos de Portzamparc eles pertencem a outro tempo. Mais do que a distância temporal, é a percepção de uma crise e do esgotamento (por parcial que seja) de um credo o que permite a aproximação do arquiteto francês de hoje de seus heróis modernos. O projeto da Cidade da Música do Rio de Janeiro exprime essa distância: a arquitetura moderna brasileira está em seu horizonte, mas a consciência (no caso de Portzamparc, a vivência pessoal) da crise do moderno impede qualquer veleidade, qualquer fantasia de continuidade fluida e não-problemática entre o passado e o presente. A arquitetura moderna brasileira pode ser cultuada, citada, parafraseada, mas o será sempre do ponto de vista da alteridade (ou pelo menos de uma certa alteridade), não da identidade. O nervosismo de Portzamparc diante de Niemeyer era mais que compreensível: não estava apenas diante de um ídolo; estava diante de um fantasma.

A questão que fica em aberto é: em que medida esse projeto participa do desejo de transformação e de construção do futuro intrínseco ao movimento moderno em geral e à arquitetura moderna brasileira em particular (sob muitos aspectos, específicos a um e outro)? Uma questão que traz consigo duas outras: (1) em que medida é possível ou justificável retomar a estética moderna (o vocabulário, a sintaxe, os dispositivos espaciais e formais, as técnicas construtivas) sem, de algum modo, retomar (ainda que sob nova perspectiva) as questões que, outrora, deram origem a essa estética? (21) Acaso seriam essas questões passíveis de atualização ao contexto contemporâneo, internacional e brasileiro? (22)

A esse respeito, uma primeira constatação: de toda evidência, o projeto da Cidade da Música do Rio de Janeiro não poderia estar mais distante das veleidades sócio-transformadoras próprias do Movimento Moderno – ou, pelo menos, de sua vertente alemã. Ou alguém imagina que sua presença irá contribuir, minimamente que seja, para a transformação das relações sociais e condições de vida das populações brasileira, fluminense, carioca, barratijucana?

Dizer de um projeto que não tem um élan sócio-transformador não compromete todavia sua descendência moderna – não obrigatoriamente, pelo menos. Pois nem toda a arquitetura feita com a bandeira do movimento moderno se quis propriamente “sócio-transformadora”. Afinal, não se pode esquecer que uma boa parte de tudo o que se fez, legitimamente, em nome da arquitetura moderna não visava propriamente a transformação “social”. Era esta, aliás, uma das questões essenciais e polêmicas herdadas do debate das vanguardas: como articular a dimensão íntima e pessoal da experiência da forma e do espaço modernos com a demanda de universalização dessa mesma experiência. Para Walter Gropius, tratava-se de operar na esfera da produção – não apenas massificando e estandardizando uma produção industrial dotada de qualidade, mas formando (esta, precisamente, a pedagogia de sua Bauhaus) artistas que fossem artesãos, e artesão que fossem artistas. Le Corbusier, alternativamente, apostava sobretudo na força potencialmente contagiante da boa forma, vale dizer, de uma beleza cuja simples presença no espaço público seria capaz de comover (e assim transformar) todo e qualquer indivíduo que a avistasse.

Nessas perspectivas, parece claro que entre o projeto da Cidade da Musica e a tradição da arquitetura moderna brasileira existe, acima de tudo, uma afinidade conceitual; e que o núcleo dessa afinidade é, como se poderia prever, o pensamento de Le Corbusier e sua idéia de que “é ao indivíduo que se deve levar a arte” (23) Não por acaso, a eleição, por parte de Lucio Costa, no início dos anos 1930, do pensamento de Le Corbusier como referência teórica da nova arquitetura brasileira (em detrimento das idéias de Gropius) tinha, dentre outros, este significado: fornecia os fundamentos teóricos para a definição de uma arquitetura moderna que, conceitualmente, relativizava os aspectos “sociais” da modernização e que, apostando na experiência individual, autônoma e emancipadora das formas construídas no espaço, estava por isso mesmo autorizada a ser mais individual que societal, mais fenomênica que processual, mais criação, experiência e presença que produção, desenvolvimento e progresso (24).

Visto sob esse prisma, o projeto da Cidade da Música – com sua presença audaciosa, grandiloqüente e desconcertante em meio à paisagem, digamos, pós-moderna da Barra da Tijuca – como que renova ou resgata o traço quiçá mais marcante da arquitetura moderna brasileira: a crença na capacidade potencialmente sublimadora da forma arquitetônica excepcional no espaço da cidade. (Curiosamente, tal característica faz desse um projeto simultaneamente mais e menos brasileiro: a timidez e a tibieza que caracterizam nossa arquitetura contemporânea atestam que, para bem ou para mal, esse traço de nossa produção moderna foi inteiramente esquecido por nossas novas gerações – tendência, diga-se de passagem, que só deve se agravar com o cada vez mais onipresente e enfadonho argumento em prol de uma arquitetura “sustentável”).

É esta uma crença pertinente? Há algo no mundo contemporâneo que a justifique? Quem traz no currículo setenta anos de “arquitetura moderna brasileira” e cinqüenta de Brasília, tenderá, provavelmente, a responder que não. Não porque uma parcela significativa dessa produção não tenha sido verdadeiramente excepcional. Apenas, sua eficácia foi e continua sendo pífia: para além dos próprios arquitetos (não todos), a arquitetura moderna brasileira não foi capaz de “sublimar” mais do que um punhado de almas sensíveis (ia dizer “artistas”, mas o tempo em que artistas brasileiros em geral tinham alguma sensibilidade ou mesmo atenção para o que se passa no universo da arquitetura acabou faz tempo). Brasília, corolário do projeto moderno brasileiro, está lá para confirmar: a cidade onde, em tese, a qualidade excepcional da arquitetura seria capaz de definir uma outra experiência do espaço e uma nova cultura urbana não difere em nada ou quase nada das demais cidades brasileiras. Mantida a duras penas pela ação pertinaz do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, sua arquitetura média é igual ou pior que a arquitetura contemporânea brasileira em geral. A Brasília “patrimônio histórico da humanidade” é também a triste e monumental mortalha de uma arquitetura moderna que apostou todas as suas fichas na força potencialmente emancipadora da beleza. Apostou e perdeu.

Por outro lado (e justamente por tudo isso), em um contexto contemporâneo como o nosso, em que as construtoras e seus obscuros arquitetos, de mãos dadas com Estado, mercado e terceiro setor, dão às cidades brasileiras o aspecto mais lamentável que se pode imaginar, é difícil não se comover coma inesperada aparição e – que nos seja permitido dizê-lo sem reservas – a extraordinária beleza da Cidade da Música de Christian de Portzamparc. Sua presença otimista e corajosa (e por isso mesmo também um pouco melancólica) tem ares de enclave, de cabeça-de-ponte estrategicamente lançada na guerra de reconquista de um território há meio século perdido ao inimigo. Sim, meio século. Meio século de projetos insignificantes, inexpressivos, inconsistentes, canhestros, desprezíveis, lastimáveis, bisonhos – aeroportos, bolsas de valores, câmaras municipais, delegacias de polícia, escolas, fóruns, garagens, hospitais, igrejas, jardins, lojas, moradias, necrotérios, oficinas, prefeituras, quartéis, repartições públicas, shopping centers, teatros, universidades, velódromos, zoológicos (fico devendo a letra x). Há exceções? Claro que sim. Alguma que, como essa Cidade da Música (ou como o Pedregulho de Reidy), tenha de fato marcado positivamente a paisagem do Rio de Janeiro? Não creio.

V

Até muito recentemente os arquitetos brasileiros viviam se perguntando o que havia acontecido com a “arquitetura moderna brasileira”. Constatando a inexpressividade internacional da produção nacional contemporânea, eles procuravam compreender – estupefatos, atarantados, condoídos – como e em que momento a coisa desandara. Não foram poucos os que localizaram no Golpe de 1964 a origem do problema.

O prêmio Pritzker atribuído a Paulo Mendes da Rocha (2006) restabeleceu o amor próprio e o bem-estar nacionais. Retrospectivamente, foi possível reconstituir o fio condutor que liga o período de ouro da arquitetura moderna brasileira e a produção (uma vez mais, internacionalmente reconhecida) contemporânea. Partindo-se de Lucio Costa e Oscar Niemeyer, tornou-se possível, agora, chegar – continuamente, coerentemente – a Mendes da Rocha e seus discípulos, passando-se, prazenteiramente, por Reidy (este, agora, o elo fundamental) e Vilanova Artigas. A arquitetura moderna brasileira se mudou para São Paulo. Tudo bem. Continua sempre sendo brasileira. Continua sempre sendo moderna. Continua sempre sendo a mesma.

Não surpreende que nessa narrativa grandiosa, redentora e atávica, não haja espaço para a invasora presença da Cidade da Música do Rio de Janeiro.

Notas

1
Este artigo é uma versão ligeiramente modificada de artigo homônimo publicado em Arquitextos n. 12, Porto Alegre, PROPAR-UFRGS, 2008, p. 122-135; foi escrito tendo como base anotações feitas para a conferência “A incômoda beleza da Cidade da Música do Rio de Janeiro”, feita no auditório da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, em 27 de agosto de 2008, no âmbito do II Seminário Docomomo Sul. Agradeço a leitura e os valiosos comentários de Carlos Eduardo Dias Comas.

2
PORTZAMPARC, Christian de. Filiations franco-brésiliennes… Du Rio d’Agache à la Cidade da Música. Bresil France architectures. Les Cahiers de la recherche architecturale et urbaine, Paris, Éditions du Patrimoine, mai 2006, p. 150.

3
Destaco os textos de Fernando Serapião e Ana Luiza Nobre. Ver: SERAPIÃO, Fernando. A ópera do pequeno príncipe. Piauí, Rio de Janeiro, dez. 2008, p. 20-26 <www.revistapiaui.com.br/edicao_27/artigo_835/A_opera_do_Pequeno_Principe.aspx>; NOBRE, Ana Luiza Minha Cidade, ano 9, vol. 8, p. 249. São Paulo, Vitruvius, mar. 2009. www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc249/mc249.asp>.

4
GUERRA, Abílio. Lucio Costa – modernidade e tradição: montagem discursiva da arquitetura moderna brasileira. Campinas (SP), Tese de Doutoramento, Departamento de História da UNICAMP, fevereiro de 2002. MARTINS, Carlos Alberto F. A constituição da trama historiográfica da arquitetura moderna brasileira, Revista da Pós – número especial: o estudo da história na formação do arquiteto, São Paulo, FAU-USP, s/ r. [1994].

5
Especificamente sobre o lugar dessa arquitetura na historiografia da arquitetura moderna, ver TINEM, Nelci. O alvo do olhar estrangeiro. O Brasil na historiografia da arquitetura moderna. João Pessoa: Manufatura, 2002.

6
LEONÍDIO, Otavio. “Geração Migrante – Depoimento 2. Em Paris, chez Christian de Portzamparc”. Arquitextos, 030.02. São Paulo, Vitruvius, nov. 2002 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq030/arq030_02.asp>.

7
Rem Koolhaas, De Brasília ao futuro, Projeto, São Paulo, n. 133, 1990.

8
BEAUVOIR, Simone. Les belles images. Paris: Gallimard, 1966, p. 11.

9
KOOLHAAS, Rem. Op. cit.

10
Preciso filmar Brasília, Folha de S.Paulo, São Paulo, 24 agosto 2008, p. C12.

11
HOLSTON, James. “O espírito de Brasília”. In: NOBRE, Ana Luiza et al. Um modo de ser moderno. Lucio Costa e a crítica contemporânea. São Paulo: CosacNaify, 2004, p. 159-177.

12
LISSOVSKY, Maurício & SÁ, Paulo Sérgio Moraes de. Colunas da educação: a construção do Ministério da Educação e Saúde. Rio de Janeiro: IPHAN, 1996. SANTOS, Cecília Rodrigues dos et al. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto, 1987.

13
ARGAN, Giulio Carlo. Arquitetura moderna no Brasil, Comunità, Roma, n. 24, 1954, p. 48-52. Apud XAVIER, Alberto (org.). Depoimento de uma geração. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p. 174.

14
Cf. MARTINS, Carlos A. F. Arquitetura e Estado no Brasil. São Paulo: FFLCH-USP, Dissertação de mestrado, dez. 1987, p. 169.

15
COSTA, Lucio. Arquitetura brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde, 1952.

16
COSTA, Lucio. “Presença de Le Corbusier”. In: _____. Lucio Costa. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995.

17
A cuja obra o Museu de Artes Decorativas de Paris dedica, em 1989, uma retrospectiva intitulada “L’Architecture et la Forêt”.

18
HABERMAS, Jurgen. A modernidade como projeto inacabado, Arte em Revista, n. 5, 1987.

19
PORTZAMPARC, Christian de. Op. cit. 137.

20
GUERRA, Abílio. A esfinge silenciosa, Jornal de Resenhas, Discurso Editorial/Usp/Unesp/Folha de S.Paulo, nº 51, 12 jun. 2000, São Paulo, p. 2.

21
TJ Clark formulou essa questão nos seguintes termos: “if I understand modernism to be a form of art somehow deeply attuned to certain facts and possibilities of modern life (of the form of life called modernity), then do I not think that the life we are living now is sufficiently different from that lived by Manet or Picasso or Pollock to deserve a new description – even if I may think it has not yet got one?”. CLARK, TJ. Modernism, postmodernism, and steam. October, n. 100, spring 2002, p. 161.

22
V. GUMBRECHT, Hans U. Em 1926. Vivendo no limite do tempo. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 317.

23
LE CORBUSIER. A arte decorativa. São Paulo: Martins Fontes, 1996[1925], p. 189.

24
LEONÍDIO, Otavio. Crítica e crise: Lucio Costa e os limites do moderno. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 12, n. 14, dez. 2006, p. 153.

fotos, plantas e maquetes eletrônicas da Cidade da Música, Rio de Janeiro. Fonte: Christian de Portzamparc

peguei lá no blog do Jozias Benedicto

Foi a primeira obra de arte que eu comprei, em 1971. Ainda estava na Faculdade de Economia e já trabalhava com tecnologia, estagiário, no Centro do Rio, na Esplanada do Castelo, no imponente prédio do Ministério da Fazenda. Trabalhava com modelos matemáticos, na Assessoria Econômica do Gabinete do Ministro, bom, meu trabalho nada era de tão imponente assim, os brilhantes economistas que eram assessores tinham as ideias e eu os apoiava implementando os modelos em computadores que na época eram poderosos, mas que hoje equivalem a uma mísera fração deste notebook em que escrevo.
Era a época onde o “cara do computador” era meio o “gênio louco”, mais informal que as outras opções profissionais para os economistas, e eu, 20 anos, meio hippie, cabelo grandão e barba, abracei este caminho, que me permitia flexibilidade de horário, manhãs nos pilotis da PUC, tardes no Pier de Ipanema e noites trabalhando. Como a informática era um mistério, os sacerdotes desta tecnologia futurista tinham salários altíssimos; mesmo eu, ainda estudante, minha bolsa era bem maior que a dos outros colegas, e ainda, como eu apoiava diversos economistas com trabalhos acadêmicos que tinham financiamento muitas vezes do exterior, eu era incluído nos projetos e recebia extras também significativos, tudo isso um garoto solteiro, com casa e mesada garantida pelos pais… uma vida boa, pagava minha Faculdade e ainda dava para outros luxos, a gasolina do fusquinha café-com-leite, os chopps com a turma no Amigo Fritz, de vez em quando um sapato novo no Spinelli, e ainda dava para uma reserva. Em paralelo, via exposições (quase chorei na exposição do Antonio Dias na Petit Galerie, ainda em Copacabana), frequentava o MAM, fazia minhas aulas com o Ivan Serpa.
Namorei uma menina, Priscila, cuja família colecionava arte, não esqueço os Krajcberg e os Volpi, e um coração enorme do Antonio Dias pendurado do teto e feito especialmente pelo artista, então um jovem artista, para a mãe da Priscila, D. Isabel.
Um amigo meu da Faculdade, Paulo, também estava muito bem, trabalhava na Bolsa de Valores e se beneficiava do primeiro boom da Bolsa, parte do Milagre Brasileiro que estava sendo articulado no Ministério do poderosíssimo Delfim Neto, e estava ganhando muito, com a valorização das ações.
Em uma conversa com o Paulo, ele falou sobre “diversificar, investindo em arte”, bem o jargão da época; como ele sabia que eu gostava de arte, me pediu uma dica. Fui com ele ao MAM (bem antes ainda do incêndio), uma tarde de sol pela Pres. Antonio Carlos até o Aterro, e em uma pasta na lojinha do Museu escolhemos (eu escolhi) dois desenhos do Carlos Vergara.
Não me lembro do desenho que o Paulo comprou, não sei se ele ainda o tem, passou-se tanto tempo. 
Mas o meu ainda está comigo, e me enche do mesmo prazer que tive ao retirá-lo da pasta escura na lojinha do MAM. 
Vergara (com Gerchman, Antonio Dias e Roberto Magalhães) eram artistas jovens, e eu os conhecia pois era antenado, lia o JB, ia aos eventos no MAM, minha programação aos domingos à tarde era: visitar as exposições no MAM (o Salão da BússulaTropicalia, o Salão de Verão…), sessão de cinema de arte no MIS e depois um lanche no Bobs’s da Pres.Wilson, eu e meu fusquinha…
Mas naquela tarde eu era poderoso, eu e Paulo éramos “avalistas” um do outro: se ele dizia que Arte seria um bom investimento para o futuro, eu estava tranquilo em gastar quase um mês de minha bolsa em um desenho; e se eu dizia que o Vergara era um artista jovem já consolidado e que só iria evoluir, o Paulo podia gastar o lucro de alguma ação naquele desenho que ele talvez nem entendesse direito.
Anos depois, um desenho da mesma série, com a mesma temática, na coleção do Gilberto Chateaubriand, foi publicado no pequeno livro da Funarte sobre o artista, isso me deu a certeza que tinha acertado.
Acertei mesmo. É um lindo desenho, e não me canso de olhá-lo, ele sempre me remete a um clima misterioso, de relações estranhas, de uma interrupção do tempo, onde a violência é uma ameaça presente, uma espada de Dâmocles, uma visão da época da ditadura militar, de momentos de terror que estão na obra de vários artistas da geração…

Na noite do dia 31 de agosto, foram apresentados os trabalhos que concorreram ao Concurso Paineiras e divulgados os vencedores. O resultado escancarou mais uma vez que a arquitetura carioca está em crise. Comparando a uma partida de futebol, os escritórios cariocas perderam de goleada para os paulistas: 4×1. Os três primeiros lugares e mais uma menção honrosa foram destinados a projetos propostos por grupos de arquitetos da cidade de São Paulo. Ao Rio, restou a menção honrosa recebida pela BLAC.

Pessoalmente, diria que os projetos que receberam segundo e terceiro lugares são mais interessantes que o vencendor, o qual me assusta pela proposta de um edifício destinado ao estacionamento e à estação de embarque de pessoas para o Corcovado cuja escala me parece exagerada para o lugar.

O que diferencia os seis trabalhos premiados do restante foram as apresentações gráficas das pranchas. Não afirmo isso por ter visto perspectivas eletrônicas fantásticas, mas sim por uma escolha correta das imagens apresentadas, beleza e clareza nos desenhos e organização na diagramação das pranchas. Eles foram premiados por se fazerem melhor compreendidos, não por terem necessariamente os melhores projetos.

O mais importante é que os arquitetos cariocas reflitam sobre o resultado do concurso.


Francesco Perrotta Bosch é estudante de arquitetura da PUC-Rio e co-editor do site Entre.

É o seguinte o resultado do Concurso do Hotel Paineiras: 1º Lugar: Guilherme Lemke Motta (SP); 2º Lugar: Cesar Shundi Iwamizu (SP); 3º Lugar: Filipe Gebrim Doria (SP); Menções Honrosas: João Pedro Backheuser (RJ); João Paulo Ferreira Payar (SP) e Marcelo de Souza Leão Santos (PE). Não vi ainda os projetos. Mas não posso deixar de me perguntar porque, entre tantos concorrentes (cerca de 100 equipes), só um escritório carioca foi destacado. Abaixo, uma prancha do seu projeto.

Direto do blog Posto 12.

Depois dos registros dos poetas e escritores brasileiros nos 70 pulamos para a música de hoje em Portugal. Geraldinho nos apresentou a banda Dead Combo que fez a trilha do excelente curta Open Market, de Norberto Freitas que retrata em 16mm p&b imagens do cotidiano do mercado do Bolhão, no Porto, que em breve fechará suas portas para obras de modernização. Procurei o curta na web mas não achei. Seguem alguns clipes da banda e uma apresentação ao vivo.


Dead Combo / CUBA 1970


Dead Combo / Quando a Alma Não é Pequena


Dead Combo / Viuva Negra


Dead Combo / Putos a roubar maçãs


Dead Combo / Live at Maxime

Ontem assisti o curta de Fernando Sabino e David Neves sobre o poeta Manuel Bandeira na companhia dos anversariantes do dia primeiro de setembro Geraldinho Magalhães e Bebel Prates. O curta é apresentado pela Bem-te-vi Filmes, chama-se O Habitante de Pasárgada – Manuel Bandeira, tem edição do grande Mair Tavares e no início do filme tem uma cartela que diz “reapresentação do filme O Poeta do Castelo, de Joaquim Pedro de Andrade”, o que me leva a crer que eles utilizaram trechos do filme do Joaquim Pedro. O curta retrata um dia com o poeta nos arredores da Av. Calógeras com Av. Presidente Wilson, centro do Rio, no seu apartamento, no botequim mercearia Buraco do Vieira alí atras do Vilarino. No DVD Encontro Marcado com o Cinema , lançado pela Biscoito Fino, tem outros 9 curtas com Drummond, Vinicius, Jorge Amado etc.

O blog [ENTRE] é editado pelos estudantes de arquitetura [Francesco Perrota Bosch] [Gabriel K. Maia] [Mariana Meneguetti] [Valmir Azevedo]. Passando por lá agora de manhã achei essa interessante entrevista com a dupla de arquitetos do escritório BLAC. Seguem alguns trechos …

BLAC

[Visite a página do arquiteto] [Veja a galeria de fotos]

Otávio Leonídio e João Pedro Backheuser

Depois do expediente do dia 16 de junho, entrevistamos João Pedro Backheuser e Otavio Leonídio, arquitetos que formam o escritório BLAC – Backheuser e Leonídio Arquitetura e Cidade. Na pauta principal da conversa esteve a cidade do Rio de Janeiro e a situação atual da arquitetura brasileira, especialmente a carioca. Discutimos sobre a trajetória, a parceria, o escritório e os projetos. A entrevista também se ocupou em debater sobre a importância do ensino e da crítica para a arquitetura. Acima de tudo, foi uma análise preocupada e consciente da situação atual da nossa profissão.

ENTRE – Como estamos falando do Rio de Janeiro, o que vocês acham da arquitetura produzida pelos arquitetos cariocas hoje?
O. LEONÍDIO
– Apesar de haver exceções, acho uma desgraça. A boa arquitetura não surge do nada, mas de um ambiente propício à produção. Esse ambiente é formado pelo que? Por uma escola, um debate, um métier consolidado. É um debate com qualificação, um ambiente de discussão crítica – e isso não há hoje nem havia quando eu estava na escola de arquitetura.

ENTRE – Qual é a sua opinião a respeito da Cidade da Música em relação ao projeto de arquitetura e aos contextos urbano e político?
O. LEONÍDIO
– Pessoalmente, acho que a Cidade da Música se viu envolvida numa disputa político-partidária. A má fama de que ela padece hoje não é produto da discussão sobre a arquitetura. O que há é uma disputa por poder político na cidade alimentada especialmente pelo jornal O Globo. Falam que o projeto custou caro. Eu respondo a essa objeção dizendo que o caro é um conceito relativo. Caro, para mim, é a Vila dos Jogos Pan-Americanos, um projeto lamentável. Considero o projeto arquitetônico da Cidade da Música extraordinário! Eu poderia discorrer criticamente sobre as virtudes desse projeto, mas ninguém parece interessado nessa discussão, nem mesmo os arquitetos! Isso só atesta o buraco em que nossa arquitetura está, porque os arquitetos não participam nem qualificam esse debate. A qualidade da arquitetura não faz parte dessa discussão nos jornais. Sim, questiona-se a inserção urbana, a localização, da Cidade da Música. Tive uma discussão com uma pessoa especializada em urbanismo que afirmou que a Cidade da Música ficava “muito longe”. Perguntei: “Muito longe de quem?” Afinal, longe não é um dado absoluto. A minha interpretação só pode ser que ou é longe da “minha casa”, ou é longe do centro histórico. O que é um cacoete de uma visão de cidade segundo a qual o centro metropolitano deve coincidir com o centro histórico. Ora, a metrópole do Rio de Janeiro pode ter mais de uma centralidade! Essa crítica também vem revestida de muito preconceito contra o cidadão da Barra. O debate que se instaurou em torno do texto da Ana Luiza Nobre sobre a Cidade da Musica, publicado no blog Posto 12 e no Vitruvius, é um debate que se completou com o texto de João Masao Kamita sobre essa crítica que não vê na Barra a cidade. Concordo que há problemas e o acesso à Barra é um deles. Então, por que não se faz o acesso por Veículo Leve Sobre Trilhos, uma vez que a cidade discute isso há décadas? O canteiro central da Avenida das Américas comporta isso; em 6 meses estaria feito. A Cidade da Música está na confluência de dois principais eixos viários da Barra, as avenidas das Américas e a Ayrton Senna: ela tem uma grande centralidade, e uma acessibilidade potencial extraordinária. A obra também faz uma leitura inteligente do plano do Lucio Costa, que já via na Barra a possibilidade de um novo Centro Metropolitano. Aliás, diferentemente dos ultraconservadores urbanistas brasileiros contemporâneos, Lucio Costa se interessava pela metrópole. Acho que há um preconceito imenso, não só da imprensa, mas também dos arquitetos e urbanistas, em achar que a Barra não é cidade.
J. P. BACKHEUSER – No Rio de Janeiro, a Barra é vista como a “não cidade, aquele lugar ao qual nunca quero ir, onde nunca quero morar, aonde vou, no máximo, para desfrutar da praia”. Mas é o bairro que mais cresce e, daqui a pouco, será o melhor lugar para colocar qualquer equipamento, porque será onde as pessoas estarão (de certa maneira já estão). Outro ponto é que há entre os arquitetos, principalmente, um ranço de que a Cidade da Música foi projetada por [arquitetos] estrangeiros, que receberiam mais pelo trabalho. Quero que eles recebam 10 vezes mais para que eu possa pedir esse valor também! Qualquer cidade que quer ser grande no mundo tem uma boa produção arquitetônica. O projeto tem erros e acertos, mas o importante é que a Cidade da Música está lá; existe um edifício enorme que está abandonado. Mais irresponsável é deixar do jeito que está, deixando cair.
O. LEONÍDIO – Segundo um juízo de valor meu, devo dizer que, juntamente com o hospital do Lelé, foi o melhor edifício feito no Rio de Janeiro desde o Pedregulho e o MAM [Museu de Arte Moderna]. O ponto é que nós temos duas coisas de peso agora. O que se fez de arquitetura expressiva no Rio de Janeiro, na escala da paisagem da cidade, depois do MAM e do Pedregulho? O MAC está em Niterói; não considero que o Sambódromo esteja aos pés da Cidade da Música… Vamos começar um rosário de lamentações, pois vamos citar mais o que? A Cidade do Samba?

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Datado de 1996, com 300 metros quadrados, localizado na Rua Mario Ribeiro, Leblon (auto estrada Lagoa/Barra), no muro do quartel da PM, o painel de autoria do pintor Aluísio Carvão*, cuja instalação foi supervisionada por ele em detalhes, está se deteriorando. Os azulejos desaparecem diariamente.

Em matéria publicada pelo O Globo, sobre o abandono das obras de arte em espaço público na cidade do Rio de Janeiro, a diretora de conservação de monumentos da Fundação Parques e Jardins, admitiu que o critério para a manutenção das mesmas é o número de reclamações do público, assim, segue a nossa petição para a restauração e conservação do painel.
Tornam-se necessárias providências imediatas antes que seja tarde demais! Aloísio é um mestre da cor e patrimônio da nossa cultura.

* O pintor Aluísio Carvão (1920-2001) nasceu em Belém do Pará e viveu no Rio de Janeiro. Expoente do movimento Neo-concreto, lecionou no MAM – Museu de Arte Moderna -RJ e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou de inúmeras bienais e exposições no Brasil e no exterior. Artista consagrado, legou à cidade do Rio, conectando-a com sua própria história, uma de suas últimas grandes obras.

Autores: Mario Fraga e Clarisse Tarran
E-mail: painel.aluisio.carvao@gmail.com

Peguei esse texto abaixo no novissimo blog da Daniela Name chamado Pitadinhas.

29 08 2009

Buracos entre azulejos: desleixo e ocupação da área com o anunciado Museu da Bossa Nova

Buracos entre azulejos: desleixo e ocupação da área com o anunciado Museu da Bossa Nova

Quase todo mundo que trabalha com arte no Rio tem uma história com Aluísio Carvão (1920-2001). Ouvi e li algumas delas desde que repassei no Facebook o link com o abaixo-assinado que pede a restauração de um mural de azulejos do artista na Avenida Mário Ribeiro, no Leblon (Estrada Lagoa-Barra), que corre sérios riscos de desaparecer com a construção do Museu da Bossa Nova, prédio em forma de piano (!!!) já anunciado pelo governo estadual. Desde a gestão anterior, o painel, criado pelo artista em 1996, vem sofrendo com o desleixo da Fundação Parques e Jardins, que não repõe as peças faltosas.

Os buracos entre os azulejos prejudicam a compreensão do desenho geométrico sobre a paisagem da cidade e roubam da obra de Carvão o que ela tem de mais fundamental – a cor. Nascido em Belém do Pará, ele foi aluno de Ivan Serpa no curso de pintura do Museu de Arte Moderna do Rio, do qual mais tarde se tornaria professor. Entre 1953 e 1956, fez parte do Grupo Frente, que mudaria o rumo da arte contemporânea brasileira. Integrou a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956) e, em 1959, assinou o Manifesto Neoconcreto com Lygia Pape, Lygia Clark, Amilcar de Castro, Franz Weissmann e os poetas Reynaldo Jardim e Ferreira Gullar.

Depois da diluição do movimento construtivo, Carvão não trilhou o mesmo caminho de artistas como as Lygias Pape e Clark e Hélio Oiticica, que testaram os limites entre arte e vida. Também não ficou notório pela experiência com vários suportes, caso dos concretos paulistas Geraldo de Barros e Waldemar Cordeiro, embora tenha sido cenógrafo, capista de livro e ilustrador, aplicando os princípios da geometria construtiva em seu trabalho como designer.

"Cornucópia", de 1955: forma imperfeita

“Cornucópia”, de 1955: forma imperfeita

Sem a exuberância de alguns de seus contemporâneos, Carvão exibia sua singularidade por linhas tortas. Literalmente: embora fosse conhecedor da Gestalt e todas as teorias de cor da Bauhaus que nortearam outros construtivos brasileiros, ele não se prendia aos jogos ópticos com cores básicas e formas geométricas perfeitas. Com ele, a incompletude sensível proposta pelos neoconcretos atingiu contornos distintos. Com uma paleta próxima à de Volpi – e, voltando um pouco mais no tempo, à de Guignard – Carvão ousou brincar com tons pastéis e semitons no reino de pós-Mondrian. Gostava do improviso, do incompleto e da gambiarra, como provam suas “Farfalhantes”, telas em que pequenos quadrados de metal presos lado a lado criam som e movimento com a a passagem do vento.

"Farfalhantes", de 1967: luz, som e movimento

“Farfalhantes”, de 1967: luz, som e movimento ao sabor do vento

A disposição das “Farfalhantes” me traz de volta ao painel de azulejos do Leblon. E às minhas próprias histórias com Carvão. Entrevistei-o algumas vezes e ele foi assumindo um lugar cada vez mais estratégico em meus afetos e admirações. Não só pelo artista grandioso que era, mas pelo fato de não fazer questão de sobrar. Carvão se tornava mais importante à medida que não fazia questão de sê-lo. Em um de nossos encontros, em Niterói, logo depois da preparação de sua última grande individual em vida, no MAC, tivemos uma companhia diferente de sua cachacinha de estimação: já muito velho e cansado, Carvão devorou com apetite infantil taças enormes de sorvete enquanto falava das pipas e dos barcos de Belém, das cores lavadas pela luz do Norte.

Lembro que ali enxerguei o menino que ele foi, caçador de passarinhos da floresta, em frente àquele Maracanã gelado e doce. Tenho a impressão que é deste menino que todo mundo sente falta.

Daniela Name / agosto 2009

Nessa sexta, dia 28 de Agosto, Na Drinkeria Maldita Copacabana (Rua Aires Saldanha, 98) rola a quarta apresentação da temporada do Autoramas.
Essa temporada é uma prévia do lançamento do DVD e CD MTV Apresenta Autoramas, que acabou de ser gravado no Rio de Janeiro.
O show começa às 21 Hs PONTUALMENTE!

AUTORAMAS no VMB! Vote!
O Autoramas concorre na categoria ROCK
e Gabriel Thomaz concorre na categoria GUITARRISTA


A mini-entrevista que fiz com Camillo está repercutindo aqui no bRog e lá no Facebook também. Além disso está rolando uma troca frenética de emails entre cabeças quentes pensantes da velha e da nova cidade do Rio. Conversa animada em curso, uma fala coletiva se construindo embaixo dos nossos olhos como algum tempo eu não via (será que eu já vi isso antes?). Uma energia boa no ar. Resolvi abrir um espaço aqui pra colocar algumas coisas que chegaram e depois coloco mais… Seguem palavras de Paulo Sergio Duarte e da Livia flores.

Acredito que a entrada de Camillo na curadoria do MAM-RJ dá todas as condições intelectuais de um elevado projeto institucional. É preciso que todos estejam solidários, colaborem, a começar frequentando o MAM e tornando-o de novo um ponto de encontro de artistas, críticos, historiadores e amantes da arte. Mas sobretudo é necessário punch administrativo para captar os recursos materiais necessários ao Museu. Não será investindo em mais um Centro Cultural entre as dezenas já existentes que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro poderá contribuir para reerguer esse importante patrimônio cultural.
Paulo Sergio Duarte (crítico de arte, professor da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro)

“Bate outra vez, com esperanças o meu coração…” É essa música que me vem à cabeça, ao ler a notícia. Talvez eu esteja exagerando na ânsia de redenção daquele espaço mítico, que conheci nas bordas da adolescência pelas bordas, cinemateca, teatro…(como nos tornamos artistas numa cidade sem MAM, convivendo com seu esqueleto?) Não desejo com isso cometer nenhuma injustiça com as gestões anteriores, nem com todos os artistas que lutaram para proporcionar à cidade momentos de esplendor em meio à estagnação geral. Tampouco gostaria de sobrecarregar a nova gestão com expectativas desmesuradas (não-realistas, diriam alguns, é preciso justificar os entraves diversos, a falta de investimento material, etc, etc, etc, etc, etc). O que a música me faz lembrar é a vontade de inscrever a fagulha da criação (=esperança) na invenção do presente. Por isso: Vida longa e produtiva ao MAM!
Livia Flores
(artista plástica, professora da UFRJ)

A cultura digital está transformando em profundidade todos os fazeres e saberes da humanidade, e o Brasil desempenha papel central nesse processo. Como já disse Richard Barbrook, um dos maiores especialistas na área, o Brasil colocou “pela primeira vez o Hemisfério Sul em posição central no debate sobre as tecnologias digitais”. Cultura digital.br, ao dar voz para importantes brasileiros em atuação na área, sobre temas como política, economia, estrutura, arte, comunicação e memória no contexto digital, se torna um livro imprescindível para todos aqueles que desejam pensar ativamente as questões e potencialidades do nosso tempo.

Entrevistados: Alfredo Manevy, André Lemos, André Parente, André Stolarski, André Vallias, Antonio Risério, Bernardo Esteves, Claudio Prado, Eduardo Viveiros de Castro, Eugênio Bucci, Fernando Haddad, Franklin Coelho, Gilberto Gil, Guido Lemos, Hélio Kuramoto, Jane de Almeida, Juca Ferreira, Ladislau Dowbor, Laymert Garcia dos Santos, Lucas Santtana, Marcelo Tas, Marcos Palácios, Ronaldo Lemos, Sergio Amadeu e Suzana Herculano-Houzel.

Organização: Rodrigo Savazoni e Sergio Cohn
Azougue Editorial
316 páginas
R$ 36,00

Sergio Cohn
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