A exposição “Novas Aquisições” reúne trabalhos de jovens artistas brasileiros consagrados, que passaram a fazer parte da coleção do museu durante o ano de 2009. São artistas que despontam nas artes plásticas, como Raul Mourão, Ricardo Basbaum, Adriana Varejão, Afonso Tostes, Alessandra Vaghi, Anatol Wladislaw, Felipe Barbosa, Romano, Ana Holck, Gustavo Speridião, Wagner Malta Tavares e Maria Lynch.

Parte das obras expostas em “Novas Aquisições – 2009” foi doada pelos artistas ou seus representantes, segundo o diretor do MAC de Niterói, Guilherme Bueno.  “No caso de Ana Holck, Speridião, Lynch e Wagner Malta, em especial, a aquisição foi possível graças ao Prêmio Marcantonio Villaça, realizado pela Funarte, que reconheceu a importância de o museu apoiar o trabalho de novos artistas”, diz. A mostra exibe pinturas, esculturas, instalações, backlights e vídeos, representando a diversidade de linguagens que caracteriza a arte contemporânea brasileira.

Frederico Coelho escreveu lá no blog dele objeto sim objeto não


Luiz Zerbini
A relação entre arte e escrita é orgânica. Para alguns, em leitura radical do mundo, tudo é texto. Mesmo que a imagem seja o cerne, imagem também é texto. Letras são imagens. Cores trazem gramáticas e vocabulários. Esculturas desenham espaços ou inventam discursos onde impera o pleno vazio.
Em 2002 o poeta e dínamo estético Waly Salomão sugere a Luiz Zerbini um desenho a partir de seu poema “a vida é paródia da arte”. O texto de Waly, segundo o artista, o intimidava na abordagem visual das suas palavras. Ele lia e relia e não conseguia produzir nenhuma imagem relativa ao poema. A resposta estética de Zerbini foi, pois, um contra-poema. Um poema-resposta pra Waly, a única forma de dar voz às milhares de imagens que povoavam sua cabeça. Um contra-poema tão belo e intenso quanto qualquer um de seus quadros. Como ele diz, “Resolvi fazer um desenho para cada estrofe / depois um desenho para cada linha / depois um desenho para cada palavra / e aí muitos desenhos para cada palavra”. A palavra torna-se então seu próprio desenho. Aqui, nessse poema-resposta, Zerbini escrevia ou pintava?
A dupla arte e escrita, portanto, vai além da relação óbvia entre a prática estética do artista e o texto “explicativo” do crítico – ou do próprio artista. Arte e escrita, esse encontro fundado no oco do tempo da história do homem, compõe um campo de ação específico, em que palavras e imagens formam um corpo só. Um campo de ação em que a ideia imagética é indissociável do desafio textual de transformá-la em linguagem corrente, expandindo a potência da linguagem estética. Arte e escrita formam um casamento em que movimentar a mão – seja na tela, no ferro, na cera, na pedra, na tinta, na química ou no papel – é escrever, sempre, as ondas gigantes crescendo no mar dos sertões de nossas cabeças (salve Otto).
Essa introdução dispersiva serve apenas para falar do impacto da leitura desse poema-resposta de Zerbini a Waly (e dessa relação poética típica do Rio de Janeiro, poesia-arte via editora Dantes, encontros no Jardim Botânico, histórias que devem ser esmiuçadas, coisas nossas na cidade que todos adoram dizer que nada acontece – mesmo que ao menos algo aconteça). E serve principalmente como porta de entrada do verdadeiro prato-assunto do dia: ARTE BRA. Conheces? Gostas de arte? Manjas os papos difíceis da crítica? Espantas as famílias burguesas com sua ira contra o sistema da arte? Então se afaste de ARTE BRA. Pois a coleção de livros da AUTOMÁTICA sobre artistas brasileiros contemporâneos e suas carreiras (com títulos dedicados a Marcos Chaves, Raul Mourão e agora Lucia Koch e Luiz Zerbini) é, no melhor sentido e precisão da palavra, desmistificadora. Foi nela, no livro dedicado a Zerbini, que encontrei a história acima, sobre o pintor e o poeta.
Raul Mourão
Explico-me: em ARTE BRA, cai o véu do afastamento “de classe” entre arte e informação. Sem precisarmos das ferramentas da academia, em ARTE BRA lemos-vemos a carreira do artista abordada de forma direta, compacta, informada e informativa. É isso. Para o curioso e para quem procura profundidade no assunto. Ao invés de inventar o artista como personagem conceitual, ao invés de rodopiar teoricamente ao redor de citações e do costume cansativo da escrita-“name-dropping”, em ARTE BRA nós lemos-vemos uma pessoa que, antes de tudo, trabalha. Que antes de tudo leva sua opção de trabalhar com arte a sério. Pessoas que vivem a arte não como compromisso fatal, não como sina maldita, mas como transpiração dos sentidos, investimentos de afetos e, principalmente, incorporação do mundo, da história e do outro. Através dos quatro livros, descobrimos que arte não é conceitualismo vazio para neo-críticos conservadores atacarem de forma gratuita, mas sim esforço profissional e dedicação na manutenção de um espaço de ação e reflexão.
A forma como chegamos a essas conclusões é, justamente, o valor que a coleção dá ao texto e à relação entre arte e palavra. Uma relação da arte com a palavra, porém, vista no sentido prático, isto é, no sentido de fazer com que o artista seja entendido na extensão da sua obra. E isso ocorre com destaque em dois recursos editoriais que ARTE BRA nos oferece nas suas quatro edições: uma entrevista coletiva e uma preciosa cronologia.
Sobre a entrevista coletiva, é fundamental em um livro sobre um artista e sua carreira que ele mesmo conte com suas próprias palavras o seu trajeto. Melhor ainda se ele pode contar isso em um papo amplo, aberto, com diferentes pessoas, diferentes pontos de vista. São assim, generosas e plurais, que as entrevistas da coleção se apresentam (onde mais, por exemplo, podemos ler o relato detalhado de Zerbini sobre seu encontro seco e divisor de águas com Joseph Beuys, em pleno 1982, no frio de Dusseldorf?).
Mas é principalmente sobre a cronologia – essa tão difícil arte de escrever uma vida em diacronia e sincronia simultaneamente – que a sensação de que “ali há alguém que trabalha” melhor repousa. Nas quatro cronologias – Marcos Chaves, Raul Mourão, Lucia Koch e Luiz Zerbini – temos verdadeiras aulas sobre a cena da arte brasileira nos últimos trinta anos. Exposições, estudos, encontros, ateliês, revistas, festas, intervenções, contatos, viagens, parcerias, coletivos mesmo fugazes, todas as informações possíveis nos são fornecidas. No cruzamento dos quatro artistas/trabalhos encontramos pontos de encontro e outros pontos de criação, cenas intensas, momentos importantes. As cronologias de ARTE BRA são a transformação do efêmero – eventos, encontros, revistas de poucas edições – em História da arte. Não há exagero nessa afirmação. Ler os intensos dias de paz e de luta de Zerbini ou Koch, por exemplo, é ver como podem ser diferentes e ao mesmo tempo próximas as vidas de artistas brasileiros. É entender que há diversos percursos possíveis para um artista em busca da realização de suas ideias. As cronologias completas de ARTE BRA nos mostram isso, essa importância de cada movimento, de cada conversa que gere um trabalho por menor que seja. É a habilidade e a sabedoria de registrar a micro-história contemporânea da arte.
Marcos Chaves
ARTE BRA faz com que o leitor interessado em arte saia de sua leitura mais interessado ainda. Quebra uma série de preconceitos rasteiros sobre a arte brasileira contemporânea mostrando que os artistas estão vivos, ao menos os artistas de uma geração formada nos anos 70/80 que já passaram por uma década de século XXI e permanecem em plena expansão criativa e profissional. Constatamos a intensa produtividade e pesquisa dessa geração, a infinita conversa com os meios e com as técnicas, o diálogo inventivo e não mais reativo com a arte mundial. Para novos tempos, novas artes. A coleção nos mostra também que os textos sobre arte, cada vez mais, podem e devem ser valiosos parceiros na leitura de cada obra, como são os textos de Agnaldo Farias sobre Raul Mourão ou de Moacir dos Anjos sobre Lucia Koch, para ficar apenas em dois livros.
Beleza editorial – capas, fotos, diagramação (o livro de Lucia Koch nos faz ver seus trabalhos de luz e filtros mesmo através das páginas impressas) – alia-se ao conteúdo rápido, dinâmico, colado na história do artista e de sua geração. Livro sobre a prática da arte, que promove no leitor um sincero respeito pelo trabalho do artista abordado. E que demonstra, melhor de tudo, um precioso respeito pelo leitor.
ARTE BRA: não percam.
Lucia Koch

Projeto PlayPower: Palestra e Workshop @ CTS Game Studies
Pesquisador da Universidade de San Diego e artista digital demonstram como é possível usar máquinas de baixo custo e quase obsoletas para desenvolver jogos

No dia 20 de maio, quinta-feira, o CTS Game Studies apresentará no Brasil o Projeto PlayPower, desenvolvido pela Universidade de San Diego, em uma palestra e um workshop. A fim de destacar usos variados do jogo eletrônico como mídia e canal de expressão, o evento contará com a demonstração de como um hardware antigo pode ser usado para promover diferentes formas de entretenimento, educação e arte.

O projeto, desenvolvido em parceria com a UCSD e o grupo de Software Studies da mesma universidade, tem como objetivo criar jogos educacionais para computadores de 8-bits que custam em torno de 10 dólares nos Estados Unidos, Índia e China e que são ligados à televisão. Jeremy Douglass, professor da Universidade da Califórnia de San Diego (UCSD) e Don Miller, artista visual e sonoro, palestrarão sobre o Projeto PlayPower.

A estética 8-bits já vem sendo utilizado em produções musicais, como as chiptunes, músicas “pixeladas” feitas a partir de consoles de video game antigos, e utilizadas em projetos como Crystal Castles, Anamanaguchi, Artificial (dos produtores brasileiros Kassin e Ceppas) e o coletivo 8bitpeoples, do qual o palestrante Don Miller é integrante.

Nas artes visuais, a estética pixel arte, conhecida principalmente em função dos “sprites” (imagens raster usadas em jogos eletrônicos), tem migrado de simples gráficos antigos para galerias e exposições como um exemplo de estilo. O site Habbo, por exemplo, promove toda a sua rede social em pixel arte, além de hospedar discussões sobre o estilo em seus fóruns.

Centro de Tecnologia e Sociedade – Game Studies
FGV/RJ – FGV – Praia de Botafogo, 190 – 12º andar

20 de maio (quinta-feira)
Workshop: 13h
Palestra: 18h

Mais informações sobre o evento e inscrições no workshop: http://direitorio.fgv.br/node/942

Não deixe de participar também do evento na semana seguinte sobre Experiências Transmídia no CTS Game Studies: http://www.facebook.com/event.php?eid=119886864700262

peguei esse videozinho lá no Vimeo:


Playpower: An introduction from Playpower Foundation on Vimeo.

Inaugura no próximo sábado no MAC Niterói a excepcional exposição HERÓI que estava no Tomie Ohtake. Tive a sorte de conferir no último dia lá em SP e achei a exposição belíssima. Na minha modesta opinião Wagner está em seu melhor momento.

Segue um vídeo registro da exposição que Wagner me passou o link.
Pra quem está vendo o vídeo cortado aqui no b®og sugiro acessar o mesmo no youtube.

Começou ontem a primeira edição do New York Gallery Week. Uma série de eventos de arte que pretende ser anual e que celebra a mais vital comunidade de galerias do mundo, como eles afirmam no site.
A programação inclui visitas guiadas por curadores, performances, projeções de filmes, debates com artistas, galeristas, curadores etc

Aqui é possível baixar a programação.

O post abaixo eu peguei lá no ArtObserved.
A exposição terminou no último 10 de abril…

Five Points/Triangle 1957
Five Points/Triangles
by Alexander Calder, 1957
All images via Gagosian Gallery unless otherwise noted

Currently on view at Gagosian Gallery, New York is an exhibition of the large-format sculptures of Alexander Calder, produced between 1957 and 1970. The exhibition pays tribute to the late oeuvre of this renowned American sculptor, illuminating the period when Calder almost exclusively dedicated himself to sculpture of monumental proportions – the genre that brought him the international acclaim.

More text, images and related links after the jump…..
 
Rouge Triomphant (Triumphant Red), 1959-1963

Rouge Triomphant (Triumphant Red)
by Alexander Calder, 1959-1963

Formally trained in mechanical engineering, Alexander Calder invented his first mobiles (a term coined by Marcel Duchamp) in the late 20’s.  His first flirtations with the movable art are manifested in the Circque Calder, a series of cirque characters now in the collection of the Whitney Museum of American Art. In 1931, Calder met Piet Mondrian in his Parisian studio and was entirely smitten by the latter’s groundbreaking abstract idiom. Then, the winning combination of the abstract and the kinetic was born.


Installation view

Sponk of the Monk
 
Spunk of the Monk by Alexander Calder,1964 – a no less impressive “stabile” (term created by Jean Arp to describe Calder’s static works). Commissioned for Mies van der Rohe’s American Republic Insurance Company building in Des Moines, Iowa, its title is a playful allusion to the notion of life force, combining the translated French derivation of city’s original name with the slang term for spirit or semen.

Although his first mobiles made use of modern technology and were driven by electrical or mechanical means, the artist soon abandoned this mechanism in favor of the unpredictable influences of wind and water. Returning to the United States in 1993, Calder continued to work on his Cirque and simultaneously, on the stage design for Martha Graham ballet. In 1938, the Museum of Modern Art, New York  paid the tribute to Calder’s growing international recognition, hosting a large retrospective in part curated by Marcel Duchamp.

Installation view
Installation View


Installation View

Calder concentrated his efforts primarily on large-scale commissioned works in his later years.  Some of these major monumental sculpture commissions include: .125, a mobile for the New York Port Authority that was hung in Idlewild (now John F. Kennedy) Airport (1957); La Spirale, for UNESCO, in Paris (1958); Teodelapio, for the city of Spoleto, Italy (1962); Man, for the Expo in Montreal (1967); El Sol Rojo (the largest of all Calder’s works, at sixty-seven feet high) installed outside the Aztec Stadium for the Olympic Games in Mexico City; La grande vitesse, the first public art work to be funded by the National Endowment for the Arts (NEA) for the city of Grand Rapids, Michigan (1969); and Flamingo, a stabile for the General Services Administration in Chicago (1973).


Installation View

Alexander Calder was born in 1898, Pennsylvania and attended the Stevens Institute of Technology and Art Students League.  He died in New York City in 1976. Important museum collections include Musée national d`art moderne de la ville de Paris and Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid; and Museum of Modern Art, New York.  Calder’s public commissions are in evidence in cities all over the world and his work has been the subject of numerous museum exhibitions, including “Alexander Calder: Die großen Skulpturen/Der andere Calder”, Kunst und Ausstellungshalle der Bundesrepublik Deutschland, Bonn, 1993; “Alexander Calder”, Louisiana Museum of Modern Art, Humlebaek, Denmark, 1995 (traveled to: Moderna Museet, Stockholm; Musée d’art moderne de la ville de Paris, in1996); “Alexander Calder: 1898-1976″, National Gallery of Art, Washington, D.C. (traveled to the San Francisco Museum of Modern Art in 1998); “Alexander Calder: The Paris Years, 1926-1933″, Whitney Museum of American Art, New York, 2008 (traveled to the Centre Pompidou, Paris in 2009) and “Calder”, Palazzo delle Esposizioni, Rome (2009-2010).

Relevant Links:
Exhibition’s web-page [Gagosian Gallery]
Alexander Calder Foundation web-page [Alexander Calder]
The artist’s page at Whitney Museum of American Art [Whitney Museum]

Luísa Fedrizzi, editora do site da fundação Iberê Camargo, me pegou correndo depois de uma palestra lá na Subterrânea e fez essa entrevista que entrou no ar sábado passado.

 
Os balanços do acaso

O carioca Raul Mourão dedica-se à produção de esculturas, desenhos, pinturas, vídeos, objetos, fotografias, performances e instalações. Suas obras, construídas com materiais tão diversos quanto madeira, lona, ferro e pelúcia – já que ele é o autor da afamada série luladepelúcia, de 2006. Os trabalhos apresentam um vocabulário composto de elementos da visualidade urbana deslocados de seu contexto usual.

Um exemplo é sua série Grades, de 2005, que, de uma certa forma, deu origem a seus mais recentes trabalhos: os balanços. Apresentadas recentemente no Atelier Subterrânea, em Porto Alegre, na exposição Balanço Geral, as obras se movimentam se acionadas pelo público, e foram batizadas de acordo com o tempo de duração de seu ciclo.

Na conversa abaixo, Mourão fala mais sobre a série, sua relação com o espectador e seu novo projeto, em vídeo.

Objetos com movimento eram algo inédito até então na sua trajetória. E você diz que, antes de Balanço Geral, seus trabalhos tinham uma “biografia” anterior a sua realização, mas que, neste caso, isto já não existe. O trabalho é o que se apresenta…
É, exatamente.

Porém, por trás destas obras existe um convite de uma companhia de dança, certo? Como esta parceria colaborou para a realização deste trabalho?
No final do segundo semestre de 2009, surgiu um convite da Intrépida Trupe pra participar de um espetáculo onde a companhia interagiria com obras de quatro artistas: Marta Jourdan, Pedro Bernardes, Guga Ferraz e eu. Para isto, eles queriam usar a série das grades, que, a princípio eu tive resistência, porque são esculturas que nunca imaginei serem manipuladas, interagirem com o corpo. Eram trabalhos para contemplação visual, apesar de, em alguns momentos, as pessoas poderem entrar neles, como no caso da instalação Buraco do Vieira, no Museu Vale , em Vila Velha, na exposição coletiva Outra Coisa. Eu tinha esta resistência, mas eles foram ao ateliê, começaram a improvisar, e assim começaram a surgir várias coisas muito interessantes, até surpreendentes para mim. E aí fui convencido ali, naquele momento. Depois, eles levaram várias peças para a sala de ensaios, eu comecei a frequentar os ensaios, e fui acatando o que eles foram construindo. Desses improvisos surgiu o movimento das peças, propriamente. Uma peça apoiada sobre outra, acionada por um dos integrantes, ficava em movimento e ele entrava e saia deste movimento. Eu guardei esta imagem. Naquele primeiro momento, não achei que aquilo podia voltar para o ateliê e detonar trabalhos novos, mas, uma semana depois, fiz uma pequena maquete, simulando uma situação parecida com aquela que eles tinham criado, e ela gerou uma série de experimentações, que vieram dar nesta nova série que estou chamando de Balanços. Então, o trabalho tem origem na série das Grades, mas já é uma série nova, que não remete mais a todos aqueles conceitos que estavam por trás daqueles trabalhos: um comentário crítico à crise da segurança pública, à degradação visual e arquitetônica das cidades, e à crise social e mental, esse espaço de paranóia, de reclusão dentro das casas, de negação do espaço público como um espaço de todos. Todos estes conceitos e pensamentos não estão mais presentes em Balanços. Então, esta é uma série que, como você estava falando, é quase desprovida de conceitos, é quase uma pura composição de formas geométricas. É uma busca da beleza, da composição ideal, que gera um movimento que me parece mais bonito, mais elegante, mais belo.

Esta é uma pesquisa que convida o espectador a acionar a obra, a participar, experimentar a obra, colocá-la em funcionamento, como se fosse ligar um aparelho. Uma televisão precisa de alguém que a ligue para que ela comece a funcionar. Aqui também tem isso: o espectador é convidado a botar a obra em ação, dar vida a ela. E a ideia de aumentar a escala é algo que vem surgindo naturalmente na pesquisa. Fiz um tamanho, fiz outro, e o trabalho encaminha para uma outra escala, que ainda não pude experimentar. Mas já fiz alguns estudos e maquetes, e meu desejo é seguir nesta direção.

Foi um processo complicado se despir desta biografia, deste entorno que fazia parte das suas obras?
Não, não foi. Quando surgiu a experimentação destas novas peças, fui tomado, fui envolvido, e minha pesquisa virou esta. Mas ainda estou bem no início de uma série, foi exposta pela oportunidade de mostrar no calor da origem, já no primeiro momento, e de poder também sentir o retorno que a obra tem sem a solenidade de uma grande mostra. Foi uma decisão que achei que combinava com o espírito da Subterrânea e que eu estava querendo vivenciar. Muitas vezes o artista fica fechado fazendo coisas no ateliê e precisa deste contato. Precisa jogar as obras no mundo e ver como elas funcionam.

E por ser participativa, por incluir o espectador, esta série facilita que você perceba a reação do público mais do que em trabalhos anteriores?
Acho que este trabalho coloca o espectador em outro lugar de contemplação, um lugar privilegiado, diferenciado. É um lugar que gera uma contemplação mais intensa, na minha opinião.

Por quê?
O movimento tem um tempo, e quando você está observando o trabalho por um tempo maior, e o trabalho está se modificando no percurso deste tempo, entendo que ele desloca, “sequestra” o espectador para um lugar onde acontece esta contemplação diferenciada. É uma junção da qualidade do espectador e de uma peça que se mexe, e que gera isto.

Na conversa com o público, realizada na Subterrânea Atelier durante a sua exposição, você apresentou, em primeira mão, um novo trabalho em vídeo. Você poderia falar um pouco sobre este projeto?
É um trabalho inédito, que pretendo apresentar em breve. É um vídeo de 3’49’’ de duração, captado em full HD e sem som, com direção de fotografia do David Pacheco, que fiz em 2009. Ele é um plano que tem início, meio e fim, ou seja, tem uma história, mas que tem o acaso como elemento de sua criação. Assim como, assistindo, você não sabia o que vinha no andar de baixo, eu também não sabia. Não preparei aquele plano, ele é acidental, feito depois que tínhamos passado uma noite no terraço de um prédio produzindo 7200 fotos para outro trabalho. Ao sair de lá, exaustos, no amanhecer, vimos a luz entrando e pensamos: “bom, vamos fazer isso aqui”. O filme é sobre isto. O David fala que a gente vivenciou o Samsara [perambulação, caminho, ciclo da vida para as religiões indianas], ao virar a noite lá, penando no frio e dormindo na laje, para, então, atingir o Nirvana na realização deste plano, que é de uma beleza fotográfica e de uma série de acontecimentos do inesperado. Parece que começamos no amanhecer e que terminamos no entardecer, que vamos do verão ao inverno. Mas aquelo é exatamente o tempo real. O que se vê realmente aconteceu comigo, e eu estou dividindo com o público. Não tem manipulação nem de tempo nem de reenquadramento, nem de tratamento de imagem…

E a geometria que aparece ali, que tem muito a ver com o seu trabalho, também é fruto do acaso?
Tudo é o acaso.

Na próxima terça-feira, 27/04, às 19 hs, inaugura a exposição “Ruy Santos: imagens apreendidas”. A exposição é produto da parceria entre a ECO e o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro no âmbito do projeto “Fotografia e Comunismo: imagens da Polícia Política no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro”, desenvolvido pela bolsista de pós-doutorado Teresa Bastos, sob supervisão do professor Mauricio Lissovsky.

Ruy Santos, assistente de câmera do Edgar Brasil em “Limite” foi, além de cineasta, o fotógrafo “oficial” do PCB durante o breve período de sua legalidade, após a Segunda Guerra. Foi preso junto com outros membros do partido e sua produção fotográfica apreendida. Esta exposição é primeira individual do fotógrafo, já falecido, cuja obra era dada como perdida até ter sido resgatada dos arquivos do DOPS.

Gustavo Mini colocou o post abaixo lá no Conector.

Antes tarde do que nunca: fui ver a exposição do Raul Mourão na Subterrânea no último dia, sábado passado. Conhecia o Raul de nome, das caixas de comentários do Conector. E também tinha visto que ele tinha sido comentado em uma matéria especial da Monocle sobre o Rio (bem antes do caos hidráulico recente). Mas, como bem sabemos, nome é uma coisa e experiência visitando exposição é outra bem diferente.

Não tenho gostado muito de escrever sobre arte. Primeiro porque, craro, me falta conhecimento de causa. Segundo porque, me perdoem o clichê, sempre parece que as palavras não são o suficiente pra enganchar os leitores na minha experiência. Logo, ter ido ver o trabalho do Raul na Subterrânea é mais um desses casos constrangedores: eu quero falar bem, mas não sei como fazer isso sem soar extremamente pretensioso.

Bom… talvez a melhor forma seja simplesmente recomendar fortemente aos leitores que, aparecida a oportunidade, se joguem pra dentro de um espaço com o trabalho do cara e se contentem em passear por ali. Foi mais ou menos essa a minha sensação com o Balanço Geral: o negócio ali não é olhar, apreciar, raciocinar ou pensar. As esculturas cinéticas (ó, já estraguei tudo…) do Raul Mourão parecem pertencer a uma outra classe de coisas que terminam com “ar”: visitar, passear, caminhar, respirar, só estar junto das obras, conviver um pouco com elas (não muito). Quem sabe até comendo um amendoim ou fingindo que não está nem aí. Só não recomendo fones de ouvido e som, acho que aí sim atrapalharia a experiência. Mas, sei lá. Vai saber se pra voce não é melhor?

Bom. Isso tudo não é algo das obras, claro. Nem da exposição ou do espaço. É um lance meu. Se é seu… como saber? Não adianta, você vai ter que dar um jeito de conferir. Cada um com seus problemas.

***

Aproveitando o ensejo, hoje abre um expo nova na Subterrânea. Lyneas e Camadas, com desenhos de artistas latino-americanos. Na abertura, rola bebida e o já tradicional sorteio de obras, no melhor estilo rifa de colégio com números a 5 reais. Um novo clássico de Porto Alegre dando uma refrescada na cena cultural da cidade. Mais informações aqui.

Peguei a matéria abaixo no site Artcat.

Nicholas Robinson Gallery
Chelsea
535 West 20th Street, 212-560-9075
March 2 – April 17, 2010

In 1968, Donald Judd purchased 101 Spring Street, a 5-storey cast iron building, which today remains the only single- use cast iron building in SoHo. The premises was a home for Judd and his young family, provided a studio for him to work in, and also provided a forum for him to begin his process of installing his work and the work of others in a permanent fashion.

In the Summer of 2010 the house will close for 3 years for a major restoration, and in commemoration of this Nicholas Robinson Gallery and Maurice Tuchman will curate an exhibition of artworks by those artists whose works formed the permanent installation at the time of the artist’s death in 1994. Including examples by Hans Arp, Larry Bell, John Chamberlain, Marcel Duchamp, Dan Flavin, Donald Judd, David Novros, Claes Oldenburg, Ad Reinhardt, Lucas Samaras, Kurt Schwitters and Frank Stella, and archival material from the Judd Foundation the exhibition seeks to celebrate the house as both a home and a vital meeting place and conduit in the lives and works of these seminal artists.

Judd’s concept of “permanent installation” centered on the belief that the placement of a work of art was as critical to its understanding as the work itself. His first applications of this idea were realized in his installation of works throughout 101 Spring Street. His placement of artworks, furniture, museum-quality decorative objects, and the accoutrements of domesticity in this historic building illustrate specific and careful choices, highlighting the attributes of the fine structure and innovating a mode of living that is still considered today to be the archetype of loft habitation.

Through his succinct writings Judd precisely elucidated his ideas about his own work and what he considered the principal responsibilities and function of the art object. From 1959 to 1965 he was also a prolific critic, hired by Hilton Kramer to write reviews for Arts (and from January 1962, called Arts Magazine), in which he applied his rationalist thinking to the works of others, the manner in which they were displayed, and what he considered to be both the relevant and redundant aspects of modernist artistic practice, thoughts which presumably informed his own collecting tastes.

In his essay ‘101 Spring Street’ Judd had the following to say about the building:

“The given circumstances were very simple: the floors must be open; the right angle of windows on each floor must not be interrupted; and any changes must be compatible. My requirements were that the building be useful for living and working and more importantly, more definitely, be a space in which to install work of mine and of others. At first, I thought the building large, but now I think it small; it didn’t hold much work after all. I spent a great deal of time placing the art and a great deal designing the renovation in accordance.”

as fotos que seguem eu mesmo tirei com o celular. o texto abaixo estava colado na parede da galeria.


Formado em 2004 por Eduardo Manso, Estevão Casé, Bruno Di Lullo e Rafael Rocha, o Rabotnik é um grupo de música instrumental que alterna apresentações ao vivo com a produção de trilhas sonoras. A banda experimenta improvisação, técnicas de composição e arranjo baseadas nas novas tecnologias de edição não linear de áudio. Além do repertório autoral, o grupo costuma homenagear em seus shows grandes compositores de trilhas sonoras cinematográficas, apresentando ao público algumas das obras de Ennio Morricone, Nino Rota, John Barry, Henry Mancini, Krzysztof Komeda, entre outros.

Serviço:
Início: 23:00
Ingressos: R$12 na lista amiga ou R$16.
Lista amiga em: listaamigashow@gmail.com


Tosconews informa:
Hoje rola uma edição especial da Fix. A festa, que nasceu em 2007, se dedicava a expressar a crescente mistura do pós & disco punk na eletrônica junto com a busca por elementos bacanas de gêneros old-school que mereciam permanecer nas pistas (acid house, disco, electrofunk). Essa combinação vingou e virou realidade nas pistas de hoje, chame de indie-dance, nu-disco ou do que for.

Hoje, a tendência mais forte é olhar para fora do nosso universo urbano (cada vez mais homogêneo) e procurar nas culturas locais por outras identidades; mais cruas e livres da saturação; nos guetos, no regional, nas periferias. Entra em cena um perfeito complemento para a Fix: o global guettotech, que faz justamente essa mistura do regional com o que há de moderno nas pistas. Quem vai representar o estilo na Fix é quem mais domina o assunto: Chico Dub (Dancing Cheetah) e Lucas Santtana. Na pista 1, Gustavo mm, Nepal e Markinhos Meskita trazem o electro-disco-rock desse e de todos os tempos!

Serviço:

FIX
Gustavo MM
Markinhos Meskita
Nepal

Na pista 2
Chico Dub
Lucas Santtana

Preços:
R$18 até 1am com nome na lista
R$22 depois de 1am com nome na lista
R$30 fora da lista

fixlista@gmail.com

Casa da Matriz
Henrique Novaes 155, Botafog

peguei lá no site da Casa do Saber.

 

ANTONIO DIAS, UM ARTISTA CONTEMPORÂNEO NO MUNDO

 Ele é um dos maiores nomes da Arte Contemporânea brasileira, autor de uma intensa, marcante e consagrada produção em diversos suportes, desenvolvida a partir dos anos de 1960, que o transformaram em referência. Vivendo na Europa desde 1966, Dias, como é conhecido lá fora, ou Antonio Dias, como o conhecemos aqui, jamais abriu mão de manter uma relação atenta e ativa, não apenas com os artistas e a produção das Artes Plásticas brasileiras, mas também com os mais relevantes temas do debate político- cultural do seu país. É com grande orgulho que a Casa do Saber Rio oferece a oportunidade de conhecer melhor o pensamento, a visão sobre a arte atual (incluindo a sua própria) e a trajetória de um artista que é hoje um dos principais nomes brasileiros da Arte Contemporânea mundial.

Início: 28 ABR
Duração: 1 encontro
Dias/horários: Quarta-Feira, às 20h (28/04)
Valor: R$ 95,00 na inscrição

O blog da feira SP arte está no ar. Peguei lá esse post aí embaixo, é uma matéria do Márcio Rodrigues que saiu no Valor Econômico.

Aquarela do Brasil
no Valor Econômico

Sexta edição da SP Arte, leilão em Londres e comitê multidisciplinar atestam novos caminhos do mercado de artes brasileiro.

Por Márcio Rodrigues

Nos últimos 15 anos, tornou-se lugar-comum ouvir notícias sobre trabalhos de artistas brasileiros que atingiram cifras expressivas, sendo negociados em galerias, feiras de arte e leilões tanto no Brasil quanto na Europa e nos Estados Unidos. Embalada e influenciada pelo bom desempenho da economia nacional, a arte brasileira vive hoje um momento otimista e efervescente.

Enquanto trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros, como Beatriz Milhazes, Ernesto Neto e Cildo Meireles, são avidamente procurados por colecionadores internacionais com a mesma gula com que buscam adquirir obras de artistas que já morreram, como a própria Tarsila, Lygia Clark e Hélio Oiticica, o mercado de arte brasileiro busca cada vez mais sua profissionalização e ampliação.

Se lá fora casas tradicionais como a inglesa Phillips de Pury & Company organizam eventos como o leilão intitulado “Bric” – em referência à sigla econômica que congrega os países de economia emergente, leia-se Brasil, Rússia, Índia e China – que na noite do dia 24 vai dedicar-se à venda de mais de cem trabalhos brasileiros, por aqui, iniciativas como a sexta edição da SP Arte e a reativação do Comitê Brasileiro de Arte Contemporânea indicam um momento cada vez mais sólido de nosso mercado de arte.

Radicada na Argentina em 2004, Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte, percebeu que o Brasil não possuía nenhuma feira de arte de grande porte, apesar do crescimento das vendas de obras brasileiras tanto aqui quanto no exterior. Apoiada nessa percepção e na convicção de que o Brasil apresentava um mercado de arte “maduro”, com várias galerias importantes e artistas de renome, Fernanda criou a SP Arte em 2005.

A primeira edição da feira reuniu no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, 40 galerias brasileiras e 1 estrangeira, além de um público de 7 mil visitantes, número substancioso para um evento de quatro dias, principalmente se for levado em conta que no Brasil o Masp, museu dedicado somente à exibição de obras de arte, foi o mais visitado no país durante os mais de 300 dias em que permaneceu com suas portas abertas no ano passado: recebeu 679 mil pessoas.
Fernanda estava certa ao deduzir que, se “São Paulo é a capital econômica da América Latina”, a cidade carecia de uma feira de arte que refletisse não apenas sua importância, mas de todo o Brasil nesse setor. Outro dado surpreendente e desconhecido desse mercado até então é que a SP Arte revelou a existência de um público potencial de colecionadores brasileiros mais jovens, na faixa dos 35 anos, o que pode garantir a continuação do ciclo virtuoso pelo qual hoje passam as galerias e casas de leilão no Brasil.

Sem rodeios, a megamarchand revela que entre 2005 e 2008 o volume de negócios na SP Arte cresceu em média de 10% a 15% a cada ano e em 2009 o crescimento foi de aproximadamente 20%, atestando a afirmação de Fernanda de que as vendas realizadas pela SP Arte no ano passado não foram afetadas pela crise global que prejudicou, no fim de 2008 e durante todo o ano passado, o desempenho de feiras importantes, como a ArtBasel, na Suíça, e a Arco, na Espanha. Para a sexta edição da SP Arte, Fernanda estima que o crescimento dos negócios continuará na casa dos 20%, sendo negociados entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões em obras de arte. Com 80 galerias confirmadas no Pavilhão da Bienal entre os dias 29 e 2, entre elas A Gentil Carioca (RJ), La Caja Negra (Espanha) e Luisa Strina (SP), a SP Arte enfrenta agora um único “problema”: selecionar galerias brasileiras para suas próximas edições que mantenham o nível de trabalhos e artistas apresentados similar ao das que hoje compõem a edição atual do evento.

O bom momento do mercado de arte no Brasil estimulou marchands de cinco Estados (PR, RS, SP, MG, RJ) a retomar as atividades do Comitê Brasileiro de Arte Contemporânea. Reunindo órgãos como MinC, Ministério das Relações Exteriores, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Funarte, Fundação Bienal, Agência Brasileira de Apoio à Cultura (Abac), Alessandra d’Aloia, da Fortes Vilaça, o colecionador Fabio Szwarcwald, do Rio, uma galerista – Luisa Strina – e a Fundação Bienal do Mercosul, o comitê tem como metas principais operacionalizar ações de fortalecimento do mercado interno de artes plásticas e promover, ainda mais, a internacionalização desse segmento.

Presidido por Alessandra, sócia-diretora da Fortes Vilaça – hoje considerada uma das mais “internacionalizadas” galerias brasileiras -, esse comitê também tem por objetivo reunir informações sistematizadas do tamanho do mercado de arte brasileiro. A galerista frisa a necessidade de indicar ao governo federal todos os “gargalos existentes no setor para que leis e trâmites sejam revisados” a fim de que, num mundo globalizado, nosso mercado de arte se torne mais ágil e eficiente.

Entre as primeiras iniciativas da associação está a aproximação com o Ministério da Cultura (MinC), um gesto que, além de visar ao melhor desempenho no trâmite de obras de arte do Brasil para o exterior, poderá auxiliar na formulação de estatísticas sobre o real tamanho do mercado de arte no país. Anuários como o “Cultura em Números”, lançado pela primeira vez pelo MinC no ano passado, em parceria com o IBGE e a Funarte, dão conta de que hoje no Brasil quase 30% das cidades brasileiras realizam exposições de artes visuais.

Certamente, boa parte dessas mostras é organizada por galerias que têm por objetivo final a comercialização dos trabalhos exibidos. Mesmo com as vendas aquecidas, no entanto, hoje nem o governo nem o mercado sabem mensurar com precisão o tamanho do setor e o que ele representa para a economia brasileira, inclusive em nossa pauta de exportações. A troca de informações entre o Comitê Brasileiro de Arte Contemporânea e o MinC tornará, como observa Alessandra, o setor cada vez “mais ágil e eficiente”, como deve ser hoje, aliás, qualquer setor da economia que queira se desenvolver a passos largos.

A carência de dados e cifras sobre o mercado de arte brasileiro, contudo, definitivamente não incomoda os marchands internacionais mais experientes. Na prática, o que leiloeiros e galeristas internacionais perceberam é que a qualidade dos trabalhos brasileiros, principalmente os criados por artistas contemporâneos, tem seduzido cada vez mais colecionadores do mundo inteiro.
Só isso explica o fato de uma tela como “O Mágico”, da carioca Beatriz Milhazes, ter sido negociada, em 2008, por mais de US$ 1 milhão pela Sotheby´s em Nova York. Detalhe: Beatriz está viva e é jovem, o que, segundo as regras desse setor, deveria depreciar – ao menos um pouco – os preços de seus trabalhos em leilões internacionais.

Os colecionadores, todavia, parecem ter esquecido ou fazem questão absoluta de ignorar essa regra, comprovando que o “o mercado de arte brasileiro vem crescendo numa trajetória sólida, iniciada ainda no modernismo brasileiro”, como observa Fernanda Feitosa.

Estimulada pelo sucesso não só da arte brasileira, mas de todos os países ditos emergentes entre colecionadores europeus, a Phillips de Pury & Company, fundada em 1796 em Londres, decidiu realizar nos dias 23 e 24 um leilão intitulado “Bric” – referência direta ao termo do mercado econômico criado por Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs.

Com expectativa de arrecadar entre 9 e 13 milhões de libras com o leilão de obras do Brasil, da Rússia, da Índia e da China, a Phillips de Pury deverá colocar à venda mais de cem obras de arte brasileiras, que englobam desde o período modernista até o contemporâneo. Em um trabalho de mais de seis meses, a casa de leilões garimpou obras de cânones como Di Cavalcanti, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Sérgio Camargo – cuja pintura “Relief” atingiu quase US$ 1,6 milhão em leilão promovido pela Sotheby’s no ano passado -, mas também de artistas que hoje despontam no mercado internacional, como a jovem Tatiana Blass.

Em entrevista ao Valor, Rodman Primack, diretor da Phillips de Pury e especialista em arte brasileira, concorda com Fernanda Feitosa ao localizar no modernismo brasileiro e, mais precisamente, na Semana de Arte Moderna de 1922, o início da longa jornada do Brasil para se tornar um produtor de arte reconhecido e com obras comercializadas nos mercados mais importantes do mundo.

Como se lê nos livros sobre arte modernista brasileira, de fato, depois de três anos de fortes articulações pessoais com figuras como o influente marchand francês Léonce Rosenberg e o pintor cubista Fernand Léger, a pintora Tarsila do Amaral abriu sua primeira mostra individual na Galeria Percier, em Paris, em 7 de julho de 1926.

Se viajar para Paris com o escritor Oswald de Andrade, então seu marido, no início dos anos 20 foi para Tarsila seu “bilhete para a modernidade”, como escreve o curador Paulo Herkenhoff no catálogo da exposição “Arte Brasileira na Coleção Fadel” (2002), a atitude do famoso casal “Tarsiwald” de organizar uma exposição na capital francesa marca, mesmo que de maneira inconsciente, o início da inserção de obras brasileiras no mercado internacional de arte.

Além disso, oito décadas após causar forte repercussão na imprensa francesa com a primeira individual no exterior, Tarsila voltou a ser notícia em novembro de 1995, quando seu “Abaporu”, a tela mais emblemática do modernismo brasileiro, foi arrematado em leilão da Christie’s de Nova York por US$ 1,25 milhão, o maior valor pago até então na história por uma obra de arte brasileira. Sem saber ao certo o que estava fazendo, o empresário argentino Eduardo Costantini inaugurava ali uma era em que trabalhos de artistas brasileiros – mortos ou vivos – atingiriam cifras milionárias não apenas no mercado de arte internacional, mas também dentro de nosso país.

Para Rodman Primack, o país tem tudo para continuar crescendo nesse setor: um rico patrimônio cultural, excelente artistas, colecionadores e um interesse internacional crescente pela arte produzida aqui. Tal situação, segundo seu raciocínio, aliada ao desenvolvimento econômico interno dos países que compõem o Bric, pode estimular até a “construção de pontes” entre os mercados de arte espalhados pelo mundo. Visto com ressalvas por Alessandra d’Aloia, que vislumbra na iniciativa da Phillips de Pury a possibilidade de criar um novo gueto para arte dos países emergentes, a exemplo do que antes acontecia no mercado internacional com a chamada “arte latina”, o leilão do Bric, de qualquer maneira, atesta a boa fase e o interesse cada vez mais crescente despertado pela arte brasileira aqui e no exterior.

Se a SP Arte, como ressalta a própria Alessandra, foi fundamental para abrir o mercado para compradores brasileiros que jamais pensaram em adquirir obras de arte, iniciativas internacionais como a da Phillips de Pury auxiliam a inserir obras feitas aqui em coleções do mundo todo.

A longo prazo, o ato de colecionar – que nasce quase sempre do gosto do mundo privado – pode ajudar na formação de importantes coleções que poderão ser vistas no futuro em instituições públicas, como bem observa Primack, ao mencionar o destino de acervos particulares que fundaram, com a morte de seus proprietários, por exemplo, importantes museus ao redor do mundo. Para além de todas as cifras e investimentos do presente, esta é a melhor herança e rendimento que um mercado de arte aquecido pode deixar para qualquer país.