O pequeno é bonito
Com a idéia de deixar vazio um andar da próxima Bienal de São Paulo, o curador Ivo Mesquita quer promover o debate sobre a crise das grandes exposições na era do excesso de feiras
* por Marcelo Rezende

Ivo Mesquita tem uma longa trajetória no circuito da arte no Brasil, iniciada no fim dos anos 60. Desde o fim de 2007, seu nome está associado a uma idéia: o vazio. Mesquita é o curador da 28a Bienal, que acontece entre outubro e dezembro deste ano.

Ele propõe, para o evento, discutir abertamente a crise pela qual passam as grandes exposições, sobretudo a de São Paulo, onde a Fundação Bienal enfrenta acusações de desmandos administrativos e procura redefinir seu papel e função.

Para representar esse gesto, ele deixará vazio um dos andares do prédio projetado por Oscar Niemeyer. Mesquita pretende recriar o modelo da Bienal, a fim de que o público não tenha apenas um percurso (passear por obras reunidas por afinidades temáticas em um pavilhão), mas um circuito — composto de publicações, debates ou ações envolvendo a cidade e seus habitantes, entre elas duas festas no parque do Ibirapuera.

Essa seria uma das estratégias possíveis para repensar o papel do artista — e do curador — em um ambiente de feiras de arte e do discurso dominante do mercado. Para ele, a atual atmosfera de excesso, velocidade e grandeza desmedida deve ser contida. Como escreveu o artista francês Yves Klein (1928-1962), que fez do imaterial toda uma questão para a arte, é preciso “manipular as forças do vazio”. A 28a Bienal se prepara para o desafio, disse Ivo Mesquita.

BRAVO!: Hoje, as feiras de arte se multiplicam, mostrando a força e o vigor do mercado, e ao mesmo tempo reivindicam ser ainda um espaço para o debate. Há competição com as bienais?

Ivo Mesquita: A cada semana há uma feira abrindo. Há o mesmo tipo de multiplicação das bienais. Em um dado momento, a partir dos anos 80, as bienais vão precisando cada vez mais do apoio das galerias para produzir projetos para essas mesmas bienais — um financiamento. Isso já havia desde os anos 50 e 60, durante a Guerra Fria, com a criação dos prêmios no circuito de bienais, e havia uma pressão das galerias por esses prêmios. O que houve nos últimos tempos é que as galerias se deram conta de que era melhor fazerem diretamente tudo, com as feiras. Por isso, proponho que as bienais sejam mais enxutas, com menos artistas, mais críticas e mais reflexivas. Na verdade, antes dessa explosão, até os anos 80, os museus não se ocupavam muito de arte contemporânea; isso era uma coisa de bienais. As bienais tinham o papel de certa organização, revelação da arte contemporânea. À medida que isso passa para dentro dos museus, estes começam a ocupar esse lugar, e esse mercado, o da arte contemporânea, vai se tornando muito poderoso também — e não era assim antes.

Esse contexto deixa você mais livre ou mais pressionado para preparar uma Bienal?
Mais livre. Porque há vários segmentos que estão muito bem supridos, representados e ouvidos. As bienais têm que ter uma visão mais crítica sobre os modos de produção de hoje. Acredito muito nos programas de residência de artistas, mas não aquela coisa que já se institucionalizou. O artista trabalhando por três semanas ou três meses. Tem que ir para uma cidade, ter uma casa, ter uma vida, aprender a língua, ver as escolas de arte que existem naquele lugar. E isso pode durar um ano e meio, dois anos, com o acompanhamento de um curador. Acho importante essa experiência, a possibilidade de desacelerar o tempo para a produção da obra, criar um contraponto a esse tempo digital, acelerado. Nesse sentido, as bienais deveriam ser menores, o que abre a possibilidade de criar novos formatos que não o da própria exibição de objetos em um pavilhão. Por que não uma Bienal que aconteça na internet? Por que algo que não esteja dentro do prédio?

Nos circuitos das bienais, há um crescente discurso político nas obras — em teoria, projetos que não podem ser comprados — e nos temas, o que seria uma estratégia para se opor ao mercado. Mas tudo isso acontece sob os olhos do mercado de arte.
Mas não é isso o que se vê nas feiras de arte? Os artistas vendendo seus trabalhos, seus arquivos, aquelas pesquisas que eles fazem. Tudo está lá para vender. Custa 15 mil euros, 50 mil euros, dependendo do artista. O colecionador compra. Mas por quê? Ele vai ler todas aquelas figurinhas? Talvez. Mas não é um trabalho que caiba no espaço da casa; isso não faz sentido. E se não são obras para o espaço da casa, então talvez não seja o espaço para esse mercado, e as instituições devem pensar sobre isso. Nesse sentido, o que precisa ser readaptado talvez seja a economia que permite que esse artista trabalhe. E isso seria veiculado às bienais. Esse espaço que antes era de projetos foi apropriado pelo mercado. Não sei se a gente consegue desfazer isso, mas ao menos temos que deixar claro como a coisa acontece.

Então a 28a Bienal começa com a vontade de desfazer?
O economista alemão Ernst Friedrich Schumacher dizia que o pequeno é bonito. Quando todos propunham as grandes corporações, na década de 1970, ele vinha com a idéia do pequeno negócio, que permitia emprego, era fundamental. No lugar das grandes fábricas, o pequeno negócio. Eu concordo com ele. Temos essa relação com o grande, mas não encaramos alguns fatos. Desde 1951, a Bienal de São Paulo é visitada por 10% da população da cidade. Com as décadas, a cidade cresceu, criou-se uma infra-estrutura cultural enorme, mas continuam sendo os mesmos 10 % que visitam a Bienal. Por que isso ocorre? O que significa? Quando você pensa que a Bienal pode custar R$ 20 milhões, e você pensa nesses 10%… Sei que não se medem as questões da cultura por meio desses valores, mas eles não deixam de ser significativos. Precisamos então parar e refletir, pensar que alternativas temos, que possibilidades se apresentam, hoje, para um outro tipo de modelo.

E o novo modelo pode ser iniciado com um salão vazio?
O tema da Bienal não é o vazio. Haverá por volta de 40 artistas participantes, publicações, performances, debates, diferentes ações. O vazio é um gesto simbólico. A psicanálise é algo muito presente para mim, um instrumento. Acredito na idéia de um corte na fala, na interrupção da conversa, no fim da sessão. Você está lá, falando, e o psicanalista diz que acabou a sessão e você fica com a palavra no ar, e isso descortina um vazio para você, que é quando você tem a chance de se ver, de buscar respostas. Para mim, as pessoas têm medo do vazio. O que estaria por trás desse medo? Mais uma vez, algo psicanalítico. Talvez estejamos percebendo que a arte já não nos assegura, não tem mais a capacidade de mitigar a nossa angústia diante do vazio de nossa própria existência. Será que a arte perdeu essa capacidade ao falar de coisas imediatas, do mundo, das raças? Não basta apenas afirmar que há crise; é preciso se colocar e debatê-.

Todas as quartas de junho, a partir de 04/06 acontecerá a festa Black Tie!

Grooves modernos com fortes influências de funk70, disco, soul e jazz, com intervenção de voz e instrumentos. No comando da parada os dj’s Nepal e Fabio Santana.

O local também é novo.
Um tal de Milano Lounge.
Rua Gomes Carneiro 132 ipanema.

Artigo do Ruy Castro publicado na Folha de S. Paulo de ontem. Reflexão necessária, texto curto e direto. Lá vai:

Um chiclete ou toco de cigarro jogado na rua atrai outro chiclete ou toco de cigarro. Uma garrafa pet atirada na pista pela janela de um carro induz a que outro cretino, passando de carro, atire outra garrafa. Um monte de lixo não recolhido na calçada leva o indivíduo a despejar mais lixo na calçada, achando que o ponto está liberado para vazadouro.
Uma faixa com os dizeres “Maricotinha, te amo” ou “Obrigado a santo Agapito pela graça alcançada”, estendida de poste a poste, de um lado a outro da rua, estimula que alguém pendure outras faixas apregoando “Vendem-se túmulos” ou “Jazigos abaixo do custo”, como já vi perto de cemitérios, penduradas de árvore a árvore.
Uma tabuleta na porta de um açougue prometendo “Coxão mole a xis reais o quilo”, empatando metade da calçada, é um convite a que farmácias, lanchonetes, locadoras de vídeo etc. atravanquem o resto da via pública com seus anúncios. Um carro estacionado com duas rodas no passeio está a um passo de botar as outras duas rodas no passeio e interrompê-lo de vez.
Uma pichação na fachada de um prédio leva outro pichador a emporcalhar o prédio ao lado ou a tentar competir com o primeiro, pichando os andares mais altos. Um grafiteiro autorizado a cobrir uma parede com seus horrendos desenhos estará apenas se prevalecendo da coação que sua categoria impõe ao poder público -ou este libera o grafite, por ser uma “arte”, ou os grafiteiros vão na marra e pintam do mesmo jeito.
Tanta imundície revela abandono e é uma porta aberta para a criminalidade -bandidos sentem-se bem em meio a ela. Algumas prefeituras fazem sua parte, mas os cidadãos precisam ajudar, exercendo a cidadania. Embora pertença a todos, o espaço público não é a casa-da-mãe-joana.

O texto abaixo é do ex-editor da revista wired, Kevin Kelly, e eu peguei no Diginois do Lucas Santana que por sua vez havia copiado do Trabalho Sujo do Alexandre Matias.

Ele foi traduzido para o português pelo Miguel Caetano no seu site Remixtures.

Melhor que gratis- Kevin Kelly

A internet é uma copiadora. Ao seu nível mais básico, ela copia cada acção, cada caracter, cada pensamento que temos enquanto navegamos por ela. De modo a enviar uma mensagem de um canto da Internet para outro, os protocolos de comunicação exigem que a mensagem inteira seja copiada por diversas vezes ao longo do percursos.

As empresas de Tecnologias da Informação ganham montes de dinheiro vendendo equipamento que facilita esta cópia incessável. Cada bit de dados jamais produzido em qualquer computador acaba sempre por ser copiado em algum lado. Neste sentido, a economia digital navega por entre um rio de cópias. Ao contrário das reproduções fabricadas em massa datadas da era das máquinas, estas cópias não são apenas baratas, são grátis.

A nossa rede de comunicação digital foi concebida de forma a que as cópias se difundam com o mínimo de fricção possível. De facto, as cópias propagam-se de uma forma tão livre que podemos até conceber a internet como um sistema de superdistribuição em que a partir do momento em que uma cópia é introduzida ela irá continuar a difundir-se eternamente pela rede, muito à semelhança da electricidade num fio supercondutor.

Podemos constatar isto na vida real. A partir do momento em que qualquer coisa que pode ser copiada entra em contacto com a Internet ela é copiada e essas cópias nunca podem ser eliminadas. Mesmo um cão sabe que não podemos apagar algo a partir do momento em que esse algo é distribuído através da Internet.

Este sistema de superdistribuição tornou-se o pilar da nossa economia e riqueza. A reprodução imediata de dados, ideias e media sustém todos os principais sectores económicos da nossa economia, em especial aqueles relacionados com as exportações – isto é, aquelas indústrias onde os EUA possuem uma vantagem competitiva. A nossa riqueza assenta num enorme dispositivo que está constantemente a copiar de uma forma promiscua.

Contudo, a era anterior de riqueza da nossa economia baseou-se na venda de cópias preciosas pelo que o livre fluxo de cópias grátis tende a pôr em causa a ordem estabelecida. Se as reproduções dos nossos melhores esforços são grátis, como é que podemos continuar como até aqui? Simplificando, como é que ganhamos dinheiro com a venda de cópias grátis?

Eu tenho uma resposta. A maneira mais simples que eu tenho de a explicar é a seguinte:

Quando as cópias são superabundantes, elas perdem todo o seu valor. Quando as cópias são superabundantes, aquilo que não pode ser copiado torna-se escasso e valioso. Quando as cópias são grátis, precisamos de vender aquilo que não pode ser copiado.

Bem, então o que é que não pode ser copiado?

Existem uma série de qualidades que não podem ser copiadas.
A “Confiança”, por exemplo. A confiança não pode ser copiada. Não se pode comprá-la. Precisa de ser conquistada ao longo do tempo. Não pode ser descarregada. Ou falsificada. Ou contrafacturada (pelo menos por enquanto). Se tudo o resto vale o mesmo, iremos sempre preferir lidar com alguém em quem possamos confiar. Daí que a confiança seja um bem intangível que possui um valor crescente num mundo abundante de cópias.

Há um número de outras qualidades semelhantes à confiança que são dífíceis de copiar, tornando-se por isso valiosas neste economia em rede. Penso que a melhor forma de analisá-las não é a partir do ponto de vista do produtor, fabricante ou criador, mas sim do utilizador. Podemos começar por colocar uma questão simples ao utilizador:

porque é que pagaríamos por algo que podemos obter de graça? Quando alguém compra uma versão de algo que poderia obter de graça, o que é que está a adquirir?

Partindo da minha análise da economia em rede, identifico oito categorias de valor intangível que adquirimos quando pagamos por algo que poderia ser grátis.

Estas oito coisas são, de uma forma bem real, melhores do que aquilo que é grátis. Eu dei-lhe o nome de “gerativos”. Um valor gerativo é uma qualidade ou atributo que deve ser gerado, desenvolvido, cultivado, sustentado. Uma coisa gerativa não pode ser copiada, clonada, falsificada, replicada, contrafacturada ou reproduzida. Ela é gerada de um modo único, num determinado local, ao longo do tempo. No sector digital, as qualidades gerativas acrescentam valor às cópias grátis, sendo por isso algo que pode ser vendido.

Oito gerativos melhores que grátis

Imediatez – Mais tarde ou mais cedo iremos acabar por encontrar uma cópia grátis do quer que pretendamos, mas receber uma cópia na nossa caixa de novas mensagens imediatamente logo no momento em que ela é lançada – ou ainda melhor, produzida – pelos seus criadores é um bem gerativo. Muitas pessoas vão ao cinema ver filmes na noite de estreia, apesar de terem que pagar um preço substancial por um filme que irá estar posteriormente disponível de graça, ou quase de graça, para aluguer ou download.
Os livros de capa dura custam mais devido à sua imediatez, sob o disfarce da capa dura. Se queremos ser os primeiros a ser atendidos temos que pagar mais pelo mesmo produto. Enquanto qualidade comerciável, a imediatez possui vários nível, incluindo o acesso a versões beta.
Os fãs são deste modo incorporados no próprio processo gerativo. As versões beta são frequentemente desvalorizadas porque são incompletas, mas elas também possuem qualidades gerativas que podem ser comercializadas.
A imediatez é um termo relativo e é por isso que ela é um gerativo. Tem que se adequar ao produto e à audiência. Um blog possui uma noção diferente de tempo da de um filme ou de um carro. Mas a imediatez pode ser encontrada em qualquer suporte.

Personalização – Uma versão genérica de uma gravação de um concerto pode ser grátis mas se pretendemos uma cópia que foi ajustada de modo a soar perfeitamente na nossa sala de estar – como se a banda tivesse a actuar na nossa sala – poderemos estar dispostos a pagar uma enormidade.
Uma edição da cópia grátis de um livro pode ser personalizada pelos editores de modo a ter em linha de conta os teus hábitos de leitura. Podemos pagar por um filme grátis se ele for montado tendo em conta a classificação etária que pretendamos (sem cenas de violência mas inclusão de linguagem obscena).
A aspirina é grátis, mas a aspirina concebida à medida do nosso ADN é muito cara. Como muitos já fizeram questão de salientar, a personalização exige um diálogo permanente entre o criador e o consumidor, artista e fã, produtor e utilizador. É bastante gerativa porque é bastante repetitiva e exige tempo. Não se pode copiar a personalização que uma relação representa.
Os marketers chamam a isso de “stickyness” – qualidade daquilo que é sticky, isto é, pegajoso – porque significa que ambos os lados da relação estão colados (participam) neste bem gerativo e não aceitarão de bom grado qualquer mudança na relação que os obrigue a começar de novo.

Interpretação – Existe uma velha piada que diz: “o software é grátis. O manual custa 10 mil dólares.” Só que não é piada nenhuma. Algumas grandes empresas como Red Hat, Apache e outras ganham dinheiro a fazer exactamente isso. Elas prestam suporte a software grátis mediante pagamento.
A cópia do código é grátis, uma vez que se trata de um mero conjunto de bits que apenas se tornam valiosos para nós com o suporte e a orientação de outrem. Suspeito que muita da informação genética acabe por seguir este mesmo caminho. Neste momento é demasiado caro obter uma cópia do nosso ADN mas dentro em breve deixará de o ser. Aliás, dentro em breve as companhias farmacêuticas irão PAGAR-NOS para ter acesso à nossa sequência de genes. Deste modo, a cópia da nossa sequência será grátis, mas a interpretação daquilo que ela significa, o que podemos fazer com ela e como a podemos usar – o manual dos nosso genes, por assim dizer – será cara.

Autenticidade – Poderemos ter acesso grátis a uma aplicação de software essencial, mas mesmo que não precisemos de um manual, poderemos querer saber se ela não contém bugs, é robusta e possui garantia. Iremos pagar pela autenticidade.
Existe um número quase infinito de variações de improvisações dos Grateful Dead em circulação; mas se comprarmos uma versão autenticada à própria banda iremos ter a certeza de que estamos a receber aquela que queríamos. Ou que foi de facto interpretada pelos Grateful Dead.
Os artistas lidam com este problema desde há muito. Reproduções gráficas como fotografias ou litografias vêem frequentemente com o selo de autenticidade do artista – uma assinatura – de forma a aumentar o preço da cópia. As marcas de água digitais e outras tecnologias de certificação não irão funcionar como esquemas de protecção contra a cópia (uma vez que as cópias são líquidos supercondutores) mas podem conceder uma qualidade gerativa de autenticidade àqueles que se importam com isso.

Acessibilidade – Em muitas ocasiões a propriedade pode ser um defeito. Obriga-nos a manter as coisas arrumadas, actualizadas e, no caso de material digital, guardadas num local seguro. E neste mundo em movimento, somos obrigados a transportá-la connosco. Muitas pessoas, eu inclusive, vão ficar muito aliviadas quando surgirem empresas especializadas na manutenção dos nossos “pertences” através de um sistema de subscrição. Iremos pagar ao Armazém Digital Acme para que ele nos forneça qualquer música do mundo, quando e onde a quisermos, bem como qualquer filme, fotografia (tirada por nós ou por outros fotógrafos). O mesmo para livros e blogs. O Acme irá guardar tudo num local seguro e pagará aos criadores, entregando-nos no final os nossos pedidos. Nós vamos poder receber os conteúdos nos nossos telemóveis, PDAs, laptops, desktops ou onde quer quer que seja. Uma vez que grande parte deste material irá estar disponível de graça, à medida que o tempo for passando será cada vez menos sedutor ter que o tratar, guardar, actualizar e organizar.

Corporalidade – Na sua essência, a cópia digital é incorpórea. Podemos agarrar numa cópia grátis de uma obra e passá-la para um ecrã. Mas talvez queiramos visualizá-la em alta resolução num ecrã de grandes dimensões. Ou talvez estejamos interessados em vê-la a três dimensões. Os PDFs são servem, mas por vezes é absolutamente fascinante ver as mesmas palavras impressas num papel branco suave e brilhante, com encadernação em pele. É uma sensação formidável. E que tal explorarmos o nosso jogo favorito (grátis) juntamente com outros 35 na mesma sala? Não existem limites a uma maior corporalidade. É óbvio que a alta definição dos dias de hoje – que atrai muitas pessoas às maiores salas de cinema – poderá chegar ao nosso home theater já amanhã, mas haverá sempre uma série de tecnologias de imagem a que os consumidores não terão acesso. Projecção a laser, monitores holográficos, o próprio holodeck! E nada se torna tão corpóreo quanto a música durante uma actuação ao vivo, com corpos reais. A música é grátis – o concerto físico dispendioso. Esta fórmula está a ser adoptada por um número cada vez maior não só de músicos, como de autores. O livro é grátis. A comunicação corporal é dispendiosa.

Mecenato – Acredito sinceramente que as audiências QUEREM pagar aos criadores. Os fãs gostam de recompensar os artistas, músicos e autores com algo que representa o apreço pelo seu trabalho, porque isso lhes permite estabelecer relações com eles. Mas eles apenas irão pagar se for muito fácil de o fazer, se se tratar de uma quantia razoável e se eles se sentirem seguros de que o dinheiro irá beneficiar directamente os criadores. A experiência recente dos Radiohead em permitir que os fãs pagassem a quantia que desejassem por uma cópia grátis é um exemplo excelente do poder do patrocínio. A relação intangível e esquiva que flui entre os fãs e o artista vale algo. No caso dos Radiohead, foi cerca de cinco dólares por download. Existem muitos outros exemplos em que a audiência paga apenas porque lhe faz sentir bem.

Encontrabilidade – Se as qualidades gerativas anteriores se encontram dentro das próprias obras criativas digitais, a encontrabilidade é um bem que ocorre a um nível mais elevado, no valor agregado de muitas obras. Um custo zero não ajuda a canalizar a atenção para uma obra e pode na verdade acabar por fazer desviá-la. Mas não obstante o seu preço, uma obra não possui valor se não é vista; as obras primas que não foram encontradas não valem nada. Quando existem milhões de livros, milhões de músicas, milhões de filmes, milhões de aplicações, milhões de tudo e mais alguma coisa que exige a nossa atenção – sendo a maioria grátis – a capacidade de ser encontrado é valiosa.
Enormes agregadores como a Amazon e a Netflix ganham parte do seu dinheiro ajudando a audiência a encontrar as obras que ela aprecia. Eles são o melhor exemplo do fenómeno da “cauda longa” que, como todos sabemos, aproxima as audiências de nicho das produções de nicho.
Mas infelizmente a cauda longa beneficia apenas os maiores agregadores e os agregadores de média dimensão como as editoras de livros, estúdios de cinema e companhias discográficas. A “cauda longa” não serve de muito para os próprios criadores.
Mas os criadores precisam de agregadores, dado que a encontrabilidade apenas pode de facto ocorrer ao nível dos sistemas. É por isso que as editoras de livros, estúdios de cinema e companhias discográficas (PSL – publishers, studios and labels) nunca irão desaparecer. Eles não são precisos para a distribuição das cópias (a maquinaria da internet faz isso) mas sim para a distribuição da atenção dos utilizadores por entre as obras. Os PSL encontram, sustentam e revêm o trabalho dos criadores que eles consideram ser mais capazes de dizer algo com que os fãs se possam relacionar. Outros intermediários – os críticos. por exemplo – também canalizam atenção.
Os fãs dependem deste dispositivo de encontrabilidade composto por vários níveis para descobrirem as obras que valem a pena a partir daquele número infindável das que são produzidas. Há dinheiro a ganhar (em termos indirectos para os criativos) com a descoberta de talento. Durante muitos anos a publicação impressa TV Guide gerou mais dinheiro do que todas as três grandes cadeias de televisião juntas e cuja programação editava. A revista orientava os telespectadores e apontava-lhes os programas interessantes que iriam passar naquela semana na televisão. Programas que, vale a pena salientar, eram grátis para os telespectadores. Não existem grandes dúvidas de que no mundo do grátis tanto os mega-agregadores como os vários PDLs irão ganhar dinheiro comercializando encontrabilidade – para além das outras qualidades gerativas.

Estas oito qualidades requerem um novo conjunto de competências. O sucesso no mundo das cópias grátis não resulta das competências ligadas à distribuição dado que a Grande Copiadora que Está no Céu toma conta disso. Do mesmo modo, também as competências legais relacionadas com a Propriedade Intelectual e o Copyright já não são muito úteis.

O mesmo se pode dizer a respeito das competências relacionadas com a acumulação e a escassez. Em alternativa, estes oito novos gerativos exigem uma compreensão do modo como a abundância gera uma mentalidade de partilha, como a generosidade é um modelo de negócio, da importância crescente da promoção e do estímulo de qualidades que não podem ser replicadas com um clique de um rato.
Em suma, nesta economia em rede o dinheiro não segue o percurso das cópias mas sim o da atenção e a atenção possui os seus próprios caminhos.

Os leitores mais atentos deverão ter reparado uma ausência notória até aqui. Eu não disse nada a respeito da publicidade.

Os anúncios são vistos por muitos como a solução, quase a ÚNICA solução, para o paradoxo do grátis. A maioria das soluções avançadas para resolver o problema do grátis que eu vi até agora envolvem algum tipo de publicidade. Penso que os anúncios são apenas uma das vias que a atenção percorre e que a longo prazo eles serão apenas uma parte das novas formas de ganhar dinheiro com a venda grátis de algo.
Mas isso é outra história.

Situados debaixo da camada de publicidade frívola, estes oito gerativos irão fornecer valor às cópias grátis ubíquas e transformá-las em algo que vale a pena anunciar. Estes gerativos aplicam-se não só a todas as cópias digitais mas também a todo o tipo de cópia em que o custo marginal dessa cópia se está a aproximar do zero (leiam o meu ensaio A Tecnologia Quer Ser Livre – Technology Wants to be Free). Até mesmo as indústrias materiais estão a descobrir que os seus custos de duplicação estão a descer para o zero – de modo que elas também serão obrigadas a encarar os seus produtos como se tratando de cópias digitais.

Os mapas já atravessaram esse limiar. A engenharia genética está quase lá a chegar. Os gadgets e pequenos dispositivos (como os telemóveis) estão a deslizar nessa direcção. A indústria farmacêutica já chegou a esse ponto mas não quer que ninguém o saiba. Não custa absolutamente nada fabricar um comprimido. Nós pagamos pela Autenticidade e Imediaticidade que os medicamentos nos oferecem. Um dia pagaremos pela Personalização.
Assegurar a continuidade desses gerativos dá muito mais trabalho do que duplicar cópias numa fábrica. Existe ainda muito a aprender. Muito a compreender.

A expectativa do mercado era grande e acabou se concretizando ontem. A pintura de Beatriz atingiu o maior preço em um leilão internacional por um brasileiro vivo.

Seguem 2 matérias da Agência Estado, a de hoje e a de ontem:

Tela de carioca é leiloada por US$ 1 mi na Sotheby’s

A tela O Mágico (2001), da pintora carioca Beatriz Milhazes, foi vendida ontem, em leilão da casa Sotheby’s, em Nova York, por US$ 1,049 milhão. Beatriz Milhazes, nascida em 1960, bateu, dessa maneira, o recorde anterior de artista brasileiro vivo, que era seu mesmo: sua tela Laranjeiras (2002/2003) foi vendida por US$ 465 mil em leilão da Christie’s, em Londres, em outubro de 2007. As obras de artistas mortos, em geral, são mais valorizadas.

O termo recorde só é usado quando se trata de leilões, porque a venda da obra é feita publicamente. Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, entrou ontem na disputa pela tela de Beatriz Milhazes representando um grupo de marchands. “Fomos até o final, ficamos com o penúltimo lance pela tela”, conta Bergamin. Segundo ele, o preço de martelo (hammer price) – ou preço final da obra na sala do leilão – foi de US$ 900 mil. Depois é acrescida a essa cifra uma taxa a ser paga pelo comprador da tela: e, dessa maneira, o preço final da venda foi de US$ 1,049 milhão. O Mágico, feita com tinta acrílica sobre tela, pertencia à Galeria Elba Benitez, de Madri. A Sotheby’s anunciava, antes do leilão, que os lances iniciais para a obra seriam de US$ 250 mil a US$ 350 mil.

O sucesso de Beatriz Milhazes no mercado de arte nacional e internacional é fruto de um processo que vem se fazendo desde o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. A carioca, um dos nomes da chamada Geração 1980, quando artistas daquela década se voltaram para a pintura, despertou primeiro a atenção do mercado internacional – no caso, dos EUA – e depois manteve seus altos preços aqui no Brasil também. As telas de sua última mostra em São Paulo, no ano passado, foram vendidas por US$ 250 mil.

As pinturas coloridas e cheias de elementos de Beatriz Milhazes volta e outra estão em leilões internacionais. Entre outras obras vendidas nesses eventos, estão as telas O Periquito (US$ 293,338 mil) e O Peixe (US$ 281,769 mil). Outro ponto curioso é que suas colagens começam a se valorizar muito também: em abril, Sonho de Valsa, feita com embalagens do bombom sobre papel, foi arrematada em leilão da casa Phillips de Pury & Company, em Londres, por US$ 263,734 mil. “Há uma certa histeria em relação a isso, já que dinheiro é o que move o mundo. Procuro me manter à distância”, afirma a pintora carioca.

Tela de Beatriz Milhazes pode bater recorde na Sotheby’s

15/05 – 12:12 – Agência Estado

É grande a expectativa no mercado de arte brasileiro em relação ao leilão de arte contemporânea que a tradicional casa Sotheby’s vai realizar hoje em Nova York. Entre obras de Yves Klein, Barnett Newman, Anish Kapoor e Andy Warhol estará no prelo a tela ‘O Mágico’, de Beatriz Milhazes, com preços iniciais de US$ 250 mil a US$ 350 mil.
A pintora carioca é das poucas artistas brasileiras a conseguirem alcançar altos valores no mercado internacional de arte – aliás, a valorização de suas obras ocorreu, do início dos anos 2000 para agora, do circuito estrangeiro (principalmente, americano) para o brasileiro – e, por isso, ela já está sendo considerada a primeira brasileira a bater o recorde de preço entre os artistas vivos (definição baseada apenas em se tratando de leilões).

“Minha estimativa é que a obra dela possa ter seu preço triplicado hoje no leilão da Sotheby’s”, diz Jones Bergamin, galerista, investidor e diretor da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, ele mesmo interessado em entrar na disputa pela tela da artista. Curioso que ontem, em leilão da Christie’s, em Nova York, uma tela de Lucian Freud foi vendida a US$ 34 milhões, transformando-se no maior valor já pago pela obra de um artista vivo.

A presença do quadro de Beatriz Milhazes no leilão de hoje é apenas um dos indícios de que o mercado brasileiro de arte está passando por um momento de grande efervescência e deve ser vista com cautela. Afinal, bons resultados em leilões decorrem de fatores muitas vezes imponderáveis.

“É um jogo cujas regras não estão nas mãos de ninguém”, afirma Marcia Fortes, sua galerista no Brasil – Beatriz ainda é representada por galerias em Londres, Berlim e Nova York. Apesar de não querer fazer especulações, ela confirma que o interesse é grande e tem ‘muita gente faminta’ atrás. “É uma tela ótima, excelente, de uma fase muito procurada, e está com estimativa relativamente baixa. Acredito que vá, sim, superar essa estimativa”, diz a galerista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Esse texto foi escrito em 2001 para uma coluna que eu tinha num portal chamado super11. É sobre a artista plástica Fernanda Gomes que acaba de apresentar seu trabalho na Galeria Luisa Strina em SP. Lá vai:

Sábado a noite. Um pulo na casa de Fernanda Gomes para conversar e conhecer trabalhos recentes. E também para enfrentar copos e garrafas. Nada de música. Boca-fumo-pulmão, narina-napa. Fernanda mora em Copacabana e não tem tempo nem paciência para a bosta que anda por aí. A casa e o atelier se confundem. Há um quarto que seria o atelier mas na verdade os trabalhos vão ocupando a casa toda.

No corredor o fio dental usado por Fernanda e Fernando é agora um trabalho na parede. O trabalho não tem título, nenhum trabalho de Fernanda Gomes tem ou terá título. No meio da sala está faltando um taco, Fernanda encheu com sementes de cravo. Quando se fala em cravo se pensa em canela. No nosso caso aqui acho que a canela é mais embaixo. Aquele pedaço da perna que serve para localizar os móveis na escuridão. No quarto pequenas caixas, fios, linhas, a bancada, um pequeno travesseiro repousa em um velho livro aberto, bola feita de cabelos, o papel dos cigarros, agulhas, um saco pendurado no teto, copo.

Como Paulo Venâncio escreveu em A história do pó: Até onde é possível fragmentar? E depois de tudo fragmentado como voltar à totalidade? Da insignificância se pode retornar ao mundo significante? Fernanda Gomes submete seus objetos a um teste dessa ordem. Recolhe aquilo cujo destino é a insignificância. Coisas mínimas, irrisórias, quase imperceptíveis, raramente observadas são colocadas no lugar daquilo que merece uma atenção. Retiradas da insignificância e deslocadas para uma única função; serem vistas. Pois o olhar parece ser a única forma de tocá-las, o único possível contato antes que desapareçam…

Depois de 3 ou 4 horas no sofá resolvemos fazer nova arrumação na sala. Em apenas 4 minutos tudo está mudado. Nova paisagem. Cada trabalho está impregnado de raiva, força e graça. Cada trabalho está impregnado de vida. Fernanda Gomes é assim: Tá com sede? Toma um copo de poeira.

Saí do prédio confuso, perdido. Peguei a contra-mão. Colisão. O carro capotou. As quatro rodas pra cima. Parou um caminhão, saltaram cinco caras. Desviramos o carro e segui em frente. Um pouco amassado.

Raul Mourão

A escultura acima foi apresentada no Parque Lage no Rio em 1993. Tem as dimensões oficiais de uma trave de futebol mais a distância do pênalti. Foi o primeiro trabalho que eu fiz que dialoga com o futebol. A foto é de Eduardo Coimbra.

Filminho com a maquete eletrônica do trabalho HOJE, que começa a ser construído ainda esse semestre. Mais abaixo aqui no Brog há outras imagens de HOJE.

NOVA YORK (AFP) — O pintor americano Robert Rauschenberg, um dos principais representantes da Pop Art e um dos artistas maiores do século 20, morreu aos 82 anos na Flórida, informou à AFP Jennifer Joy, encarregada de relações públicas da galeria Pace Wildenstein de Nova York.

Rauschenberg morreu na noite de segunda-feira em Captiva Island, uma ilha da Flórida onde residia.

Nascido no Texas em 1925, Rauschenberg, batizado Milton Ernest Rauschenberg – mudou de nome na idade adulta -, alcançou a fama nos anos 50 e em 1964 tornou-se o primeiro americano a ganhar o grande prêmio da bienal de Veneza (Itália).

Várias de suas obras de arte contemporânea figuram no lote de vendas de quarta-feira da casa de leilões Sotheby’s, entre elas, “Overdrive”, uma tela colorida de 1963 com elementos do distrito financeiro de Nova York, avaliada entre 10 e 15 milhões de dólares antes de ser divulgada a notícia da morte do artista.

Estudou arte em Paris onde encontrou Susan Weil, uma jovem artista de Nova York com quem foi casado por pouco tempo e de quem teve um filho, Christopher.

No início dos anos 50 em Nova York, ele reagiu ao expressionismo abstrato de pintores como Willem de Kooning e criou uma série de monocromos, “White, Black and Red paintings”.

Utilizando em suas obras todas as espécies de materiais – cordas, pedaços de tecido, objetos de consumo corrente – era considerado o artista que assegurou a transição entre o expressionismo abstrato e a pop art. Por sua vez, ele desejava escapar dos rótulos, seja de pop art ou de neodadaísmo.

Sua série “Combine Paintings”, misturando escultura, fotografia e colagem, lhe valeu uma primeira exposição na galeria Léo Castelli em Nova York em 1958.

Em 1970, ele instalou definitivamente seu ateliê na Flórida; também possuía uma casa em Greenwich Village, Nova York.

Foi também escultor, coreógrafo, fotógrafo e compositor.

O projeto Multiplicidade do videomaker e produtor cultural Batman Zavareze chega a São Paulo com o novo show de Fausto Fawcett e os robôs efêmeros – Dado Vila Lobos e Carlos Laufer. O material dos telões foi especialmente criado para o espetáculo pela turma que está aí na filipeta. Vai ser na choperia do SESC Pompéia as 21h no sábado 10/5. Quem viu no Rio em dezembro diz que é imperdível. Estarei lá sem furo!

Vamos nexta???

Foi lançado semana passada e já está nas melhores livrarias de Ramos e também no comércio eletrônico o novo livro do artista plástico José Bechara. Bela publicação da editora Dardo (Santiago de Compostela, Espanha) em português, espanhol e inglês. O livro apresenta 30 obras do artista, fotos de seu ateliê, croquis, e ainda a documentação de várias mostras recentes. Os textos são da diretora e curadora-chefe do Museu de Arte da Arizona State University (ASU), Marilyn A. Zeitlin; do crítico de arte português Delfim Sardo, licenciado em filosofia pela Universidade de Coimbra; e da crítica de arte e curadora independente brasileira Glória Ferreira, doutora em história da arte pela Sorbonne, que entrevistou o artista.

Vale conferir!

No blog do velho Elesbão há coisas maravilhosas como essas curtinhas aí embaixo. Eita lugar bom de passear …

Bom, bonito e barato > Por que, paralelamente e além Dengue, não estimulam o plantio de insetívoras?

Manuais > As justificativas que relacionam esforço e inspiração funcionam muito bem depois que tudo dá certo.

Casa imprópria > Estatizando paulatinamente, Hugo Chávez inaugura o socialismo a prestação.

Purê > Poucas decepções comparam-se ao biscoito “vencido”.

Legado > Eu já não sei se é felicidade ou tristeza, ver o trilho do bonde aparecer a cada buraco aberto na Rua das Laranjeiras.

Um dia qualquer. Uma volta pelo bairro. Da casa ao ateliê passando pelo mirante para ver a cidade do alto. Um grupo de turistas japoneses roubando imagens do Rio e sendo roubado. E o fim na Lapa.

Como vocês podem ver no post abaixo na semana que vem participo de uma exposição no SESC Pinheiros.

Enquanto preparava o link me deparei com a polêmica entre o Governo Lula e o sistema S que tomou a imprensa brasileira nos últimos dias.

Tenho grande admiração pelo trabalho realizado pelo SESC em SP e pelas posições do Sr Danilo Miranda, fica aqui registrado a minha preocupação e o meu repúdio a mais uma decisão estabanada do governo federal.

Como diz o Marcelo Tas em seu artigo “…O SESC São Paulo, inegavelmente, é uma dessas instituições que sempre primou como exemplo de como recursos podem ser usados para fomentar cultura, educação e lazer sem paternalismos, panelinhas ou complicações burocráticas…”

Quem quiser participar mais ativamente do processo pode assinar uma petição aqui.

A quarta edição da SP Arte começa no dia 24 e vai até 27 de abril. A feira reune 67 galerias de arte moderna e contemporânea no Pavilhão da Bienal. Além do número crescente de galerias nacionais essa edição conta com a participação de sete importantes galerias internacionais. Quem passar por lá vai encontrar obras minhas no stand 42, da Galeria Celma Albuquerque.

A foto aí embaixo me foi enviado pelo amigo / fotografo pernambucano Paulo Melo Junior.





Figuras geométricas vazadas em papel manteiga. Folhas coladas no pano de vidro do Palacio Gustavo Capanema no centro do Rio em dezembro de 2005. Estava procurando essas imagens para subir ao brog já tem um tempo. Hoje o artista plástico/músico Paulo Vivacqua inaugura a instalação sonora Sentinelas no mesmo local. Boa coincidência.

Achei essa imagem ai no blog FFFFOUND!. Depois descobri que é uma obra do Mike Womack. Duas grandes descobertas.

FFFFOUND! is a web service that not only allows the users to post and share their favorite images found on the web, but also dynamically recommends each user’s tastes and interests for an inspirational image-bookmarking experience!! Assim eles se apresentam.

O trabalho acima é de 2001, foi apresentado na Bienal do Mercosul em Porto Alegre e depois na Galeria Celma Albuquerque em Belo Horizonte. A foto é de Daniel Mansur.

Vista parcial da exposição coletiva Arquivo Geral que aconteceu em 2004 no Centro Tom Jobim do Jardim Botânico do Rio. Ao fundo a escultura Trava, em primeiro plano relevos espaciais de Helio Oiticica, na parede da direita pinturas de Luciano Figueiredo.

Luiz Camillo Osorio escreveu no segundo caderno do Globo de quarta (27/3) a matéria abaixo. Texto lúcido, preciso e oportuno.

Pela primeira vez, galerias com menos autonomia de vôo atuaram em uma feira, tendo a oportunidade de criar parcerias e de abrir novos canais de circulação

A cidade de Madri, neste mês de fevereiro, foi invadida pela arte brasileira. Uma invasão planejada a partir do convite feito ao Brasil para ser o país homenageado pela Arco, uma das principais feiras de arte, que acontece anualmente na capital espanhola. O papel destas feiras hoje ultrapassa a dimensão comercial. Há seminários, performances e vários projetos especiais. Cada vez mais elas se parecem com as bienais. A escala é monumental, a diversidade é a regra, e o mercado é uma presença marcante. Ter sido o país convidado garantiu às galerias brasileiras um espaço próprio. Ocupou-se uma área enorme, mas em um setor de pouca visibilidade na feira. A idéia dos curadores escolhidos pelo Ministério da Cultura (MinC) para a seção brasileira, Paulo Sergio Duarte e Moacir dos Anjos, era dar mais destaque aos artistas do que às galerias.

Todavia, o perfil comercial da feira impôs suas regras e limitou a museografia, seccionando o espaço e impedindo um desenho autônomo da exposição. Os artistas foram separados e cada um ficou com seu centímetro de parede. Faltou sinalização e mais integração entre os vários espaços da feira. As galerias que optaram por pagar por um espaço próprio fora do setor brasileiro tiveram um resultado melhor nas vendas. Menos isoladas, recebiam um volume de colecionadores muito maior. Apesar de certa decepção do ponto de vista comercial, não creio que podemos analisar esta empreitada apenas pela ótica imediatista.

Pela primeira vez, galerias com menos autonomia de vôo atuaram em uma feira, tendo a oportunidade de criar parcerias e de abrir novos canais de circulação. Foi um primeiro esforço do poder público para qualificar a internacionalização do mercado de arte brasileiro. A economia da cultura precisa ser redesenhada. Hoje, não se sabe quantificar o que o mercado de arte efetivamente movimenta no Brasil. Sem se ter alguma base de dados e um mínimo de controle sobre o dinheiro que circula não se pode propor políticas culturais inteligentes.

Não cabe ao ministério interferir no mercado, mas é impossível atuar hoje sem uma articulação entre o setor público e o privado. Há que se conciliar um mercado dinâmico com instituições culturais mais bem organizadas e atuando de forma a democratizar o acesso e viabilizar a experimentação. Não adianta ter boas galerias se os museus não funcionam a contento. Para isso, é fundamental que se tenha mais transparência e clareza sobre o papel de cada ator no complexo circuito de arte contemporânea.

O ponto mais positivo dessa presença brasileira em Madri aconteceu do lado de fora da feira e junto às principais instituições culturais da cidade. O resultado aí é incontestável e com desdobramentos de médio e longo prazo. Não é comum termos artistas como José Damasceno e Miguel Rio Branco expondo simultaneamente no Centro de Arte Rainha Sofia e na Casa de América. O primeiro espalhou suas peças pelo principal museu de arte contemporânea de Madri: na biblioteca, no jardim, nos corredores, pelas paredes. Uma ocupação ao mesmo tempo surpreendente e sutil. Já Rio Branco montou uma pequena antologia de sua obra, com destaque para o filme de 1979/81 intitulado “Nada levarei quando morrer / aqueles que ‘mim deve’ cobrarei no inferno”, revelando um Brasil mestiço, miserável e delirantemente trágico.

A exposição de Fernanda Gomes e Carmela Gross no Matadero também merece destaque. Seja pelo uso poético daquele espaço sombrio por Fernanda, seja pela ironia da frase luminosa de Carmela que brilhava no pátio em letras garrafais – SE VENDE. Ainda aconteceu ali dentro um encontro de coletivos de artistas brasileiros e espanhóis. A Casa Encendida, outro centro cultural da maior relevância, foi ocupada por Lucia Koch e Marcelo Cidade. O Panorama da Arte Brasileira, organizado pelo MAMSP, com curadoria de Moacir dos Anjos, foi montado nas salas da Alcalá 31. Além disso, várias galerias importantes e alguns outros espaços institucionais mostravam artistas brasileiros como Ernesto Neto, José Bechara, Regina Silveira, Os Gêmeos, Eder Santos e Marcos Chaves. De fato, juntou-se quantidade e qualidade, levando ao circuito internacional nossa melhor arte contemporânea. Aos poucos, vai-se tentando desenhar uma política pública para as artes brasileiras. Com o aprendizado desta empreitada, esperam-se novas ações com alguma correção de foco e, acima de tudo, continuidade. A intenção do MinC foi a melhor possível e merece todo o apoio do meio de arte.

Essa escultura da série Grades será exibida na exposição oficial do Brasil com curadoria de Moacir dos Anjos e Paulo Sergio Duarte na feira ARCO em Madrid de 15 a 18 de fevereiro. A foto é do Beto Felício.