Travessias tem um blog fechado onde os artistas colocaram fotos das obras em processo e trocaram idéias, em breve ele estará aberto para visitação. Enquanto isso não rola resolvi roubar algumas imagens.
De baixo para cima:
Fernanda Gomes, Tatiana Grinberg 2 vezes, Livia Flores, Barrão e um trabalho da dupla Ernesto Neto e Carlos Bevilacqua.
TRAVESSIAS CARIOCAS – segunda na Caixa Cultural
Inaugura na próxima segunda-feira na Caixa Cultural aqui do Rio a exposição Travessias Cariocas. Acima uma foto do trabalho da Brígida Baltar que Adolfo fez em visita ao ateliê. Abaixo o texto do folder da expsosição.
TRAVESSIAS CARIOCAS tem algo de trânsito, de passagem, mas também de reconhecimento da alteridade. Não se trata de uma proposta estética a mais, que visa a sua razão de ser na generalidade ou na panorâmica, mas de uma mostra coletiva que potencializa esse aspecto de troca de poéticas, de autorias, e, ao mesmo tempo, reflete uma declaração de comunhão, de afinidades. Uma verdadeira mostra coletiva no sentido mais extenso da palavra, pois enfatiza a transversalidade estética, as comunicações profundas que existem, ou estão em andamento, entre alguns artistas cariocas de significativo percurso e reconhecimento, cujo território de ação e ponto de partida é o Rio de Janeiro, ainda que a internacionalidade seja a sua outra marca de identidade.
De fato, os 12 artistas reunidos aqui, Barrão, Brigida Baltar, Carlos Bevilacqua, Daisy Xavier, Eduardo Coimbra, Ernesto Neto, Fernanda Gomes, João Mode, Lívia Flores, Marcos Chaves, Raul Mourão, Tatiana Grinberg, quase pertencem a uma mesma geração. Em qualquer caso, somente com algumas pequenas diferenças de aparição, são artistas que desenvolvem seu trabalho em toda a sua dimensão a partir dos finais dos anos 80 e a década seguinte, já no umbral do século XX e XXI. A sua contemporaneidade vem marcada pela pluralidade manifesta de horizontes, de suportes e registros. E esta transversalidade é uma parte significativa destas TRAVESSIAS CARIOCAS, de seu exemplo estético – de sua generosidade –, e, ao mesmo tempo, de sua construção e des-construção artística. A mostra coloca poéticas em movimento, fora do domínio completo ou fechado. É uma troca de poéticas e subjetividades. Exploração e especulação estética (sem ranço algum da semântica econômica!) que traduz uma obra aberta; outros caminhos que são, sobretudo, limítrofes.
Há, em TRAVESSIAS CARIOCAS, trabalhos que postulam diversas aproximações: diálogos, sintonias e permutações de signos das diferentes poéticas. Mas, especialmente, talvez haja duas vias preponderantes: aquela dos trabalhos assinados por vários artistas, fazendo algo comum e quase indivisível – às vezes numa tríade convergente –, ou inscrevendo-se numa seqüência que se auto-remete, e aquela que faz da re-leitura ou da aproximação a outra poética uma viagem (diálogo conceitual e formal) de ida e volta; sempre produzindo um certo moto-contínuo estético, pois os interesses dos artistas se deslocam e recebem olhares diferentes, se geram a partir de um local de enunciação compartilhado. Assim, as obras, os trabalhos estéticos, permutam cada vez mais seus signos e significados, são mais porosos, antenados com a cultura visual, o ambiente e o habitat ao qual pertencemos. Neste contexto, deve-se ver a significativa importância desta mostra constelativa sem eixo fixo, regedor – em que a própria curadoria é uma força de diálogo a mais, outro nexo, mais um fio-terra de interlocução –, e sim com pontos cardeais abertos, validados como verdades estéticas plurais, instigantes, quase reversíveis.
Adolfo Montejo Navas
Rio de Janeiro, julho de 2008
Nerd Break Dance
Para fortalecer o bRog na categoria bobagens (inaugurada c Gabi e seu iPhone no post de 21/06 aí embaixo) peguei esse vídeo lá no blog do Thiago.
O primeiro garoto é bacana mas o segundo parece boneco de borracha. Vale conferir.
Ontem
Leleo informa
Meu amigo Leleo está em Londres para o lançamento de seu disco pela gravadora Acid Jazz. Diz que está arrebentando e manda avisar dos próximos shows com sua banda local (chamada os Internacionais se não me engano). Dia 12 de agosto as 22h no Guanabara e dia 19 as 20h no Favela Chic.
Travessias Cariocas – 18 de agosto Caixa Cultural
A proposta da exposição Travessias Cariocas é realizar um troca-troca de poéticas entre artistas. Doze artistas convidados do Rio de Janeiro deverão desenvolver uma obra inédita para a exposição partindo do conceito de algum outro artista do grupo. Ou seja, cada artista terá que se inspirar na obra de outro para produzir seu trabalho, construindo um novo diálogo poético.
Adolfo Montejo Navas, poeta e crítico espanhol residente no Brasil há mais de treze anos, apresenta a exposição assim:
No projeto Travessias Cariocas, os trabalhos que serão expostos serão o resultado inédito de uma nova experiência artística entre dois artistas ou mais que dialogam poeticamente. As peças finais que entrarão para a mostra coletiva serão encomendadas pelas idealizadoras do projeto e não representam a poética habitual dos artistas. Trata-se de um desafio tanto para a organização do projeto quanto para os artistas. E o papel da curadoria muda de figura, já que se converte em nexo e ponte entre os artistas e as obras, e cúmplice intelectual da mostra.
O título do projeto, Travessias Cariocas, funciona como leit motiv da exposição. Trata-se de valorizar duas figuras de nossa contemporaneidade artística: a intertextualidade e a fragmentação. É de praxe reconhecer no léxico de hoje, o termo de apropriação, de reconhecimento do outro, o apoio de nossa subjetividade na alteridade. A intertextualidade faz parte dos recursos e estratégias de grande parte dos artistas. A multifacetada fragmentação de nossos dias convida também ao reconhecimento de outras leituras do mundo, algo que Travessias Cariocas explicita de forma generosa. Como neste projeto cada participante deve escolher a poética de outro para desenvolver uma obra inédita para a exposição, o termo “travessias” se aplica por diversas razões: trata-se de seguir o trabalho de alguém como inspiração para se criar uma nova obra; trata-se de conhecer e acompanhar a obra do outro para poder definir a poética que se quer trabalhar; trata-se de acomodar dois artistas para que haja uma troca e uma seqüência conceitual. Portanto, o fundamento do projeto é intercambiar poéticas.
A exposição “Travessias Cariocas” foi selecionada pelo edital 2007 de ocupação dos espaços da CAIXA Cultural.
Caravaggio é roubado de museu na Ucrânia
1/07/2008 – 17h49 – Atualizado em 31/07/2008 – 21h49 France Presse – G1
A tela “A prisão de Christ”, datado de 1573 a 1602, foi levado nesta quinta-feira (31).
“O alarme não funcionou porque os vidros não foram quebrados”, diz chefe de polícia.
Um quadro atribuído ao pintor Caravaggio foi roubado do Museu de Arte Ocidental e Oriental de Odessa (sul da Ucrânia), informou a imprensa local, nesta quinta-feira (31).
O quadro “The taking of Christ” (“A prisão de Cristo”), de 134cm x 172,5cm, datado de 1573 a 1602, foi roubado durante esta madrugada, de acordo com uma fonte do museu citada pela agência de notícias Interfax.
“Os vidros foram cuidadosamente retirados e foi dessa forma que o criminoso entrou no museu. O alarme não funcionou porque os vidros não foram quebrados”, explicou o chefe da polícia de Odesa, Volodymyr Bossenko.
O quadro foi adquirido no final do século XIX por um embaixador russo na França e oferecido ao príncipe Vladimir Alexandrovich. Após a Revolução Bolchevique, foi entregue à Escola de Belas Artes de Odessa e, depois, ao museu.
Morreu Athos Bulcão
Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de julho de 1918. Dedicou grande parte da sua vida a Brasília, cidade que escolheu para viver e presentear com a sua obra. Aqui chegou em 18 de agosto de 1958, onde residiu até hoje e onde permancerá, pois por sua vontade, será enterrado no Cemitério Campo da Esperança.
Athos Bulcão é responsável pelo conjunto de uma obra de qualidade artística inigualável. Artista múltiplo, sua arte está ao alcance do cidadão em seu trajeto cotidiano: no parque, nos muros, nas escolas, nos edifícios residenciais e nos prédios públicos. Como diria o arquiteto e amigo pessoal, João Filgueiras Lima, o Lelé, “como pensar o Teatro Nacional sem os relevos admiráveis que revestem as duas empenas do edifício, ou o espaço magnífico do salão do Itamaraty sem suas treliças coloridas?”, difícil imaginar.
Athos cursou medicina, mas abandonou-a por amor à arte. Expôs sua obra nos mais importantes espaços culturais do país. Viajou pelo mundo afora e por lá deixou a sua marca. Seus painéis podem ser vistos na França, Itália, Argélia, Argentina, Cabo Verde, dentre outros tantos. Trabalhou no Ministério da Educação e na extinta Novacap. Lecionou no Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Foi condecorado pelo governo brasileiro com a “Ordem Rio Branco” e “Ordem do Mérito Cultural”. Recebeu o título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília, a “Medalha Mérito da Alvorada” do Governo do Distrito Federal, e o título de “Cidadão Honorário de Brasília”, concedido pela Câmara Legislativa. Todos os títulos e condecorações o emocionaram, não tanto quanto a criação da Fundação que o homenageia e que há 15 anos preserva, documenta, promove e divulga sua obra junto aos jovens, estudantes de escolas públicas e particulares, professores, artistas, jornalistas e a comunidade em geral.
trecho da nota de falecimento no site da Fundação Athos Bulcão
CUIL – a ferramenta que chegou para abalar o Google (será?)
Ontem Rodrigo Machado, meu querido amigo, flamenguista, sócio fundador presidente da Tecnopop fez uma busca pela palavra Flamengo e o resultado foi esse aí de cima.
Chacal V de Verso no SESC Copa
o release diz assim:
40 anos de agricultura celeste vividos pelo poeta e produtor cultural CHACAL, divididos em quatro décadas. Serão 4 recitais mais bate papo com convidados sobre os movimentos artísticos subterrâneos de cada período.
quinta feira, dia 31 de julho, 20 hs = CHARLES PEIXOTO
Poeta que lançou os primeiros livros em mimeógrafo, “travessa bertalha, 11” junto com “muito prazer, Ricardo” de Chacal. Poeta do grupo Nuvem Cigana, roteirista e redator da Tv Globo. A palestra será em torno de poesia marginal e do grupo Nuvem Cigana.
sexta feira, 1º de agosto, 20 hs = FAUSTO FAWCETT
A noite terá 2 performances. Uma dos robôs efêmeros (Fausto Fawcett e Carlos Laufer). outra dos irmãos abdallas (Mimi Lessa e Chacal).
a conversa girará sobre o circo voador e as performances dos meados dos anos 80.
sábado, 2 de agosto, 20 hs = VIVIANE MOSÉ
Poeta, filósofa e uma das grandes musas do Centro de Experimentação Poética – CEP 20.000. O assunto será poesia escrita e falada e CEP 20.000.
domingo, 3 de agosto, 19 hs = RAUL MOURÃO
Artista plástico, criador com Chacal, do Freezone, evento multimidia e da revista O Carioca. O diálogo será sobre galerias, revistas, eventos para o terceiro milênio.
O formato informal do V DE VERSO abrirá com vinte minutos de poesia, escritas em cada uma das décadas por Chacal. O convidado versa outros 20 minutos. Depois convidado e Chacal conversam mais 20 e abrem a conversa para a platéia por mais 20 minutos
No Espaço SESC Copacabana,
rua domingos ferreira, 160
telefone : 21 2547 0156
dias 31 / 07 e dias 1, 2 e 3 / 08
Grade
O velho André Weller, sambista, diretor de arte, cineasta, integrante do Brasov, mandou essa foto grade com rodas para gerador por email outro dia.
Allan Sieber e Adão – o desenho e o humor
Um dia vou ter que escrever um texto pra explicar (e entender) a importância que o desenho de humor tem no meu trabalho. Contar a história de quando eu ainda era um fedelho e meu pai, leitor assíduo do Pasquim, me apresentou o desenho de Millôr, Jaguar, Reinaldo, Nani, Henfil etc. Depois a descoberta do assombroso Steinberg e na adolescência Crumb, Angeli, Laerte e Glauco, mais adiante o contato com o genial (apesar de vascaino) Cassio Loredano, que me apresentou Nassara e J Carlos, até chegar aos monstros Allan Sieber e Adão Iturrusgarai ai de cima. Vai dar trabalho escrever esse texto.
Um desenho de hoje
Cabeça
O desenho aí de cima é um nanquim sobre papel (30 x 20 cm) do fim dos anos 80 quando estudava gravura no Parque Lage. Achei acidentalmente na rede quando dei uma busca por imagens no Google. Está em baixa resolução. Tenho mais uns 3 ou 4 da mesma série no ateliê. Vou procurar e qualquer dia coloco a série completa aqui no brog.
Royal de Luxe (Decollage – Balayeurs du Desert)
Eu vi o Royal de Luxe numa apresentação na Lapa. Um espetáculo incrível onde eles iam abrindo um gigantesco livro de ferro. A cada virada de página um pedaço da história da humanidade era encenado. Acho que o ano era 1992, na mesma semana teve show do Mano Negra também.
Fazia tempo que não ouvia falar do grupo e hoje Lenora de Barros me mandou o link desse vídeo. Uma alegria rever o trabalho dos caras, vou procurar outras coisas.
Última semana
A exposição Mão Dupla fica até 13 de julho no SESC Pinheiros.
Também na segunda
Lançamento do livro do Chelpa segunda 7/7 na Caixa Cultural – Rio
Fundo do baú
Esse aí eu dirigi com o Robertinho Berliner. É velharia mas revi outro dia e continuo achando muito engraçado. O baterista Haroldo em primeiríssimo plano.
Orquestra na Lagoa – último dia
homem_bateria_michel_gondry_chelpa_ferro
Sempre que vejo o HomemBateria no clipe do Beck lembro do ChelpaFerro.
E por falar em Chelpa a exposição Jardim Elétrico em cartaz na Galeria Vermelho (SP) é magnífica, um assombro. Mais um grande momento, uma exposição da maturidade. Um troço da pesada mesmo. Prometi escrever um texto ao Serginho (já havia prometido alguns outros). Dessa vez vai ter que sair.
E o livro com design da Rara Dias também ficou espetacular.
Em breve será lançado na Caixa Cultural aqui no Rio.
Vou catar uma filipeta e já coloco as informaçõs.
Fitz Jam
Gabi e seu brinquedo / ou / Mamãe eu quero meu iPhone
Já que é permitido publicar bobagens no bRog …
Divirtam-se com o delicioso vídeo (caseiro?) da pequena Gabi brincando com o iPhone da mamãe.
O povo da Apple deve estar vibrando com a coisa e outros tantos achando que é uma peça de marketing.
Eu acho apenas que se trata de uma interface absolutamente amigável. Tão simples e divertida que até um bebê pode usar. O telefone é seu melhor e mais querido brinquedo.
Vale conferir.
http://blogdeblindness.blogspot.com/
Vale conferir o blog do filme Blindness que Fernando Meirelles colocou no ar no dia 24 de agosto do ano passado (dia que o Getúlio se matou).
Tem muita coisa boa!
Esse post aí embaixo peguei ao acaso. Lá vai:
Segunda-feira, 29 de Outubro de 2007
Sobre bobeira, gincanas e posições de câmera.
Já eram 4h37 da madrugada e os pardais começaram a piar sem graça. Ouvir passarinho cantando antes de ir dormir, em geral, me deixa deprimido. Comecei a rir de bobeira, arranquei o fone do ouvido, desliguei o walkie-talkie e desisti. Estávamos em 10 pessoas no câmera-car do Stanley, rodando pelo centro de São Paulo, sonados, depois de 14 horas de filmagem na rua. Eu olhava para os quatro monitores que transmitiam o sinal das duas câmeras que estavam na pick-up, e de outras duas escondidas dentro do carro que o Don Mc’Kellar dirigia, e torcia por oito segundos de alguma imagem que completasse a cena em que o Ladrão fica cego, mas sempre alguma coisa atrapalhava. Atrás do carro do Don/Ladrão vinha um comboio com uma limusine branca enorme, um táxi destes amarelos e outros carros simulando uma rua movimentada em alguma cidade do mundo. O Don tinha que seguir o câmera-car mantendo a mesma velocidade e uma distância fixa, tarefa complicada nas ruas de S. Paulo, cheias de faróis, mais complicada ainda pelo fato dele não dirigir regularmente e nunca ter guiado um carro com marchas. Isso já seria um bom desafio, mas havia um agravante, o Don é míope mas seu personagem não é, então tinha que fazer tudo isso sem óculos e para completar, a cada 10 segundos, o Serjão, eletricista, o ofuscava direcionando um refletor para seus olhos simulando faróis de outros carros. A cerejinha neste bolo de convite-ao-acidente é que ele dirigia um carro protótipo da Fiat, movido a benzina, e cada vez que parava num sinal o carro morria e não pegava mais. Quando ouvi o primeiro pardal, olhei o relógio e me dei conta que estávamos parados há quatro minutos esperando o Fiat se mover. Cansados, sem reação, apenas olhávamos para o carro lá, paradão. Contávamos só com a ajuda da Analia, operadora de câmera que estava escondida no banco de trás do Fiat com o Don e poderia ajudá-lo. Então, o César anunciou que, além de não falar inglês, a Anália não sabia dirigir. Nosso bote salva-vidas naufragou. “Xeque-mate”, pensei. E joguei a toalha.
Minha disposição para este tipo de gincana já não é mais a que era. Madrugadas, movimentos de grua complicados, muitos figurantes, cenários enormes, cenas com muitas situações paralelas a serem mostradas me dão uma certa preguiça. Filmar com muitas câmeras também complica bem. O Gui, som direto, que o diga. Ele vive sinucado sem ter por onde entrar com seu microfone. “Tem câmera por todo lado”. Reclama. “Dá seu jeito!”, respondo. E ele vai dando.
Rodar com muitas câmeras é bom por não termos que repetir a mesma cena 40 vezes para conseguir diversos ângulos, e é ótimo pois dá muita cobertura para o montador; mas, durante a filmagem, muitos ângulos simultâneos pode ser dispersivo. Neste filme, o César Charlone e eu aprimoramos uma boa maneira de trabalharmos com quatro câmeras, pode até ser chamado de método, tem uma certa lógica, contrariando o que pensam os assistentes de direção e parte da equipe. Eis o “método” (que obviamente não é sempre seguido com o rigor que descrevo aqui):
Para planos gerais da cidade, ou imagens com muitos detalhes, estamos usando uma câmera chamada Vista Vision. Ela roda em 64mm, gera uma imagem bem definida e estável. Em geral, esta câmera só trabalha em algumas externas, onde é usada apenas para um ou dois ângulos pré-determinados e depois descansa o resto do dia. Ela consome negativo como um Dodge Dart consumia gasolina – ou, para quem não sabe o que é um Dodge Dart, como um deputado consome verba de representação. Vorazmente.
Depois, temos a câmera A, uma 35mm que conta a história. Quando é possível criar uma imagem instigante e narrativa ao mesmo tempo, ótimo. Se não for possível, esta câmera tem que priorizar a clareza da história, ou seja, mostrar o lugar onde estão os atores, cobrir os diálogos e as reações dos personagens deixando claras as intenções da cena. É meio convencional às vezes, mas resolve.
Rodando ao mesmo tempo, temos sempre uma câmera B, que tenta contar a mesma história de forma mais indireta. Cobre a cena através de reflexos, pelas costas dos atores, faz os closes, busca enquadramentos menos óbvios. Mostra a nuca em vez do rosto, uma sombra em vez do corpo do ator. Sugere a história mais do que a mostra. Se a câmera A é prosa, a câmera B é poesia. Desta câmera deverão sair “os melhores momentos” do filme, mas como no futebol, sabemos que só a jogada de efeito não funciona. É preciso ter uma câmera “A” levantando para esta “B” cortar.
Finalmente, há uma câmera 16mm que entregamos ao acaso, ou para Deus, como diz o César. Usamos basicamente para desperdiçar negativo. Ela em geral fica amarrada com fita crepe num canto e quase sempre roda sem operador, é acionada por quem estiver mais perto. O aproveitamento das imagens desta câmera-do-acaso é baixo. É como lançar uma rede sem grandes expectativas para eventualmente puxarmos imagens inesperadas. E acontece. Curioso que sempre chamamos esta atitude de buscar imagens ao acaso de “pescaria”, achei que nós tivéssemos inventado esta expressão, mas descobri agora, com o canadenses , que eles também usam a mesma expressão: “Fishing”.
O uso de câmeras simultâneas não é muito habitual no Brasil, pois aparentemente encarece um filme. É preciso mais equipe de câmera, gasta-se mais com aluguel de equipamento ou com negativo. Mas se computarmos a redução do numero de diárias que isso gera, acho que a conta se fecha a favor. Neste caso tínhamos orçado 57 dias de filmagem mas devemos terminar o filme em 50. Essa semana economizada está diretamente relacionada ao monte de câmeras e (talvez) esta economia compense os custos extras mencionados. Mas, mesmo que não haja vantagens econômicas, essa maneira de filmar vale a pena. Ela nos permite quase nunca repetirmos um mesmo enquadramento em duas horas de filme e libera o ator que, nem que queira, consegue interpretar para a câmera, já que está cercado. Também me livra do chato (e às vezes inútil) trabalho de decupar o filme. O que fazemos é montar a cena como se fosse teatro, sem pensar em câmeras e depois cobrimos o máximo possível. A decupagem acontece na sala de montagem, o que é uma vantagem, como tenho constatado, pois muitas vezes entre a imagem bem enquadrada da câmera A, que foi previamente planejada, ou a mesma cena meio encoberta da câmera B temos usado a segunda opção na montagem. Neste filme, que é sobre olhar, mas não ver, esconder um pouco o que se passa ajuda a colocar o espectador no mundo dos personagens cegos, quero crer. De qualquer maneira, eu dificilmente planejaria um enquadramento onde um ator cobre o outro intencionalmente. Esses momentos acontecem por sorte e às vezes são ótimos.
O César, em geral, defende que a história seja contada mais pelas imagens e sons e reclama da quantidade de palavras do roteiro. Certamente o Marco Antonio Guimarães, que vai fazer a trilha, apoiará esta visão. Atores e roteirista gostam de diálogos e às vezes não entendem o exagero de posições de câmera que usamos. Eu tento ter o máximo dos dois mundos. Apoio sempre sugestões de novos pontos de vista que não haviam me ocorrido e incentivo os atores a aumentar seus textos para ajudá-los a entrar na história. Faço isso mesmo sabendo que cortarei o excesso de palavras na montagem, ou que dificilmente usarei um determinado ângulo que está sendo rodado. Mas nunca se sabe, então arrisco. O tempero entre a narrativa das palavras e das imagens vai ser encontrado na montagem, que é quando realmente o filme toma forma. Já aprendi que numa sala fechada, tranqüila e concentrada, nem sempre a decisão que me pareceu mais acertada no set prevalecerá, então, na dúvida entre uma opção ou outra, rodo as duas.
Admiro a capacidade de abstração de diretores que conseguem pensar seus filmes de ponta a ponta com antecedência, diretores que desenham storyboards e depois cumprem à risca o que planejaram. Já tentei fazer isso, mas fico tão focado em fazer o que planejei que acabo não vendo as idéias vivas que acontecem no set. Já filmei muito como um clarinetista que toca seguindo uma partitura, hoje acho que filmo mais como jazz. Você me entende.
Aniversário do blog do vovô
Hoje faz um ano que coloquei o bRog no ar. O tempo passou mas ainda tenho a sensação que estou usando essa ferramenta/mídia/suporte de maneira atrasada. Apenas outro dia comecei a colocar vídeos. Demorei anos para fazer o blog e o bicho ainda não funciona direito. Falta colocar mais links, chafurdar mais a rede, faltam músicas, imagens, textos. Falta muito. No total foram 127 posts até aqui. As coisas vão melhorar…
Moda na Lapa
O mundo da moda invadiu o ateliê da Lapa semanas atrás para produzir um ensaio fotográfico para o site de Heloisa Marra. Gostei das fotos, gostei da moça, gostei das roupas. O crédito vai para a turma que segue. Fotos: Eduardo Rezende. Styling: Rogério S. Produção: Felipe Dornelles. Modelo: Ingrid (L’Agence). Assistente de fotografia: André Batista.
Aeronaves
É hoje!
E é imperdível a festa que comemora os 3 anos do blog dos meus chapas Bernardo e Bruno. Pra pegar mais informações e conferir um videozinho do Reginaldo Rossi convidando para a festa passa lá no Sobremusica.
Pequenas frações
Acima uma imagem do vídeo Caderno de anotações.
Abaixo o texto do crítico de arte e curador Paulo Venâncio que foi publicado no folheto da exposição individual Pequenas frações na LURIXS arte contemporânea, Rio de Janeiro, de 29 de novembro de 2003 a 10 de janeiro de 2004.
PEQUENAS FRAÇÕES
O que está nesta exposição de Raul Mourão provém, com certeza, de um sensor em movimento constante pelo ambiente social altamente saturado que, após captar determinado objeto ou situação, e inspecionar detidamente materiais, dimensões, formas, localizações, etc, procede imediatamente a uma sintética apreensão global do visado. Coloca-o numa espécie de programa de reestruturação plástica. O raciocínio aplicado é elástico, flexível, irônico e forma um conjunto de instruções sobre a visualidade urbana atual. O tempo é o presente imediato. A intimidade conspícua com a cidade fixa a cada instante uma fração qualquer e a equaliza à estrutura contemporânea da imagem. A legibilidade está socialmente dada; é o mundo pop, ou pós. A pretensão do trabalho não é, contudo, reproduzir este mundo, mas traduzí-lo num padrão de apresentação conciso. Raul mede o ritmo de emissão informacional do objeto e equaciona sua aleatoridade num forma icônica. Seu método, essencialmente democrático, se aplica a qualquer coisa – placas, sinais, grades, futebol, arquitetura –, e ainda que esbanje uma versão própria da espirituosidade local, tem um compromisso “científico“ com o resultado final. Imprescindível é a clara definição técnica do trabalho que aceita o improviso, mas não o improvisado.
Raul institui a mobilidade como programa aberto e coletivo: todos circulam pelo espaço da cidade, que é ao mesmo tempo sensorial e mental. Ela é o conjunto de todas as frações disponíveis que, articuladas, formam a vivência cotidiana. Profundamente engajada, a relação diríamos intimamente recreativa, que se estabelece entre artista e cidade é um jogo total constantemente renovado. E assim cada trabalho se revela um modo possível de recriar o lazer espontâneo e a inteligência do cotidiano – um entretenimento que articula crítica e humor, opondo-se à insipidez alienada da rotina. A economia visual construtiva localiza nitidamente no caótico o humor subjugado e o entrega , sem custo, ao desprendimento do dia-a-dia da vida coletivo.
Este observador ativo fraciona a cidade local/global sem parar, de modo que o trabalho só pode ser múltiplo e o vocabulário plástico um programa que se aplica igualmente a desenhos, esculturas, vídeos, objetos, fotografias e instalações. Igualmente às grandes e pequenas frações.
Paulo Venancio Filho
Rio de Janeiro, novembro de 2003