Luiza Duarte, Maria Flórido Cesar, Guilherme Bueno, Daniela Labra e Cauê Alves discutem no CCBB a “Nova crítica de arte no Brasil”

– Como a arte responde às transformações provocadas pelas novas tecnologias e pela economia globalizada?
– Como irá refletir o fracasso do projeto civilizatório, o malogro de suas utopias, a crise das figuras de totalidade e unidade por elas prometidas?
– A arte brasileira dos anos 2000 é herdeira das experimentações artísticas dos anos 60 e 70?
– A arte contemporânea vem nos ensinando mais sobre esse mundo conturbando – lugar mais de dúvidas do que de certezas – no qual vivemos hoje?
– A falta de uma infra-estrutura forte – recursos escassos, poucas publicações – prejudicam os artistas nacionais?
– As instituições brasileiras incentivam a formação de novos artistas?
– Quais são os interesses do mercado?
– O que circula nas galerias de arte?
– Qual é o atual poder da crítica?

Essas são apenas algumas das questões que serão discutidas na mesa-redonda de hoje no CCBB Rio, com a participação dos cinco novos críticos responsáveis pelos textos do catálogo da exposição Nova Arte Nova.

A nova crítica de arte no Brasil
Dia 25 de novembro
CCBB Rio – Sala 26/ 4º andar
Rua Primeiro de Março, 66
Tel: (21) 3808.2020
Entrada franca, mediante a distribuição de senhas, a partir das 17.30h

Uma performance que se finge de teatro ou o velho teatro em sua forma mínima. Um grupo de pessoas numa pequena sala. Coisas simples da vida, uma espera que não termina, um dia e uma viagem que não acabam. Um acesso de loucura. Texto bom, engraçado e nervoso. Direção de Cesar Augusto com atuação impecável de Álamo Facó que também é o autor do texto.

Somente até 28 de novembro no Espaço Bar do SESC Copacabana dentro da programação de 20 anos da Cia dos Atores. De quinta a sábado, às 19h30, domingo, às 18h

O release apresenta assim:
Álamo vive um homem à espera de sua namorada, que viajou para o
exterior e se comunica via Internet. Ele decide se trancar no
apartamento e sair de casa somente quando ela voltar. Ao testemunhar
alguns momentos deste exílio particular, a platéia percebe que a
viagem pode não ter volta e o abandono é um fantasma mais próximo do
que se imagina.

O personagem interage com o mundo apenas por meio de seu laptop, em
que troca mensagens com amigos e familiares assustados com seu
repentino sumiço. A peça brinca com os limites entre verdade e ficção,
ao trazer um personagem que faz a realidade virar um possível talvez.

Hoje rola também a inauguração da coletiva NAU organizada pelo artista/professor/curador Franz Manata.

NÀU é o resultado de um trabalho coletivo iniciado no ano de 2008 na Escola de artes Visuais do Parque Lage durante o curso Desenvolvimento de Projetos, que conduzo ha alguns anos na Escola. Nos encontros, tratamos das questões mais diversas relacionadas ao conceber, produzir, circular e viver arte. Assim, discutimos as angustias, estratégias, formalizações, relações históricas e conceituais, finalização e acabamento, além do exercício de reflexão textual sobre os próprios trabalhos. O resultado desta etapa apresentamos no galpão do IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil no Rio de Janeiro, numa exposição coletiva organizada de maneira cooperada por todos, com apoios importantes de empresas e pessoas interessadas na produção dos artistas. Os trabalhos selecionados transitam por diversos campos da visualidade contemporânea. Da pesquisa formal da cor, do espaço e da colagem, a outras esferas do conhecimento como a própria arte, o real e o simulacro, a perversão, a mulher, a sexualidade, a política, o corpo, a memória, a cidade e o urbano, o desolamento, a ficção, entre outras.


Still do vídeo Já vi tudo (2005) de Lenora de Barros.

Conhecer o melhor do vídeo experimental e de arte que se faz no Brasil, em uma área pública, em um espaço de grande circulação, é a proposta da exposição Container Art que inaugura logo mais no Parque Villa Lobos em SP.

Para isto os curadores Cao Guimarães e Lucas Bambozzi selecionaram trabalhos de 50 artistas que trazem situações lúdicas, bem humoradas e questões conceituais instigantes, fazendo do passeio e do convívio no parque também uma experiência cultural de aproximação envolvente com a arte.

Container Art é um modelo de exposição que acontece em algumas cidades do mundo, no qual obras são expostas dentro de contêineres espalhados em áreas públicas. Chega a São Paulo por iniciativa do Roesler Hotel, projeto dirigido por Daniel Roesler, com o patrocínio das empresas Adidas e Cosipa, em formato especial, ao reunir em um mesmo local, o Parque Villa Lobos, um conjunto de 24 contêineres.

Container Art
De 18 a 28 de novembro de 2008, das 10h às 18h30
Parque Villa Lobos
Av. Professor Fonseca Rodrigues, 2001
Alto dos Pinheiros 05461-010 – São Paulo – SP
Telefone: (11) 3023-0316 / 3023-2229

Grande vencedor do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade de 2008, “Pan-Cinema Permanente”, do diretor paulista Carlos Nader, revela algumas das muitas faces do poeta e compositor baiano Waly Salomão (1943-2003).

No site Cinética tem um texto de abril do Cleber Eduardo.

A segunda coluna Cópia ou plágio? eu achei pronta lá no blog/máquina de escrever do Luciano Trigo.


A artista plástica americana Laura Gilbert criou a obra Zero Dollar para protestar contra a crise econômica e chamar a atenção para o “papel destrutivo” do sistema financeiro. Mas podia ter sido mais original. Em 1977, Cildo Meirelles teve uma idéia idêntica, em duas versões: Zero Cruzeiro e Zero Dólar. Como o jornal The New York Times deu destaque para Gilbert, daqui a pouco as 10 mil cópias assinadas da gravura vão valer uma grana. Cildo devia cobrar direitos autorais… em dólar!

Adão Iturrusgarai escreve em seu blog:

O primeiro espantalho a gente nunca esquece… Acabei de plantar grama no meu pátio. E para afugentar os pássaros e não deixar que comam as sementes construí este lindo espantalho. Vestindo calça Ellus e tênis All Star talvez seja o primeiro espantalho fashion do mundo.


Talvez a 28.ª edição seja espelho da debilidade da instituição e não da expressividade do circuito

A gente entra; e de imediato se indaga, constrangida: a “isto” se viu reduzida a Bienal de São Paulo? Mas é bom que se saiba: a indigência presente na Bienal de várias maneiras e que vimos na noite de abertura não reflete a arte contemporânea. Ela é antes espelho da debilidade de uma instituição. Não há necessidade de fazer simpósios ou seminários sobre o assunto. Também entendemos que a Bienal não é festival de artes em geral. Em São Paulo, a oferta de espetáculos de dança, música e teatro é imensa o ano todo e teria sido desnecessário o que se despendeu ocupando o espaço com essas atividades.

Quando se viaja ao exterior e se vêem exposições marcantes de artistas em grandes museus como a Tate Modern, em Londres, ou em Viena, no Ludwig Museum, ou em Nova York no MoMA ou Whitney, só para citar alguns, damo-nos conta do que está se passando em arte contemporânea. Como ao visitar uma Documenta de Kassel, por exemplo.

Também as grandes feiras internacionais de arte nos passam uma imagem viva da efervescência do meio artístico, seja com as obras expostas, ou com seminários que realizam.

Se entre nós o problema foi falta de verba que caberia à presidência da Bienal providenciar, essa presidência está no lugar equivocado, pois essa é a sua competência. Se a escolha do curador foi tardia, a responsabilidade é da instituição e da curadoria que aceitou, assim como a proposta e suas limitações, pela simples necessidade de vê-la aprovada por falta de tempo para executar ou conceber outro projeto.

Até detalhes paralelos à “proposta” de Ivo Mesquita podem ser criticáveis. Como a apresentação de “documentos da Bienal”, pois afinal, o Arquivo Wanda Svevo sempre esteve aberto a pesquisadores e não precisava ter sido deslocado para o terceiro andar nem facilitar o manuseio de catálogos raros por parte de qualquer visitante sob risco de perda ou vandalismo.

Tentemos falar claro. Esta Bienal parece antes preconceituosa – em sua preocupação em não mostrar artistas de outras tendências, mas apenas aqueles rigorosamente conceituais . Afinal, para citar apenas um jovem artista brasileiro e um do jet set, as imagens poderosas de um Henrique Oliveira acaso foram cogitadas? Um Damien Hirst, artista há 20 anos “estrela” no meio internacional, não seria interessante ter sido apresentado? A arte chinesa de hoje (e mesmo a coreana !), espanto em grandiloqüência, mas sem dúvida um fenômeno das artes visuais de nossos dias, e atual “darling” de museus e centros culturais de todo o mundo ocidental, por que não está presente? Na linha de “happenings”, por que não pensar nos 40 anos depois do Grupo “actionista” de Viena, do qual fizeram parte Schwartzkogler e Gunther Brus, performáticos e violentos em suas manifestações e expressões ao vivo e em vídeo? O Ludwig Museum de Viena comemorou com grande exposição em junho-julho último essa documentação forte, embora os jovens de hoje raramente saibam que existiu e creio que pouco se comovessem ao ver esses documentos. A arte também envelhece. Mas, enfim, há tantas vertentes das artes visuais no mundo que a pálida 28ª Bienal pode passar ao visitante incauto a falsa impressão de que nada mais ocorre na área. Ou, que não há nada de outros tempos que bem valeria um gesto generoso por parte do “Conselhão” ou Comissão (?) da Bienal em aprovar, recomendar e levantar fundos para sua apresentação. Afinal, repetimos, fortunas não nos faltam em particular neste Estado. E temos em mente que presidir uma Bienal de São Paulo, ou candidatar-se a esse cargo, pressupõe minimamente séria responsabilidade.

Mas, ou se apresenta evento digno dessa tradição – Bienal de São Paulo – ou se reformula a existência ou freqüência do evento, como sugerimos há mais de 30 anos em simpósio latino-americano ocorrido aqui na Bienal mesmo para que ela se transforme em trienal ou quadrienal. Embora nossos profissionais, enquanto curadoria, sejam dignos de respeito, nada mal se em bienais alternadas tivéssemos curadores convidados de outros países, do mais elevado nível, para formar e diversificar as equipes que se formam no Parque do Ibirapuera.

Se não se pertence ao círculo fechado do “Conselhão”, ou dos que decidem o que entra e o que não entra -, pois estamos distantes da organização por parte dos países convidados para que tragam seus artistas indicados pela curadoria da Bienal – nunca será veiculado quais os que foram convidados e não compareceram, por recusa, ou porque não houve orçamento possível.

No terceiro andar, sem dúvida o que mais chama a atenção são os móveis de marcenaria de mesas, cadeiras e bancos, que seriam muito bem-vindos em centros culturais sem recursos ou mesmo em creches de nossos bairros mais carentes, segundo observou Ana Maria Belluzzo.

Como descobrir uma proposta interessante da fértil Rivane Neuenschwander em meio às mesmices expostas, como as reproduções nas paredes ou papéis em vitrines que dificilmente despertam nossa atenção? Referimo-nos à monotonia da arte conceitual, a nos recordar das maçantes exposições de galerias dos anos 70 em Nova York (“como são chatas!”, nos dizia Hélio Oiticica, só para citar um nome respeitado em nosso meio). Naquele tempo, só de penetrar numa dessas galerias, dar uma olhada às pranchas penduradas com palavrórios mil e cálculos matemáticos já era suficiente para nos expelir do recinto.

Não deixamos de notar o assédio curioso de uma obra por parte do público que ocasionou a única longa fila que vimos no dia da abertura – a possibilidade de penetrar no tobogã do belga Carsten Höller – para poder usufruir da adrenalina na queda vertiginosa. Na verdade, esse trabalho, de verdadeira interação com os visitantes, talvez seja o único da Bienal a alcançar a escala de bienais passadas em termos de expectativa: “Quero ir à Bienal para ver tal trabalho.”

Allan McCollum, uma raridade igualmente, parece ter trazido, com seu envio, aquilo que eu consideraria um “trabalho para um espaço de Bienal”.

Por isso me pergunto, espantada diante do que está exposto, como preparar visitas guiadas de escolares? Como explicar “artes visuais contemporâneas” a um público infantil ou adolescente nesta Bienal? Ou, como justificar a existência das Bienais?

Convenhamos: como ouvir tranqüilamente que é “genial” o piso geométrico de Dora Longo Bahia, que deve ter sido de difícil implantação, por certo, para seus auxiliares, com desenhos a nos lembrar azulejos hidráulicos magnificados, ou de inspiração islâmica?

Na verdade, ao ver a diminuta peça de Iran do Espírito Santo, parece que esta Bienal, salvo exceções, pelo teor das propostas, parece feita de presenças antes para a elite freqüentadora de galerias do que baseada numa concepção considerando o grande publico. O que significa isso?

Significa que num evento “bienal”, “trienal”, em particular num país como o Brasil, de extrema desigualdade social e educacional, os espaços, a cidade, as obras e os visitantes devem ser pensados em termos interativos, como alvo de motivação e não apenas de exibição.

Assim foi o propósito, a meu ver, que ocasionou a vinda da Guernica (em 1953-54), da sala Mondrian, da sala Picasso, da sala Van Gogh, do pop norte-americano já em meados dos anos 60, e de tantas outras salas especiais, como a dos artistas modernos e modernistas da Bienal da Antropofagia. Ou mesmo da Bienal da Grande Tela, sob a curadoria de Sheila Leirner, em 1985, ao trazer-nos a nova pintura dos anos 80. Claro que o Brasil mudou, e nossos museus e centros culturais idem. Assim, temos tido grandes exposições nos últimos 10-12 anos. Mas quem sabe os tempos agora ficarão mais magros e teremos que batalhar por novas oportunidades?

Mas, afinal, o que eu vi na abertura da Bienal? Muita “arte de processo”, tendência típica dos anos 70, ou simulacros, como uma pseudoloja de rua reproduzida no interior da Bienal (Chaveiro, de Paul Ramirez Jonas), pseudográfica com impressão de jornais (Erick Beltrán), folhetos conceituais humorosos (ou não), e por vezes criativos, como sempre são distribuídos nas Bienais ao longo do tempo; entre vídeos modestamente dispostos, ao largo do circuito “nobre” do espaço, como alternativa para eventual outra visita do apreciador.

Melhor não mencionarmos a museografia, a organização do espaço desta Bienal. Nem há etiquetas dos autores dos trabalhos em suas proximidades. Talvez entendam os curadores que os folhetos com mapas impressos sejam suficientes… Não o são. Passa uma idéia de descaso para com o visitante, de falta de tempo para os “finalmente” do evento.

O que é o “espaço vazio” da Bienal? Prédios e habitações vazias em nossos tempos são um convite certo à “invasão”. Se não ocorre “ocupação”, vamos ocupá-los. Assim pensaram visitantes de um museu, cujo diretor, na década de 80, deixou o espaço vago para motivar a população, numa cidade no sul da França, a ocupá-lo com objetos e obras que traziam de casa. Mas acontece que hoje vivemos em tempos bem mais agressivos.

Colocar como alvo de admiração o espaço concebido por Niemeyer, e que usufruímos há mais de 50 anos, poderia ser projeto para uma Bienal de Arquitetura de São Paulo. Mas esta é a 28ª Bienal. Assim, não tem sentido, e mesmo a definição desse espaço pela curadoria parece-nos equivocada se não for de humor (?) dúbio (*). Assinala falta de idéia, de concepção, de tempo, de orçamento. Ou tudo junto. Se o desejado é a polêmica sobre a provocação, então o objetivo foi alcançado. Mas o “void”, com certeza, é uma omissão. Nada tem de rebeldia. E se o curador da Bienal, Ivo Mesquita, aceitou os termos da presidência, as regras do jogo, quando aceitou, não se pode dizer apenas que “salvou” a Bienal por ter ela sido realizada em menos de um ano. Pode-se ser mais incisivo: dizer que ele “quebrou o galho” para a atual presidência. E certamente poderá até ser elaborado um catalogo bilíngüe pleno de textos sobre a filosofia da arte de nosso tempo.

Na verdade, há algo de cinismo murmurado, reconhecido e vivenciado no meio artístico contemporâneo. O conceitual é bem imaterial, mas aqueles que sobrevivem vendem, ou viajam a convite para expor suas criações. A própria crítica, as curadorias, a mídia, o sistema de galerias e museus, todos enfim contribuímos amplamente para esse fim, apesar do que se publica em vários países sobre esse fenômeno. Isso se deve ao fato de se escrever, em geral em literatura pouco acessível ou pedante, sobre obras sem nenhum ou parco valor, para um público reduzido que acredita erroneamente que quanto mais hermético mais elevado.

Mas é certo que a criação contemporânea é um instante de trânsito, entre o passado e o futuro, pois como prever qual será exatamente o tipo de expressão visual dentro em pouco com os avanços da nanotecnologia, da internet, do papel eletrônico ou da fotografia digital, que influenciarão várias formas de manifestação?

*No folheto distribuído ao público é definido esse espaço e sua concepção: “2.º andar: Planta Livre – Ao contrário das bienais anteriores, que transformaram todo o interior do pavilhão modernista em salas de exposição, desta vez o segundo andar está completamente aberto, revelando sua estrutura e oferecendo ao visitante uma experiência física da arquitetura do edifício. O termo ?planta livre? refere-se ao conceito criado por Le Corbusier, em 1926, para definir um dos cinco princípios da nova arquitetura.”

Aracy Amaral é crítica e historiadora de arte

o texto acima foi publicado no jornal o Estado de São Paulo.

Serviço
28.ª Bienal de São Paulo – Em Vivo Contato. Fundação Bienal. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, Parque do Ibirapuera, portão 3, 5576-7600. 3.ª a dom., 10 h/ 22 h. Grátis. Até 6/12. site: www.28bienalsaopaulo.org.br

“Primeiro nós aprendemos a experimentar várias imagens, sons e informações ao mesmo tempo. Agora nós PRECISAMOS, NECESSITAMOS dessa experiência.”

Essa afirmação meu amigo-arquiteto Tuti ouviu numa palestra do Peter Greenaway ano passado em Porto Alegre e quando ele me contou me lembrei do texto Jatsons/Flinstones do post abaixo.

Greenaway se apresentará terça, 18/11 no Rio dentro do projeto Multiplicidade no teatro Casa Grande.

Sexta, 29 de agosto. A casa noturna está entupida de gente, a luz se apaga e a voz que sai das caixas de som anuncia o início do show em 5 minutos. Imediatamente milhares de celulares se erguem para fotografar e gravar a entrada da banda. Os pontos luminosos na escuridão da platéia são pequenas telas ávidas por registrar os próximos instantes.

A cena me faz lembrar um texto antigo do cineasta alemão Win Wenders onde ele comentava a avalanche de fotos que assombra o planeta e a conseqüente banalização das imagens na sociedade contemporânea. O texto passava pelos pintores e seus retratos da nobreza e (depois) paisagem, a invenção da fotografia, os pioneiros e habilidosos fotógrafos que se destacavam em poucas cidades da Europa, a invencão do filme 35mm e o boom das fotos de viagem, os equipamentos de revelação 1 hora e as câmeras descartáveis. É um artigo de uns 10 anos atrás quando a revolução das máquinas digitais e celulares que fazem imagens eletrônicas (fotografias?) ainda estava engatinhando.

O show ainda não começou. “Hoje, se considerarmos câmeras de vigilância, webcams e os aparelhos celulares, existem mais máquinas que produzem imagens do que habitantes na Inglaterra.” me diz o videomaker moçambicano-carioca Victor Lopes. A banda entra e o som entope as orelhas. Cutuco Victor lembrando que existem mais televisores do que geladeiras no Brasil. A conversa segue e argumento também sobre as ferramentas de armazenamento “virtual” de imagens (Flickr, Picasa etc), os blogs pessoais e o YouTube com seus milhares de vídeos. Fim da primeira música, a platéia está ensandecida.

Imagens nos cercam por todos os lados o tempo todo. Vivemos o começo de um novo tempo onde a internet 2.0 já é uma realidade transformadora e a TV digital uma promessa confusa e instigante. Nessse cenário eletrizante vejo artistas tomarem posições antagônicas. Enquanto alguns se entusiasmam com as novas possibilidades outros se fecham no ateliê. Não concordo nem acredito nessa polarização.

O show acabou. Luciana Padilha, do coletivo Pernambucano Branco do Olho, fala do projeto de levar oficinas de fotografias aos munícipios do interior do estado. “Todo mundo vai ter um telefone que faz foto e precisamos aproveitar isso como uma ferramenta de formação do olhar. Se ensinarmos noções básicas de fotografia podemos atacar o sensível de forma inusitada. A popularização dos celulares gera uma oportunidade de trabalharmos educação artística em larga escala para todas as idades e perfis. Vamos colocar fotógrafos e artistas rodando as cidades pequenas e médias com um curso de 1 semana. Numa segunda etapa vamos criar centros de fotografia com exposições de artistas consagrados, jovens talentos e fotógrafos amadores. Além de ensinar as pessoas a olharem o mundo de forma nova é uma oportunidade de aproximá-las do computador e da Internet. Inclusão digital através da foto.” O show ainda ocupa minha cabeça e fico pensando numa escola de música com computadores em todas as salas de aula, estúdios de gravação e laboratórios. Oficinas de Pro Tools, iTunes, mp3, samplers, DJs. Cursos permentes de engenharia de audio, guitarra, discotecagem, baixo, bateria e percussão. Inclusão digital através da música.

A conversa segue animada no Bar e Restaurante Cervantes na Rua Prado Junior em Copacabana. É madrugada e o local está cheio. O artista Sheik fotografa sem parar com seu celular Nokia 6265 com resolução de 2.0 megapixels enquanto a menina eufórica da mesa ao lado incomodada questiona para que tantas imagens. O poeta Fausto Fawcett responde perguntando com a sabedoria de sempre: “Tá Jetsons? Fica Flinstones.” 


Raul Mourão
Setembro de 2008

Texto publicado na revista dasArtes editada por Adolfo Montejo e lançada na última terça no Museu de Arte Moderna – Rio. No próximo número sai mais um texto.

Digitaldubs manda email informando que embarca hoje para o México com o cantor Dada Yute, para a segunda turnê internacional do sound system!

As datas:
01 Nov. Tijuana – RAZTLAN FESTIVAL
02 Nov. Mexico city – RAZTLAN FESTIVAL
08 Nov. Guadalajara – RAICES Y CULTUTRA FESTIVAL
13 Nov. San Luis Potosi – BOVEDAS
15 Nov. San Cristobal, Chiapas –
21 Nov. Playa del Carmen – ZION CLUB
22 Nov. Tulum – AH KIN BEACH CLUB
28 Nov. Mexico city – ROOTICAL SESSIONS
29 Nov. Ciudad Neza – ROOTICAL SESSIONS

mais novidades pelo site: www.digitaldubs.com.br
orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=3536000
fotolog: www.fotolog.net/digitaldubs


Guilherme Fiuza escreveu o artigo abaixo em seu blog na segunda. O post tem cento e vinte e tantos comentários mas não tive tempo de ler… Eu estava em SP e não votei pela primeira vez na vida. Agora é tarde.

A eleição mais disputada do Brasil foi decidida pela ignorância. A ignorância dos cultos e dos bem-pensantes.

O vencedor, candidato de Lula e do governador Sérgio Cabral Filho, era também o candidato das milícias, como mostraram as pesquisas de opinião. Além do braço armado, tinha o braço da pirataria ideológica. Panfletos difamatórios foram apreendidos aos milhares nos comitês de Eduardo Paes.

A parcela mais esclarecida da população, aquela que grita por uma cidade mais civilizada e ética, aderiu a Fernando Gabeira. Uma “onda verde” das pessoas de bem adotou o candidato da transparência, que divulgou nome por nome dos seus doadores de campanha. E as quantias também. Tudo isso antes do primeiro turno. Uma revolução.

Num eleitorado de quase 5 milhões, Gabeira perdeu por pouco mais de 50 mil votos. Não foi derrotado pela campanha suja do adversário. Foi derrotado pelas “pessoas de bem”.

A abstenção no Rio foi recorde. No feriadão criado pelo padrinho do vencedor, mais de 20% não votaram. E esse recorde foi puxado pela Zona Sul da cidade – onde está a maior concentração de cultos e bem-pensantes. Dessa turma, nada menos que um em cada quatro eleitores trocou a urna por um programa melhor.

Gabeira foi derrotado pelo eleitor de Gabeira.

O candidato do Partido Verde, que fez história nessa eleição com sua cruzada contra a baixaria, disse que derrotaria as máquinas estadual, federal e universal – a do bispo Crivella, amigo de Lula, que assim como as milícias aderiu a Eduardo Paes.

Gabeira derrotou-as. Só não conseguiu vencer a máquina da ignorância culta.

É a mais letal das ignorâncias. Trata-se daquela em que o sujeito tem educação e informação suficientes para discernir. Mas não assume suas responsabilidades.

Do povão manobrável, espera-se que seja manobrado. Das milícias e máquinas, espera-se que manobrem o povão. Da elite esclarecida, espera-se que dê o exemplo.

A elite esclarecida matou a política e foi ao cinema. Ou à praia. É direito dela. Só não tem mais direito de choramingar a falta de ética dos outros.

No sábado, 1/10, rola o lançamento do catálogo do trabalho mais recente do artista plástico Eduardo Coimbra intitulado Nuvem.

O trabalho permanecerá instalado na Praça XV, centro do Rio, apenas até o próximo domingo, 2/10.

Também neste sábado será exibido, em pré-estréia, o filme de Gustavo Moura, O azul do céu não existe, realizado por ocasião da construção de outro trabalho de Coimbra, Passarela, inaugurado em maio no Museu do Açude.

Fala-lixo é o nome do mútiplo que estou produzindo no ateliê. Pequenas esculturas em ferro medindo 35 x 32,5 x 14cm. A de dentro será branca. As fotos do são do Quito.

Exposição que inaugura amanhã no CCBB exibe obras de 57 artistas brasileiros até 4 de janeiro.

“As obras são uma mostra da produção artística brasileira nos últimos 10 anos. É bastante abrangente. Os trabalhos apresentam a pluralidade da arte atual, com várias técnicas e vários assuntos”, diz o curador Paulo Venâncio Filho.

Os artistas:
Alexandre da Cunha (SP), Alice Miceli (RJ), Alice Shintani (SP), Ana Holck (RJ), Bianca Tomaselli (SC), Bruno Miguel (RJ), Cadu (SP), Carlos Contente (RJ), Carlos Mélo (PE), a dupla Celina Portella e Elisa Pessoa (RJ), Cinthia Marcelle (MG), Daniel Acosta (RS), Daniel Toledo (RJ), Eliana Bordin (RS), Estela Sokol (SP), Fabiano Gonper (PB), Felipe Barbosa (RJ), Gabriela Maciel (RJ), Gaio Matos (BA), Gisele Camargo (RJ), Gustavo Speridião (RJ), Henrique Oliveira (SP), Hugo Houayek (RJ), Laura Belém (MG), Laura Erber (RJ), Lívia Moura (RJ), Luiza Baldan (RJ), Marcelo Silveira (PE), Marcelo Sola (GO), Marcia Xavier (MG), Marcius Galan (SP), Marcone Moreira (MA), Maria Lynch (RJ), Mariana Manhães (SP), Mariana Palma (SP), Marilá Dardot (MG), Matheus Rocha Pitta (MG), Milton Marques (DF), Otavio Schipper (RJ), a dupla Paula Gabriela (RJ/RS), Paulo Meira (PE), Paulo Vivacqua (RJ), Renata Lucas (SP), Rodrigo Braga (AM), Romano (RJ), Ronald Duarte (RJ), Rosana Ricalde (RJ), Sara Ramo (MG), Tatiana Blass (SP), Tatiana Ferraz (SP), Thiago Rocha Pitta (RJ), Tony Camargo (SP), Vanderlei Lopes (SP), Vânia Mignone (SP) e Wagner Morales (SP).

Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro
Tel: (21) 3808.2020
De 21 de outubro a 4 de janeiro de 2009
Horário: de terça a domingo, das 10h às 21h
Entrada franca

Hermano é meu mestre. Junto com ele estão também Mauricio Valladares, Roberto Berliner, Chacal e Vergara. Ele não sabe disso. Eles também não. Sou péssimo aluno. Catei esse texto lá no Overmundo. Vou ouvir agora.

Ceará. O ano é 2007. Agora. O grupo de hip hop Costa a Costa acaba de lançar sua mixtape, disponível em CD. É – não tenho nenhuma dúvida – um dos documentos mais contundentes, impressionantes e acachapantes sobre a realidade brasileira contemporânea (como se ler jornal não fosse suficiente…) É um Sobrevivendo no Inferno traduzido para o Século XXI – e é preciso constatar: o inferno piorou muito. Lá na faixa 21 (são 23 no total), um dos vários interlúdios do disco, o rapper anuncia: “a prefeita diz que eu tô na cidade do sol.” Uma voz totalmente debochada comenta: “quem tem boca diz o que quer…” Volta o rapper: “a PM diz que eu tô na cidade do pó.” O deboche: “fala o que pode…” O rapper novamente: “os gringo diz que eu tô na cidade do sexo”. A resposta é uma gargalhada. “Eu não queria nada disso.” Resposta: “mas é o que é.” “Eu só queria fazer disso aqui a cidade da grana / Seja bem-vindo / Fortaleza, tá ligado? / Isso aqui é dinheiro, sexo, drogas e violência.”

Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência – esse é o título da mixtape. O título é repetido dezenas e dezenas de vezes durante os 79 minutos e 57 segundos do CD. Parece um mantra do mal. Dá um incômodo danado ouvi-lo, o tempo todo, sem que ao mesmo tempo surja a voz da razão para repetir também: não queremos nada disso (ou o que seria melhor: apontando a solução para tudo isso). O início do disco chega a ser ainda mais infernal. Uma voz sintetizada e desacelerada (parece estilo “screwed and chopped” do rap de Houston, Texas) dialoga com um pobre mortal, um guerreiro. A voz: “eles estão caçando você / eles estão fugindo da luta.” Resposta: “vou derrubar esses filha da puta.” A voz: “eles querem que você entre no jogo deles / não entra! / lembra de onde você vem / cê tá na rua / qual a idéia que rola?” Resposta, como não podia deixar de ser: “Dinheiro, sexo, drogas e violência em qualquer lugar.” Voz: “eles estão dizendo que você está errado / fala pra eles o que é o bagulho.” Voz repete, martelando, para ficar bem claro: “Isso aqui é dinheiro, sexo, drogas e violência de Costa a Costa!” Então alguém grita bem alto: mixtape! E começa uma mistura poderosa e violenta de hip hop (estilo bounce de Nova Orleans, ou crunk de Atlanta/Memphis) com brega (Sidney Magal!), salsa, Perez Prado, carimbó e reggaeton, quase tudo muito dançante mas sem perder o ar soturno jamais.

A produção – acho que assinada pelo grupo todo (não consegui ter acesso à ficha técnica – mas sei que as músicas, com as interferências de barulho bom da mixtape, ficaram bem mais interessantes que quando sairam nos outros CDs) – é uma das mais criativas da atual safra musical brasileira, em qualquer estilo. E é também uma injeção de energia/ousadia na sonoridade do hip hop nacional. A mixtape não segue nenhuma regra, não copia Dr. Dre ou Timbaland, não tenta soar como um CD qualquer da família Wu-Tang. Fazia falta ouvir algo assim – tão surpreendente – por aqui. Não somente aqui: lá também. Sempre achei que as experiências sonoras do rap eram tão radicais politicamente como o seu discurso poético. Mas lá no início dos anos 90 perdi um pouco o interesse nos novos lançamentos, pois tudo me parecia seguir uma fórmula já testada inúmeras vezes, sem risco nenhum a não ser o de virar o primeiro lugar nas paradas americanas.

Coincidência: a mixtape do Costa a Costa bateu no meu CD-player no mesmo momento em que estou lendo um livro sensacional, obrigatório para quem se interessa por hip hop (tomara que algum dia ganhe uma tradução brasileira). Chama-se Third Coast – Outkast, Timbaland & How Hip-Hop Became A Southern Thing, e foi escrito por Roni Sarig. Comprei de olho num capítulo sobre o Miami Bass, pois há pouquíssima coisa séria escrita sobre essa música que é a mãe do funk carioca. Aprendi muito lendo a história de como o subgrave conquistou a Flórida. Não percebia direito como, nos anos 80, os bailes do Rio eram totalmente atualizados com as novidades de Miami: o disco saía lá e já era sucesso aqui. Mesmo o Two Live Crew (que no Rio deu até na Melô da Mulher Feia) ficou famoso aqui antes de ser popular por lá.

Gostei tanto do estilo desse capítulo que passei a ler os outros, que mostram como o hip hop atual está dominado por cidades do sul dos Estados Unidos e não por Nova York ou Los Angeles. Os números são avassaladores: em 2006, entre um terço e metade de todas as canções que entraram para a parada Hot 100 da revista Billboard (a parada mais importante dos EUA) é de bandas do hip hop sulista. Não sabia nada disso. Não conhecia também a história do rap de Atlanta, Memphis, Nova Orleans e Houston, as principais cidades produtoras dos novos gêneros pós-gangsta. Fui escutar/ver tudo (ainda bem que existe o YouTube) e me arrependi do tempo que perdi achando que nada de interessante estava acontecendo naquele mundo.

Mas fiquei mais surpreso de ver outra triste história se repetindo em todas as cidades. Grande parte dos mais criativos músicos dos vários lugares, alguns muito famosos e milionários, morreu de forma violenta, geralmente vítima de tiros. Realmente é dinheiro, sexo, drogas e violência em todos os guetos. A crônica cruel de uma juventude que teve vários de seus ídolos exterminados por uma guerra urbana/social absolutamente sanguinária. Parece o Uivo, do Allen Ginsberg, só que encenado por quem estava “do outro lado”. Alguém se lembra como o poema começa? “Vi os expoentes da minha geração da minha geração destruídos pela loucura”. Mas logo no segundo verso aparecem “as ruas do bairro negro” onde esses expoentes iam buscar a “dose violenta”. Agora a destruição acontece “nas ruas dos bairro negro”, entre os expoentes negros, e “ninguém” ouve falar de suas mortes… Apesar dos milhares de uivos, altíssimos, em todos os raps…

Mas estou me perdendo na geografia? Parece que estou muito longe de Fortaleza… Na verdade tudo é tão perto… Fortaleza é a Houston brasileira, misturada com a latinidade de Miami/Nova Orleans? Para o Costa a Costa, o Nordeste é “o gueto do gueto”. O discurso moldado nas periferias paulistanas (mesmo todas as gírias, as centenas de “tá ligado” ou o firmão etc. etc.) chega por lá e passa a ter um outro sotaque, ganhando um outro sentido, onde a luta contra a miséria é muito mais barra pesada. Qual o sentido do 100% negro em Fortaleza? É possível falar de um 100% nordestino? Em cotas para os nordestinos? E os nordestinos ricos, o que fazer com eles, entram para as cotas também?… Tudo se complica: há a tentativa de transplantar para o Ceará a visão do mundo criada no Capão Redondo, mas problemas vão escapando por todos os lados, e novas possibilidades aparecem: “Ninguém lembrou do Nordeste na fita, e eu tô aqui” (versos de No Melhor Lugar). “Você vem do Nordeste? / Você tem a força que eles nunca vão ter / não espera por ninguém / quem é pra tá aqui, já tá” (Interlúdio Do Gueto Pro Gueto). Tô aqui para dizer o quê? Força pra quê? Apenas para constatar o fim de tudo?

A capa da mixtape explica: “faixas extraídas da vida real dunego de 11/2006 a 04/2007”. Realmente: tudo é reportagem da vida cotidiana de quem foi criado no gueto do gueto, e tem que dar um jeito, qualquer jeito, para sobreviver a cada dia. O personagem principal da maioria das letras é o “caçador de grana rápida”, desesperado atrás de onças (notas de 50 reais), o bandido armado, o jovem cheio de energia que sonha em ter imediatamente, nem que seja por um tempo brevíssimo, o que lhe é vendido como o bom da vida. Quase todas as letras são escritas do ponto de vista desse personagem, retrato/relato do pensamento confuso (como não seria?) desse personagem. É “stream of consciousness” de quem não teve escola boa e vive em favela de nova grande cidade nordestina, em época da tal metástase: “eu também sonho com a Revolução / mas hoje eu tenho a cobrança, meu irmão” (Não é Fácil). Ou: “às vezes eu penso em parar com esse bagulho / às vezes eu penso em virar o Escobar desse bagulho” (Não é Fácil). Ou: “eu não quero cozinhar crack, primo / mas eu quero andar de Nike, no style / mas eu quero as gata / eu quero as nêga com várias das de dez / quem não quer?” (Necessário)

O que resta é fatalidade, mas fatalidade descontrolada (se isso é possível…) Tá tudo dominado, tudo interligado, e todo mundo é culpado; ninguém escapa. O panorama desenhado pelo conjunto das letras é sufocante, dá vontade de sair correndo, mas correr para onde? “Isso não tem a ver com o que você ama / tem a ver com o que não se tem quando não se tem grana” (Necessário). Mas se você não tem grana, alguém tem: “qualquer lugar tem lugares pior / no melhor lugar, só vai ter lugar pro melhor” (No Melhor Lugar). E é óbvio: o melhor só existe porque também existe o pior e vice-versa. O rap de Necessário fala do traficante de armas, que vende as armas para quem depois vai matar seus parentes. O negócio é todo “efeito dominó”, uma cadeia de problemas: “a solução do seu problema vira um problema para alguém e assim vai” ou “todo dia tem alguém arrumando um problema que vai virar um problema para mim” (O Mundo é Nosso).

O ouvinte pode pensar: “não quero escutar isso, isso é apenas a glorificação da falta de possibilidade de transformação: acaba na justificação complacente da bandidagem.” A intenção do Costa a Costa parece ser fazer denúncia: esfregar na cara de todo mundo: olha a que ponto chegamos. O rap quer repetir o tempo todo: para mudar é preciso levar tudo isso em consideração, é preciso encarar de frente o emaranhado de problemas brutais, sem ilusões, sem dourar nenhuma pílula. Essa estratégia é eficiente? Pode mudar alguma coisa? Ou apenas sucumbe na indignação pela indignação? As letras são contraditórias com relação a essa e muitas outras questões (uma hora diz “não entre no jogo deles!” para no verso seguinte constatar que não há outro jogo…) Segundo o personagem que fala na maioria das letras, não dá para julgar ninguém. Ele nunca ouviu falar em ética, nunca sentiu o cheiro de atitude ética.

A maneira como percebe a realidade é através do pior, do muito pior: todos contra todos, no estilo pesadelo de Thomas Hobbes: “o que fazer, quando seu irmão quer fuder você / quando o mundão quer fuder você / quando ninguém acredita mais em ninguém” (Justificativa). Boa Noite Cinderela é a narrativa da estratégia de uma prostituta cearense para roubar um gringo: “ela é do gueto, mas mexe bem / o que tem de errado? / ela usa o que tem / ela gosta quando rola os dólar / ela gosta de coisa boa”. Aqui tudo fica ainda mais explícito, didático: “a gente não é só crime e futebol / a gente quer as jóia e o brilho do sol / eu não tô falando nada complexo / eu sou jovem e quero grana e sexo / eu tô errado, nêga? / eu sou sincero, nêga / eu sei a regra do jogo / não sou otário, nêga / no meio da guerra, o nêgo tira uma onda / é selva, mas tudo pelas onça / mesmo lutando e com o mundo inteiro contra / a gente vai pegando uma grana / eu ainda não tenho o carro da propaganda / mas eu saio com a gata da escola de samba” (Ela Mexe). E quem, no meio de tanto escândalo e corrupção, vai dizer que a regra do jogo da maioria não é essa mesmo? Se colocado contra a parede, o rap teria a resposta pronta: “os filha da puta quer julgar você toda hora / eles dizem que não tem justificativa / mas eles têm justificativa pros crimes dele, né?” E acrescenta, filosófico, irônico, deixando o interlocutor com cara de tacho: “eu não tô dizendo que tá certo ou tá errado / quem sou eu? / eu tenho mais perguntas que respostas ” (Justificativa)

São tantos trechos de letras para comentar, que fico submerso aqui nas minhas anotações. Como já disse: sobre cada tema, há muitos exemplos, vários contraditórios entre si. O início de Ela Mexe também precisa ser citado: “enchendo de dióxido, de veneno / é o novo milênio / aproveita o fim do oxigênio / tá pra acabar essa porra / mas até acabar, quero tá vivendo legal”. É assim mesmo: “a vida é puta, mas hoje tá bom / só quero paz e uma grana no banco”. Porque, o tempo todo, tudo pode ficar pior: “talvez eu esteja na cela amanhã” (Não é Fácil).

O que mais chama a atenção na seqüência das músicas é a briga entre o niilismo dominante das letras e a festa sonora do acompanhamento. Ela Mexe, por exemplo, é uma inebriante fusão de carimbó com reggaeton. Mesmo com timbres sinistros, é fácil dançar. E não é só um clima de baile na Ilha Fiscal. Há uma opção afirmativa na programação rítmica. Há também, por parte da banda, a convicção de que o hip hop – mantendo a sua integridade – tem que se tornar uma indústria musical tão poderosa quanto o novo forró (Regina Casé aparece na mixtape em trecho sampleado da entrevista com o Costa a Costa no Central da Periferia que fala justamente isso). E além disso, há aquela espantosa alegria de estar vivo, que pode ser encontrada em todos os guetos, nas situações mais miseráveis. Então no meio de tudo, aparece uma letra como Vive Agora… É um manual de auto-ajuda do gueto, uma mistura dos conselhos mais disparatados (o “bem” lado a lado com o “mal”), de maneira febril e frenética. Alguns trechos, selecionados ao acaso (pois a letra é quilométrica):

tá na merda, luta
tem um pivete, ama
tem champanhe, beba
tá no jogo, joga
quer ser alguém, estuda
tá sem nenhum, rouba
tá com a bola, chuta
ela é gostosa, chupa
o som é bom, aumenta
quer saber qual é, se envolve
tem problema, resolve
se tem um amor, assume
se decepcionou, dispensa
cê quer um amor, procura
cê tem um valor, lembra
te deixou, esquece
se Deus levou, benze
se o coração não parou, então bola pra frente
cê tá perdendo, vira
cê ainda acredita, insista
cê tá crescendo, brilha
cê curte a vida, vive
cê tá atrasado, corra
tá tudo errado, mova-se
cê foi sincero mas não te levaram a sério, foda-se

Julgar? Há coisas ditas neste disco que vão no caminho totalmente oposto daquilo que acredito e valorizo. Mas reconheço o desespero (mesmo com o estilo foda-se) e o desamparo (junto àquilo que movimentos sociais globalizados chamam de empowerment…) com os quais são ditas. Entendo também que não representam a visão de mundo do compositor: são descrições daquilo que ele vê o tempo todo, no seu dia a dia, daquilo que ele ouve muita gente falar. E mesmo assim: as músicas nem foram feitas para mim, que sou de fora: “eu faço a rima que o gueto precisa ouvir” (No Melhor Lugar). Eu não estou no gueto. (Essa é uma outra novidade na música popular brasileira: agora há uma música que, intencionalmente, não é feita para toda a “nação”…) Mas não posso deixar de perceber que neste disco (nunca houve disco assim… até bem pouco tempo, a regra do jogo dizia que pessoas como as que formam o Costa a Costa não tinham direito de falar nada, quanto mais lançar um disco… como diz o rap de Mel e Dendê Remix: “uns nasce pra fazer regra / e nós nasce pra quebrar”) está a mais cruel descrição de nosso impasse coletivo atual, meio tudo o que a gente não queria que fosse, mas tem que reconhecer que é, e que só com uma luta enorme vai mudar (eu não perco meu otimismo – e para saber o que me deixa otimista, basta ler muitos de meus outros textos aqui no Overmundo). Indignado com esse mundo, eu? Claro. Mas sou também como rapper do Costa a Costa neste verso: “tenho mais perguntas que respostas”. Depois desta mixtape, minhas perguntas ficaram bem mais longe das respostas. Sou só perplexidade.

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A exposição Arquivo Geral inaugura a sua terceira edição na quarta que vem no Centro Cultural da Justiça Eleitoral. A exposição coletiva reúne obras de mais de 70 artistas, é organizada por 11 das principais galerias cariocas e tem curadoria de Fernando Cocchiarale. Fica em cartaz até 29 de novembro de 2008.


saiu na Folha de Sp de ontem essa matéria do Mario Gioia:

A Tate Modern, um dos mais importantes museus do mundo, abre suas espaçosas galerias em Londres para abrigar 80 obras de Cildo Meireles, nome-chave das artes plásticas no Brasil que tem ganhado cada vez mais espaço no circuito internacional.

Elas serão expostas no museu a partir de hoje (para convidados) e permanecem até 11 de janeiro no local.

“O pessoal do museu é muito profissional, eles estão desenvolvendo essa mostra desde 2003. Quando recebi a visita deles em meu ateliê [em Botafogo, zona sul do Rio], foi engraçado, eles pareciam conhecer mais minha obra do que eu mesmo”, disse Cildo Meireles à Folha, por telefone, da Tate, onde cuidava dos últimos ajustes na montagem da exposição.

O espanhol Vicente Todoli, diretor do museu, assina a curadoria da mostra, auxiliado pelo crítico britânico Guy Brett, co-curador e um dos grandes especialistas em arte brasileira no mundo. Amy Dickson é a curadora-assistente. “Cildo Meireles” não vai se restringir a Londres: seu roteiro inclui Barcelona, Houston, Los Angeles e Toronto. “O Brasil ficou fora, é uma exposição muito cara”, diz ele.

A mostra tem como foco principal oito instalações de grande porte. Elas sintetizam a obra de forte carga conceitual de Cildo, que, com grande habilidade, consegue envolver o espectador com trabalhos de apelo sensorial.

É o caso de “Através”, cuja terceira versão está em caráter permanente no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), que faz com que o público caminhe sobre um chão forrado de vidro e pontuado por diversas barreiras (grades, cercas e até uma cortina de banheiro). Ou “Babel”, coluna formada por centenas de aparelhos de rádio dos mais diversos tipos, sintonizados em diferentes estações.

Também estarão presentes instalações de tom político, outra característica da obra do artista. “Missão/Missões” utiliza 600 mil moedas, 800 hóstias e 2.000 ossos compondo um ambiente que remete à morte.

Sua leitura política se relaciona aos massacres empreendidos contra indígenas nas missões sul-americanas e contra outras populações nativas em diferentes momentos da história. A Igreja Católica é criticada por suas iniciativas de aculturação empreendidas na América e em outros continentes por religiosos.

Também serão exibidas as instalações “Desvio para o Vermelho”, “Eureka/Blindhotland”, “Cruzeiro do Sul”, “Volátil” e “Fontes”, além de séries de menor porte, como os desenhos “Ocupações” e “Volumes Virtuais”, desenvolvidos por Cildo no começo de sua carreira, no final dos anos 60.

“Vejo a mostra como uma antologia, não como uma retrospectiva, já que obras recentes, como “Marulho”, não entraram. As instalações sofreram poucas alterações, estão bem de acordo com o que já foi apresentado outras vezes”, diz o artista.

Achei lá no Potal Literal.

Uma analogia resumindo o surgimento da crise econômica sem citar palavras como “subprime”, “títulos”, “liquidez” ou “lastro” – Por Mariana Garcia (SP)

Entenda a crise: um exemplo prático.

Imagine um ponto de drogas, uma boca no meio da favela da Vila Califórnia onde o dono é conhecido como Bucha. Bucha costumava vender drogas para blogueiros, pastores de igreja e atores globais que, por medo da exposição, costumavam pagar rapidamente.
A bocada estava meio devagar, pois um árabe fez alguns ataques, difamando seu produto numa lista de discussão da internet chamada al qaeda. Para levantar a moral e aumentar a lucratividade, Bucha decidiu vender pó fiado a outros tipos de clientes, como pessoas com graves problemas de dependência química, desempregados e jornalistas que faziam matérias por ali. Com isso, aumentou sua fatia de mercado e começou a cobrar o dobro desses caras para compensar o crédito fornecido.

O plano deu certo, em pouco tempo a popularidade da boca de Bucha aumentou e seus fornecedores, traficantes maiores, ficaram tão empolgados com a crescente demanda que começaram a adiantar a mercadoria para ele em troca da enorme dívida de seus clientes nóias. Depois, para negociar os lotes de drogas, esses traficantes repassaram as garantias dos nóias do Bucha aos produtores de farinha, que repassaram pra galera da torre de quinta, que repassaram para os plantadores bolivianos, que repassaram para a Narcisa Tamborengere.

Assim, sem ninguém saber a origem, essas dívidas nóias foram repassadas até se tranformarem em fundos de pensão, fundos de investimentos, cdb, rbd, dst, fhc, títulos, ações, debentures, derivativos da bm&f, créditos de celular, tickets de refeição, opções da bovespa e muitas outras siglas e recebíveis negociáveis em camelôs, bancos e bolsas de valores em mais de 50 países ao redor do mundo como se fossem garantias sérias de que alguém pagaria alguma coisa algum dia.

Enfim, pressionado pelos credores e sem clientes (estavam todos mortos), Bucha declara a falência de sua boca e todos descobrem que esse dinheiro simplesmente não existe: são as dívidas daqueles junkies sujos malditos que não pagaram pelo pó consumido e morreram de overdose. É isso. Agora ninguém confia em ninguém.

UM NOVO ESTILO
 
Gabeira já deu o tom da campanha no segundo turno. Chamou seu adversário de amigo, de capaz, enérgico e dedicado. Parece o fim da era dos insultos (à inteligência do eleitor) nos palanques cariocas, nas longas trevas do brizolismo e do garotismo. Vamos comemorar: para quem já teve que “escolher” entre Rosinha x Benedita, é um grande avanço. Finalmente teremos uma campanha limpa, civilizada e propositiva, e certamente ultra-competitiva, com os candidatos oferecendo suas propostas para a cidade, sua história pessoal e seu jeito de ser.

Como muitos dos diagnósticos e soluções para os problemas do Rio são convergentes, porque óbvios, e como os dois candidatos são considerados honestos, competentes e dinâmicos, certamente o eleitor escolherá o estilo, a maneira de ser, da pessoa encarnada no candidato. Foi o que fez a diferença no primeiro turno, na arrancada final de Gabeira. O eleitorado escolheu um estilo de fazer política que se mostrou não só nas propostas administrativas, como na própria forma da campanha. E o eleitor está acreditando que isto continuará na composição do governo e na forma de governar. E que pode até dar certo assim!

A essas alturas, nesta cidade agitada, fofoqueira, que adora novidades, os programas de governo serão secundários diante da forma com que serão aplicados. Uma questão de estilo.

Mas se a coisa apertar, restará ao Gabeira usar todos os meios necessários – inclusive como retribuição por ter participado do seqüestro ao embaixador americano para libertá-lo – para conseguir uma declaração de apoio do Zé Dirceu ao Eduardo Paes. Quando o comissário abençoou Jandira, ela caiu de 14% para 9%. E quando disse que, entre Gabeira e Crivella, ele e “a esquerda” ficariam com o ex-bispo, o cara desabou e nem chegou ao segundo turno. Com o apoio do Zé – ao adversário – é correr para o abraço.

Gabeira na cabeça e no coração!

visite: Sintonia Fina

Inauguração da pintura gigantesca intitulada “Rio Cruzeiro”, da dupla de artistas plásticos holandeses Haas & Hahn, nas escadarias da favela Vila Cruzeiro

Haas & Hahn é o nome artístico da dupla de holandeses Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn, que desde 2006 vêm encabeçando um movimento artístico em comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro, mais especificamente na comunidade da Vila Cruzeiro. Daí surgiu o projeto “Favela Painting”. Criando uma série de pinturas murais em diversos pontos da favela, estas intervenções na comunidade são conduzidas com o objetivo de extraírem atenção positiva dos meios de comunicação e da população em geral. O resultado pode ser visto através do sentimento de orgulho, auto-estima e amor próprio por parte dos moradores que participam deste processo. Criadas junto com os jovens locais, as pinturas estimulam a imaginação destes adolescentes e oferecem uma alternativa à vida do crime.

Mais informações em www.favelapainting.com
Inauguração da exposição “RIO CRUZEIRO”
Data: 18 de outubro
Local: Espaço IBISS – Instituto Brasileiro de Inovações Saúde Social (Estrada José Ruças, 1266 – Penha)
Horário: a partir de 15hs
Transporte: Haverá transporte para o evento saindo de alguns pontos da cidade. Favor confirmar presença com a Assessoria de Comunicação.
ENTRADA FRANCA
Apoio: ONGs IBISS e VIVA RIO

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Mônica Cavalcanti – monicavalcanti@uol.com.br
Tels: 21 – 9627-8129 / 7856-1651 ID:83*53456
Para credenciamento e transporte, favor confirmar ida/cobertura do evento até o dia 15/outubro