Peguei lá no site da Subterrânea:

 

A Subterrânea abre os trabalhos de 2012 no dia 15 de março, quinta-feira, a partir das 19h, com a exposição “Parte Súbita”, que reúne pinturas de Federico Olivari e Pablo Ferretti. A mostra segue o formato carinhosamente apelidado de “individual de dois”, onde dois artistas são convidados a estabelecer um diálogo através de seus trabalhos no subsolo do nº 745 da Avenida Independência.
Na mostra, são reunidas duas experiências pictóricas: enquanto Pablo Ferretti (graduado em Pintura pelo Instituto de Artes da UFRGS e Mestre em Pintura pelo Royal College of Art, de Londres) apresenta pinturas a óleo que surgem a partir da diluição de imagens diversas, convidando o espectador a decifrar esses fragmentos de memória; Federico Olivari (autodidata, com exposições no Museu do Trabalho, na Caixa Federal e na CCMQ com Pablo Ferretti, em 1997) mostra trabalhos com técnica mista que têm referência na pop art, tanto pelo apelo cromático e pelo uso de signos da indústria cultural, como pelo processo de repetição e uso da palavra na tela. Suas pinturas se confundem com a história e a identidade visual dos bares porto-alegrenses Ossip e Odessa, onde Federico divide sociedade com seu irmão Diego.
Parte Súbita dá forma a um diálogo sugestivo e aberto, reinventado pelo artista Eduardo Haesbaert, que ao ser convidado a escrever sobre a exposição, optou por responder a esta conversa graficamente, através da criação de um desenho que gerou um múltiplo impresso (500 exemplares) que estará disponível aos visitantes.
A abertura contará ainda com a participação dos DJs convidados Rafa Ferretti e Leo Felipe, que comandam a trilha sonora da celebração. No dia 17 de março, sábado, acontecerá uma conversa com os artistas aberta ao público. A mediação será feita pelo artista Eduardo Haesbaert. A exposição estará aberta à visitação de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h, até o dia 14 de abril.
O quê: Exposição Parte Súbita – Pinturas de Federico Olivari e Pablo Ferretti
Quando: 15 de março, quinta-feira, às 19h
Conversa com os artistas: dia 17 de março, às 16h, no Atelier Subterrânea, mediação de Eduardo Haesbaert
Onde: Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo – Porto Alegre)
Visitação: de segunda a sexta, das 14h às 18h. Agendamentos pelo email contato@subterranea.art.br ou pelo tel.3208.2534
Encerramento: 14 de abril de 2012

publicado no velho b®ogspot em 14/3/2012

Mais uma q eu peguei lá no site do Valor.

Por Bruno Yutaka Saito | de São Paulo

Pedro Carrilho/Folhapress / Pedro Carrilho/Folhapress
Adriana Varejão em seu ateliê, no bairro do Horto, Rio; artista começou a se destacar nos anos 1990, conseguindo reconhecimento crítico e batendo recorde no mercado

Arte moderna = eu poderia fazer isso + sim, mas você não fez. Essa simples equação, que se estende para a arte contemporânea e reflete antigo preconceito, circula hoje em forma de piada nas redes sociais. No entanto, em um momento de incertezas econômicas como o atual, em que o mercado de arte se torna mais atrativo para investidores, nem equações de mentira dão conta de simplificar uma realidade intrigante. O que faz uma obra atingir elevadas cifras em leilões e vendas privadas? Como funciona o circuito que garante o reconhecimento de determinado artista?

Respostas para essas questões tornam-se ainda mais subjetivas quando se leva em conta que obras de artistas vivos estão atualmente no foco dos donos do dinheiro. Em outro extremo do mercado, uma versão de “Jogadores de Cartas”, do francês Paul Cézanne (1839-1906), foi adquirida por cerca de US$ 250 milhões, estabelecendo um novo recorde para uma pintura, no ano passado. Ainda que pesem os interesses estratégicos dos compradores, a família real do Qatar – cuja filha do emir, Sheikha Al-Mayassa, foi eleita recentemente a pessoa mais poderosa do mundo das artes, pela revista “Art Auction” -, e que o valor seja exagerado, a obra tem a seu favor a raridade e a importância histórica de seu autor.
Mas, quando se fala em artista vivo valorizado, é necessário lembrar que diferentes instâncias se beneficiam de uma produção em ritmo constante. No caminho para se chegar “lá”, o artista passa por um processo informal conhecido como validação. O “lá” pode ser o mercado ou o reconhecimento crítico e institucional, áreas que nem sempre se cruzam. Em qualquer um dos casos, diferentes personagens das artes precisam dar uma espécie de selo de aprovação. “É um sistema muito complexo. Não são só uma ou duas pessoas que decidem. Um número extenso de plataformas de visibilidade e de fatores é que determina a validação de um artista”, afirma Adriano Pedrosa, que recentemente foi curador da 12ª Bienal de Istambul, ao lado do americano nascido na Costa Rica Jens Hoffmann.
“Você pode queimar um artista se decidir lançá-lo no mercado prematuramente. É necessário usar o fator tempo”, diz o galerista Thomas Cohn
A ideia romântica de que talentos natos não precisam concluir uma faculdade de artes não tem muito espaço na realidade atual, apesar do sucesso de brasileiros como Leonilson (1957-1993), que não chegou a se formar. A inexistência de uma instituição nos moldes da CalArts (California Institute of the Arts, nos EUA) é uma das peculiaridades do circuito brasileiro, acredita a escritora e socióloga canadense Sarah Thornton, que aborda o mercado de arte em publicações como “The Economist” e “The Guardian”.
Em um dos capítulos do seu livro “Sete Dias no Mundo da Arte”, Sarah descreve uma aula que chega a durar 15 horas, em que alunos expõem seus trabalhos para debates com colegas de sala e o professor. Com mais de 250 entrevistados, o livro descreve sete diferentes instâncias percorridas por um artista: leilão, escola, bienal, mídia, ateliê, feira e premiação.
A faculdade, nesse contexto, não é apenas o local onde o aluno aprende os fundamentos teóricos e práticos da arte. É, também, onde o candidato a artista fará os seus primeiros contatos profissionais. Foi na Goldsmiths College onde o “blockbuster” Damien Hirst conheceu colegas do grupo que ficou conhecido como Young British Artists, em fins dos anos 1980. Márcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, diz que foi em uma visita à tradicional exposição Anual de Artes da Faap (exposição dos formandos da faculdade) que conheceu a artista Marina Rheingantz e seu trabalho. Hoje, ela é representada pela galeria, ao lado de nomes estabelecidos como Beatriz Milhazes e Adriana Varejão. “O artista, hoje, acaba tendo que fazer networking. É quase uma regra ele ir à abertura de uma exposição com seus trabalhos. Mas o mais importante deveria ser a obra. Ela deveria falar por si só”, afirma Sarah.
  
Pernambucano radicado no Rio, o artista Tunga tem trajetória anterior ao boom dos anos 2000; carreira inclui participações na Bienal de Veneza e na Documenta de Kassel
Mostras como o Rumos Itaú Cultural, Panorama da Arte Brasileira (no MAM-SP) e o Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte/Bolsa Pampulha são espaços coletivos importantes para os novos artistas. “São museus participando desse início, onde nomes ainda não inseridos são apresentados ao circuito. É um primeiro momento, institucional, em que o artista atua por si só”, diz Márcia. “Os galeristas e curadores antenados circulam nesses locais.”
“Descobrir” um novo talento é glorioso em praticamente todas as áreas da cultura, mas há um sabor extra nas artes plásticas. Mundo afora, não faltam relatos de colecionadores que se gabam daquela obra de artista em início de carreira adquirida por uma pechincha. É famoso o caso do ator e colecionador Dennis Hopper (1936-2010), que, nos anos 1960, comprou por US$ 75 uma das pinturas de sopa Campbell de Andy Warhol (1928-1987). Há inúmeras variações do trabalho cujos valores hoje ultrapassam a faixa do US$ 1 milhão.
São perspectivas positivas como essa que estimularam o surgimento, em 2010, do Brazil Golden Art, fundo de investimento pioneiro no país. Artistas ainda não consagrados, mas com alto potencial de valorização, estão no foco. Heitor Reis, que já foi diretor do MAM – Bahia, é hoje gestor do fundo e conta que entre 10% e 15% das obras adquiridas são “blue chips”. Atualmente, o fundo tem 300 obras de 200 artistas brasileiros contemporâneos. “Cerca de 80% da nossa coleção são ‘small caps’. Esses artistas não consagrados serão o grande acerto do nosso fundo”, acredita Reis. Com um patrimônio de R$ 40 milhões, o BGA já está fechado em 70 investidores (a cota mínima era de R$ 100 mil). O fundo pretende montar uma coleção com mil obras.
Não há regras para as escolhas de curadores e galeristas. Tudo depende de olhares individuais. “Meu interesse é pesquisar e disseminar artistas fora do eixo do Atlântico Norte e da Europa: um Sul ampliado, o antigo Terceiro Mundo”, explica Adriano Pedrosa. Galerista pioneiro no Brasil dos anos 1980, Thomas Cohn ajudou a lançar nomes como Leonilson e Adriana Varejão e diz que, em muitos casos, levou apenas cinco minutos para ver potencial em uma obra. “Às vezes, você vê o talento, mas ainda verde. É necessário usar, então, o fator tempo. Você pode queimar um artista se decidir lançá-lo no mercado prematuramente. A sutileza vem com a experiência”, diz Cohn, que anunciou o fechamento de sua galeria (ele irá abrir uma relojoaria com peças feitas por artistas, designers e arquitetos).
“Mercado de arte é atrelado à economia. No momento em que o Brasil bombou, sendo a bola da vez, surgiram mais investidores”, diz gestor de fundo
Para Márcia e Cohn, o galerista tem também função de crítico e conselheiro, sempre atento ao desenvolvimento do trabalho do seu artista. É uma atualização da imagem clássica e secular do mecenas. “Artista sozinho com seu trabalho, por mais talentoso que seja, não chega a lugar nenhum. O circuito institucional, de museus, não vai garantir sua sobrevivência”, diz Márcia, para quem um artista de peso relevante deve ter representações também nos EUA, na Europa e na Ásia. Muitos artistas, conforme vão vendo sua cotação subir, trocam de galerista. “Para nós é ruim lançar, fazer um esforço danado, começar com valores baixos, atingir determinado ponto e o artista se despedir dele”, afirma Cohn. “É como se ele dissesse: ‘Bom, você já me serviu de escada, agora me despeço porque preciso chegar a outro patamar’. Antes de mais nada, artistas são seres humanos, com desejos pessoais.”
Participar de uma importante exposição internacional quase sempre garante uma validação, ao menos institucional. Bienal de Veneza, Documenta de Kassel, além da Bienal de São Paulo e a de Istambul, são algumas das principais. No passado, as participações de Cildo Meireles, Jac Leirner, José Resende e Waltercio Caldas na Documenta de 1992 foram marcantes não apenas nas suas carreiras individuais, mas também etapa marcante no processo de internacionalização dos artistas brasileiros. A partir dos anos 1990, o interesse estrangeiro pela arte latino-americana, além do retorno da democracia ao Brasil, ajudou na profissionalização do mercado nacional. Já não seria tão estranho ver obras de brasileiros em importantes coleções de museus como o MoMA (Museu of Modern Art, em Nova York) e a Tate, no Reino Unido.
“Em tese, qualquer artista que é adquirido pelo MoMA ganha um ponto muito elevado no circuito. Mas existem artistas que entraram na coleção do museu e nem por isso conseguiram ou demoraram muito para ser reconhecidos. [O brasileiro Alberto da Veiga] Guignard [1896-1962] é um exemplo”, diz Tadeu Chiarelli, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). “Há artistas com uma validação extraordinária no mercado, seja em leilão, seja em galeria, que são totalmente desprezados pelo circuito institucional”, afirma Adriano Pedrosa. Como exemplo, o curador cita o artista colombiano Fernando Botero, que, apesar de estar na coleção do MoMA e ser o artista latino-americano vivo recordista em leilão (US$ 2,03 milhão por pintura em 2006), não é unanimidade entre a crítica.
Leo Pinheiro/Valor / Leo Pinheiro/Valor
Beatriz Milhazes: primeira a chegar à marca de US$ 1 milhão em leilão
Quando o assunto é venda negociada por galeristas, quantias elevadas podem até prejudicar a reputação de um artista, caso o colecionador em questão não tiver boa fama no mercado. Atualmente, no Brasil, ter uma obra no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), conta pontos positivos. Formado pela coleção do empresário Bernardo Paz, o espaço exibe obras de brasileiros e estrangeiros consagrados, como Ernesto Neto e Matthew Barney. Numa recente lista da revista “ArtReview” com o ranking das cem pessoas mais poderosas do mundo das artes, Paz é o único brasileiro, em 76º lugar.
Revistas especializadas e a crítica são importantes nesse processo. A “Artforum”, nos EUA, e a “Frieze”, no Reino Unido, são as publicações que mais possuem força mundial na construção da reputação de um artista. Apesar de sua credibilidade ser constantemente questionada devido aos caros anúncios das principais galerias mundiais em suas páginas, a “Artforum” tem papel de destaque no que deve ser levado a sério ou não no circuito. Damien Hirst, Jeff Koons e Takashi Murakami, a trindade que hoje alcança os maiores valores do mercado, embaralhando as fronteiras entre arte e a empresarialização da arte, raramente têm estudos críticos nas páginas da revista. Por outro lado, Adriana Varejão recentemente foi tema de um longo artigo. Sua colega de geração Rivane Neuenschwander, além de Hélio Oiticica (1937-1980), referência no processo de internacionalização da arte brasileira, também estão nessa restrita lista.
Não há, no Brasil, publicações com o mesmo peso, ainda que o fortalecimento do mercado gere uma demanda. Por isso, muitos profissionais que atuam no circuito apontam particularidades do colecionador local. “O Brasil tem um mercado provinciano e desinformado, muito ligado à moda. O artista que se destaca é o que aparece nas colunas sociais, e não aquele que está na cultura”, diz Celso Fioravante, editor do site/informativo Mapa das Artes, que traz notícias e roteiros sobre o circuito de exposições no Brasil.
No Brasil, o mercado de arte é relativamente novo, se for feita uma comparação com Europa ou Estados Unidos. Da geração que se destacou nos anos 1990 chamam a atenção a carioca Adriana Varejão, cuja tela “Parede com Incisões à La Fontana II” (2001) foi arrebatada por 1,1 milhão de libras em leilão na Christie’s de Londres no ano passado (maior valor já pago por obra de um artista brasileiro vivo), e Beatriz Milhazes. “O sucesso delas não foi da noite para o dia. Não há um momento de virada. Elas estão pintando há mais de 20 anos, estão na labuta no ateliê. O que gerou esse sucesso? Foi todo um desenvolvimento de currículo, diversas mostras institucionais”, diz Márcia Fortes. “E temos que lembrar que esse 1 milhão foi em um leilão. Nem Adriana e nem a galeria viram a cor desse dinheiro.”
Daniel Wainstein/Valor / Daniel Wainstein/Valor
Thomas Cohn, galerista que trabalhou com Leonilson e Adriana Varejão e está se retirando do mercado de artes
O caso de Beatriz é exemplar nesse circuito de validação. Ela iniciou-se nas artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, e, com a coletiva “Como Vai Você, Geração 80?”, realizada no mesmo local em 1984, foi identificada como parte de um grupo que incluía, entre vários outros, Leda Catunda, Daniel Senise. Já nessa época, é observada por curadores brasileiros como Paulo Herkenhoff e Ivo Mesquita, e iniciou participações em exposições internacionais na América Latina.
Em 1995, Beatriz entrou no circuito mais badalado da arte, em exposição no Carnegie Museum of Art, em Pittsburgh, EUA. No mesmo ano, começou a ser representada em Nova York por Edward Thorp, com quem fez sua primeira exposição em galeria estrangeira – resultando em crítica positiva no “The New York Times”. A partir daí, Beatriz circula com desenvoltura no circuito internacional, entrando na coleção de museus como o MoMA (EUA) e o Reina Sofía (Espanha). As participações na Bienal de São Paulo (1998) e na Bienal de Veneza (2003) também são pontos altos da carreira da artista. No mercado, Beatriz fez história em 2008, quando se tornou a primeira artista brasileira viva a atingir a marca de US$ 1 milhão (“O Mágico” foi vendida por US$ 1,049 mi na Sotheby’s, em Nova York).
O mercado de arte em expansão no Brasil tem estimulado o surgimento de novas feiras. No ano passado, a primeira edição da ArtRio teve um total de vendas de R$ 120 milhões. Em São Paulo, a Parte apostou em galerias menores, com obras de jovens artistas com preços até R$ 15 mil. Fernanda Feitosa, diretora da principal feira de arte do Brasil, a SP-Arte, diz que o perfil do comprador mudou e está mais jovem, na casa dos 20 e poucos anos. Ela cita uma “sofisticação da informação” e o papel dos cursos livres nessa mudança de perfil. Seguindo um mercado que existe no exterior, a Escola São Paulo, por exemplo, oferece cursos e palestras que ensinam o aluno a colecionar arte. “Mercado de arte é atrelado à economia. No momento em que o Brasil bombou, sendo a bola da vez, com o PIB crescendo, muita gente jovem chegando ao patamar dos ricos, com possibilidade de diversificar suas carteiras, surgiu essa tendência de termos mais investidores e colecionadores”, afirma Heitor Reis.
Cifras milionárias em leilões internacionais, no entanto, não estão necessariamente relacionadas a esse bom momento da arte brasileira. Profissionais da área lembram que leilões são pontuais, guiados pela emoção e pela pressão psicológica e, por isso, servem como validação apenas mercadológica. De olho nas “possibilidades” que estão se abrindo no Brasil, a tradicional casa de leilões Sotheby’s recentemente abriu um escritório no país. Para Katia Mindlin Leite Barbosa, presidente da Sotheby’s Brasil, o interesse do mercado por arte contemporânea responde a uma simples equação: “Existe mais demanda para esse segmento porque a oferta de arte moderna e impressionistas está diminuindo no mercado”.
Em 2011, a Sotheby’s teve o segundo melhor resultado em sua história, com um total consolidado de vendas de US$ 5,8 bilhões. A concorrente Christie’s teve US$ 5,7 bi em vendas e anunciou um crescimento de 27% (em dólares) no setor de arte contemporânea. Essa explosão, claro, não vem apenas de um amor súbito por arte dos grandes compradores. Segundo o jornal “Financial Times”, em uma pesquisa da Family Bhive, espécie de rede social de milionários, entre mais de 70 banqueiros e gestores de investimento internacionais, arte foi identificada como o ativo com melhores chances de retorno em 2012. “Obra de arte não vira pó como as ações. Na pior das hipóteses, você continua usufruindo o prazer de ser dono da obra”, diz Katia, da Sotheby’s.
Ao menos em leilões, os critérios na determinação de um preço são subjetivos, ditados por especialistas próprios, e não pelo vendedor. “Quando um artista chega à Sotheby’s, já se pressupõe que ele tenha certa bagagem, uma rede de colecionadores, ‘dealers’, de pessoas interessadas, que ajudam a movimentar o mercado”, diz Katia. Fatores como a reputação do artista, a fase correspondente da obra, vendas anteriores de trabalhos parecidos são levados em conta no estabelecimento do preço. “Temos uma expressão que são os ‘comparáveis’, que vão dar o parâmetro para aquela avaliação”, afirma Kátia. Heitor Reis, do fundo de investimentos BGA, diz que é necessário um trabalho de acompanhamento do mercado de arte para determinar quais obras irá comprar. “Fazemos prospecção o tempo todo, indo a ateliês, conversando com os formadores de opinião, diretores de museus, críticos. Tudo isso proporciona a valorização de um artista”, afirma. Empolgado, Reis diz que o potencial de valorização é variável, mas pode chegar a otimistas 300 e 500% acima do CDI.
A aposta no novo e incerto é grande, e distorções podem surgir. “O mercado está dando as regras. Isso coloca em risco a produção e a qualidade dos artistas”, afirma André Millan, da Galeria Millan. Quando se compara a rápida aceitação pelo mercado de jovens recém-saídos da faculdade com veteranos como Tunga, Cildo Meireles ou Waltercio Caldas, que levaram anos, nota-se uma aceleração que reflete uma demanda “inconsequente”, segundo o galerista. “Não se sabe se essa produção de hoje existirá daqui a dez anos. É uma produção que não tem lastro”, diz Millan. Há anos no circuito, Tadeu Chiarelli aponta mudanças no cenário brasileiro. Para ele, há uma certa “banalização” de certas profissões, como a de curador, profissão que também passa por um “boom” de novos nomes. Outra mudança, aponta, é o pouco interesse de muitos jovens artistas, recém-saídos da faculdade, mas já em importantes galerias, em doar obras a museus, tradicionalmente vistos como ponto culminante no reconhecimento artístico. “A grande confusão no Brasil hoje é: acredita-se que arte boa é aquela que está no mercado. Os colecionadores confiam muito no mercado. Não existe a ponderação, a clareza de que é necessário um tempo. O tempo da produção artística, do amadurecimento, é um pouco mais lento que o do mercado.”
Quando acertam em suas escolhas, críticos e curadores são celebrados como visionários; galeristas e leiloeiros ganham de forma literal; museus emprestam e ganham credibilidade ao adquirir obras. Uma vez que os critérios para a validação de um artista são fluidos, não seriam possíveis manipulações? Sarah Thornton acredita que fenômenos assim não podem ser criados, como acontece na indústria musical – que rotineiramente cria “boy bands”. “Você pode mentir uma ou duas vezes, mas você não pode convencer uma multidão por muito tempo”, diz Sarah. Ainda que sejam muitos os atores no processo, apenas um é determinante e real, tanto do ponto de vista mercadológico quanto crítico: o tempo.

publicado no velho b®ogspot em 12/3/2012

Peguei lá no site do Valor.

Curador-chefe da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Ivo Mesquita é um dos nomes centrais no processo de internacionalização da arte brasileira. Ao lado de curadores como Paulo Herkenhoff e Adriano Pedrosa, Mesquita faz parte de um grupo que respondeu à demanda estrangeira por profissionais latino-americanos no boom desse segmento, no começo da década de 1990 – durante 11 anos, ele foi professor do Bard College (Nova York), no programa de formação de curadores. Acompanhando nomes hoje inseridos mundialmente, como Beatriz Milhazes e Iran do Espírito Santo, Mesquita passou por algumas das principais instituições de arte no Brasil, como a Bienal de SP, onde foi curador da 28ª edição, e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde trabalhou como diretor-artístico. A experiência lhe permite ver, dentro do contexto, a arte brasileira contemporânea.
Valor: Em leilões internacionais de arte latino-americana não é mais raridade ver obras de artistas brasileiros vivos chegarem a US$ 1 milhão. Até 2008, quando Beatriz Milhazes atingiu essa marca, no entanto, isso era impensável. Quais fatores permitiram esse cenário?
Ivo Mesquita: A arte brasileira entrou no mercado internacional com a globalização, mas sob a rubrica “latino-americana”. Os estudos culturais, os textos dos catálogos de exposições dessa época, virada dos 1980 para os 1990, têm muito disso. Os brasileiros ficavam cabreiros, houve resistências a esse discurso que os levou para lá. Aqui, não é algo claro, não nos damos conta de que somos latino-americanos. O Ernesto Neto, por exemplo. O que chamava a atenção deles eram os cheiros, a sensualidade do Brasil, aquelas coisas fálicas enormes. Com a Beatriz Milhazes e a Leda Catunda, eram as cores; com o Vik Muniz, o tom irônico. Essa arte ganha legitimidade culturalista, que é o tom dos anos 1990. É o Brasil brasileiro, inescapável. Os pesquisadores estrangeiros relacionaram essa geração com os artistas dos anos 1960 e 1970, Hélio Oiticica e Lygia Clark, e descobrem nomes consistentes. Reparam que há articulações com arquitetura, teatro, cinema e música, e então entende-se que havia algo cosmopolita.
Valor: Mas de onde veio o interesse estrangeiro por essa cultura “latino-americana”?
Mesquita: Havia uma demanda. Os EUA sempre querem explicar, colocar todos numa caixinha: “Você é o branco do olho puxado”, “Você é o negro do cabelo vermelho” etc., e nós sempre fomos os latino-americanos. Quando você fala “african american”, você diz que ele é meio americano. Haveria, então, um “only american”. Então tem essas gradações. O politicamente correto ensinou a eles que não dava para ficar escutando só o que os professores americanos falavam. É questão de geopolítica, política cultural. Naquela época, nem se cogitava fazer exposição só com brasileiros. Pareceria extremamente provinciano e politicamente incorreto.
Valor: Em que momento os brasileiros começaram a ganhar individualidade dentro desse “pacote” latino-americano?
Mesquita: Os EUA continuam tratando o Brasil junto com o México, a Colômbia etc. Mas, do ponto de vista das feiras e do colecionismo, os departamentos de arte latino-americana de museus como MoMa e Tate estão comprando mais arte brasileira. Se você olhar nos leilões, vai reparar que brasileiros atingem preços cada vez mais altos. Várias coisas juntas explicam isso. Tem o momento econômico atual do Brasil, que gera uma curiosidade enorme. Temos uma das produções mais cosmopolitas da região. Os argentinos estão juntos com a gente nisso.
Valor: A produção brasileira tem, então, um traço estético específico?
Mesquita: Nossa origem segue o modelo da Academia Imperial de Belas Artes, que é francesa. Toda a representação do Brasil no século XIX, feita pelos artistas brasileiros, é uma representação idílica, de tradição europeia. O modernismo brasileiro fala de forjar nossa identidade. O tema é nacional, mas a linguagem não é. Quando chegam os anos 1950, há uma predisposição do Brasil em entrar no processo de desenvolvimento e internacionalização. Nesse contexto se dá o surgimento de organizações como o MASP, o MAM, a Bienal. É nos anos 1950 que há um salto e a arte brasileira ganha singularidade, com os concretos e neoconcretos. Tudo é riquíssimo daí para frente, com os artistas entrando em outro circuito. Hoje, existem vários polos de produção: Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Vitória, Belém. Tudo está mais descentralizado no país, o que é positivo.
Valor: Quais são os personagens de destaque nesse longo processo que desembocou na valorização dos contemporâneos?
Mesquita: A [francesa] Catherine David, pesquisadora apaixonada pelo Brasil, e Guy Brett [crítico e curador britânico que, já nos anos 1960, apoiou nomes como Hélio Oiticica] foram fundamentais. É importantíssima também a Coleção Cisneros [da venezuelana Patrícia de Cisneros, maior colecionadora de arte latino-americana], a partir dos anos 1990. As galerias brasileiras cooperaram, fizeram um bom trabalho de colocar obras em coleções importantes. Não basta vender. É necessário fazer parcerias com galerias estrangeiras, divulgar, fazer representações. No campo das galerias, esse trabalho foi inaugurado pelo Marcantônio Vilaça (1962-2000). Um terceiro elemento importante foi a Bienal de SP, com seus eternos altos e baixos. Porque a Bienal virou parada obrigatória no circuito. O boom de agora, que já existia lá atrás, tem a ver com o modo como cada país latino-americano no final dos anos 1980 resolveu seus problemas com suas ditaduras.
Valor: Existe um projeto de país no atual processo de internacionalização da arte?
Mesquita: Nos anos 1950, mais que uma articulação geral política e social no Brasil pelo seu desenvolvimento, havia um “zeitgeist” em que todos tinham um projeto de país. Chateaubriand e Ciccillo Matarazzo podiam ter seus defeitos, mas acreditavam que se existissem museus, arte, teatro, música, cinema etc., o país ficaria melhor. Hoje, a despeito de trabalhos maravilhosos pelo Brasil afora na área da educação e formação profissional, o circuito de artes plásticas está muito marcado pelo business, pelo marketing, pelas agendas, números e metas, muito “Eu, eu, eu”. Não tem essa coisa de um projeto nacional, de consolidação do país.
Valor: Podemos falar que os resultados foram reflexo direto de iniciativas pontuais?
Mesquita: Esse processo veio de uma demanda exterior, pois está associada à crescente presença de uma população de origem latino-americana na Europa e nos EUA. As primeiras grandes conferências sobre essa arte tentavam organizar a história, as referências e a produção artística do continente para constituir programas universitários, de exposições, de pesquisas que consolidassem essa categoria. Daí o crescente número de exposições e intercâmbio cultural a partir da segunda metade dos anos 1980, que levaram uma grande quantidade de arte latino-americana para o hemisfério norte. Quase todos esses projetos buscaram recursos e apoio para a participação de artistas, obras, curadores ou pesquisadores brasileiros, mas, quando recebiam algum, era algo tímido do Itamaraty, por exemplo. Nunca houve política cultural para as artes visuais, preocupada com a divulgação da arte brasileira no exterior. O Ministério da Cultura só mais recentemente começou a se ocupar do tema, ou melhor, a falar sobre metas, programas etc. Até aqui, a política tem sido local e parece não se dar conta do caráter cosmopolita da produção brasileira. E agora tem a APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio.
Valor: A engrenagem que movimenta o sistema de arte no Brasil ainda precisa passar por aperfeiçoamentos?
Mesquita: Ainda é muito pequena a circulação de artistas estrangeiros nas galerias brasileiras. É preciso comprar do estrangeiro. O comércio internacional é isso, troca, e não apenas participar das feiras de arte, vendendo seus produtos. Antes do apoio dos ministérios da Cultura e de Relações Exteriores, as galerias deveriam ser parte da agenda do ministério da Indústria e Comércio e ter uma regulamentação própria. Hoje é quase impossível, por conta de taxas e custos, importar uma obra de arte. As galerias se completariam como mediadores na circulação da produção artística contemporânea, responsáveis pelo que entra e sai no país. Neste sentido é que falo que não existe infraestrutura consolidada por aqui. E seguramente isto faria diferença, já que as coleções no Brasil tendem a ser muito parecidas, todas têm mais ou menos os mesmos artistas. É um problema de oferta.
Valor: A alta demanda por obras de artistas vivos já afeta a qualidade artística da produção?
Mesquita: Faz parte da profissionalização dos artistas perceber os jogos do mercado. Imagine um artista que, coitado, passou a vida inteira fazendo seu trabalho e, de repente, passa por um boom. Ele tem contas a pagar, família para cuidar. Os artistas hoje são mais cautelosos, percebem que é preciso controlar a sua visibilidade. O excesso pode ser fatal. Já vimos acontecer isso. (BYS)

 

publicado no velho b®ogspot em 12/3/2012

Deu no New York Times, no perfilzão de sábado passado:
THE SATURDAY PROFILE

A Keeper of a Vast Garden of Art in the Hills of Brazil

By 
Published: March 9, 2012
NO wonder they call Bernardo Paz the “Emperor of Inhotim.”
About 1,000 employees, including curators, botanists and concrete pourers, swarm around Inhotim, his contemporary-art complex in the hills of southeast Brazil. Globetrotting art pilgrims absorb stunning works like Doug Aitken’s “Sonic Pavilion,” which uses high-sensitivity microphones placed in a 633-foot hole to deliver the bass murmur of Earth’s inner depths.
A whiff of megalomania seems to emanate from Inhotim’s eucalyptus forests, where Mr. Paz has perched more than 500 works by foreign and Brazilian artists. His botanicalgarden contains more than 1,400 species of palm trees. He glows when speaking of Inhotim’s rare and otherworldly plants, like the titun arum from Sumatra, called the “corpse flower” because of its hideous stench.
Mr. Paz, a lanky, chain-smoking, 61-year-old mining magnate, speaks in barely audible whispers. He married his sixth wife in October. He has white hair down to his shoulders and pale blue eyes, giving him an appearance reminiscent of the gaunt, debauched Brazilian rancher played by Klaus Kinski in Werner Herzog’s 1987 film, “Cobra Verde.”
“This is a project to last 1,000 years,” Mr. Paz said of Inhotim during a rare interview, a Dunhill cigarette dangling from his lips.
It is hard to say what people might make of Inhotim (pronounced in-yo-TCHEEM) centuries from now. Some masterpieces from Brazil’s booms still survive as testament to past extravagance, like the celebrated opera house built at the height of the rubber boom at the end of the 19th century in Manaus, the largest city in the Amazon.
Elsewhere in Latin America, majestic private contemporary-art collections have also been made accessible to the public, like Eugenio López’s Colección Jumex in Mexico City. And much farther afield, in an archipelago in Japan’s Seto Inland Sea, the Benesse Art Sitesimilarly blends cutting-edge architecture with contemporary art.
But none of these places have the hot-climate exuberance of Inhotim, situated in mining-scarred hills far from Brazil’s collecting scenes in São Paulo and Rio de Janeiro. Art historians and curators often come away marveling at the sheer scale and chaotic vision that Mr. Paz has created at Inhotim.
“The amount of space given to single artist projects is unparalleled, as is the way visitors travel from building to building, refreshing their senses, being in nature,” said Beverly Adams, an authority on Latin American art who curates the private Diane and Bruce Halle Collection in Scottsdale, Ariz.
Overwhelming the cognoscenti still seems to thrill Mr. Paz, a high school dropout whose first work experience involved pumping gas at filling stations owned by his father. He went on to work at Belo Horizonte’s stock exchange, which he said he loathed, before going into mining for iron ore and cobbling together a privately held business empire that finances Inhotim’s operations.
Some works in Inhotim seem to question, if not actually insult, the concept of profiting from mining the Earth’s treasures.
For instance, an installation by the American artist Matthew Barney within geodesic domes includes a scene of unmistakable environmental violation: a huge mud-caked tractor clutching a tree and its roots. To arrive at this creation, visitors trek through mineral-bearing hills, largely cleared, of Mata Atlântica, the forest that once covered the region.
Inhotim received nearly 250,000 visitors in 2011, and it expects well more this year. But Mr. Paz, who says his companies provide Inhotim with about $60 million to $70 million for operations each year, sees no need to stop there.
In order to make Inhotim self-sustaining, he said he was planning to build no fewer than 10 new hotels here for visitors, an amphitheater for 15,000 people, even a complex of “lofts” for those who want to live amid the collection. He said Inhotim, which sprawls over nearly 5,000 acres, has room for at least 2,000 more works of art.
Inhotim’s growth over the past decade has provided a jolt to the surrounding economy, with many of the adult residents of villages nearby employed as laborers by Inhotim, making them dependent on Mr. Paz’s vision of assembling a “Disneyland” for contemporary art in the state of Minas Gerais.
“Before Inhotim, our men worked in the mines or moved to São Paulo to make money,” said Profira de Souza, 74, a resident of the village of Marinhos whose son and grandson work at Inhotim. “God lowered Bernardo Paz down to us, and I pray he doesn’t take him back too soon.”
Still, Mr. Paz insisted he was no emperor. He called himself an “isolated person” who lacks real friends, opting to live amid hundreds of artworks, including a pavilion he built for one of his ex-wives, the Brazilian artist Adriana Varejão.
Seated in one of Inhotim’s restaurants one sweltering day in February, he proceeded to quickly consume three vodka cocktails, murmuring about the machinations of bankers and the global financial crisis as he puffed on his Dunhills.
“Don’t turn that on,” he said, pointing at a digital recorder on the table.
A day later, in an air-conditioned building that incorporated “Narcissus Garden,” a work by the Japanese artist Yayoi Kusama, into its design, he seemed to revel in disparaging some other titans of business in Brazil, calling them “imbeciles” and contending that poor visitors to Inhotim were often better able to absorb the complex’s importance. He also reserved some special disdain for Brazil’s richest man, Eike Batista.
“Suddenly, he appears with billions and billions, saying he’s going to be the world’s richest man,” he said of Mr. Batista, a mining entrepreneur who gets largely glowing treatment in the news media here as an idol for Brazil’s growing number of millionaires. “He broke every company he had until he was 50 years old.”
Mr. Paz also waved off claims in Brazilian newspapers that Inhotim’s expansion was partly due to money laundering, calling such accusations a “mountain of nonsense and lies.”
“Clearly, no one is totally transparent,” he acknowledged. Still, he asserted, “The newspapers never proved anything.”
For now, he seems more concerned with luring the masses to Inhotim to see works like “Restore Now,” a mammoth send-up of academic norms by the Swiss artist Thomas Hirschhorn, in which texts by French philosophers like Jacques Derrida and Gilles Deleuze (yes, the ones many people pretended to read in college) are interspersed with images of mutilated bodies.
Asked about specific works, Mr. Paz deftly shifts the conversation to other topics. He smiled when speaking of his new wife, Arystela Rosa, 31, pregnant with his seventh child. Other things at Inhotim draw his interest, like the towering tamboril trees or the traíra, a carnivorous fish in the ponds here that can draw blood from visitors foolish enough to dip their fingers in the water.
“There are works of art here which I haven’t entered yet, which everyone told me were spectacular, but why should I go in there?” Mr. Paz said. “I don’t consider myself passionate for art. But gardens, that’s what I like.”
Lis Horta Moriconi contributed reporting.
An earlier version of this article misstated the name of the private collection in Scottsdale, Ariz. The collection is the Diane and Bruce Halle Collection, not the Diane and Bruce Halley Collection.
A version of this article appeared in print on March 10, 2012, on page A7 of the New York edition with the headline: A Keeper of a Vast Garden of Art in the Hills of Brazil.

 

publicado no velho b®ogspot em 12/3/2012

A CASA DO SABER RIO e a Casa da Palavra convidam para o debate e lançamento do livro Italo Campofiorito: olhares sobre o moderno – Arquitetura, patrimônio e cidade, primeiro volume da coleção Modernismo + 90, coordenada por Eduardo Jardim. O lançamento será precedido de um bate-papo entre Italo Campofiorito, Luiz Camillo Osorio e Eduardo Jardim.

15 de março, quinta-feira, às 20 horas
Evento gratuito – vagas limitadas
Inscrições pelo telefone (21) 2227 2237

publicado no velho b®ogspot em 11/3/2012

 

O nosso genial Barrão inaugura sua primeira exposição individual nos Estados Unidos no próximo domingo. A estréia do rapaz acontece sob curadoria de Mónica Ramírez-Montagut no Aldrich Contemporary Art Museum. MASHUPS é o nome da exposição. No mesmo dia inauguram também a gaúcha Regina Silveira, Xu Bing (China), Kathryn Spence (San Francisco USA), Roy McMakin (Wyoming USA) e Jim Dingilian.

No site do museu tem mais informações sobre as exposições.

Barrão: MashupsJanuary 29 to June 10, 2012
Curator: Mónica Ramírez-MontagutThis is the US first solo exhibition of the work of Brazilian artist Barrão, who is known for his whimsical and quite bizarre ceramic clusters and mashups made from fragments of popular vitreous porcelain and clay objects. The artist scouts second-hand stores, flea markets, and dumpsters in search of materials for sculptures that subvert the original function or idea of the object in order to reveal unpredictable relationships, ranging from unexpected similarities to unseemly contradictions. The free-spirited juxtaposition of the different ceramic sources establishes new sets of relationships between the parts. Every element in the sculpture is free from its previous function and comes together with the other parts to form a new identity, one that escapes immediate commodification. With his sculptures, Barrão appropriates everyday domestic objects that were used indiscriminately and inserts them back into circulation with an ample balance of presence and mystery—and a history yet to be written.
Saiu hoje no segundo caderno a entrevista abaixo com Christo que eu peguei lá no site do Globo.

RIO – Aos 76 anos de idade e viúvo há dois, o artista americano de origem búlgara Christo Javacheff trabalha para erguer em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, aquela que, segundo diz, será “a maior e provavelmente a mais cara escultura da Terra”. “The Mastaba”, estrutura que se resume a uma pilha de barris de petróleo com 150 metros de altura e que foi idealizada em 1977 com a ajuda de sua mulher, Jeanne-Claude Denat (1935-2009), está perto de sair do papel. Valores ele não cita, mas afirma já ter petrodólares suficientes (conseguidos com a venda dos desenhos do projeto). Só aguarda autorização oficial para começar. Enquanto disso, Christo obteve sinal verde do governo americano para cobrir 60 quilômetros de um rio no Colorado, com a instalação “Over the river” — outro sonho de sua mulher, engavetado desde 1985. Ao GLOBO, o artista fala de sua rotina solitária e atri$e diz que não vem ao Brasil porque aqui não compram sua arte.

O senhor idealizou “The Mastaba” em 1977 para ser “a maior escultura da Terra”. Ela sai? Como ficou o projeto?
Chisto: Estou muito, muito, muito otimista com “The Mastaba”. Está num estágio superavançado. Acabo de chegar de Abu Dhabi, onde me reuni com nossos engenheiros e com representantes do governo local para conseguir as autorizações que ainda nos faltam. Estou muito animado. Vem aí não só a maior escultura do planeta como aquela que provavelmente também será a mais cara. Serão 410 mil barris de petróleo coloridos e empilhados horizontalmente, formando uma estrutura de mais de 150 metros de altura — mais alta do que a pirâmide de Quéops (Egito).
E quantos petrodólares custará?
Alguns (risos), mas ainda não posso falar disso. O que posso dizer é que, como em nossos outros projetos, não haverá patrocínio. É dinheiro nosso, obtido com a venda de desenhos e esboços que sempre fazemos.
Mas a ideia é desmontar “The Mastaba” depois de duas ou três semanas, como foi feito com os outros projetos?
Não. Não! “The Mastaba” não será desfeito. Se Jeanne-Claude estivesse viva, diria que não há nada que dure para sempre, mas neste caso acho que vai durar sim.
O senhor toca outro projeto simultaneamente a “The Mastaba”, certo?
É o “Over the river”, que começou em 1992 e só agora obteve a autorização do governo americano. Vamos cobrir 62 quilômetros do rio Arkansas, no Colorado, com um tecido translúcido prateado. Pela primeira vez na História, o Ministério do Interior emitiu um relatório de impacto ambiental para uma obra de arte. São mais de 1.600 páginas.
Tem data para ficar pronto?
Na melhor das hipóteses, em 2014. Fica no alto das Montanhas Rochosas, e ainda precisamos da autorização de dois condados.
Eles podem não dar?
Não. Só têm que processar os papéis do ministério. “Over the river” sai de qualquer jeito.
Em 50 anos, foram 22 projetos. Deles, só existem fotos…
Isso é exatamente o que torna nossa obra única. Proporcionamos momentos pontuais que lembram, ao mundo que tudo copia, que as coisas são efêmeras. Queremos propiciar momentos singulares, e isso desperta a curiosidade de muita gente. Não haverá outro Reichstag ou outra Pont Neuf embrulhados…
Por que não há patrocínio?
Porque queremos liberdade total. Nenhuma empresa pode comprar nossas ideias, e todas as imagens de nossos projetos têm registro de patente e direito autoral. Apesar de tentarem por aí, não podem ser exploradas.

Tentam?

Sim. Processamos várias empresas pelo uso de fotos de nossas instalações. Quando alugamos um lugar, tomamos todos os cuidados para impedir que ele sirva a outros propósitos comerciais. Quando fomos ao Reichstag, alugamos tudo num raio de um quilômetro. Quando pagamos US$ 3 milhões para usar o Central Park, nenhum evento poderia acontecer lá ao mesmo tempo. O parque era nossa propriedade.
Como é ser dono do Central Park, da Pont Neuf…?
Dá muito trabalho (risos). Somos responsáveis por limpeza, segurança, retirada de neve… Por isso, 15 dias é o tempo ideal para uma instalação.
Algum projeto deu errado?
Tivemos duas mortes no “The umbrellas”. Uma sombrinha voou e matou uma mulher na Califórnia. No Japão, um dos 2.200 funcionários foi eletrocutado.
Por que tecidos? Como escolhe as cores de seus trabalhos?
Os tecidos interagem bem com o vento, são sensuais. Escolhemos as cores depois de fazer testes no local, por isso elas nunca aparecem nos esboços.
O senhor ainda fala na primeira pessoa do plural…
Os dois projetos em que trabalho hoje em dia são de Jeanne-Claude também. Tudo ao meu redor é dela também…
Desde que ficou viúvo, teve novas ideias de instalações?
Não tenho condições de pensar em mais nada. “The Mastaba” e “Over the river” sugam uma quantidade enorme de energia e dinheiro.
Nada para o Brasil?
Não. Só vou a lugares que pagam pela minha arte, quer dizer, onde consigo vender desenhos e bancar meus projetos. Já tentei levar exposições ao Brasil, mas sempre me alegaram falta $dinheiro. Aos 76 anos, não gasto nem um minuto com o que não é arte. Não tenho relação com o público de arte daí e acho que nenhum museu tem trabalhos meus.
O senhor volta ao local em que fez instalações? Como é?
Em 2007, fomos à Austrália. Do alto dos penhascos que havíamos coberto, vendo tubarões no mar, Jeanne-Claude resumiu tudo: “É, estávamos loucos.”
A exposição Travessias – arte contemporânea na Maré (q acabou ontem) saiu no BLOGUE da Alexandra Lucas Coelho lá no Público.
1. Milhares de carros avançam pela Avenida Brasil, saindo do Rio. Por cima deles, presa a uma passadeira aérea, a legenda: “Amarécomplexo”. Milhares de carros avançam pela Avenida Brasil, entrando no Rio. Por cima deles, presa a uma passadeira aérea, a legenda: “Amarésimples”.
2. A Avenida Brasil é a grande porta do Rio de Janeiro. Milhares de carros a toda a hora, muitas horas parados. De um lado e do outro, quilómetros de velhas fábricas, armazéns, baldios, favelas. A favela da Maré. O complexo de favelas da Maré.
Há não muito tempo a Baía da Guanabara vinha até aqui. Muita da terra firme do Rio é aterro. A Maré chama-se Maré porque a favela ainda apareceu à beira da água, com gente de muitas partes. Segundo o último censo, hoje são 130 mil. Uma maré plana e parda, atravessada por vias rápidas de onde não se vêem caras. Quem vem de carro olha em frente. Mas nas últimas semanas, ao olhar em frente, vê a legenda: “Amarécomplexo”, “Amarésimples”.
3. — Isso é a obra do Marcos Chaves — diz o meu anfitrião, apontando a passadeira aérea.
O carro dá a volta para sair da avenida e entrar na favela. Logo no primeiro quarteirão funciona o Centro de Artes da Maré, um armazém onde há três anos a coreógrafa Lia Rodrigues trabalha em parceria com a organização Redes e o Observatório de Favelas.
Mesmo ao lado, há uma antiga fábrica que o Observatório de Favelas decidiu comprar para um novo projecto artístico, o Bela Maré. E para a estreia, convidou três curadores a organizar uma exposição de arte contemporânea, Daniela Labra, Luísa Duarte e o meu anfitrião nesta tarde de chuva, Frederico Coelho.
4. Entre dar aulas de literatura na faculdade (de Pêro Vaz de Caminha a Luiz Ruffato), organizar livros (o último, entrevistas de Tom Jobim), fazer argumentos de cinema (“Construção”, estreado na recente Mostra de São Paulo), escrever ensaios sobre cultura marginal dos anos 60 e 70 (Hélio Oiticica e por aí fora), ser DJ da Festa Phunk (“black music” e por aí fora) e jovem pai de duas gémeas, o Fred faz tantas coisas que esta não é a primeira nem será a última vez que abrevio o nome dele numa crónica.
Veio do subúrbio para a Zona Sul, o que lhe deu um mundo que falta à Zona Sul. Está em casa em toda a parte, e isso tem tudo a ver com arte contemporânea na Maré. Fazer do fora o dentro, do dentro o fora, de qualquer lugar o centro.
5. A chapinhar na chuva de Verão, chegamos à velha fábrica. “Travessias: Arte na Maré”, diz a fachada. À entrada, vários monitores de t-shirt amarela, uns de fora, outros da favela. Desde a inauguração houve ateliers, debates, visitas de escolas, e as perguntas de quem nunca entrou num espaço assim.
— A primeira pergunta que eles fazem é: “Paga para entrar?” — conta Fred. — E isso diz tudo: “Isso aqui não pode ser de graça para a gente.”
Avançamos para o centro do armazém, pé direito de três andares.
— Quando a gente chegou, estava atulhado de máquinas, de lixo. E não há no Rio de Janeiro um espaço desse tamanho a funcionar com arte contemporânea.
A um canto, uma projecção dos Filé de Peixe, um trio que recolhe fragmentos de videoarte, monta uma banca ambulante e vende os CD’s a dois ou três reais. Arte a dar a volta à pirataria.
Ao centro, uma escultura de André Komatsu com tijolos e tábuas, evocando os materiais e a instabilidade da favela. Ao ver isto, uma moradora viu as velhas barracas da Maré assentes em palafitas, quando por baixo havia água.
Ao fundo está a memória não só da fábrica como da infância dos cariocas. Porque a fábrica que aqui existiu entre 1960 e 2000, a Italy, fazia os copos e pratos de papel estampado que todos os cariocas reconhecem de festas, confeitarias e restaurantes. A artista Rochelle Costi ainda achou todo um espólio, então fez uma parede com fotografias e uma sala com mobiles de copos e pratos.
E mesmo Fred, que tantas vezes já viu isto, ao levantar os olhos para o mobile por cima da nossa cabeça vê pela primeira vez as estampas de São Cosme Damião.
— No subúrbio é uma tradição. No dia 27 de Setembro, as famílias compram doces e distribuem entre as crianças. Um Halloween do Brasil. Na minha infância isso era obrigatório porque era o aniversário da minha avó. Ela tinha sempre uma mesa cheia de doces e convidava as crianças da rua.
Uma rua em Olaria, do outro lado da Avenida Brasil.
6. E há uma sala só com cor e som, onde as crianças da favela fazem de si próprias a projecção.
E do primeiro andar pende o jardim de cores que são centenas de garrafas de refrigerante cheias de detergente colorido, porque há um morador da favela que as recicla, enche e vende, então a dupla de artistas Eli Sudbrack/Christophe Hamaide-Pierson encomendou-lhe centenas, que vão rodando, à medida que os visitantes trazem uma vazia e levam uma cheia.
E no pátio interno Henrique Oliveira ergueu uma escultura tão extraordinária que num primeiro momento podemos ver nela um altar com uma Pietá, antes de vermos a espuma, o zinco, o gesso, a areia, restos que ele colheu pela favela e com os quais foi moldando a parede, como se a matéria viesse do próprio edifício, uma cabeça aberta, uma barriga aberta, vísceras. Ele chama-lhe um abcesso. A chuva já o modificou, e não para. David Cronenberg ia adorar.
7. Quem percorrer listas de exposições na imprensa do Rio não achará esta.
— Porque a gente não está falando de violência, de pobreza, não tem baile funk, não tem capoeira — comenta Fred, apontando a escultura no pátio. — Mas esse cara não pensou se o pessoal da Maré ia entender. Ele fez o melhor que podia.
Tal como Raul Mourão, que no armazém ao lado montou três gigantescas esculturas cinéticas, aquilo a que ele chama “balanços”, uma estrutura de ferro encaixada noutra, de forma a que uma delas balance.
Fred vai de uma para a outra, empurrando a parte que balança. Todo o armazém parece ficar em movimento.
— Obviamente que no dia da inauguração dezenas de crianças se penduraram aqui.
Mourão tem feito muitos “balanços”, mas até agora nenhum com tamanho de avião num hangar. Aqui teve espaço, e quem viu viu.
8. Ao todo, a exposição reúne 17 artistas ou colectivos. Em alguns casos, obras que foram performances, outras que estão fora daqui, na rua. O que está na rua sujeita-se a todas as apropriações. Foi o que aconteceu com a peça de Matheus Rocha Pitta, um velho ônibus, estacionado aqui em frente. Ele encheu-o com tijolos, areia, objectos inanimados.
— De noite a galera vem aqui e faz tudo — diz Fred, subindo a bordo.
Por exemplo fumar “crack”. No banco do fundo há roupa amarrotada, mochilas velhas, pratas, papéis de coca.
Estamos na Maré, não deixámos de estar. A cem metros daqui há uma “boca de fumo” a vender droga, e mais adiante tráfico armado. A Maré é a próxima na programação da polícia carioca. O próprio BOPE, que é a tropa de elite, vai instalar-se cá.
9. Para voltar à cidade, atravessamos a passadeira aérea por cima da Avenida Brasil. A legenda continua ali para todos, acima do trânsito entre fora e dentro: “Amarécomplexo”, “Amarésimples”. Nada é nunca uma coisa só.

 

Nesta quinta-feira, dia 8 de dezembro, às 19h, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, e no dia 17 de dezembro, às 11h, na Livraria da Vila, na Alameda Lorena, em São Paulo, será lançado o livro “Carlos Vergara – Pintura” (Automatica Edições). Organizado pelo crítico de arte Paulo Sergio Duarte, o livro cobre 50 anos do trabalho de pintura de Carlos Vergara e comemora os 70 anos do artista. No dia do lançamento no Rio de Janeiro, haverá uma mesa-redonda com a participação de Carlos Vergara, Luis Camillo Osório e Paulo Sergio Duarte. No lançamento em São Paulo, estarão presentes o artista e Paulo Sérgio Duarte.

Paulo Sergio Duarte recolheu textos com diferentes abordagens para a pintura de Vergara publicados em catálogos e livros assinados por críticos como Luiz Camillo Osorio, Ronaldo Brito, Rodrigo Naves, Reynaldo Roels Jr., Alberto Tassinari, Paulo Venancio Filho e Gloria Ferreira, além dele próprio e do artista Helio Oiticica. O livro conterá ainda uma conversa realizada entre Carlos Vergara, Paulo Sergio Duarte, Paulo Venancio Filho, Ronaldo Brito e Tunga, publicada no catálogo da exposição do artista no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 1991. “Carlos Vergara – Pinturas” terá 246 páginas, formato 24cm x 26cm com capa dura, texto bilíngüe (português/inglês), e uma tiragem de três mil exemplares.

O sábado lá na Bela Maré será assim:

17H-19H
Mesa com a participação dos artistas: Lucia Koch, Raul Mourão e Marcelo Cidade
Mediação: Frederico Coelho
20H
Show com Chelpa Ferro

(peguei lá na programação do site do Travessias)

Abaixo algumas fotos que Quito fez na terça passada, quando estivemos lá com Beto para arremates nas Setas de Rua e documentação das 3 esculturas na luz da manhã.