Post do Fabiano Moreira lá da Agemda GEMA.
 

Americano de nascimento, Arto Lindsay, 56 anos, foi criado no Brasil, na época da Tropicália, e acabou, depois, produzindo alguns grandes discos da MPB, como Circuladô, de Caetano, Mais, de Marisa Monte, O sorriso do gato de Alice, a quase retomada da Gal, e até Carlinhos Brown. Compositor, produtor, guitarrista, vocalista e parceiro de David Byrne, ele apresenta o show I’ll bring the thunder, quinta, em edição do Multiplicidade, no Oi Futuro Flamengo, que começa às 19h.
O show foi apresentado pela primeira em Paris, em 2005, e mostra um software, criado em parceria com Peter Zuspan, que permite o controle das caixas de retorno, colocadas, em fila, entre o público, como um espelho sonoro. Considerado um dos 50 músicos mais importantes de Nova Iorque, pela Time Out, Lindsay fez das misturas de ritmos e fronteiras uma marca.

esse texto aí embaixo o Romulo colocou lá na contracapa do extraordinário cd duplo novo…

No Chão Sem O Chão nasceu de uma crise com os músicos que me acompanhavam e, de certa forma, com as canções que vinha fazendo, além do desejo de desfazer a imagem de sambista que havia grudado em mim. Iniciei a gravação desse meu terceiro trabalho registrando ao vivo todas as faixas do disco 1a Sessão – Cala Boca Já Morreu em apenas uma semana. Sob o impacto de uma nova banda, de inclinação mais roqueira, gravei algumas das canções surgidas de uma inspiração diversa da que eles me propunham. Se as melodias, as letras e meu canto continham ainda uma certa melancolia que cerca meu trabalho, os arranjos, agora mais pesados, pareciam descolados das canções, o que me causou profundo interesse mas levou também o trabalho para longe de mim. Com suas dinâmicas e com seus longuíssimos solos instrumentais, a experiência aconteceu num terreno muito mais próximo dos músicos do que o da composição, que é o meu.
Passado algum tempo e com uma aproximação maior da banda, novas canções apareceram já sob essa nova inspiração. Se na primeira sessão a novidade tinha acontecido no som, no disco chamado 2a Sessão – Saiba Ficar Quieto, ela aconteceu de forma mais decisiva na composição, levando as melodias e especialmente as letras a caminhos muito diferentes dos que eu já havia percorrido. Mesmo com suas exceções, podemos dizer que a primeira sessão contém um núcleo de canções mais nervosas, mais duras; enquanto a segunda é mais solta e retoma a composição a partir desse novo caminho.
Difícil dizer de qual disco gosto mais, mas sei exatamente das canções que mais me agradam e daria pra tê-las compiladas em um único disco. A decisão de lançá-las, todas, mais do que revelar um amadorismo e talvez até um certo anacronismo, aumentado por este texto de contracapa, antes escancara o que é pra mim um modo rico de composição, que vem do meu contato permanente com a criação e da minha facilidade de fazer canções, compartilhada com meus parceiros de sempre, Clima e Nuno Ramos. No Chão Sem O Chão traz ainda minha admiração pelo samba, mas acredito que avança minha reflexão sobre a canção brasileira e minha busca de novos caminhos pra ela; cabe a quem ouvi-lo avaliar seu sucesso nessa empreitada. O que sei é que finalmente me realizo por inteiro com um disco e penso que achei a resposta para a recorrente pergunta “que tipo de música você faz?”. Está aqui. Essa aqui.

O grupo carioca Chelpa Ferro, que explora a plasticidade do som em esculturas, objetos, instalações e performances, é o tema do sexto documentário da série Videobrasil Coleção de Autores, com direção de Carlos Nader e realização da Associação Cultural Videobrasil e do SESC São Paulo.

O novo VCA será lançado no dia 26 de novembro, às 20h, no SESC Avenida Paulista, que exibe o filme e expõe a instalação Acusma, inédita em São Paulo, até 31 de janeiro de 2010. Além de Acusma, composta por vasos de cerâmica que “entornam” vozes, o 4º andar da unidade abriga um auditório onde o documentário será exibido a cada hora e três plasmas onde será possível ver os extras do DVD, que chega às lojas em dezembro.

Colecionadores MAM oferece ao público a oportunidade de iniciar ou incrementar sua coleção com obras de alguns dos mais importantes artistas brasileiros e a curadoria do Museu de Arte Moderna. Esta edição conta com a participação de Paula Trope, Luiz Alphonsus, Vicente de Mello, Ivan Cardoso e José Bechara (de cima para baixo).

O valor da adesão para esta edição é de R$2.500,00. O pagamento pode ser feito à vista com 10% de desconto (R$2.250,00) ou em até oito parcelas de R$ 312,50.

Hoje, às 19 horas, a curadora e jornalista Nessia Leonzini lança o livro Manhattan – Arte contemporânea e algo a mais e abre a mostra Coleções 9 na galeria Luisa Strina.

Sobre o livro

Nessia Leonzini apresenta os melhores roteiros artísticos de Nova York no guia Manhattan – Arte contemporânea e algo a mais

Apoiada em sua ampla experiência, Nessia Leonzini desperta a curiosidade do leitor que viaja a Nova York para atividades ligadas ao mundo das artes plásticas. Em um texto pessoal e bem-humorado, ela sugere inúmeras possibilidades de roteiros e de como aproveitar a extensa programação artística da cidade.

O guia divide-se em capítulos temáticos – arquitetura, museus, galerias, livrarias, feiras, múltiplos, leilões e obras públicas presentes nas ruas, praças e estações de metrô de Manhattan – e inclui passeios curtos fora da cidade, apresentando museus e centros culturais que podem ser visitados em um dia.

Embora o foco do livro seja a arte contemporânea, ele traz também, como diz o título, “algo a mais”: em muitos momentos, oferece comentários sobre obras do passado que não podem deixar de ser vistas. A tudo isso, somam-se o olhar crítico, informações, curiosidades e, serviços que só quem vive em Manhattan há muito tempo conhece. Entre elas, estão as indicações de restaurantes e cafés, os comentários sobre as lojinhas dos museus e uma lista de sites, blogs e publicações que atualizam o leitor sobre a agenda artística da cidade.

“Espero que este livro amplie interesses ou desperte novas paixões. A arte mantém o espírito aguçado e a atenção voltada para o que se passa ao nosso redor. É uma ótima companhia durante toda a vida – mas precisa ser curtida apropriadamente, sem pressa. Por isso, fica a sugestão: reserve tempo para ela.”

Lançamento
Data: 24 de novembro de 2009
Horário: a partir das 19h
Local: Galeria Luisa Strina
Rua Oscar Freire, 502 – tel.: (11) 3088-2471

O Gomo, integrado pelos artistas Adeildo Roriz, Flávio Villanova e Horácio Dutra, reúne-se em seu espaço, na Lapa/RJ, com outros artistas atuantes da cena carioca, na mostra IN GOMO. Reunir artistas que atuam e fomentam arte, em diversos formatos e linguagens visuais, é o mote desta coletiva. Participam da mostra: Adeildo Roriz, Coletivo Pague Leve, Fabio Birita, Flávio Villanova , Horácio Dutra, Julio Castro,  Leonardo Monteiro, Nadam Guerra, Pedro França, Pedro Bittencourt, Natali Tubenchlak, Raul Mourão, Taís Monteiro e Tahian Bhering.

O Grupo Gomo foi criado há quatro anos e tem se firmado com o propósito de gerar experimentações artísticas em diferentes possibilidades poético-visuais. Como isto são geradas obras em diversas vertentes, refletindo a característica de formação variada de seus integrantes. O Grupo, que busca não se prender a um formato específico, promove encontros e eventos de arte, buscando a parceria, troca de informações e pesquisas com outros artistas, coletivos e pensadores.

INGOMO
05 de dezembro de 2009
A partir de 16h
Joaquim Silva, 71/101 Lapa – RJ
www.gomo.art.br

no site do Globo.

NOVA YORK – No leilão de arte latino-americana promovido pela Sotheby’s na noite desta quarta-feira, o quadro construtivista “Relief”, do artista plástico brasileiro Sergio Camargo, foi arrematado por US$ 1.594.500 (mais de R$ 2,75 milhões). O valor estimado da obra de 1964 era de US$ 350 mil a U$ 450 mil.
Outro destaque da venda pública, uma rara pintura cubista do mexicano Diego Rivera alcançou o valor de US$ 821.500 (cerca de R$ 1.417.087). “El picador”, quadro do colombiano Fernando Boteco de 1984, foi leiloado por US$ 752.500 (aproximadamente R$ 1.298.062).
O recorde da sessão foi de “Endless Nudes”, de Roberto Matta. A pintura surrealista de 1941 chegou aos US$ 2,5 milhões e foi arrematada por um colecionador particular americano.
Na primeira parte do leilão, realizado em dois dias, a Sotheby’s vendeu 50 dos 58 lotes oferecidos e faturou mais de US$ 14 milhões. “Esta foi nossa terceira melhor venda de arte latino-americana na última década”, disse Augusto Uribe, representante da famosa casa de leilões.

Deu no site do NYT no último dia 12 essa matéria aí embaixo do HOLLAND COTTER.

Whenever you stand back for a panoramic look at the contemporary art world — that confection of bucks, puff and street smarts — you realize afresh that Andy Warhol was the daddy of it all. And that was confirmed yet again at Sotheby’s on Wednesday night, when his 1962 silk-screen painting “200 One Dollar Bills” sold for $43.7 million (including Sotheby’s fees).

Sotheby’s – “200 One Dollar Bills” by Andy Warhol fetched $43.76 million on Wednesday.

The year Warhol made this work was a big one for him: he decided to stop being a commercial artist and start being an art-artist. Through the 1950s he had built a successful New York career in advertising, with a specialty in illustrating women’s shoes. He was thoroughly tuned in to what made the postwar American new-wealth appetite tick. And — this was crucial — he had absolutely no qualms about feeding that appetite, because it was his appetite too. He loved glamour, money and brand-name whatever as much as the next guy. In many ways he was the next guy, only with a bleach job and a fabulous eye.

By the early 1960s he was the next guy in line to shape American art, or he wanted desperately to be. The big question was: how? how? how? He tried painting images from popular comic strips, but on learning that Roy Lichtenstein was already doing that, he stopped. He pestered friends for ideas. One, the curator Henry Geldzahler, advised him to paint everyday, blah, buyable items, things that ordinary people want. Really? Like what kind of things?

“You should paint pictures of money,” said another friend, the art dealer Muriel Latow. So he did, along with Coke bottles and soup cans.

He didn’t exactly paint, though. Around the same time that he found his new subjects, he also found a new medium, or at least one new to him: silk-screen printing, basically a commercial technique by which a single stenciled or stamped image could be reproduced many times. And hand-painted differently each time. “200 One Dollar Bills” is an early example. There would be many, many more.
Is the image, a solid wall of greenbacks, beautiful? Warhol completely changed our idea of beauty, so, yes, it is. He was also one of the first modern artists to realize, or rather to say out loud, that money itself is beautiful, is art, which has helped create the reality that, aesthetically speaking, it is as often as not the price tag, not what it’s attached to, that generates value.

Basically, for $43.7 million the new owner of “200 One Dollar Bills” — who was not identified by Sotheby’s — got a funny old print on canvas tarted up with some paint which he (let’s assume the buyer was a he) succeeded in making superfamous and valuable by paying so much for it. Wow. That’s talent. And as for Warhol, did he already suspect in 1962 that in making art he would essentially be printing money for years to come? He was such a cultural clairvoyant. You know he knew.

Texto do RUY CASTRO também na Ilustrada de sábado.

Assim que botei no bolso meu primeiro salário em jornal, tomei um táxi na avenida Gomes Freire, na Lapa, fui direto à Modern Sound, em Copacabana, e comprei um LP importado do pianista e cantor de jazz Fats Waller, que tenho até hoje. Isso foi em 1967, e a Modern Sound também estava no começo.

Desde então, nesses 42 anos, calculo ter deixado lá o valor de um ou dois apartamentos, em milhares de LPs, CDs, videolasers e DVDs – e não me arrependo de nenhum deles. Acompanhei a luta de Pedro Passos por todos esses anos, adaptando-se a cada novo formato que a indústria inventava para vender música, até fazer da Modern Sound, em minha opinião, a melhor loja de discos do mundo no seu tamanho – um meio-termo entre uma gigamega e uma loja de esquina.

E olhe que conheci a Tower, a Virgin e a HMV de vários países e, antes dessas, a Sam Goody’s, a Colony, a RKO e outras grandes lojas de Nova York.

A Modern Sound era, de longe, a melhor: tinha quase todos os discos de jazz, cantores, Broadway, cinema, rock e clássicos que as outras tinham, e mais a música popular brasileira completa (que elas não tinham) e a música de qualquer país do mundo -Islândia, Venezuela, África do Sul-, mesmo que fosse apenas na forma de um único LP ou CD.

O Rio e todos nós lhe devemos muito da nossa formação musical. Por causa da Modern Sound, não precisávamos viajar para comprar discos.

Pedro não gosta só de música, gosta também de disco, e conhece tudo. Nunca trabalhou com outra coisa e é amigo de todos os músicos do Rio desde os anos 50. Seu filho Pedro Otavio herdou essa cultura e acrescentou sua capacidade para produzir shows no bistrô Allegro, criado há alguns anos no local. Algumas das noites mais inesquecíveis que passei nos últimos dez anos foram ali, ouvindo os cobras do samba-jazz que passaram e passam por lá.

Mas veio a crise e, quando todas as megastores internacionais já ameaçavam fechar as portas, no começo do século 21, Pedro ainda estava se atrevendo a expandir a loja, aumentando o estoque e fazendo grandes planos. Se passara por todas as crises e continuara invicto, por que não superaria mais esta?

Nunca deixei de frequentar a Modern Sound e até hoje procuro ir lá toda semana. Conheço seus funcionários um a um, dos vendedores de discos aos garçons e os frequentadores – é mais que um clube, é a minha casa. E gosto de levar gente de fora para visitá-la.

Um dos últimos foi o jornalista espanhol Carlos Galilea, do “El País”. Acabado o show no bistrô, o contrabaixista Bebeto Castilho sentou-se à nossa mesa e começou a contar histórias. Galilea mal acreditava que estava diante do lendário músico do Tamba Trio, que toca ali toda quarta-feira. É o único lugar do mundo onde se pode ouvir música fabulosa pelo preço de uma Coca-Cola.

Como pode morrer um lugar assim?

Em Copacabana há mais de 40 anos, Modern Sound perdeu 40% do faturamento

Proprietário planeja transformar parte do lugar em uma casa de shows; loja teve clientes como Paulo Francis e Fernando Sabino

Matéria do CAIO BARRETTO BRISO na Ilustrada de sábado.

Com modestos 60 m2 quando inaugurada em 1966 pelo baiano Pedro Passos, a Modern Sound se tornou a maior loja de música do Rio, tendo hoje 1.300 m2 em Copacabana (r. Barata Ribeiro, 502) e um acervo de 80 mil CDs, 30 mil LPs e 4.000 DVDs. E uma dívida de R$ 3,3 milhões.

Desde 2006, o faturamento caiu 40%. Reflexo dos tempos de internet, o endividamento levou Passos a um pedido de recuperação judicial, já autorizado. Se os credores concordarem, o pagamento será em 30 vezes, após um ano de carência.

“O Rio morreria um pouco sem a Modern Sound, clube onde os amantes da música se encontram, loja especializada na música do mundo todo. Perdê-la seria um fim de linha para a cidade”, diz a atriz Fernanda Montenegro, uma das muitas fãs da casa, que teve entre seus clientes o jornalista Paulo Francis (“Um amante de Wagner”, diz Passos) e o escritor Fernando Sabino (“Comprava todos os lançamentos de jazz”).

“Sempre buscamos um diferencial, como importar discos raros. Hoje isso não basta. Tudo está na internet”, diz Passos, 70. Ele quer transformar a parte da loja adquirida em 1999 (800 m2) em uma casa de shows para 500 pessoas. Segundo ele, já há duas grandes empresas interessadas em apoiar o projeto. “Também pensamos em vender 50% do capital da loja. Estamos buscando parceiros.”

Lá no Geleia Moderna do Dj Jorge Luiz da pra ouvir o playlist abaixo.
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No programa desta semana Jorge Luiz recebeu o grupo Ava. Ava Rocha, Nana Love, Emiliano 7 e Daniel Castanheira contaram detalhes sobre o processo de criação, lançamento do primeiro disco e ainda apresentaram algumas canções ao vivo.

– Space Bossa – O astronauta e a lua
– Cougar – Tundersnow
– Ava – O futuro
– Prefab Sprout – Ride
– Pale Sunday – Shooting star
– Ava – Filha da ira
– The Mother Hips – Third floor story
– Nairobi – Agave dub
– Ava – Acorda amor
– Julian Casablancas – Out of the blue
– Two Door Cinema Club – Undercover Martin
– Ava – Infinito azul
– Weezer – (If You’re Wondering If I Want You To) I Want You To
– The XX – Shelter
– Ava – Mica micron
– Theoretical Girl – Rivals
– Little Red – Coca Cola
– Ava – Movimento dos barcos
– Ava – Ela é o samba

Saiu na Ilustrada de hoje a matéria do SILAS MARTÍ abaixo, a foto eu peguei lá no site do Vergara.

Zero Zero, 2001 | Monotipia e vinil s/ lona crua | 146 x 144cm | Coleção particular, Rio de Janeiro

Carlos Vergara não gosta de estilo nem de entregar composições prontas para consumo. Sua retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio dá a dimensão fragmentária dessa obra. São paisagens quebradiças, gravuras que se completam nos poros do papel fotográfico. “Estilo é uma armadilha mais do que tudo”, diz Vergara, 67.
“Meu trabalho tem uma espinha dorsal, uma coerência interna, mas não um estilo, o que me deixa mudar o que quiser.” E muda. Artista que despontou nos anos 60 entre os nomes da nova figuração, a pop art engajada feita no Brasil, Vergara assumiu depois fotografia e gravura como suportes complementares, juntos no mesmo discurso poético-político.
Em “Texto em Branco”, um dos primeiros livros de artista produzidos em massa no país, Vergara deixava quase toda a página vazia, para que o público completasse suas formas. No canto de cada folha, mandou imprimir uma marca vermelha -a gota de sangue como símbolo daqueles anos de chumbo.
No espírito da época, que via surgir a estética relacional de Lygia Clark e Hélio Oiticica, Vergara também buscava na participação do público um desfecho para suas proposições. Cada exemplar do livro teria um destino diferente, embora sejam as originais, em branco, as folhas nesta mostra.
Do mesmo jeito que seus negativos atacados por fungos foram ampliados com os sinais coloridos da deterioração. Grãos estourados demais serviram de matriz para suas gravuras, uma geometria construída de sinais e marcas do tempo. “A ação do tempo é incorporada”, diz Vergara. “O acaso é um dos grandes assistentes do artista. Se ele não está aberto a esse tipo de coisa, tem uma operação muito restrita.”

Cacique de Ramos
Sem restrições, a grade que separa o público dos passistas no Carnaval orienta a composição dos flagrantes fotográficos da festa e depois ressurge como traço definidor dos campos cromáticos em suas gravuras.
Nos anos 70, Vergara estudou o Carnaval como se fosse performance. No meio da festa, que ele chama de ritual, descobriu o bloco Cacique de Ramos, em que todos os integrantes se vestiam da mesma maneira. “A fantasia era recortada sobre o corpo, um pedaço de plástico e vinil cortado sobre a pele”, lembra. “Body art é o caralho, body art é o Carnaval.”
Nas fotografias da época, o protesto político aparece aliado à agitação feérica dos blocos. Vergara acentua a harmonia possível desse descompasso montando imagens díspares lado a lado, como se fossem peça única. “Me interessou mais truncar a leitura”, explica. “É obrigar uma procura de nexo, mesmo que o nexo não exista.”

Blind Date era o nome do show e realmente quem estava lá vivenciou um encontro às escuras. O apagão aconteceu aos 20 e tantos minutos do show. Rolou então um improviso do Naná e ao fim os músicos levaram o público para a rua ao som de Cidade Maravilhosa…

Desde a época em que apresentava o Aleatório, misto de podcast e programa de rádio, na Multishow FM, que o El Mató a un Policia Motorizado me chama atenção. Lógico, primeiro pelo nome. Depois pelo som. Com pouco tempo essa ordem se inverte e a oração que batiza o quarteto começa a soar bastante natural aos ouvidos e se abrevia para “El Mató”.

Em abril, quando estive na Argentina, perdi por pouco um show dos caras, mas encontrei uma bela matéria sobre o vocalista Santiago Barrionuevo na Rolling Stone de lá. Um espaço generoso que não se vê muito sendo dado a bandas de tamanho parecido aqui no Brasil. Achei o camarada curioso, gordinho, carismático. Vindos de La Plata, eles têm ainda mais dificuldades do que as bandas brasileiras de fora do eixo, até porque se aqui ainda há um eixo (que é cada vez maior), lá só há mesmo Buenos Aires. Ainda assim, eles estão ocupando bastante espaço no país e andando bem pela América do Sul. Aqui no Brasil, eles passaram recentemente pelos festivais Calango e Porão do Rock.
É uma banda curiosa, que não tem muitos vídeos no YouTube (nenhum oficial), tem um site ultra simplório, disponibiliza poucas coisas no Myspace, e que mesmo assim avança lenta e solidamente nesses tempos de comunicações instantâneas. Com a nova vinda deles ao Brasil para o Festival Indie Rock, troquei uma ideia com o vocalista do grupo por e-mail.

sobremusica: Poderia nos contar, resumidamente, a história do El Mató? No Brasil, há poucas informações sobre o grupo.
Santiago Barrionuevo: A banda começou em 2003. Decidimos gravar algumas canções antes de tudo, inclusive antes de sair para tocar. Nos conhecemos no segundo grau e de alguns eventos no nosso bairro. Gravamos nosso primeiro disco e fizemos as primeiras apresentações no fim daquele ano. Em 2004, lançamos o disco com o mesmo nome da banda e seguimos tocando. Depois disso, lançamos “Navidad de reserva” em 2005, “Un millón de euros” em 2006 e “Dia de los muertos” 2008.

sm: Como você disse, vocês lançaram uma trilogia de álbuns sobre o nascimento, vida e morte nesses últimos anos e foi neste período que se tornaram conhecidos na Argentina e um pouco na América do Sul. O que o grupo tem pensado para os próximos anos musical e comercialmente?
SB: Sim, a trilogia chamou muita atenção e as canções foram muito bem recebidas. Foi incrível tocar em São Paulo, em 2007, e ouvir as pessoas cantando. Nosso plano é seguir gravando discos, realizar alguns vídeos e seguir tocando por todos os lados, até o fim!!!

sm: Qual a relação do indierock argentino de hoje com os nomes mais conhecidos do pop rock do país, de outras gerações, como Fito Paez, Charly Garcia, Spinetta, Soda Stereo, Los Fabulosos Cadillacs? Vocês gostam dos artistas mais velhos? Quais te parecem as principais diferenças entre a sua geração e a deles?
SB: Quando era criança, eu gostava muito dos Cadillacs! Meus irmãos escutavam e eu herdei isso. Na adolescência descobri Spinetta e suas primeiras bandas como Almendra e Pescado Rabioso. Mas a relação entre o indie rock atual e essa geração é quase nula. Como artistas novos, que escolheram a independência, estamos em outro universo. Não nos preocupamos com os outros. Fazemos o que gostamos e, se temos uma boa relação entre nós mesmos, isso é o que é mais importante e divertido.

sm: Vocês são de La Plata. Como isso aparece no trabalho do El Mató? O que os grupos da cidade têm de diferente em relação ao resto do país?
SB: Não sei se há algo concreto que apareça, como um “som platense”. Mas, claro, as bandas de La Plata tem uma preocupação estética particular, que passa pela mistura de diferentes artes. Percebe-se isso no espírito das bandas e nas suas obras, em geral.

sm: Santiago, ao que pude ler e ver, você tem um grande talento para desenhar e é irmão de um dos maiores ilustradores argentinos. No site do El Mató, só há referências gráficas e poucas informações. Qual é a sua relação com as artes plásticas e gráficas?
SB: Sim, agora estamos fazendo uma nova página que terá mais infomações. Eu gosto muito de artes visuais. Foi a primeira coisa que experimentei quando criança, antes da música, e bem, sou responsável pela maioria dos cartazes e das capas dos discos da banda. O nosso baterista Doctora Muerte também desenha. Nós estudamos Belas Artes juntos, em uma escola cujo segundo grau era especializado em artes. Meu irmão escreve histórias e trabalha para DC Comics. Ele desenhou alguns títulos de Batman e do Super-Homem. Agora está com outros novos, mas não me lembro. Ele é realmente muito bom!

sm: Apesar dessa relação com desenhos e com as artes gráficas, o site do grupo é bem simples. E vocês são conhecidos como uma banda que não tem videoclipes nem na TV, nem sequer na internet. Li em uma entrevista sua que, para você, quem quisesse ver o El Mató precisava ir a um show. Não é uma decisão muito radical em tempos de internet e da necessidade que os músicos têm de usar ferramentas audiovisuais para se comunicar?
SB: Não, isso não é uma bandeira para a gente. Mas realmente o El Mató ao vivo é uma experiência muito boa! Tanto para nós, quanto para os meninos e meninas que vão sempre e nos fazem perceber isso. Sempre são grandes festas que acabam acontecendo. A verdade é que fazer tudo de maneira independente torna mais complicada a produção de um videoclipe e de outras coisas deste tipo. Nós queremos fazer os nossos, estar a altura, porque gostamos, temos boas ideias e não queremos deixar na mão de terceiros para ver um resultado final que não nos agrade. Queremos trabalhar nisso e muitas vez não sobra tempo. Mas em breve teremos novidades sobre isso.

sm: Que tipo de ferramentas de comunicação vocês usam para chegar aos fãs? Twitter, Facebook,blogs? Qual o jeito mais fácil para quem quiser acompanhar e saber novidades de vocês?
SB: Sim, a página é simples, mas estamos renovando! www.elmato.com.ar, lá estão nossos principais links, o fotolog (no qual se pode ver toda as artes gráficas da banda), o myspace (para escutar as músicas e saber dos shows, o facebook e o last.fm.

sm: Vocês são a banda argentina que mais tem se aproximado da nova cena musical brasileira. Já tocaram em festivais como o Calango e o Porão do Rock. Como observam a cena daqui? Gostam de algum artista brasileiro em especial (independente ou não)?
SB: A gente gosta muito da cena daí. Há muitas bandas e um espírito muito positivo. Somos fãs do Superguidis, Autoramas, Macaco Bong, Ordinaria Hit, MQN, entre outras. Além disso, o idioma é muito bonito, assim como a mistura cultural de vocês. Pra gente é genial ver a quantidade de festivais, com boas produções, dedicados à arte independente. Isso é algo que falta por aqui na Argentina.

sm: É possível comparar as cenas independentes dos dois países?
SB: Deveria conhecer mais do Brasil, mas sei que o bom daí é que não está tudo tão centralizado como acontece na Argentina, onde a grande cena está concentrada em Buenos Aires. Existem ótimas bandas por todo o país, mas não têm a repercussão de Buenos Aires ou daqueles que conseguem tocar por lá.

sm: E o Rio de Janeiro? O que vocês estão achando de tocar aqui? Já esteve na cidade alguma vez?
SB: Eu já estive aí de férias há muitos anos e me pareceu uma cidade incrível. Por isso, tocar no Rio agora é realmente como um sonho que se torna realidade. Isto é, se todos chegarmos bem aí e o avião não terminar na ilha de Lost!!!

Múltiplas batidas

Texto de Taís Toti no Jornal do Brasil online.

RIO DE JANEIRO – Naná Vasconcelos tem um encontro (às cegas) marcado na próxima terça-feira. Os batuques orgânicos do percussionista pernambucano encontram as batidas eletrônicas do sergipano DJ Dolores, em atração do festival Multiplicidade, no teatro Oi Casa Grande, com interferências visuais do artista plástico Raul Mourão e do diretor Leo Domingues. Chamada Blind Date, a parceria entre Naná Vasconcelos e DJ Dolores já havia sido testada no Recife e em São Paulo, e chega pela primeira vez ao Rio.
– O Multiplicidade tem uma relação muito grande com a tecnologia, e o Naná é o contraponto, o oposto do que a gente prega com as pesquisas em arte digital – detalha o artista visual e curador do festival Batman Zavareze. – A parceria com o DJ Dolores contribuiu para virar um projeto no formato do evento, além de estimular os improvisos musicais do Naná.
Unindo a parceria musical ao trabalho visual de Raul Mourão e Leo Rodrigues, o evento promove um encontro inédito, fato que, segundo Zavareze, está no DNA do Multiplicidade.
– Chamamos o Raul Mourão, que tem bastante afinidade com universo urbano e é ligado ao que o Naná constrói. E ganhamos uma adesão de peso com o Maneco Quinderé, convidado para fazer a luz.
O “encontro às cegas” que dá nome à parceria retrata bem o clima inesperado e de improviso que impera no show da dupla.
– É um negócio muito inusitado e inesperado esse encontro para mim. Gosto muito desse desafio – garante Naná Vasconcelos.– Não sabemos no que vai dar, e isso é bom para sair da mesmice. Vai ser às escuras mesmo, pois chego de viagem da Alemanha no dia e já vou direto para a passagem de som.
O artista plástico Raul Mourão também considera o espetáculo um desafio.
– Fizemos tudo ouvindo as músicas. Juntamos alguns trabalhos meus, do Leo Rodrigues, e preparamos outros, inéditos. Mas vai ser editado na hora, então tem improviso, em função do que vai estar rolando ao vivo.
Aos que consideram sua parceria com o DJ Dolores improvável, o percussionista aponta as semelhanças entre as sonoridades.
– O DJ Dolores é muito orgânico, apesar de lidar com a eletrônica. Meu trabalho é absolutamente orgânico, mas tem muita coisa que faço que parece eletrônico – compara Naná.
O percussionista diz que se sente rejuvenescido ao trabalhar com jovens e ver como eles pensam a música.
– Gosto de estar no meio dessas pessoas. Quando eu saí do Brasil muitos não tinham nem nascido. Gosto de ver o que os jovens estão fazendo agora, de estar lá.
Para Naná, a mistura inesperada só pode resultar em coisa boa:
– Ele é bom no que faz, eu tenho café no bule nas coisas que faço, pois tem honestidade, sinceridade.

20:38 – 06/11/2009

Texto do Carlos Helí de Almeida no Jornal do Brasil online.

RIO DE JANEIRO – Ainda em seu estúdio em Santa Teresa, uma escola transformada em ateliê, Carlos Vergara vai logo avisando que não gosta de mexer em gavetas, de “olhar para trás, ou para o próprio umbigo”. É por isso que o artista plástico gaúcho de 67 anos faz questão de ressaltar que a exposição Carlos Vergara: A dimensão gráfica – Uma outra energia silenciosa, conjunto de 200 trabalhos realizados pelo artista ao longo das últimas cinco décadas que ocup o espaço monumental do Museu de Arte Moderna (MAM) a partir de quinta-feira, não deve ser vista como uma retrospectiva.

– Fiquei conhecido como pintor, apesar de trabalhar com diferentes suportes e processos de produção. Essa exposição quer revelar um aspecto que tem sido sombreado por essa reputação, que é a do artista com um linha gráfica muito forte, característica constante da minha trajetória – informa Vergara, antes de reunir sua equipe e partir em direção ao MAM, para mais um dia de montagem. – É por isso que a exposição tem poucas coisas produzidas nos anos 80, período em que me dediquei quase exclusivamente à pintura.

Da década devotada a experiências pictóricas, só alguns dos croquis que as originaram passaram pelo crivo do colecionador Goerge Kornis, curador da mostra. A proposta era justamente essa, dar destaque a linguagem gráfica que atravessa a produção de Vergara, presente em desenhos, monotipias, fotografias, gravuras, instalações e peças em três dimensões. A exposição receberá obras nunca mostradas antes aos cariocas, como a Capela do Morumbi (1992), formada por quatro monotipias em papel de poliéster de 5 x 8m, presas a uma estrutura de ferro que lembra traves de futebol.

– As monotipias da Capela serão iluminadas pelos dois lados por luzes presas ao teto, para dar a ilusão de transparência. E as pessoas poderão circular livremente entre elas. Eu a chamo de Assim caminha a humanidade – brinca o artista, apontando para as pegadas e marcas de pneus de bicicleta dos auxiliares envolvidos com a feitura das monotipias. – Meus trabalhos costumam incorporar contribuições humanas ou os sinais da passagem do tempo.

A exposição não foi montada segundo um critério cronológico, mas em torno de temas presentes na produção de Vergara: indivíduo e coletividade; espaço e tempo, cor e forma, e os materiais usados pelo artista. A Capela do Morumbi ocupará o centro do primeiro andar do museu. As paredes do espaço monumental, de pé direito muito alto, serão ocupadas por monotipias de grandes dimensões, os registros fotográficos dos carnavais do Cacique de Ramos, realizados entre 1972 e 1976. Ao fundo ficará outra peça grandiosa: o painel de desenhos feito para a Bienal de Veneza, em 1980.

A obra, com 20 metros de comprimento, só foi vista no Rio uma única vez, e para um público bastante restrito. Vegara a montou para amigos no palco do Canecão numa segunda-feira, dia de descanso do espetáculo Saudades do Brasil, de Elis Regina – ele criara a capa do disco e o cenário do show homônimo da cantora. Era a única chance de vê-la montada por inteiro antes de embarcar para a Itália. Depois disso, o painel da Bienal de Veneza só foi mostrado uma vez naquele mesmo ano, numa galeria paulista, e durante uma retrospectiva sobre o artista em Porto Alegre, em 2003.

As duas salas do espaço monumental serão ocupadas por trabalhos em papel, como desenhos, fotografias e gravuras, como as da série 5 problemas 5 estampas, que inspirou um documentário que está sendo realizado pela produtora Matizar. A exposição A dimensão gráfica – Uma outra energia silenciosa, que fica em cartaz até 12 de março, reconhece também o valor da faceta pop do artista, que desenvolveu capas de livros, discos e painéis para empresas particulares, como a Varig, entre o final dos anos 60 e a década de 70. Numa época em que a arte podia funcionar como instrumento de conscientização política, Vergara criou para nomes da literatura, como Antônio Callado, Julio Cortázar e Ed McBain, e da música popular brasileira, como Elis Regina, Fagner, Edu Lobo, Ritchie, MPB4 e até o Trio Elétrico de Dodô e Osmar.

– Nos anos 60, havia um esforço de difusão da arte em duas frentes. Até em função da repressão da ditadura na época, os trabalhos podiam ter um cunho político muito forte. Alguns eram bastantes panfletários, uma forma de discutir ideias antifacistas. Por outro lado, também os artistas plásticos investiam em trabalhos que pudessem ser multiplicados, em séries de 200 e 300 peças, o que tornava a arte mais acessível. Comprava-se arte para dar de presente de aniversário, de casamento – lembra Vergara, um dos fundadores das feiras itinerantes que resultaram na criação da feira de Ipanema.

17:39 – 07/11/2009

Encontro inusitado, show imperdível. Terça que vem as 21h. O ingresso custa R$ 15,00 e R$ 7,50 estudante. Batman me falou que a procura é grande, garanta já o seu. Na bilheteria do Teatro Oi Casa Grande ou no ingresso.com.

Uma outra energia silenciosa: a dimensão gráfica na obra de Carlos Vergara

Exposição com mais de cem obras realizadas pelo artista Carlos Vergara dos anos 1960 até hoje ocupará o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, da próxima sexta até 14 de março de 2010.

“O princípio estruturador desta mostra é tornar visível a importância da linguagem gráfica no conjunto da obra de um artista até hoje visto quase como exclusivamente um pintor” diz o curador/colecionador George Kornis.

Vergara construiu ao longo de quase cinco décadas de trabalho como artista plástico uma obra intensa e diversificada. E esta obra incorpora tanto a linguagem pictórica como a linguagem gráfica na construção de uma visualidade com uma clara marca autoral: a recusa do estilo e das facilidades conexas.

O reconhecimento da presença de uma dimensão gráfica na obra deste artista demandou uma pesquisa que recorreu a obras consagradas, até outras pouco conhecidas e mesmo algumas inéditas pertencentes ao acervo do Ateliê Carlos Vergara e a outras coleções privadas. Esta pesquisa gerou não só a montagem da mostra como a edição de um catálogo cujo lançamento se dará ao final do período da exposição. Esta publicação contará com imagens do trabalho do artista nas quais a dimensão gráfica é claramente visível, texto do curador e da professora e crítica de arte Glória Ferreira.

As imagens e textos contidos nesta publicação deverão fomentar a pesquisa, a reflexão e o debate acerca da obra de Vergara. O compromisso com a produção e a difusão do conhecimento sobre a obra do artista conduzirá também à realização de projeções, conferências e debates durante os meses de exibição da mostra no MAM/RJ.

Experimentando espaços
Concebida especialmente para o jardim do MCB, a exposição reúne artistas que refletem a respeito das experiências espaciais oferecidas pelo mundo contemporâneo. Com curadoria de Agnaldo Farias, são abordados a arquitetura e a paisagem, a casa e os objetos com que a povoamos. A mostra tem a participação dos artistas Afonso Tostes, Amália Giacomini, Amélia Toledo, Arthur Lescher, Carlito Carvalhosa, Daniel Acosta Eduardo Coimbra, Elisa Bracher, José Spaniol e Raul Mourão, que terminam por reinventar a noção de espaço.

“Experimentando Espaços” introduz a força surpreendente e variada de objetos escultóricos, corpos concebidos para propiciar sentimentos e sensações desconhecidas, desconcertantes, percepções que ainda não foram contabilizadas e que dizem muito da vida contemporânea”. Para o curador, o fato de estarem espalhados no jardim é um dado que confere a esses objetos – esculturas, instalações, intervenções – um sabor adicional. “A presença deles em meio a plantas, árvores, canteiros, gramados e caminhos confirma o jardim como lugar de passeio e devaneio, propício não só para as flores e os arbustos, mas para a irrupção de corpos misteriosos e fascinantes”.

A apropriação dos espaços pelos artistas se dá de forma variada, mostrando como cada um deles desenvolve sua poética visual a partir de materiais diversos e em ambientes desafiadores. Dessa forma, Elisa Bracher e Daniel Acosta, artistas cujos trabalhos dialogam com a arquitetura, se valem de estratégias opostas para suas instalações, ele usando materiais industrializados e ela, por sua vez, fazendo uso de adobe para a construção de sua obra.

Na clareira central do jardim, o artista Carlito Carvalhosa suspende antigos postes de iluminação de madeira por sobre as árvores, aludindo ao tempo em que estes eram feitos de materiais naturais. As pedras encasuladas em grades de ferro de Raul Mourão, por outro lado, remetem ao amordaçamento e à proteção daquilo que é precioso em sistemas de segurança.

O site spefic de Arthur Lescher, segundo o curador, contrapõe formas elípticas bem acabadas e polidas à irregularidade do terreno onde são instaladas, suscitando reflexões acerca da incompatibilidade entre homem e natureza. Amália Giacomini faz uso da geometria para retificar as irregularidades topográficas do terreno, estabelecendo uma sobreposição entre razão e natureza a partir de linhas elásticas esticadas no mesmo jardim.

A obra de Jose Spaniol defende o mundo como palco de acontecimentos delicados. Suas duas peças, na verdade, duas balanças, encontram-se embrenhadas nos arbustos mais densos, evocando um equilíbrio flutuante, “uma dança que se dá na compensação dos pesos”, define Farias. Eduardo Coimbra, por sua vez, constrói um muro que serpenteia por entre as árvores, criando novos pontos de vista diferenciados, que ignoram o dentro e o fora. Nos caminhos por entre os muros deste último é que Afonso Tostes faz a sua instalação: um conjunto de ossos que irrompem do chão, truncando a passagem e impondo aos passantes a lembrança da morte, da história que se acumula em palavras.

Por fim, Amélia Toledo, instala no muro do fundo do jardim uma longa chapa horizontal de metal espelhado que reflete uma grande coleção de pedras grandes e coloridas, ricas em matizes e texturas. “Ali, constata-se, o muro rompe-se, vaza; uma grande passagem, uma fresta que é também um horizonte e que descortina outra realidade, plena de matéria, rica de possibilidades, atraente como a primeira pedra brilhante que logrou sensibilizar um homem, o primeiro homem, que a guardou consigo acreditando tratar-se de um talismã”, afirma o curador.

Realização: Agenda Projetos Culturais e Doble Cultura + Social

Abertura: 7/11, às 11h
Ingresso: R$ 4,00 – Estudantes: R$ 2,00
Gratuito aos domingos e feriados
Acesso a pessoas com deficiência
Visitas orientadas: 3032-2564/agendamento@mcb.org.br
Estacionamento: R$ 12,00 no dia da abertura; de terça a sábado, até 30 min., grátis;
até 2 horas, R$ 8,00, demais horas, R$ 2,00; domingo: preço único, R$ 10,00.

lá no blog dela, o Posto 12.

O jornalista da Folha de S.Paulo me liga no meio da tarde para saber minha posição sobre o projeto para Vargem Grande, votado ontem em sessão extraordinária na Câmara dos Vereadores e publicado hoje n’ O Globo. Também só conheço o pouco que saiu no jornal, respondo. E lamento dizê-lo, mas isso tem sido o Rio. São dezenas, centenas de projetos que pipocam a cada dia na imprensa, sem autoria, sem qualquer conexão entre si e sem nenhuma concepção de cidade como fundamento.
Este altera o chamado PEU/Projeto de Estruturação Urbana das Vargens, redefinido os parâmetros urbanísticos de boa parte da Zona Oeste (Vargem Grande, Vargem Pequena, Recreio dos Bandeirantes, Camorim e parte de Jacarepaguá), onde devem ser instaladas a futura sede da CBF, o Museu do Futebol e a Vila Olímpica, entre outros equipamentos ligados à Copa e às Olimpíadas.
Depois de tanta gritaria, parece que alguns vereadores estão mais atentos. Mesmo assim o projeto foi aprovado em primeira discussão, por 36 votos a 8.