"O MAM precisa ser acolhedor"
Saiu na VejaRio de hoje essa entrevista com Camillo.
Fernando Lemos |
Luiz Camillo Osorio: “A arte é um dos melhores produtos do Rio” |
Novo curador do Museu de Arte Moderna (MAM), o professor e crítico carioca Luiz Camillo Osorio está determinado a recolocá-lo em seu devido lugar. Ou seja, voltar a ser um dos espaços mais importantes da cultura brasileira. Terá à disposição para trabalhar a Coleção Gilberto Chateaubriand, cedida há dezesseis anos em comodato à instituição, com 5 000 peças, e o acervo próprio, que reúne 6 000 itens. Economista com doutorado em filosofia na PUC, onde leciona, e formado em história da arte pelo Instituto de Arte Contemporânea de Londres, Osorio pretende atrair patrocinadores e incrementar a programação. “Vamos articular as várias linguagens para atrair um público, digamos, periférico, de dança, arquitetura, cinema”, afirma. “A arte carioca é um dos melhores produtos feitos aqui. Temos de estar à sua altura.” Leia a seguir os principais trechos da entrevista do curador a VEJA RIO.
O papel
“O MAM precisa retomar seu papel de discutir a arte contemporânea. Todo museu deve ser uma combinação de escola, por seu caráter de formação, e laboratório, devido à função de experimentar. Tem de combinar a leveza do entretenimento com a atividade intelectual.”
A curadoria
“Uma boa curadoria dá ao público a possibilidade de dialogar com as peças, pois a arte contemporânea pode correr o risco de ser excludente. Além das exposições em si, ela abre a perspectiva de pesquisar e debater a coleção.
Primeiras medidas
“Tenho uma agenda a cumprir. A partir de 2011, posso pensar em projetos próprios. Quero convidar pesquisadores capazes de desdobrar seus trabalhos em exposições. Um exemplo é a tese de doutorado da professora Ana Luiza Nobre, da PUC, sobre arquitetura, arte e design nos anos 50. Pretendo trazer o debate da arquitetura e design aqui para dentro.”
Fórmula
“Para conquistar um público fiel é preciso criar uma agenda. O ideal é que todo ano haja uma exposição de um artista moderno morto, como é o caso da mostra de Jorge Guinle. Outra boa atração periódica é um panorama de um artista vivo consagrado. É importante também que a programação dedique espaço a jovens artistas, mais experimentais. Além de manter uma exposição permanente do acervo com obras importantes de Tarsila do Amaral a Antônio Dias e Cildo Meireles.”
Mudanças
“O museu precisa ser acolhedor. Há poucos lugares para que as pessoas se sentem no MAM. Vou sugerir que o restaurante Laguiole abra uma passagem para a área de exposições no 2º andar. Assim, o visitante poderá tomar um café sem sair do prédio. Pensamos também em refazer o site, que pode ser um ótimo instrumento de apresentação da casa.”
Aporte financeiro
“Somos uma instituição privada com conselho, presidente eleito e que deve se gerir. É fundamental ampliarmos nosso quadro de mantenedores. Hoje são apenas dois, Petrobras e Light. Só vamos conseguir isso com boas exposições, mas para incrementar a agenda precisamos aumentar a captação. Uma ideia é segmentar os patrocínios: uma empresa se responsabiliza pela biblioteca, outra pela área de educação…”
MAM
“Trata-se de um lugar privilegiado. Além do baita acervo, ele é cercado por jardins de Burle Marx e pela Baía de Guanabara. Os museus de arte moderna são vitais. Nossas três concorrentes para sediar a Olimpíada – Madri, Tóquio e Chicago – possuem instituições de ponta.”
Rio de Janeiro
“A cidade está muito acomodada. Ela nunca foi só um balneário e tem de retomar seu papel de polo produtor cultural. Os artistas trabalham aqui, mas suas obras são vendidas fora do estado. Vamos articular as várias linguagens e atrair um público de dança, arquitetura, cinema… A arte é um dos melhores produtos da nossa cidade, e o museu tem de estar à sua altura.”