Arte na Zona Portuária do Rio

quinta, 12 de março. São 8h30, estou a caminho do aeroporto internacional Tom Jobim no Rio de Janeiro para receber um velho amigo italiano. Já no carro ele folheia o mapa em inglês que reune a programação das instituições e galerias de arte da cidade e o roteiro especial dos 58 espaços de arte em atividade nos bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo.

Faz um ano que o lugar vem passando por um amplo processo de revitalização através de um programa de ocupação artística. A zona portuária virou o bairro das artes plásticas e está repleta de ateliês, galerias, projetos sociais, lojas especializadas, oficinas, escolas técnicas e teóricas.

Nossa agenda de visitas na região é intensa, o tempo é curto e o calor é gigante. A tarde começa na inauguração do ateliê da artista Tatiana Grinberg onde um quarteto de samba anima a festa. No primeiro andar há uma sala de aula com computadores e um depósito com obras em exposição e outras embaladas. No segundo andar grandes mesas, estantes com ferramentas e obras em processo. A próxima parada é uma visita ao galpão de Vik Muniz para conhecer o projeto social Aeroespacial. Vik está dando uma palestra e ficamos sabendo que foi naquele espaço que algumas séries de seu trabalho foram preparadas. Logo alí num prédio ao lado da rodoviária Novo Rio, o diretor de arte Gringo Cardia toca dois projetos de profissionalização para jovens carentes, a escola de teatro Spectaculu e a Kabum!, que oferece aulas de computação gráfica, design e fotografia. A tarde está acabando, e chegamos ao ateliê de Antonio Dias para conferir a instalação que o artista está preparando para sua nova exposição na Alemanha. A próxima parada é no sobrado que abriga o Ateliê do Artista Visitante, um projeto da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Está escuro quando chegamos ao Depósito Municipal de Arte que aluga boxes para artistas guardarem obras de grande escala em condições técnicas adequadas e preços acessíveis. A última parada é no Centro Cultural Municipal José Bonifácio para conferir as exposicões que inauguram. O lugar está lotado, pessoas já ocupam a rua e os carros passam com dificuldade em frente ao prédio neoclássico. É hora de encerrar a programação e partir para a roda de samba da Pedra do Sal.

Esclarecimento: Esse texto mistura realidade, ficção e sonho. Idéias de artistas que querem pensar novas relações entre arte-cidade e cidadania. Uma ação para encurtar a distancia entre a produção contemporânea que se faz no Rio e a população da cidade e seus visitantes. Espaços de artes plásticas promovendo uma mediação viva e nova com o público (diferente da relação comercial das galerias e da museologia mofada dos museus). Espaços de encontro, interação e diálogo entre artistas e público.

Raul Mourão
março de 2009

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