Duas notinhas no NYT

Roubado do blog do Frederico Coelho

Duas matérias lidas no NYT por acaso (não tenho o hábito frenético de leitura dos jornais gringos, confesso) mostraram como o mundo está em uma velocidade estonteante, conectando tudo: comportamento, política, arte, mercado, poder, cultura e educação. Vamos aos papos:

1) Art Babble

A primeira matéria trata de um site de vídeos sobre arte, com entrevistas, conversas, atividades, trabalhos conceituais, divulgação institucional e encontro de idéias. O Art babble foi uma sacada de algumas Instituições de arte norte-americanas capiteneada pelo Indianapolis museum. O instituo convidou ainda a New York Public Library, the Smithsonian American Art Museum, the Los Angeles County Museum of Art and e o San Francisco Museum of Modern Art.

O resultado é um site ágil, claro, didático (para quem fala inglês, claro), com uma série de recursos. São instituições privadas, investindo na divulgação de sua matéria-prima: arte e conhecimento estético.

Nem sempre a arte tem como obrigação refletir ou comentar o cotidiano de um povo. Se não há espaço para uma reflexão mais ampla e livre sobre o poder criador de idéias do cidadão fora da esfera “valorosa” da política formal, se a máquina de criação do artistas nada mais é do que uma forma interessada de adquirir capital simbólico e financeiro, sites como o Art Babble e manifestações como a criação da Fundação Daros no Rio de Janeiro podem mostrar que mais do que uma atividade “alienada”, a arte é sim a maneira mais eficiente de fazer com o que o Homem questione o que ouve, o que lê, o que vê e o que pensam dele. A educação pela pedra. A educação pela tela. A educação pelo espaço. A educação pelos sete buracos de sua cabeça.

2) Mapping the Buzz

A segunda matéria é sobre um estudo feito por geógrafos norte-americanos definindo em duas grandes cidades – NY e LA – o que eles chamaram de “mapping the buzz”, algo como “mapeando o bochicho” ou “mapeando a muvuca”. O estudo define por cálculos de estabelecimentos, freqüentadores, dinheiro em circulação, cobertura da imprensa e comentários das críticas, um mapa luminoso das artes, do cinema, do teatro, da televisão, da música e da moda nessas cidades.

Esse mapas (as imagens que ilustram lá em cima esse post e que se acha em gráficos imensos na ma´teira do NYT) segundo a pesquisadora-chefe Elizabeth Currid, servem não só para pesquisas de mercado como para o planejamento estratégico e urbanístico das cidades. Eles ajudam a definir vocações locais, a estreitar ligações de bairros e indústrias de consumo e entretenimento, a informar caminhos inteligentes de cobrar impostos, de definir abatimentos produtivos ou de incentivar outras formas de ocupação urbana nas cidades.

Um mapa como esse é fundamental no Rio de Janeiro (alô secretária de urbanismo e de cultura!) para entendermos melhor os eixos de produção, criação e ausências do Município e dos poderes públicos-privados em geral. O mapa da música, por exemplo, certamente mostraria uma abundância de luzes e espaços no eixo subúrbio-lapa, com um corte abrupto na Zona Sul, onde estariam concentrados certamente 90% dos cinemas e teatros ou 99% das marcas da moda. No centro e Santa Tereza, a vocação dos ateliês e dos galpões de arte seria equilibrada com a Zona Sul, com praticamente zero por cento dessa atividade nos Subúrbios.

A matéria vale ser lida para vislumbrarmos soluções inteligentes e práticas ao se pensar a cidade e suas vocações antes de se condenar favelas a muros ou subúrbios ao abandono estratégico, antes de entramos em entropia umbilical apenas rodando pela Zona Sul da cidade e abandonando as vastas possibilidades de funcionamento do resto dos bairros e do Rio d’janira em geral.

O carioca tem que recuperar o direito de circular por TODA a cidade. Essa é a verdadeira política pública, para todos. Da ZS para a ZN, da ZN para a ZS, do asfalto pro morro, do morro pro asfalto, do Leme ao pontal, da Penha até a Ilha do Governador, de Benfica ao cais do porto = nonstop.

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