O Carnaval de Rua do Rio
O desfile do Monobloco arrastando 400 mil na Rio Branco no domingo depois das campeãs, a carta do leitor no Globo elogiando o deslocamento da Atlantica para o Centro, o texto do Caetano Veloso no blog dele e o do Bernado no Sobremusica me levaram a rabiscar as linhas abaixo. O assunto é longo e sério e merecia uma analise mais profunda e outras opiniões mas por enquanto vai esse rabisco irresponsável mesmo.
Lá vai…
Já faz tempo que acho o Carnaval de rua do Rio o mais interessante fenomeno cultural da cidade. Um sinal de potência e de capacidade de recuperação que o cidadão comum jogou na cara do poder público que durante anos se preocupou apenas com o carnaval na Sapucaí. Estava tudo parado e chato no início dos anos 80 quando integrantes do Suvaco, do Simpatia, do Barbas e outros blocos mais foram retomando o espirito da farra e da festa para brincar novamente o carnaval nas ruas. No embalo desses blocos vieram Carmelitas, Monobloco, Bangalafumenga, Céu da Terra, Boitatá, Escravos da Mauá etc. (talvez seja possível até associar essa retomada do carnaval de rua com a nova onda do samba na cidade e a revitalização da Lapa) A coisa pegou fogo e o quadro hoje é de uma efervescência brutal, há blocos por todos os cantos e estamos a beira da situação descambar para o caos completo. É necessário que a Prefeitura entre organizando pesado para que tudo não corra bueiro abaixo junto aom a urina dos mijões e mijonas. O problema é sério e deveria mobilizar representantes de várias secretarias e não apenas Cultura e Turismo.
Costumo brincar com meu amigo Suvaquense Claudio Lobato da necessidade de se criar a Secretaria do Carnaval de Rua. Então na base da ficção de botequim imaginamos o decreto número 1 do novo Secretário deslocando os desfiles dos grandes blocos para a Av Rio Branco de sábado a terça, 3 por dia as 8h, 13h e 18h. 12 blocos ao longo dos quatro dias, todos saindo da Candelária e dispersando na Cinelândia. Bares, restaurantes e banheiros nas ruas transversais. A programação:
SÁBADO 8h – BOLA PRETA (pela sua tradição e por estar mais tempo no local o Bola Preta seria o único bloco que cruzaria a Rio Branco 2 vezes. Saindo da Cinelandia batendo na Candelária e retornando a Cinelandia)
SÁBADO 13h – CÉU DA TERRA
SÁBADO 18h – SIMPATIA É QUASE AMOR
DOMINGO 8h – BOITATÁ
DOMINGO 13h – SUVACO DO CRISTO
DOMINGO 18h – BANDA DE IPANEMA
SEGUNDA 8h – ESCRAVOS DA MAUÁ
SEGUNDA 13h – BANGALAFUMENGA
SEGUNDA 18h – BLOCO DE SEGUNDA
TERÇA 8H – CARMELITAS
TERÇA 13H – CACIQUE DE RAMOS
TERÇA 18H – MONOBLOCO
O secretário esclarece: Cada um desses blocos continuará a sair no seu bairro e dia de origem normalmente preservando o aspecto mais local e uma escala menor.
A idéia é ter um segundo desfile na Av Rio Branco grandão mais aberto aos moradores da cidade como um todo e aos turistas visitantes.
Seguem trechos dos textos do Caetano e do Bernardo.
Caetano Veloso escreveu no blog dele:
“Antes de ver o de Salvador, já tinha, aos 13 anos, passado o carnaval no Rio. Ver a Avenida Rio Branco vazia e sem animação me cortou o coração nos anos 90. Estava tudo reduzido aos desfiles das escolas. Há 4 anos, passei os dias de carnaval no Rio, sem ir ao carnaval. Estava sofrendo, de luto por dentro, não queria ir ao Sambódromo. Fui com Antonio Cicero e Marcelo Pies ver uma exposição no CCBB. Isso fica no centro, perto da Candelária, que é onde a Rio Branco desagua na Presidente Vargas. Para minha surpresa, vi muita gente fantasiada por ali. Pedi licença a Cicero e Marcelo e fui olhar a avenida. Chorei de emoção: estava como quando eu tinha 13 anos: cheia de “clóvis”, blocos, famílias fantasiadas, tudo. No dia seguinte Hermano Vianna me chamou para ver um mini-bloco que Kassin tocava na Avenida Atlântica (eu estava num apart-hotel entre Copa e Ipanema). A Atlântica estava vazia. Mas, voltando de lá, vi burburinho no Arpoador. Fomos olhar e Ipanema estava apinhada de gente. Nos disseram que o Monobloco tinha passado horas antes. A turba remanecente estava pronta para um carnaval pernambucano, baiano, pronta para tudo. Não havia mais blocos. Sobretudo me impressionou a ausência total dos poderes públicos: os vendedores improvisados paravam no meio do safalto, em qualquer lugar. Lembrei-me de quanta coisa se fez na Bahia e no Recife nestes anos. Há regras para a distribuição dos vendedores. Há proibições, planejamento. O Rio oficial porta-se como se nada houvesse além do Sambódromo. Ouço que o número de blocos cresceu enormemente. Que o folião pipoca é multitudinário outra vez no meu Rio. Fico tão feliz que nem dá para explicar. E espero que surja o que surgiu na Bahia: repertório novo e forte – e presença da prefeitura.”
Bernardo Mortimer no Sobremusica:
“- Blocos grandes como o Cordão do Bola Preta, Simpatia É Quase Amor, Carmelitas, Suvaco de Cristo e Monobloco precisam assumir responsabilidades e arcar com os custos de banheiros químicos. A prefeitura que banque a limpeza e a segurança. Esses blocos de multidões deviam ter, sim, a licença pra desfilar vinculada a uma contrapartida. Afinal, eles vendem ingresso para ensaios e apresentações que se estendem pelo ano, e têm dinheiro até para leques que viram sujeira antes da passagem completa do bloco. O dinheiro de impostos precisa ter outras prioridades, mesmo que dentro do carnaval. Entre elas, aí sim, os blocos médios.
– Qualquer bloco que tenha uma previsão superior a 10 mil foliões, e a secretaria de cultura bem que podia começar a acompanhar isso, deve ser transferido para o Centro. Tradição é tradição, e os blocos de bairro (com mais de, sei lá, dez anos de desfile) podem ficar onde estão. O resto, infelizmente, vai para uma área não-residencial.
– E bloco grande, infelizmente, tem que ser de manhã.”