Archive

Uncategorized

Excelente entrevista da jornalista Karla Monteiro que saiu hoje no Segundo Caderno d”O Globo.
RIO – A janela da sala emoldura a Rocinha. E as paredes são forradas de livros. O antropólogo Luiz Eduardo Soares tira da estante obras simbólicas do jornalismo de guerra: “Despachos do front”, de Michael Herr, e “O gosto da guerra”, de José Hamilton Ribeiro. Ele diz adorar os livros que narram, usando a técnica do jornalismo literário, histórias de violação dos direitos humanos, de tragédias sociais. E escrever obras assim virou seu lema.
– A cultura pode se comunicar com a realidade social e política numa pulsação surpreendente – comenta. – A população se emociona. Em função dessa emoção os agentes políticos intervêm.
Professor, cientista político e ex-coordenador de segurança do governo Garotinho, Luiz Eduardo acaba de lançar – no mesmo dia em que “Tropa de elite 2” chegou aos cinemas – “Elite da tropa 2”, escrito com os policiais André Batista e Rodrigo Pimentel e com o delegado Cláudio Ferraz. Segundo ele, um dos autores também do primeiro “Elite da tropa”, o livro não é o filme. Mas também vai causar barulho, ao mergulhar no barrento rio das milícias, que considera “o pior tipo de crime organizado”.
“Tropa de elite 2” já levou aos cinemas mais de quatro milhões de pessoas. A expectativa é que chegue a seis milhões até o final de semana, igualando-se ao recordista da retomada, “Se eu fosse você 2”, de 2009. Em entrevista ao O GLOBO, Luiz Eduardo explica porque filme e livro vão além do entretenimento. E decreta:
– O tráfico já era.

Qual é a relação entre “Tropa de elite 2” e “Elite da tropa 2”? Quem nasceu primeiro?

LUIZ EDUARDO SOARES: Os dois trabalhos foram feitos simultaneamente, em diálogo. O diálogo pressupõe autonomia, com similitudes e diferenças. Alguns personagens são comuns, algumas tramas são compartilhadas. Mas tem muita coisa diferente.
Como surgiu a ideia do livro?
Só decidimos fazer o livro quando o Cláudio Ferraz entrou no projeto. Ele é o delegado titular da Draco, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado. E conhece profundamente a atuação das milícias no Rio. Sem ele não seria possível.
Você já tinha familiaridade com a atuação das milícias?
Antes de começar o trabalho, eu já identificava as milícias como a maior ameaça ao Estado democrático e de direito, o pior tipo de crime organizado, porque envolve polícia e política: policiais corruptos protagonistas da ação criminosa que atuam diretamente no Legislativo. O “Elite da tropa 2”, porém, não se reduz a contar essa história. Os elementos fundamentais da atuação da milícia estão expostos, é o centro, mas trabalhamos muito as questões subjetivas, afetivas, morais dos personagens policiais.
O livro não narra a história cronológica das milícias no Rio. Foi uma estratégia?
A gente evitou justamente a aproximação com um relatório, uma pesquisa. Nossa ideia foi pegar o leitor pela mão e levá-lo para o coração do redemoinho, para que cada um se sinta diretamente concernido, corresponsável pela busca de saídas.
Você considera as milícias um problema maior do que o tráfico de drogas?
Começamos o livro assim: “Acorde. O tráfico já era. A milícia é uma realidade que se impõe. E é a grande ameaça à segurança pública.”

Mas o tráfico também é uma grande ameaça à segurança pública…

Os traficantes são muito jovens, pobres, nunca saíram da favela, não têm formação profissional, não têm capacidade administrativa, não têm visão de futuro, não têm projeto político… Os milicianos são homens de 30, 40 anos, geralmente policiais, profissionais formados, treinados, com conhecimento técnico, com capacidade administrativa e financeira, que se organizam para ocupar espaços políticos na Câmara Estadual e Câmara Federal.
Porque você diz que “o tráfico já era”?
As milícias são muito mais lucrativas. O tráfico é um negócio específico, com nicho de mercado. E as milícias trabalham com todas as possibilidades que a economia local oferece. Trabalham também eventualmente com drogas. Existe a ideia de que milicianos matam os traficantes e libertam as comunidades. Mentira. Eles preferem lugares abandonados. E fazem acordos quando o tráfico local é frágil. Os traficantes até trabalham para os milicianos.

Você poderia contar alguma passagem do livro, algum caso específico que ilustre a atuação da milícia?

Tem uma história sobre um conjunto habitacional da Caixa Econômica Federal. Do ponto de vista do banco, os apartamentos foram ocupados ilegalmente. Só que as pessoas compraram seus apartamentos e pagaram aos milicianos. E a milícia, não satisfeita, cobra taxas para o funcionamento do condomínio, explora o transporte, os serviços, tudo. E ainda criou uma associação de moradores para lutar contra o banco. É surreal.

ótimo e necessário texto do artista Nuno Ramos que Saiu na Ilustríssima (FSP) de domingo.

Bandeira branca, amor
Em defesa da soberba e do arbítrio da arte
NUNO RAMOS

resumo
Alvo de protestos de pichadores, jornalistas e militantes da causa animal, o trabalho “Bandeira Branca”, de Nuno Ramos, foi desmontado na 29ª Bienal de São Paulo, por determinação do Ibama, que o havia autorizado. O artista faz uma defesa da legalidade da obra e reflete sobre consensos e rupturas inerentes à atividade artística.

PROCUREI INTENCIONALMENTE matar três urubus de fome e de sede no prédio da Bienal de São Paulo. Pus ali imensas latas cheias de tinta escura, para que se afogassem, além de espelhos, para que batessem a cabeça durante o voo. Construí túneis de areia preta, para que entrassem sem conseguir sair, morrendo ali dentro. E, para forçá-los a voar, costumo lançar rojões em sua direção.

ACUSAÇÕES Como nos pesadelos ou nos linchamentos, não é possível responder a acusações desta ordem, que circularam pela internet e no boca a boca com força insaciável nas últimas três semanas, criando um caldo de cultura próximo à violência e à intimidação. Como resultado disso, em plena Bienal, entre faixas pedindo que eu fosse preso, meu trabalho foi atacado por um pichador, que driblou a segurança, rasgou a tela de proteção aos bichos e danificou uma das esculturas de areia.
Fomos cercados, eu e minha mulher, por militantes ecologistas, que nos xingavam e gritavam do outro lado do vidro do carro, a boca em câmera lenta, “a-li-men-ta-e-les!” -o que, claro, já havia sido feito naquele mesmo dia. Barbara Gancia, colunista da Folha, chegou a pedir, utilizando um imaginário de repressão militar ou de milícia fascista, que eu fosse colocado de cuecas contra um muro e submetido a uma ducha com as mangueiras para incêndio do corpo de bombeiros.
Ingrid E. Newkirk, presidente da organização não governamental Peta [pessoas pelo tratamento ético de animais, na sigla em inglês], num artigo feroz, publicado na Folha em 8/10, encontra apenas o que pressupõe desde o início: que eu quero aparecer (ela, não? alguém duvida que um dos temas da polêmica é justamente a disputa pelo espaço na mídia?); que sou (os termos são dela) cruel, “bad boy”, sem compaixão e produtor de arte de má qualidade. Como não há argumentos e o raciocínio é circular, tudo retorna à ilibada consciência da articulista.
A notícia atravessou fronteiras raras para questões envolvendo arte (horários insuspeitos em todos os canais de TV, cadernos de jornal pouco afeitos à cultura e nas mais diversas regiões do país), passando a assunto de bar e padaria. Os urubus, definitivamente, haviam conseguido escapar e, para usar os versos de Augusto dos Anjos, pousaram na minha sorte.

TOM Frequento uma área da cultura afastada dessa luz radioativa, e não quero errar o tom. Começo este texto, portanto, fazendo a minha lição de casa: o que quer que tenha acontecido, aconteceu por meio das instituições. A licença do Ibama de Sergipe, que permitiu o transporte e a exposição dos animais, era legítima e dentro de parâmetros absolutamente legais, bem como sua cassação pelo Ibama de Brasília.
Tentamos, eu e a Fundação Bienal, que me apoiou de todos os modos possíveis em defesa do meu trabalho, uma liminar na Justiça e perdemos. Acatamos e tiramos, no mesmo dia em que a decisão liminar saiu, as três aves. Sinto-me coibido, injustiçado e chocado com tudo isso, mas não posso dizer que fui censurado. E por entender que a forma que destruiu meu trabalho ao tirar as três aves é legítima, quero divergir completamente dela.
Como quase nenhuma informação sensata circulou, tenho primeiro que dizer o óbvio:
1) As aves que utilizei em meu trabalho são aves nascidas em cativeiro, e não sequestradas ao habitat natural; é para este cativeiro que voltaram (e onde estão neste momento), quando foram “soltas” do meu trabalho;
2) Pertencem ao Parque dos Falcões (criadouro conservacionista que funciona com autorização do Ibama, realizando atividades educacionais e pedagógicas, pelo Brasil inteiro, com aves de rapina), que as mantêm em exposição para o público, como num zoológico;
3) Estas mesmas três aves participaram em 2008 de uma versão bastante similar deste trabalho, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, durante dois meses, adaptando-se perfeitamente ao espaço e sem nada sofrer, com plano de manejo aprovado pelo mesmo Ibama;
4) As aves foram adaptadas ao espaço da Bienal antes do início da mostra, com a presença do veterinário responsável por elas e de um tratador;
5) Esse tratador, o mesmo que cuida delas em Sergipe, ficou permanentemente com elas durante todo o tempo de exibição das aves ao público, literalmente abrindo e fechando a mostra:
6) Eram alimentadas por ele todas as manhãs, em quantidade e frequência estipuladas pelo plano de manejo;
7) O volume das caixas de som foi controlado, sendo mantido numa altura bastante inferior ao do murmúrio do público, para evitar estresse aos bichos;
8) O plano de manejo das aves, aceito pelo Ibama de Sergipe, foi revogado, já no meio da polêmica, pelo Ibama de São Paulo -mas sem recomendação de cassação. O que o laudo técnico, sério e sisudo do Ibama de São Paulo solicitava eram ajustes -basicamente, que desligássemos uma das caixas de som e que instituíssemos banhos de luz ultravioleta todas as manhãs, para suprir a falta de luz solar direta sobre os bichos (embora a luz do dia banhasse o espaço). Oferecia, ainda, uma licença de 15 dias, a ser prorrogada de acordo com a avaliação periódica sobre o bem-estar dos animais. O Ibama de Brasília, que, sob pressão política e midiática, determinou arbitrariamente a saída das aves, em desacordo com o laudo do Ibama de São Paulo, travou o que parecia ser um processo rico de colaboração entre técnicos sérios, com conhecimento sobre os animais, e um trabalho de arte;
9) Obtivemos laudo favorável do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo;
10) Técnicos do setor de aves do Zoológico de São Paulo, em vistoria ao trabalho, não manifestaram qualquer crítica específica ao manejo das aves -fiquei sabendo nesta visita, inclusive, que a jaula dos urubus era bem maior que qualquer jaula do zoológico, inclusive a do condor.

EXPIAÇÃO Por que, então, tanta confusão? Que é que está sendo expiado aqui?
Para começo de conversa, e como aproximação ao problema, quero lembrar que “Bandeira Branca” não é um trabalho de ecologia, nem eu sou especialista em aves de rapina, assim como “Guernica” de Picasso não é apenas um trabalho sobre a Guerra Civil Espanhola, nem Picasso um historiador. Por isso utilizei os serviços de uma entidade ecológica, o Parque dos Falcões, e obtive, tanto na montagem em Brasília, em 2008, quanto em São Paulo, autorização do órgão legal em meu país para esses assuntos.
Ou a lei não vale para todos? Tratar meu trabalho como crime e a mim como criminoso é fazer o que fazia a direita franquista, ao chamar “Guernica” de quadro comunista, ou a aristocracia francesa da segunda metade do século 19, quando ameaçava retalhar a “Olympia”, de Manet, em nome dos bons costumes.
O que me foi negado com a criminalização do meu trabalho foi a possibilidade de um sentido -o sequestro, digamos, de qualquer sentido que ele pudesse propor. E é contra isso, mais do que contra a boataria e a calúnia, que escrevo hoje.

VALORES Arte não cabe nos bons nem nos maus valores, por mais confiança que se tenha neles. Dela emana um signo aberto, para isso foi inventada, para que fanatismos como os que ouvi nessas últimas semanas não circunscrevam completamente o possível da vida. Claro que ninguém está acima da lei, e, repito, cumprimos, artista e instituição, rigorosamente a legislação ambiental brasileira -mas é a possibilidade de pensar diferente que está sendo criminalizada aqui.
Artistas extraordinários como Joseph Beuys (por sinal, fundador do Partido Verde na Alemanha), Jannis Kounellis, Hélio Oiticica, Nelson Felix, Tunga, Cildo Meireles, utilizaram animais em suas instalações. Provavelmente o trabalho de Beuys que inclui um coiote (“I Love America and America Loves Me”) seja, sem nenhum favor, uma das mais importantes obras de arte do século 20.
“Tropicália”, de Hélio Oiticica, que tem araras vivas em seu interior (curiosamente, exposta há poucos meses, com as aves, no prédio do Itaú Cultural de São Paulo, na avenida Paulista, sem despertar qualquer polêmica), é um trabalho fundamental para a compreensão do que somos e do que queremos ser. Negar o que estes artistas conseguiram com seus trabalhos -uma oxigenação radical de nosso imaginário- tratando-os como criminosos certamente seria regredir a épocas de triste memória.
Posso entender quem seja contra bichos em cativeiro. Seria interessante exigir um pouco de coerência dessa posição -ou seja, vegetarianismo radical, já que a quase totalidade da carne que comemos vem de animais em cativeiro, fechamento de todos os zoológicos, jóqueis-clubes, fazendas com animais para monta e, ainda, requalificação geral de nossas relações com bichos domésticos. Mas, mais do que coerentes, gostaria que fossem suficientemente democratas para aceitar que nem todos pensem como eles, nem todos se deem o lugar de xamãs, em contato íntimo com os desejos e sensações dos animais, e que dentro das regras públicas legais de cada país o acesso a esses animais possa se dar sem histeria nem calúnias.

BANDEIRA BRANCA Como nada ou quase nada se falou sobre o trabalho, peço licença para interpretar o que eu próprio fiz, partindo de uma breve descrição. “Bandeira Branca” (este título, no meio de um bombardeio desses, é dessas coisas que só a arte explica) foi montado pela primeira vez há dois anos, no CCBB de Brasília, e agora, ampliado e modificado, recebeu uma segunda versão, especialmente para a 29ª Bienal.
O trabalho consiste em três enormes esculturas de areia preta pilada, foscas e frágeis, a partir de cujo topo, feito de mármore, três caixas de som emitem, em intervalos discrepantes, as canções “Bandeira Branca” (de Max Nunes e Laércio Alves, interpretada por Arnaldo Antunes), “Boi da Cara Preta” (do folclore, por Dona Inah) e “Carcará” (de João do Vale e José Candido, por Mariana Aydar). Três urubus vivem na instalação durante toda a duração do trabalho.
O resultado é uma cena solene, entre a litania e a canção de ninar, que me parece ter cavado, em sua montagem em São Paulo, uma espécie de buraco negro no prédio da Bienal. Acho que o vão do prédio, uma das obras mais felizes de Niemeyer, com sua velocidade e otimismo, ganhou com meu trabalho um contraponto ambivalente, noturno e encantado, triste mas também próximo do mundo dos contos de fada.
Há uma espécie de espiral ascendente no trabalho, que se desmaterializa conforme o espectador sobe a rampa do prédio e as pesadas colunas de areia se transformam na geometria de quem vê as esculturas de cima. Feito primeiro de areia, depois de mármore, depois de vidro, depois de som, depois de voo, o trabalho faz em seu percurso o mesmo que as aves, num ciclo que a chuva de fezes brancas, caindo sobre as peças e sobre o chão, inicia novamente.

ANTIPENETRÁVEL Mas o ponto crucial, acho eu, é que, apesar da monumentalidade do trabalho e da textura inacabada da areia, que solicitam o corpo do espectador, o público é mantido fora da obra, numa espécie de antipenetrável. A obra de certa forma já foi ocupada, já tem dono e por isso não podemos nos aproximar. A noite, as canções e os urubus são seus donos, e ao público resta assistir de fora a alguma coisa viva, que não precisa dele.
As canções e os bichos, forças ascensionais contra a inércia e o peso das esculturas, já tomaram conta da obra e a tela de proteção, que materializa o desenho do vão do prédio, marca essa passagem entre um exterior institucional e um interior ativo, fechado em si, mistura de cultura (canções), natureza (os urubus) e arquitetura.
As aves e as canções dão ao trabalho o seu agora, uma duração voltada para algo indiferente ao mundo lá fora. Daí que muita gente tenha me dito que se sentia observado pelas aves e não observador, dentro da grade e não fora dela. E que no meio de tanto tumulto, com certeza as três aves pareciam as únicas tranquilas.
Esta atividade interna autossuficiente está no coração deste trabalho e me acompanhou ao longo da balbúrdia destes dias difíceis. Fico feliz de perceber que de certa forma o trabalho já pressupunha isso, falava disso e defendia-se exatamente disso -queria estar consigo e não conosco, longe da barulheira que no entanto causava.

AUTOSSUFICIÊNCIA Em vez da atividade do espectador, própria de tantas das melhores obras modernas, e que encontrou entre nós uma formulação extrema na ideia dos “Penetráveis” de Hélio Oiticica, a arte contemporânea parece estar se voltando para dentro, numa autossuficiência renitente.
Não é o lugar para desenvolver isto, mas, para dar dois exemplos memoráveis, acho que as “Elipses”, de Richard Serra, apoiadas em si mesmas e não mais nas paredes das instituições, ou “O Ciclo Creamaster”, de Matthew Barney, com suas infinitas dobras e relações internas, partilham esta característica. Meu trabalho acompanha de certa forma essa direção.
A institucionalização crescente da arte trouxe para junto dela uma pletora de discursos institucionais, todos perfeitamente centrados, seguros de si e disputando espaço na mídia e nas oportunidades orçamentárias. Isso vem, talvez, do estilhaçamento das grandes noções universais que acompanharam a formação do mundo moderno: política, religião, burguesia, proletariado, luta de classes, direita, esquerda etc.
Com a quebra dessas noções universais, os particulares (ecologia, minorias étnicas, minorias sexuais etc.) firmaram-se, cheios de si, pontudos, zelosos de suas verdades. A arte talvez seja a última experiência universalizante, ou ao menos não simétrica à discursividade do mundo, e acho que tende a ser cada vez mais atacada, toda vez que discrepar, como soberba e como arbítrio. Mas penso que é isso mesmo que ela deve manter: sua soberba e seu arbítrio, para que possa continuar criando.

DESFAÇATEZ Pois isso para mim foi o mais impressionante de tudo: a absoluta incapacidade, digamos, interpretativa de quem me atacou, a recusa de ver outra coisa, de relacionar o sentimento de adesão ou de repulsa que meu trabalho tenha causado com qualquer coisa proposta por ele, em suma, a desfaçatez com que foi usado como trampolim para um discurso já pronto, anterior a ele, que via nele apenas uma possibilidade de irradiação.
Para isso, é claro, o principal ingrediente é que fosse tomado de modo absolutamente opaco e literal, espécie de cadáver sem significação. Para que possa ser veículo estrito de discursos e de grupos, sem que utilize seus recursos, digamos, naturais (sedução, desejo, ambivalência), o trabalho de arte tem de estar, de fato, desde o início definitivamente morto. Daí, creio, a ferocidade com que fui atacado -uma espécie de operação higiênica preventiva, para impedir que qualquer germe de espanto, ambiguidade, beleza, estupor, pudesse aparecer, desqualificando o desejado consenso.
No fundo, acho que a frase famosa de Frank Stella, que jogou uma pá de cal nas ilusões subjetivas de começos dos anos 60 e inaugurou as poéticas minimalistas que duram até hoje, “What you see is what you see” (“O que você está vendo é o que você está vendo”), parece ter migrado da arte para o mundo. A literalidade das obras de um Carl Andre ou de um Donald Judd transferiu-se inteira para as instituições e para o público.
Por isso talvez caiba hoje à arte a tarefa bastante simples, mas tão difícil, de dizer exatamente o contrário: “O que você está vendo NÃO é o que você está vendo”. Ou seja, sonhar. Ou, como diz a letra da canção, “Bandeira branca, amor”.

Em 2002 fiz minha primeira exposição individual em São Paulo no Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Chamava-se Portátil – 98/02 e reunia seis trabalhos realizados entre os anos de 1998 e 2002. O conjunto de obras afirmava a pluralidade de meios que sempre marcaram minha produção desde o início. Para o folder da exposição escrevi esse pequeno texto aí embaixo:

Veículo Rastreado
“Não precisa de mais nada. Não precisa de ninguém. Linhas no computador. Cinco imagens na tela em frente ao nariz. Dois cartões no bolso traseiro esquerdo, um vermelho e um amarelo. / Cupim come a madeira. Música com buracos. / Os talentos precoces amadurecem lentamente, quando amadurecem / Poucos amigos. Péssima pescaria. Sangue ruim. / Disse que não vai se repetir. Tudo irrita. A pele queima. Liga a televisão duas vezes. O soldado que nunca lutou, o atleta que nunca competiu. / Estará lá novamente quando voltar. Trinta dias, seis cidades diferentes. / Acorda perto da Central do Brasil sem documentos e sujo. Volta até o cinema da noite anterior. Onibus e depois barca até Niterói. Encontra a mãe morta. Pára e pensa. Não tem dinheiro. Nenhum. / Na parede: o chão. Na janela: o poste. Vai cortar o cabelo e diz que ama o aprendiz. Comprou uma máquina fotográfica. Idéia nova (zero). /Poltrona da sala de estar. A lembrança de uma criança. Em casa permaneço lendo o campo, o campo do futebol. /Ruído. Segura minha mão. Tudo vai explodir. Alguém desce pelas escadas correndo. O dia está amanhecendo. As estrelas vão embora. Ninguém se importa. Existe diferença. /Banco do bar. Banco do assalto. / Pais olhas seus filhos. Nervosos. Vão descobrir um caminho melhor, longe das drogas. As boates de sacanagem não prestam mais. Tudo vai melhorar no ano que vem. / Tristes e tortos, todos foram feitos de borracha.”

O Fotógrafo Wilton Montenegro mandou ontem esse texto do Paulo Sérgio Duarte que foi publicado no Globo impresso na pag. 7.
Lá vai…


GLOBO ONLINE: OPINIÃO

Publicada em 21/09/2010 às 18h09m
PAULO SERGIO DUARTE

Desde 1985, com a criação do Ministério da Cultura, há um problema na formulação das políticas públicas de cultura: fomos levados a um divórcio entre educação e cultura. O novo ministério serviu bem como balcão de atendimento às reivindicações das diversas corporações culturais, atende artistas e produtores e nos últimos oito anos ampliou essa assistência a um público que nunca teve acesso ao Estado. As leis de incentivo à cultura por meio da renúncia fiscal podem ser aperfeiçoadas, mas funcionaram. Entretanto, a questão crucial não foi enfrentada desde 1985: a participação da cultura na formulação das políticas públicas educacionais. E vou mais longe: a participação da cultura em projetos sociais, como os de urbanismo e habitação e os de alimentação. O fato é que a política cultural não pensa a nação fora do gueto das diversas corporações, algumas com lobistas profissionais.
O caso da distância da cultura dos projetos educacionais é o maior problema. O forte investimento que o Brasil fizer em educação nas próximas décadas terá resultados lamentáveis se mantidos os paradigmas atuais. Só se pensa na capacitação técnico-científica e o problema não se resolve ao embutir nos currículos disciplinas artísticas como arte, música e dança. Isso é necessário, mas não suficiente. Trata-se de formar os professores das mais diversas disciplinas – matemática, ciências, línguas, história, geografia, educação física – com ênfase nos aspectos culturais que podem ser explorados em seus projetos didáticos. Os laboratórios de currículos das secretarias de educação têm que ser capacitados para isso. Quando existem, não estão preparados e isso deverá ser objeto de um investimento rigoroso. É todo um processo que se constitui num grande desafio para a política cultural das próximas décadas. O cidadão do mundo contemporâneo resolverá melhor suas dificuldades se junto com a especialização tiver uma percepção adequada da complexidade local e global, ou como se costumava dizer, em termos mais antigos, das particularidades e da totalidade. A formação de professores bem remunerados deverá ser a atenção primordial, mas sem a dimensão cultural e a habilidade de tratá-la em diferentes disciplinas pouco adiantará para melhorar o que vem por aí.
O caso da ausência da dimensão cultural na formulação dos projetos sociais aponta para as tragédias que estamos construindo. Tomemos o exemplo mais banal do urbanismo, da habitação e do saneamento. Encontrado um terreno plano, traça-se um projeto ortogonal, de vielas ou ruas verticais e horizontais, que se entrecruzam, e lá são construídas habitações de arquitetura pífia. Para quem mora embaixo da ponte é um ganho enorme, mas levar o miserável a habitar um verdadeiro campo de concentração forma cidadania? Porque não pensar todos, literalmente todos os projetos de habitação popular, como locais aprazíveis, com desenho de ruas agradáveis, um projeto de paisagismo com arborização adequada, locais de lazer e equipamentos de saúde, de educação e cultura necessários para uma vida pobre mas digna dentro das novas exigências de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente? O que se constrói hoje é uma indústria da depressão e da marginalização da população pobre, locais vulneráveis à violência e a toda forma de achaques, de traficantes, de milícias, de funcionários corruptos e de políticos demagogos. A redução de custos desses projetos, a médio prazo, custa muito mais caro a toda a sociedade.
E não esqueçamos que é tempo de a dimensão cultural entrar na política de alimentação. Pode parecer absurdo, mas depois do Fome Zero é importante pensar na qualidade da alimentação num processo de educação alimentar das populações mais pobres, e, de novo, a política cultural terá que encontrar um nicho para se meter nesse assunto: o que comem os brasileiros pobres.
Esses são desafios para uma política cultural mais abrangente do que a que vem sendo executada há mais de duas décadas. Sem uma sinergia positiva entre os diversos ministérios e o Ministério da Cultura não sairemos dos limites atuais. E essa sinergia só se produzirá a partir da vontade expressa do futuro presidente da República, como plano permanente de governo. 

PAULO SERGIO DUARTE é professor e pesquisador do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes. 

peguei isso lá no blog oficial da exposição

Ding Musa registra bastidores da Paralela 2010

Está quase tudo pronto no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo para a inauguração da Paralela 2010. Os artistas trabalharam duro nestes últimos dias na finalização da montagem de suas obras.   
No último final de semana, o fotógrafo Ding Musa, que participa da 5ª edição da mostra, esteve nos galpões do Liceu e registrou os bastidores, dias antes da estreia. Confira nas fotos abaixo um pouco do que será visto na exposição, que apresenta trabalhos de 82 artistas.
A abertura da Paralela 2010 (para convidados) acontece nesta quarta-feira, dia 22, a partir das 17h. O público poderá visitar a mostra entre os dias 23 de setembro e 28 de novembro, com entrada gratuita.

obra de Marcos Chaves

peguei no Vilamundo

A geometria que almeja a organicidade e o caos que esconde o desejo de ordem é a questão que atravessa os trabalhos reunidos em “Ponto de Equilíbrio”, exposição organizada pelo Instituto Tomie Ohtake para integrar o Polo Cultural da 29ª Bienal de São Paulo. De 20 de setembro a 14 de novembro. “Trata-se da aspiração a um certo grau de organicidade, velada ou explícita, em tudo que nasce sob o signo da geometria. Ou o contrário, o que é quase o mesmo, do desejo inconfessável de ordem que subjaz ao caos”, explicam os curadores Agnaldo Farias e Jacobo Crivelli Visconti.
O equilíbrio que as obras da exposição atingem evidentemente é provisório, por ser fruto de uma tensão constante, nunca se consolida. Muito pelo contrário, aliás, é um equilíbrio que precisa ser constantemente renegociado, colocado em discussão e conquistado. “Trata-se, enfim, de um equilíbrio instável, expressão que, exatamente por ser um oxímoro, resume bastante bem a situação de tensão, talvez até de paradoxo, que a exposição quer identificar”, afirmam os curadores.
Segundo eles, o gume dessa tensão é móvel, por ser a fronteira invisível e equidistante entre opostos, compartilha dos dois no mesmo grau, e desloca-se junto com eles. “É tanto a ordem secreta que organiza e regula o carnaval, quanto o gênio dionisíaco, inexplicável e casual, que permite as descobertas científicas; é o triunfo da razão atravessado pelo puro sentimento, como um cristal cuja pureza fosse repentinamente turvada pelo germe que o destruirá”, completam Farias e Crivelli Visconti.

Andre Komatsu, Engodo Regular, 2010 
Artistas
Afonso Tostes, Amália Giacomini, Ana Paula Oliveira, André Komatsu, Angelo Venosa, Cadu, Caetano de Almeida, Caetano Dias, Carmela Gross, Cláudio Mubarac, Delson Uchoa, Detanico e Lain, Eduardo Climachauska, Inaê Coutinho, Iran do Espírito Santo, José Bechara, José Damasceno, Karin Lambrecht, Laura Vinci, Lia Chaia, Marcelo Moscheta, Marcos Chaves, Mauro Restiffe, Maxim Malhado, Milton Marques, Monica Nador, Nelson Felix, Nicolas Robbio, Raul Mourão, Rodrigo Bueno, Sergio Sister, Tony Camargo, Tunga e Waltercio Caldas.

Curadoria de Agnaldo Farias e Jacopo Crivelli Visconti
21 de setembro a 14 de novembro de 2010
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201, Pinheiros, São Paulo – SP
11-2245-1900 ou instituto@institutotomieohtake.org.br
www.institutotomieohtake.org.br
Terça a domingo, 11-20h

O crítico de arte Sergio Martins mandou email informando sobre a chamada de artigos para a edição especial que o periódico inglês Third Text está organizando sobre arte brasileira. A expectativa é que essa edição seja publicada em inglês e português.
Chamada de artigos – Arte Brasileira?
O periódico Third Text está organizando um número especial intitulado Arte Brasileira?. Ao colocar-se como uma pergunta, esse número parte do princípio de que a prática e o pensamento da arte brasileira deu-se, com freqüência, sob a égide de uma radical experiência de deslocamento. Embora a busca por uma identidade coerente possa ter eventualmente servido de motivação para artistas brasileiros e imigrantes (pelo menos do ponto de vista de certos intérpretes), a história nos mostra que alguns dos mais importantes episódios dessa trajetória relativamente recente foram marcados pela impossibilidade resolver essa questão. Várias manobras – especialmente em círculos vanguardistas – apostaram na rejeição da categoria de identidade, entendida como essencialista, e na impossibilidade de uma identidade brasileira. Mais recentemente, o problema da recepção internacional tardia da arte brasileira (e de sua crescente valorização no mercado de arte) e o impacto deste fenômeno no próprio contexto brasileiro tornou a questão ainda mais complexa. Haveria o risco dessa valorização tardia enquadrar a arte brasileira de acordo com modismos históricos ou curatoriais em busca de legitimação? Ou poderia surgir aí uma via de mão dupla, capaz de forçar a reavaliação crítica de narrativas canônicas.
Convidamos para o envio de trabalhos cujo objeto de estudo relacione-se de alguma forma com diálogos, discussões, posições estéticas e políticas e outras questões mais amplas que perpassem a sinuosa história da noção de arte brasileira. Exemplos de tópicos que podem ser abordados: a relação entre as artes visuais e outras áreas (como fotografia, literatura, design, música, arquitetura etc); tópicos que ponham em questão os limites do que é convencionalmente tomado por ‘modernismo’; questões ligadas à recepção internacional da arte brasileira, especialmente no tocante à circulação de artistas e trabalhos e ao modo com o qual essas questões estabelecem relações com a cena local; o impacto de ideias e pontos de vista trazidos para o Brasil por imigrantes ou visitantes; formulações curatoriais da idéia de arte brasileira; a circulação desigual da arte brasileira em diferentes circuitos (curadoria, história da arte etc); o papel de instituições (culturais ou não) em relação à prática artística; a recepção da arte internacional no Brasil, em especial quando esta gera leituras alternativas e pode ser relacionada ao trabalho de críticos e artistas locais. Um dos objetivos dessa edição especial é também reunir um conjunto expressivo de documentos visuais sobre os assuntos discutidos, de modo que encorajamos os potenciais autores a dar atenção especial para as imagens a serem sugeridas.
Serão aceitos artigos escritos em inglês ou português (em caso de aceite, uma versão na outra língua poderá ser solicitada) que não ultrapassem o limite de 5.000 palavras. Artigos devem ser enviados até 20 de dezembro de 2010 para o email thirdtext@btconnect.com (favor avisar no email que se trata de um artigo para essa edição especial). Instruções para autores estão disponíveis no endereço http://www.thirdtext.com/authors-guidelines/.

Frederico Coelho me mandou esse link aí embaixo do movimento Stuckista. Podia ser um post da seção INFLUENZA mas é muito mais do que isso. (veja aqui os posts da seção Influenza: 

Komatsu e DamascenoLaura Gilbert e CildoLucia Koch e Nicolás Robbio,Cornelia Parker e Antonio Manueleu e Maurizio CattelanMiranda July e Tatiana GrinbergBarrão e Yee SookyungRicardo Villa e Adriana Varejãoeu e Sol LeWitt). 

Lá no site tosco deles tem a seguinte apresentação: 

Stuckism is a radical and controversial art group that was co-founded in 1999 by Charles Thomson and Billy Childish (who left in 2001) along with eleven other artists. The name was derived by Thomson from an insult to Childish from his ex-girlfriend, Brit artist Tracey Emin, who had told him that his art was ‘Stuck’. Stuckists are pro-contemporary figurative painting with ideas and anti-conceptual art, mainly because of its lack of concepts. Stuckists have regularly demonstrated dressed as clowns against the Turner Prize. Several Stuckist Manifestos have been issued. One of them Remodernism inaugurates a renewal of spiritual values for art, culture and society to replace the emptiness of current Postmodernism. The web site www.stuckism.com, started by Ella Guru, has disseminated these ideas, and in five years Stuckism has grown to an international art movement with over 187 groups in 45 countries. These groups are independent and self-directed.


THE ART DAMIEN HIRST STOLE
by Charles Thomson, co-founder of the Stuckists art group

In 1995, Damien Hirst defended his work with the rationale, “It’s very easy to say, ‘I could have done that,’ after someone’s done it. But I did it. You didn’t. It didn’t exist until I did it.”
In 2000, he decided that doing it was not the justification after all: “I don’t think the hand of the artist is important on any level, because you’re trying to communicate an idea.”
In 2006, the idea of the artist was not important on any level either: “Lucky for me, when I went to art school we were a generation where we didn’t have any shame about stealing other people’s ideas. You call it a tribute”.
In 2009, Anthony Haden-Guest interviewed Hirst: “Other artists have attacked you for using their ideas. John LeKay said the skulls were his idea. John Armleder … was doing spot paintings. And some say Walter Robinson did the spin paintings first.” Hirst’s tribute was: “Fuck ’em all!”
Hirst’s career started In 1988 at the Freeze exhibition, when he painted grids of spots with random colours. Thomas Downing, an American, painted grids of spots with repeated colours in the 1960s. Gerhard Richter painted grids of rectangles with random colours in 1966. John Armleder, a Swiss artist, painted spots during the 1970s.
In 1989, Hirst starting making cabinets with bottles on shelves. In 1992, he developed this into a room-size installation, called Pharmacy. Joseph Cornell displayed a cabinet with bottles on shelves, called Pharmacy in 1943.
In 1991, Hirst exhibited a preserved shark in a tank in Charles Saatchi’s art gallery in St John’s Wood. Eddie Saunders exhibited a preserved shark on a wall in his J.D. Electrical shop in the YBA heartland of Shoreditch in 1989.
In 1992, Hirst moved to New York, where he met John LeKay, a 31 year old British artist, resident in the city since 1981. Hirst was four years younger, a celebrity in the UK, but still only four years out of college and exhibiting in his first show (of twelve British artists) in the United States. LeKay said Hirst “told me one time he was going to conquer America like the Beatles.”
LeKay kept a journal. He recalls that Hirst visited his studio on several occasions and showed considerable interest in his work. Hirst was working on “patch paintings”, which he abandoned after LeKay told him they were “shit” – “The concept was brush marks on Francis Bacon’s studio wall. Looked like his grand mother made them.”
They met frequently over the next few months, visiting each other’s homes and going to art openings, shows, parties and bars, sharing meals, getting drunk together and playing badminton with a beach ball in the living room. LeKay said Hirst was “a raging alcoholic and cocaine addict. He was always snorting it. Drinking like a fish … He seemed to be really lost at times. If he was not drinking or doing drugs, he seemed to be depressed. I gave him some advice about this one time.”
Contributing to Hirst’s state of mind was the Turner Prize result in November 1992. LeKay said Hirst was “Angry about it. He seemed shocked he did not win it.”
LeKay, raised a Catholic like Hirst and described by Adrian Dannatt in Flash Art as a “strung-out enfant terrible”, was a kindred spirit, if not a role model. LeKay recalled: “One time in the taxi going to Ashly Bickerton’s house, he said that he thought he was becoming me. Talking and acting like me. It was very strange … I thought he was mentally ill at that point or on coke.”
Hirst was sufficiently engaged to edit the sixth – and, as it turned out, final – issue of LeKay’s Pig (Politically incorrect geniuses) magazine, enlisting Danny Moynihan, Marcus Harvey and Angus Fairhurst as contributors. He also interviewed LeKay for the catalogue of LeKay’s show in 1993 at the Cohen Gallery, managed by Tanya Bonakdar, who had given Hirst his first US solo show.
Hirst mentioned that he was looking for a source of butterflies, and LeKay gave him a spare copy of the Carolina Biological Supply Company Science catalogue, which he had been using as a source of ideas. They reached an agreement, said LeKay: “I put yellow stickers on the pages with the skeletons, skulls, mannequins and resuscitation dolls I was working on. He said he would stick to the animals and I would do the humans and he was very happy.”
Another time, LeKay showed Hirst a photo of one of his works, a split-open sheep in a crucified posture. Hirst asked its date and – when told 1986 or 87 – became very quiet. “He got fidgety, bugged in the ride back in the car to the city. Began making odd comments out of context. At the time it made no sense. Then the next morning Tanya called me frantic, telling me he smashed up the kitchen he was staying at. She said, ”what the fuck did you say to him?’ “
“I said, ‘Nothing. All I did was show him slides of my old work, the meat pieces, to let him know I had done work like he was doing years before him. To me it wasn’t a big deal, but to him it was for some reason. If I knew it would have upset him so much, I would never have shown the slides to him.’ She said, ‘You have no idea how envious he is of you.’ “
LeKay’s gift of the Carolina Science catalogue manifested as a dramatic development in Hirst’s oeuvre within a few months. One of the items illustrated was a model cow bisected lengthways. In the 1993 Venice Bienniale, Hirst exhibited Mother and Child Divided, a cow and a calf bisected lengthways.
In 1995, Hirst started making “spin paintings”, the titles of the first four all beginning with the word “beautiful”. Spin paintings – made by pouring paint on a revolving surface – appeared in the 1950s as a popular novelty activity and had also been made by artists. Swiss artist, Alfons Schilling, and French artist, Annick Gendron made them in the 1960s. Walter Robinson, an American artist, exhibited them during the 1980s. John LeKay developed his own variant called “pour paintings” – which Hirst saw early in 1993 – by using a table which could tilt and swivel. LeKay says Hirst told him they were “beautiful and sexy”.
UK artist, Andy Shaw made spin paintings in 1993 and said that he talked about them to Jay Jopling, who represented him and Hirst, a few months before Hirst began to make his them. Hirst showed some in his 1996 show, No Sense of Absolute Corruption, at the Gagosian Gallery in New York. David Rimanelli in ArtForum said the only difference between Robinson’s and Hirst’s was that some of Hirst’s had motors to make them rotate. LeKay said Hirst had paid particular attention to one of his “pour paintings” that was “hanging on a toilet paper holder of a wall pierced through its centre to make it rotate.”
One of Hirst’s exhibits in the 1996 Gagosian show was an installation of a ball held aloft in a jet of air. Hans Haacke made an installation of a ball held aloft by a jet of air in 1964. Haacke used a white ball. Hirst used a coloured ball.
Another Hirst exhibit was This Little Piggy Went to Market, a pig split in two lengthways (in vitrines of formaldehyde). One of the pictures in the Carolina Sciencecatalogue given to Hirst by LeKay was an anatomical model of a pig split in two lengthways. In 1984, Debby Davis took a cast of half a pig cut open lengthways and made a fibreglass sculpture, called Visible Pig. It was sold by Doug Milford of the Piezo Electric gallery in January 1986 to Charles Saatchi, and auctioned at Christies, New York, in November 1989.
In 1999, Hirst made Hymn, an enlarged version of an anatomical torso model from Humbrol. One of LeKay’s found object works from 1990 was Yin and Yang, an anatomical torso model from Carolina Science.
In 1999, celebrity chef, Marco Pierre White made a picture, Rising Sun, to decorate his restaurant. He said that Hirst copied it a few months later with a work calledButterflies on Mars and, according to White, told him, “I’m the artist and you’re the chef so everyone’s going to think you’ve copied me.”
In 2003, Hirst made Charity, based on the model of a girl with a collecting box displayed from the 1950s to the 1980s by The Spastics Society (now renamed Scope). In 1993, Kerry Stewart, made The Boy from the Chemist Is Here to See You, based on the Society’s model of a boy with a collecting box. Her work was part of Saatchi’s Young British Artists shows in the 1990s.
In 2003, Hirst painted Spirit, a dove in the sky with wings aloft. The same image had been painted multiple times and exhibited for the previous four years by Talaat Elshaabiny on the Bayswater Road. It was originally from a 1980s Christmas card.
Hirst exhibited artworks with butterflies in 1991, using whole butterflies scattered on a painted surface. Lori Precious, a Los Angeles artist, started using butterflies in 1992. She fixed the wings contiguously to create the effect of stained glass windows. In 2003, Hirst started fixing butterfly wings contiguously to create the effect of stained glass windows. Precious’s work in 2005 was titled with a literary quote from James Joyce. The titles of Hirst’s butterfly stained glass works in 2007 incorporated literary quotes from Philip Larkin.
In 1991, True Daisy, a complex design of spiralling spots within a circle by Robert Dixon, a mathematician and computer artist, was published in The Penguin Dictionary of Curious and Interesting Geometry. In 2003, Hirst contributed a design to The Guardian’s colouring book for children. Dixon said Hirst’s design was “exactly the same” as his one. Hirst’s manager replied it was not copied from Dixon: Hirst had found it in a book called The Penguin Dictionary of Curious and Interesting Geometry.
In 2006, Dixon discovered that Hirst had also used True Daisy, with the spots coloured in, for Valium, an edition of 500 prints produced in 2000.
LeKay’s 1986 work of a split-open crucified sheep, which had caused Hirst so much upset, was titled This Is My Body, This Is My Blood. In 2005, Hirst did a split-open crucified sheep, titled In the Name of the Father. LeKay’s was on a board. Hirst’s was in a tank of formaldehyde.
In 1993, LeKay made paintings based on images of cancer cells from the CarolinaScience catalogue. Hirst saw them. In 2007, in Beyond Belief at the White Cube gallery in London, Hirst exhibited paintings based on images of cancer cells from the Science Photo Library.
In 1993, LeKay produced a series of 25 skulls, some made out of paradichlorobenzene and one made from soap covered with Swarovski crystals. Samples had been in the Cohen Gallery. LeKay says he mentioned the idea of a skull covered in diamonds to Bonakdar. In 2007, Hirst made a skull covered in diamonds. LeKay used a title, Spiritus Callidus, a name for the devil. Hirst called his For the Love of God.
In 2009, a year after he had divested himself of his stock of conceptual and minimal art at the famous Sotheby’s auction, Hirst announced that conceptual and minimal art were “total dead ends” and that he “always thought painting was the best thing to do”.
Notes
1. Detail of work.
2. Flipped horizontally.
3. Full title: Gorgeous Concentric Red Blue Hot Cold Painting (with Green Centre)
4. Full title: The Native Navigated His Canoe by the Stars and Peacefully Disappeared into the Bermuda Triangle. # 2
5. Full title: The Boy from the Chemist Is here to See You.
6. Psalm print, based on butterfly designs.
7 Desaturated.
Material on Thomas Downing has been added since The Jackdaw article. This online version contains extra images.
Photo of Damien Hirst modified from original by Luke Stephenson CC-BY-SA-3.0 from Wikimedia Commons

List includes In the Name of the Father, Pharmacy, as well as the spin and spot paintings
A detail from Damien Hirst’s In the Name of the Father which is claimed to be based on John LeKay’s earlier This is My Body, This Is My Blood. Photograph: Jackdaw
From formaldehyde-immersed sharks to diamond-encrusted skulls, Damien Hirst has become used to taking flak from traditionalists.
Less than welcome have been the accusations of plagiarism, the latest of which were detailed today with claims that no fewer than 15 works produced over the years by the self-styled enfant terrible have been allegedly “inspired” by others.
While Hirst has previously faced accusations that works including his diamond skull came from the imagination of other artists, the new allegations include his “crucified sheep”, medicine cabinets, spin paintings, spot paintings, installation of a ball on an air-jet, his anatomical figure and cancer cell images.
Charles Thomson, the artist and co-founder of the Stuckists, a group campaigning for traditional artistry, collated the number of plagiarism claims relating to Hirst’s work for the latest issue of the Jackdaw art magazine.
He came up with 15 examples, with eight said to be new instances of plagiarism. The tally includes the medicine cabinets that Hirst first displayed in 1989, and its development in 1992 – a room-size installation called Pharmacy.
“Joseph Cornell displayed a cabinet with bottles on shelves called Pharmacy in 1943,” said Thomson. Nor were Hirst’s spin paintings or his installation of a ball on a jet of air original, he said, noting that both were done in the 1960s.
“Hirst puts himself forward as a great artist, but a lot of his work exists only because other artists have come up with original ideas which he has stolen,” said Thomson. “Hirst is a plagiarist in a way that would be totally unacceptable in science or literature.”
Aggrieved artists include John LeKay, a Briton who says he first thought of nailing a lamb’s carcass to wood like a cross in 1987, only to see it reproduced by Hirst. Lekay previously claimed in 2007 that he had been producing jewel-encrusted skulls since 1993, before Hirst did so. Lori Precious, an American, says she first arranged butterfly wings into patterns to suggest stained-glass windows in 1994, years before Hirst.
Imitation may be flattery, but not when Hirst is taking both the financial and artistic credit for their ideas, say Lekay and Precious. LeKay has never sold anything above £3,500, while Hirst’s set of three crucified sheep was a reported £5.7m. Precious’s butterflies sold for £6,000 against Hirst’s version for £4.7m.
While Hirst is one of Britain’s richest men, LeKay cannot live off his art. Accusing Hirst of being dishonest about where he gets his ideas, he said: “He should just tell the truth.”
Although LeKay recognises that artists have always found inspiration in each other, he says the great ones adapt ideas to create works with their own individual and original stamp.
He said: “Damien sees an idea, tweaks it a little bit, tries to make it more commercial. He’s not like an artist inspired by looking inwards. He looks for ideas from other people. It’s superficial. Put both [crucified sheep] together and … it’s the same thing.”
In the 1990s, they were friends and shared exhibitions, which is when Hirst may have seen his sheep. Since then, LeKay has become more interested in Buddhism than material wealth, so he does not plan to seek compensation.
Precious recalled her pain at seeing Hirst’s butterflies in a newspaper: “My artist friends and collectors called to tell me they couldn’t believe the similarities between Hirst’s work and mine, and … at first I too thought it was my work.”
Although the patterns are not identical, she said: “It’s the same material (butterfly wings) and the same idea (recreations of stained-glass windows).”
Without the funds to pursue legal action, she no longer produces butterfly works.
It emerged in 2000 that Hirst agreed to pay an undisclosed sum to head off legal action for breach of copyright by the designer and makers of a £14.99 toy which bore a resemblance to his celebrated 20ft bronze sculpture, Hymn.
David Lee, the editor of the Jackdaw, says Hirst’s compensation was an admission of guilt. “The fact he was willing to fork out the money is an indication that he knew he was plagiarising the guy’s work.”
Hirst declined to comment.