Matéria do FABIO CYPRIANO que saiu na Ilustrada e no site da Folha.

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) está abandonado pelos poderes públicos, especialmente o federal, afirma Teixeira Coelho, curador da instituição. “Não há no poder público uma disposição para perceber a grandeza do Masp”, diz ele.

Com o mais importante acervo do hemisfério sul, o museu saiu da crise institucional, que culminou com o corte de eletricidade, em 2006, mas não tem fôlego para implementar exposições de artistas brasileiros contemporâneos que considera fundamentais.

Com a bilheteria e o apoio de R$ 1,2 milhão do governo municipal, o Masp obtém verba para se manter apenas por quatro dos 12 meses do ano –seu orçamento é de R$ 12 milhões. Os outros oito meses do ano dependem de doações e patrocínios.

Isso, para Coelho, representa a falta de política dos governos para instituições culturais.

Teixeira Coelho, curador do Masp, na sede do museu. Foto: Marcelo Justo/Folhapress

Ele crítica também que, a dois anos da Copa, o governo federal não tenha dado início a um projeto cultural, nos moldes do que Londres organizou durante a Olimpíada.

“O Masp continua blindado. Como seu acervo é tombado, nós pedimos assento em seu conselho, junto com os governos estadual e municipal, mas eles não respondem. É preciso abrir sua administração e não ficar apenas pedindo dinheiro”, disse à Folha José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), vinculado ao Ministério da Cultura.
Quanto à Copa, Nascimento Júnior diz que o governo elaborou um projeto de R$ 250 milhões, mas está buscando verba.

“A ministra Marta Suplicy encontrou-se com o ministro do Esporte [Aldo Rebelo] nessa semana para tratar disso.”

Em suas críticas aos governos, Teixeira Coelho poupa Marcelo Araujo, o secretário de Cultura do Estado de São Paulo: “Tenho boas expectativas sobre sua gestão. Ele é uma pessoa da área, que sabe o que é necessário”.

Araujo concorda que o Estado precisa dar apoio ao Masp. “Estamos realizando um processo de aproximação com o Masp para compor parcerias”, afirma o secretário.

Para Coelho, parte das dificuldades enfrentadas pelo museu tem a ver com o preconceito em relação ao centralismo da gestão Júlio Neves (1994-2008), que extinguiu a figura do curador.
“Existe uma coisa chamada hábito cultural, que faz com que não se mude o modo de pensar uma coisa”, diz.

Leia abaixo a entrevista que o curador concedeu à Folha.

*

Folha Estamos a dois anos de um megaevento na cidade, que é a Copa do Mundo. Em Londres, por conta das Olimpíadas, a Tate inaugurou uma nova ala. O Masp pretende fazer algo?*
Teixeira Coelho – Um dos primeiros eventos da Olimpíada, em Londres, de que tive conhecimento, foi um concerto de música clássica que eu ouvi pela rádio, meses antes de ela começar. E foi um evento anunciado como parte da Olimpíada. Os ingleses cuidaram disso. As pessoas vêm para as cidades ver dois ou três jogos de futebol, mas fazem também turismo. E buscam cultura.

Quais são os planos do governo brasileiro para a Copa? Estamos a dois anos e nada foi programado. Sozinho o MASP não pode fazer mais do que já faz.

O Masp não foi procurado?
Nada. E eu não sou de ficar aqui sentado esperando. Quando busquei o governo para discutir caminhos de cooperação, me disseram: “Na semana que vem, agora não posso, agora vou viajar…” Se existe um Ministério da Cultura, são eles que deveriam nos procurar.

Então não existe uma política federal para as instituições culturais?
Não. Claro que se você falar com o Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, eles vão dizer que possuem uma política e que o Masp precisa aderir ao sistema nacional de museus. Mas se você trocar em miúdos, nós nunca fomos capazes de ver nada de concreto.

Mas e os editais que eles promovem?
São editais de valores baixos, que pouco representam para o Masp. Eu aprendi que é preciso tratar desigualmente os desiguais. Isso não é tão antidemocrático como parece, pois significa tratar com mais intensidade os desprotegidos e com menos intensidade os mais favorecidos. Isso significa também que determinadas instituições, por sua importância, precisam ser tratadas de forma adequada. Não se trata o Masp como um pequeno museu de memória do interior.

O atual governo tem priorizado o apoio a projetos do Norte e Nordeste. Você concorda com essa política?
Essa é uma questão importante de política cultural. Se você vai na rua Florêncio de Abreu, em São Paulo, lá existe ferragem, na rua da Consolação, produtos de iluminação. O que quero dizer com isso? Existe em cultura algo que diz respeito à concentração. Na universidade isso é chamado massa crítica. Concentrando você pode irradiar. No Brasil, antes de haver concentração, chega um monte de apressadinhos que querem descentralizar.

Isso foi um efeito perverso da Lei Rouanet. Desconcentrou, pulverizou, e as instituições foram rebaixadas a um nível de tábula rasa. Algumas privadas se fortaleceram, mas as públicas não. Não foi só o Masp quem sofreu, o MAC também. O pensamento tem sido “o Masp que se vire sozinho, ele é elitista, tem boas obras”. Mas ele não se vira sozinho. O Louvre ainda recebe 30% de verbas do Estado, se não me engano.

Quanto o Masp consegue de bilheteria?
É um grande tema. Da bilheteria, 66% não pagam nada: idosos e crianças. Em qualquer lugar avançado do mundo, idoso às vezes tem redução de 10%. Assim, 33% dos que entram no Masp pagam alguma coisa, e o preço do ingresso está congelado há seis anos. Então, é quase nada.

O que isso representa de fato?
Com 800 mil visitantes por ano, a bilheteria paga cerca de dois meses de manutenção do museu. Assim, a Prefeitura de São Paulo, que repassa por ano, por conta de um decreto, cerca de R$ 1,2 milhão, paga um mês e meio, dois meses de manutenção do museu, os visitantes outro tanto. E os quase oito meses, já que o orçamento do Masp está em R$ 12 milhões, quem paga? Doações e patrocínio.

Com as questões do passado recente do museu, como a centralização do ex-presidente Júlio Neves, você acha que o Masp sofre preconceito?
Sim. Existe uma coisa chamada hábito cultural que faz com que não se mude o modo de pensar uma coisa. Certas coisas grudam e vão ficar. Se todo mundo tivesse mente aberta, seria possível mudar de opinião a respeito das coisas.

Eu sabia de tudo isso quando entrei no Masp. Por que aceitei? Ou você fica na arquibancada xingando o juiz, e eu cansei de xingar, ou pega a camisa e vai jogar. Eu escrevi em vários lugares, inclusive na Folha, que o problema do Masp era que ele não tinha curador. Possivelmente por isso fui convidado e o que eu podia responder? Seria muito acadêmico não aceitar, eu não sou acadêmico a esse ponto.

Mas se a elite intelectual ainda descrê do Masp, a população o torna ainda um dos museus mais visitados. É meio esquizofrênico, não?
Parafraseando um político famoso, o público do museu quer ver arte e não está interessando em questões que interessam a outros.

Um fenômeno recente interessante foram as filas para ver os impressionistas no CCBB, sendo que o Masp possui obras dos mesmos artistas com a mesma qualidade…
Aquilo é um evento e o Masp não é. Mas eu não compartilho com a ideia que um evento é necessariamente uma besteira. Etimologicamente, evento é algo que rompe uma rotina.

Se os impressionistas no CCBB servem para romper a rotina dos impressionistas do Masp, ótimo! Acorda, desperta, dá um choque. Mas, fila não mede muita coisa. Aqui também tivemos filas para o Caravaggio e eu acho isso algo indigno. Eu não faço fila para ver arte. Estou lutando para resolver esse problema de filas.

Por outro lado, o Masp ainda tem uma dívida com os artistas brasileiros. O Prêmio Masp, pelo qual venho batalhando desde o início de minha gestão e que só concretizamos neste ano, é uma forma de resgatar a divida do Masp com os artistas brasileiros. Mas fizemos um programa de exposições de artistas brasileiros e pergunta-me se conseguimos patrocínio!

Até hoje temos artistas convidados, que fizeram projetos, mas não conseguimos levantar patrocínio porque as empresas não pagam pelo artista brasileiro e o bolso do Masp não consegue fazê-lo.

Isso não é outra perversidade das leis de incentivo, pois os patrocinadores só apoiam nomes fortes?
Eu aprendi que é preciso ver as coisas por perspectivas distintas. Tem patrocinador que não está preocupado com rendimento de mídia, mesmo porque alguns, não me pergunte quais, não querem que se coloque sua logomarca.

E por que eles apoiam Caravaggio? Porque é conhecido e porque o patrocinador gosta dele, sinceramente! Agora se eu quero mostrar um artista conceitual brasileiro, o patrocinador não o conhece porque não sabe o que é arte conceitual. Ele não está errado, é a instituição que tem que dar um jeito de mostrar aquilo que ela acha que é importante. Só que o museu tem que lutar para ficar à tona. Não é digno que um país deixe um museu lutando para ficar à tona! O país tinha que encontrar um jeito para que o Masp navegasse.

Mas o Brasil vive uma fase de uma euforia no mercado, isso não se reflete nas instituições?
Nós continuamos, do ponto de política cultural, do mesmo modo que estávamos há muitos anos atrás. Alguma instituição tem sucesso porque se renova, como Fundação Bienal, que a duras penas consegue se manter, e outras nem tanto. Então, eu não vejo essa melhora do mercado se refletir nas instituições de arte, como o Masp, um museu que não tem, praticamente, apoio público, com exceção de pequeno aporte do município.

A indiferença e o alheamento em relação às questões de cultura e arte no Brasil continuam os mesmos, tanto do poder público, da iniciativa privada ou da sociedade civil. Eu não sou inimigo da lei Rouanet, porque sem ela o Brasil seria uma cela gelada em termos de cultura; mas o fato é que ela não acostumou a iniciativa privada a colocar dinheiro próprio na cultura.

Ao mesmo tempo, foram criadas instituições como o CCBB, que ajudam a movimentar o setor. Mas há brasileiros que doam dinheiro ao MoMA e não nada para o Masp ou outras instituições do Brasil.

O Masp foi criado por um mecenas, o Assis Chateaubriand. Há mecenas hoje?
Os mecenas acabaram. Quando eu estava no MAC eu ouvi de um colecionador que doações como as do Ciccillo e do Chateaubriand nunca mais, porque ele tem herdeiros e os herdeiros fazem questão de continuarem proprietários das obras. Naquele tempo a arte não tinha alcançado também o patamar econômico que tem hoje, não tinha os mesmos preços de hoje. Aquela fonte secou.

A isso, se acresce o absoluto desconhecimento pela sociedade civil das funções de um museu. A sociedade americana sabe o peso disso, o mesmo na Europa.

Mas as dificuldades do Masp não têm uma relação por conta da centralização, por anos, de um grupo liderado pelo Júlio Neves?
O Brasil é um país provinciano no sentido de que rixas ideológicas, familiares ou pessoais comandam o cenário e é impossível colocar isso em segundo plano. Se a sociedade que mantém o Masp tem sua parcela de responsabilidade, os poderes públicos também.

Há dois anos o Masp ficou 18 meses sendo investigado por uma promotora de Justiça e nada de significativo foi encontrado e o Masp venceu em primeira instância. Não há no poder público uma disposição para perceber a grandeza do Masp. A Pinacoteca encontrou na OS [Organização Social] uma forma de se manter, mas pelos estudos que o Masp fez, não valeria a pena passar a ser uma OS. Por cinco anos me encontro me encontrei com o Ministério da Cultura e nada acontece!

Uma das primeiras iniciativas da Marta Suplicy foi visitar o Masp…
Tentarei conhecer suas intenções a respeito.

Você tem uma boa expectativa em relação à ela?
Não tenho nenhuma expectativa em relação a ninguém, sem querer ser sarcástico. É que eu sei que, estruturalmente, o Estado brasileiro é indiferente à cultura e à arte. Nós conseguimos sobreviver, mas é difícil, até porque a lei Rouanet dificulta, já que ela é feita ano a ano, não há como planejar dois ou três anos adiante.

A gente tem que planejar uma mostra com maior antecedência, mas não tem autonomia econômica para concretizá-la.

E o Marcelo Araújo, como secretário de Estado?
Tenho boas expectativas sobre sua gestão, ele é uma pessoa da área, que sabe o que é necessário.

Qual é a vocação do Masp, hoje?
Quando fui chamado para ser curador, há quase seis anos, eu propus ao Masp uma linha de atuação baseada na configuração dele. Esse museu aqui, guardadas todas as proporções, é uma espécie de Metropolitan pequeno, fruto da política inicial do museu que era inclusiva: ele tem arte europeia, arte pré-colombiana, cerâmica italiana, etc, típica ideia de um museu do século 19.

Então não há porque ignorar a coleção do museu e não constituir um repertório a partir dele. Hoje, temos seis mostras prontas, a partir do acervo, que se revezam em mostras de longa duração. O museu, então, tem um repertório, como células que apontam para possibilidades de exposição. Surgindo interesse de outro museu, a mostra está pronta para viajar.

O museu não tem como seguir na linha de aquisição, como quando o Chateaubriand era vivo, não porque não se queira, mas porque os preços estão absurdos, e para que ele não se encerre em sua coleção, é preciso que ele se alimente com exposições de arte contemporânea, o que também temos feito. A Bienal percebeu essa tendência do MASP e ela também acontece aqui neste ano, com dois artistas.

Uma prática cotidiana hoje é produtores organizarem exposições para os museus, terceirizando seus serviços. Os museus não têm mais capacidade de organizar mostras sozinhos?
Não é bem terceirizar. Qualquer museu hoje em dia apresenta exposições de outro lugar, mesmo o MoMA, e isso não é um demérito. Você não oferece uma exposição do Caravaggio para a tendinha da esquina. Mas terceirização é uma tendência internacional.

Não quer dizer que seja uma política do Masp, mas faz parte de uma pulverização de algo que antes era muito concentrado. Hoje o museu não é está mais isolado, tem a Bienal, as feiras, os centros culturais, produtoras independentes. Um museu não dá conta sozinho. Temos aqui só três curadores, somos poucos.

E o que representa o prédio ao lado, que está sendo reformado, para o Masp?
A previsão é que ele seja inaugurado no primeiro semestre de 2014. Nós recebemos uma doação de 2.000 obras de arte asiática, do colecionador Fausto Godoy, e parte dela será exibida onde hoje é o restaurante, que vai para o novo prédio. Uma parte da administração também vai para lá, assim como a lojinha, e nele faremos uma escola de arte revolucionária para a cidade.

Em que sentido?
Eu não posso avançar nesse assunto, mas será de fato diferente, porque vai mexer com essa ambiente de São Paulo.

Em 2014 será o centenário do nascimento de Lina Bo Bardi e o Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi não quer que a mostra comemorativa ocorra no Masp pois o museu não apresenta o projeto expositivo dos cavaletes na coleção. Por que o acervo permanente continua sem usar os cavaletes?
Por que deveria continuar? Por que uma proposta expositiva deve continuar para sempre? O Brasil é um país profundamente patrimonialista e preservacionista. É inconcebível que se queira manter uma mesma maneira de expor eternamente. Tentaram tombar os cavaletes do Masp no Condephaat e eles perceberam que isso não era possível. Por outro lado, a primeira exposição que fiz como curador do MASP, com o artista Alex Flemming, utilizou os cavaletes da Lina…

Matéria da Audrey Furlaneto publicada no Segundo Caderno e no site do Globo.

foto: Camilla Maia

RIO – De um lado, uma floresta em delírio, com árvores e flores que parecem saltar, coloridas, de formas geométricas. Anda-se um tanto para o lado oposto, e a geometria parece reinar. As formas surgem equilibradas, ritmadas por um movimento suave. Caminha-se um pouco mais e, enfim, chega-se ao delírio completo que já não obedece às formas e surge ora em espelhos, ora em tecidos brilhantes, ora em néons azuis e vermelhos.

O percurso poético — do delírio da forma ao delírio puro — poderá ser percorrido no Museu de Arte Moderna (MAM), que abre nesta quarta às 19h para convidados três mostras de artistas diferentes e, ao mesmo tempo, próximos: Luiz Zerbini, Raul Mourão e Cabelo.

De Zerbini, a exposição “Amor”, a maior das três que o MAM inaugura hoje, reúne 60 obras da última década — entre elas, as telas (de até seis metros) em que natureza e formas geométricas convivem e deliram no plano bidimensional. Trata-se da maior individual da carreira do artista que nasceu em São Paulo e construiu sua trajetória no Rio, desde os anos 1980, quando trabalhou como cenógrafo do grupo de teatro Adrúbal Trouxe o Trombone.

Um dos grandes nomes da arte contemporânea no país, Zerbini leva de quatro a oito meses para produzir uma pintura. Duas telas que estarão no MAM, entre elas um tríptico de 3 metros por 6 metros, foram feitas especialmente para a mostra. O artista também expõe uma série com slides, telas sem chassis e uma grande mesa em que reproduz as referências que carrega para o ateliê durante o longo e meticuloso processo de criação.

Vizinha à mostra de Zerbini, a exposição “Tração animal” traz oito grandes esculturas de Raul Mourão. São os “balanços” que aparecem na obra do artista desde 2009. Neles, formas em metal se equilibram e têm o movimento alterado pelo toque do espectador. Raul ocupa ainda outras duas salas: numa, balanços menores têm suas sombras projetadas nas paredes; na outra, está o vídeo “Plano/acaso”, em que a câmera, num elevador, percorre os andares de um edifício-garagem no Rio.

Por fim, há “Humúsica”, de Cabelo. E então há terra, floreiras carregadas por imagens de Buda, minhocas, carrinhos, espelhos em bases de skate… Na abertura, o artista irá “incorporar” o MC Minhoca. Fará uma performance com o DJ Esterco (na vida “real”, o DJ XXT) e os meninos Cebolinha e Yuri, do Bonde do Passinho.

Para o curador do MAM, Luiz Camillo Osorio, “pelo contraste, percebe-se a singularidade” dos artistas:

— A apropriação surge como um elemento vital que é potencializado pela obra de cada um. Raul se apropria dos andaimes de forma lúdica, Cabelo tem um universo inteiro. Zerbini vai dos galhos secos às caixas de som, aos slides, aos postes. Ele combina a exuberância de uma obra do Renascimento com a vibração potente de uma banda como Sonic Youth.

Na parede principal do Espaço Monumental do MAM, Zerbini mostra o que define como “conversa entre objetos, cores, formas e composições”. Ele ocupa quase toda a parede com telas que flertam com a figuração, a abstração e a geometria.

A figuração, por exemplo, surge em plantas, convivendo com caixas de som, postes da cidade ou micos que percorrem cabos de energia. Tudo é reflexo da observação da cidade pelo artista, que fotografa postes ou carrega plantas para o ateliê a fim de contemplá-las e recriá-las na pintura.

Zerbini ocupa a parte mais alta da parede, perto do teto, com as formas geométricas puras, em pinturas com incontáveis quadrados do cinza ao preto. Tudo em “Amor” é grandioso e, como diz o curador do museu, “potente e exuberante”.

— É como se fosse um espaço fantástico, mas numa escala real, uma continuação do espaço real — afirma Zerbini.

Na parede oposta, há vitrines de acrílico com slides coletados pelo artista há alguns anos. Ele os organiza, criando padrões, ou faz intervenções, substituindo as imagens por gelatinas coloridas. Já nas laterais do espaço, ficam telas presas por cordas, como “páginas de um livro gigante”.

Reunir todos os trabalhos sob o título “Amor”, diz Zerbini, pareceu-lhe uma “tradução muito precisa do trabalho”:

— Dentro dele está a memória emocional do que se viveu, estão a família, as amizades, a loucura. Tudo isso está incluído na ideia de amor.

Já a expressão “Tração animal”, título da mostra de Raul Mourão, é definida em dicionários como “qualquer veículo deslocado por animal”. No MAM, o espectador é quem “desloca” a obra. Com um toque, as esculturas entram em um “equilíbrio instável”, como diz o artista, que pode ser alterado continuamente.

Para ele, a mostra deve despertar a “vertigem do olhar”.

— A principal função da arte é essa. Uma função social, aliás. Trata-se de impregnar o homem de poesia — diz Raul.

Já em “Humúsica”, de Cabelo, a natureza torna-se ainda mais lúdica — um viveiro de minhocas está no centro de tudo. A ideia que parece dar base à mostra é que o resíduo torna-se fertilizante (no caso, de novas ideias, de obras pouco óbvias que flertam com Arthur Bispo do Rosário e a arte pop).

Além da sala principal, onde há de telas a minhocas, Cabelo criou outra, onde estão vídeos e “objetos de vários tempos, obras feitas e a fazer”.

— O Cabelo é um artista que sai da música, da performance, dessa vibração da cultura pop do Rio e vai para o desenho, o objeto — diz Luiz Camillo Osorio, para, em seguida, retormar a relação entre os três artistas:

— Zerbini tem um pouco da geometria do Raul e da turbulência do Cabelo. Com a geometria do Raul, você vê a turbulência do Cabelo. E, com ela, a geometria do Raul fica mais poética.

 

2012 POWER 100

It’s been 11 years since ArtReview first produced its annual ranking of the most influential people in the artworld, and it’s been quite a ride – past the ecstatic and the furious, bruised egos and big heads, baffled frowns and knowing smiles.

The contemporary art that we get to see (as opposed to contemporary art in general) and the discussions we have about it are determined by a complex and shifting network of forces and interests. Since its inception, the Power 100 has aimed to map and document these forces and their shifts as clearly as possible. As a result, the list is founded on observation rather than judgements about who is best and who is worst. And you don’t get a crown, a robe, a prize or even a certificate for being number one.

The artworld’s expanding, fragmenting scene faces some big questions: beyond Big Money, there are Big Ideas to be fought over, about who art is for, as much as what it is for. At a time of constant muttering about the 1% and the other 99%, the artworld might be living proof that art really does imitate life.

View artreview.com and subscribe to the magazine here.

1. Carolyn Christov-Bakargiev

2. Larry Gagosian

3. Ai Weiwei

4. Iwan Wirth

5. David Zwirner

6. Gerhard Richter

7. Beatrix Ruf

8. Nicholas Serota

9. Glenn D. Lowry

10. Hans Ulrich Obrist & Julia Peyton-Jones

11. Sheikha Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al-Thani

12. Anton Vidokle, Julieta Aranda & Brian Kuan Wood (e-flux)

13. Cindy Sherman

14. Alain Seban & Alfred Pacquement

15. Adam D. Weinberg

16. Annette Schönholzer, Marc Spiegler & Magnus Renfrew

17. Marc Glimcher

18. Marian Goodman

19. Massimiliano Gioni

20. Jay Jopling

21. François Pinault

22. Klaus Biesenbach

23. Matthew Slotover & Amanda Sharp

24. Barbara Gladstone

25. RoseLee Goldberg

26. Eli & Edythe Broad

27. Patricia Phelps de Cisneros

28. Bernard Arnault

29. Nicholas Logsdail

30. Liam Gillick

31. Ann Philbin

32. Victor Pinchuk

33. Maja Hoffmann

34. Tim Blum & Jeff Poe

35. Marina Abramović

36. Dakis Joannou

37. Udo Kittelmann

38. Monika Sprüth & Philomene Magers

39. Matthew Marks

40. Gavin Brown

41. Damien Hirst

42. Rosemarie Trockel

43. Wolfgang Tillmans

44. Agnes Gund

45. Chus Martínez

46. Isa Genzken

47. Iwona Blazwick

48. Anne Pasternak

49. Sadie Coles

50. Daniel Buchholz

51. Toby Webster

52. Adam Szymczyk

53. James Lingwood & Michael Morris

54. William Wells & Yasser Gerab

55. Michael Ringier

56. Theaster Gates

57. Pussy Riot

58. Jeff Koons

59. Steve McQueen

60. Takashi Murakami

61. Boris Groys

62. Emmanuel Perrotin

63. Richard Chang

64. Tim Neuger & Burkhard Riemschneider

65. Slavoj Zizek

66. Thaddaeus Ropac

67. Chang Tsong-zung

68. Elena Filipovic

69. Tino Sehgal

70. Christian Boros & Karen Lohmann

71. Luisa Strina

72. Claire Hsu

73. José Kuri & Mónica Manzutto

74. Brett Gorvy & Amy Cappellazzo

75. Tobias Meyer & Cheyenne Westphal

76. Budi Tek

77. Walid Raad

78. Cuauhtémoc Medina

79. Massimo De Carlo

80. Bernardo Paz

81. Christine Tohme

82. Mario Cristiani, Lorenzo Fiaschi & Maurizio Rigillo

83. John Baldessari

84. Sheikha Hoor Al-Qasimi

85. Dasha Zhukova

86. Vasif Kortun

87. Anita & Poju Zabludowicz

88. Candida Gertler

89. Gisela Capitain

90. Carol Greene

91. Franco Noero & Pierpaolo Falone

92. Jacques Rancière

93. Miuccia Prada

94. Maureen Paley

95. Don, Mera, Jason & Jennifer Rubell

96. Paul Chan

97. Victoria Miro

98. Adriano Pedrosa

99. Johann König

100. Gregor Podnar

 

a assessoria MAM RIO INFORMA: Neste sábado, dia 6 de outubro, o MAM Rio inaugura exposição com trabalhos dos quatro finalistas do Prêmio Investidor Profissional de Arte (PIPA), os artistas Marcius Galan, Matheus Rocha Pitta, Rodrigo Braga e Thiago Rocha Pitta. Eles concorrem a R$ 120 mil, incluindo bolsa-residência na Gasworks,em Londres. Em sua terceira edição, o PIPA é uma iniciativa do MAM Rio e da Investidor Profissional Gestão de Recursos para valorizar a produção brasileira contemporânea. Os quatro artistas finalistas foram escolhidos pelo Conselho do Prêmio, integrado por Carlos Alberto Chateaubriand, Christiano Fonseca Filho, Flávio Pinheiro, Lucrécia Vinhaes, Luiz Camillo Osorio, Moacir dos Anjos e Roberto Vinhaes. A escolha foi feita com base no número de indicações recebidas pelo Comitê de Indicação, formado por 33 nomes, dentre críticos e curadores de arte, artistas, galeristas e colecionadores. Uma terceira comissão visitará a exposição, e escolherá o vencedor, que será anunciado no dia 8 de novembro de 2012. Os quatro finalistas concorrem a R$ 100 mil, incluindo uma bolsa-residência na prestigiosa instituição Gasworks, de Londres, que será conferido pelo Júri de Premiação. Os artistas concorrem ainda a R$ 20 mil, dados pelo Voto Popular, categoria na qual quem vota é o público visitante da exposição. O vencedor do prêmio do Voto Popular Exposição será anunciado no dia 5 de novembro de 2012. Como nas edições anteriores, os quatro finalistas são artistas que estão consolidando sua trajetória com grandes exposições e prêmios. Os irmãos gêmeos Matheus e Thiago Rocha Pitta, com carreiras independentes, já estiveram juntos em uma mesma exposição, mas nunca concorreram ao mesmo prêmio. Rodrigo Braga e Thiago Rocha Pitta estão na 30ª Bienal de São Paulo. Marcius Galan foi finalista do PIPA em 2010, e, assim como Matheus Rocha Pitta, participou da 29ª Bienal de São Paulo, em 2010. Envio abaixo o convite virtual. Esperamos vc! abs

Heart-stopping Frieze art fair unveiled

Modern-art institution returns to Regent’s Park with projects to include cooking with vermin and a gallery owner’s cardiac arrest

A visitor at the Frieze art fair

A Frieze artwork last year. This year there will be a Frieze Masters too for art from ancient times up to the turn of the last millennium. Photograph: Oli Scarff/Getty Images

One of the world’s most important modern art fairs will open in London next month and while a chef has been found to cook the vermin, a gallery owner is still being sought to feign having a heart attack.

Organisers of Frieze London have announced details of its 10th fair in Regent’s Park, which will include 175 galleries from 35 countries showing and selling works of art. There will also be talks, films, a sculpture park and a dizzying array of related exhibitions, functions and parties.

Frieze Projects is where the vermin and heart attack come in. The art fair’s curator, Sarah McCrory, revealed details of this year’s programme of artists’ commissions that will include food-related events from Cumbria’s Grizedale Arts and China’s Yangjiang Group.

One of those will involve Sam Clark, the chef of Moro, cooking up culled vermin, although McCrory said that would not necessarily be rats – more your Canada Goose and hairy bittercress.

Meanwhile, DIS – “a post-internet lifestyle magazine” – is planning overnight photoshoots that will include, separately, 20 breast-feeding women, African street sellers selling real Chanel bags and a kind of paramedic emergency for which, McCrory said, they are still trying to find a gallery owner to pretend having a heart attack.

The most radical departure for Frieze this year is that a brisk 10-minute walk from the contemporary fair will be, near the zoo, a new Frieze Masters fair showing and selling art from ancient times right up to the year 2000.

Matthew Slotover, Frieze co-director said some of the artists working today would be the Old Masters of 500 years’ time and the new fair would help “contextualise contemporary art in a really useful way”.

He added: “Collector-wise, I think it’s going to bring a lot more people to London. Because Frieze has been so contemporary, there hasn’t been something for everyone until now.”

 

• Frieze Art Fair takes place between 11-14 October in Regent’s Park, London

Hoje, sábado, às 16h, o MAM Rio realiza um encontro na exposição panorâmica de Angelo Venosa, com a presença do artista, do curador do museu, Luiz Camillo Osorio, e da crítica literária, ensaísta e professora na PUC-Rio, Flora Süssekind. Os encontros, que são dedicados a pensar o trabalho de Angelo Venosa, entre os vários enunciados que deram corpo à produção cultural a partir dos anos 1980, tem entrada franca. A exposição do artista pode ser vista até o dia 23 de setembro, no MAM Rio.

 

 

Texto da ANTONIA PELLEGRINO publicado no site da revista Serafina da Folha de São Paulo em 28/07/2012 – 22h43.

Oração ao novo carioca

O novo carioca é uma ideia, um desejo, um conceito criado pelo geógrafo Jailson de Souza para falar dos “riodejaneirenses” que estão reinventando a cidade. O próprio Jailson é um deles -nascido no Complexo da Maré, hoje morador do Flamengo, é doutor em sociologia da educação e fundador da ONG Observatório de Favelas.

Também é criador do Galpão Bela Maré, espaço de exibição de artes visuais em plena avenida Brasil, que teve sua primeira mostra, “Travessias”, realizada no final de 2011. Como Jailson, o novo carioca se caracteriza pela mobilidade.

O novo carioca nasce como antítese ao carioca clássico, aquele sujeito dominado pela nostalgia dos anos dourados que, nas palavras do geógrafo, “viu as favelas e seus moradores como o problema da cidade e se fechou em territórios restritos, perdendo a capacidade de circular física e socialmente”.

O novo carioca se tornará maioria, grita o otimismo de Jailson, pois neste ir e vir sem medo, de peito aberto, com a mão estendida para a amizade e o olhar curioso diante do outro, criam-se novas possibilidades de aprendizado e trocas -mais interessantes, ousadas e divertidas do que as dos clássicos.

O novo carioca é pós-cidade partida, transtúnel, off zona sul, além-zona norte. O novo carioca se move por uma cidade integrada, não segregada. O novo carioca, segundo Jailson, “busca afirmar sua liberdade pessoal ao mesmo tempo que deseja valorizar a diferença e a importância da igualdade e da dignidade para todos os seres”.

O novo carioca é um plano de ação para reinventar um Rio de Janeiro cosmopolita. O novo carioca vive o que há de melhor na cidade, na polis: a possibilidade do encontro fraterno, solidário, digno, acima de tudo humano, com os outros cidadãos do mundo urbano.

O novo carioca é a metáfora de um sujeito pronto para viver no Rio de Janeiro contemporâneo. E, para o velho carioca, aquele abraço.

Antonia Pelegrino