MC LDN #5

Maria do Carmo Pontes, a correspondente avançada do b®og em Londres (com foto e micro-perfil aí na barra lateral), está em São Paulo trabalhando na Bienal Internacional de Arte e arranjou um tempinho para mandar a quinta coluna MC LDN. Lá vai:









When forms become alive.
Sobre os trabalhos de Marina Weffort e Pedro Barateiro.
A curiosidade leva um aprendiz a desafiar seu conhecimento e tomar para si os poderes de seu mestre. Ele pega os aparatos do mestre e se atreve brincar de Autoridade. Tudo vai muito bem até que as coisas saem do controle, reconduzindo o aprendiz à sua sabedoria limitada e à insignificância de sua existência. O enredo é familiar, a história da ambição presente em 10 entre 10 mitos sobre o poder, de Sísifo a Fausto. Mas a história que interessa aqui é mais ingênua, atuada pelo queridinho em quadrinhos da Disney, Mickey Mouse, em Fantasia. Ele só queria se livrar do serviço, e, para isso, encantou uma vassoura, que virou várias vassouras, para que ela transportasse a água da fonte para o caldeirão de seu mestre.
A operação performada nos trabalhos de Marina Weffort (que está em cartaz até o dia 4 de outubro na galeria Marilia Razuk) e do português Pedro Barateiro (com trabalhos na 29a Bienal de São Paulo, que abrirá a partir do dia 21 de setembro), se assemelha, em certa medida, a do aprendiz de feiticeiro. Ambos tomam como ponto de partida materiais cotidianos, como copos, lápis e cadeiras e, relocando-os e combinando-os com outros materiais improváveis, os denotam de outros significados. Weffort vem desenvolvendo uma série de estantes de madeira, onde uma variedade de materiais como xícaras, pedras e papéis de ponto são encaixados lado a lado, negociando sua existência com o objeto próximo, escapando num lugar entre a simbiose e a individualidade. Competem na mesma medida em que se aceitam mutuamente. Barateiro opera sobretudo no registro do acúmulo, enfileirando cadeiras numa base de concreto ou articulando uma porção de lápis, formando estruturas geométricas, sempre demovendo os objetos de sua funcionalidade. No entanto, no percurso eles não se calam, mas o feitiço se torna contra o feiticeiro na medida em que ganham novas e poderosas vozes. E impressiona como ambos os artistas conferem movimento aos seus trabalhos apesar deles serem intrínsicamente estáticos.
O ready-made contemporâneo carrega em si o seu contexto (como um caramujo, que Marina apresenta em uma de suas obras). Mas, para além dessa tradição que prioriza a forma sobre o conteúdo, defendendo numa dialética de relações improváveis que “the medium is message”, Weffort e Barateiro parecem na mesma medida enfatizar o conteúdo e a forma. A sensação é que as formas ganharam vida, como a vassoura do simpático Rato, mas com a vida vem também a vontade própria. Os objetos parecem aceitar com subordinação sua nova condição, mas o fato de terem se deslocado adverte: agora eles podem tudo. Claro que podem fazer o caminho de volta, retornando às funções que lhes foram designadas por nascença mas, uma vez atravessada a fronteira, não há Autoridade que os faça voltar.
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  1. Fred Coelho said: