Paisagem Incompleta

texto do curador Jacopo Crivelli Visconti:
Paisagem incompleta 

Apesar do que o título da exposição poderia sugerir, as obras aqui reunidas não retratam românticas marinhas ao pôr-do-sol, montanhas nevadas ou vales floridos. Paisagem incompleta lida, de maneira apenas indireta, com a clássica tradição iconográfica da paisagem, que foi considerada, ao longo de séculos, um dos gêneros fundamentais da pintura, ao lado de outros como a natureza morta, o retrato e a pintura de história, segundo a conhecida classificação do teórico francês André Félibien des Avaux (1619-95)

O mar, as montanhas, os vales e as florestas que essas obras nos trazem são rarefeitos, despedaçados, fragmentados, por vezes reduzidos a formas que beiram a abstração, em outros casos condensados em um simples traço, ou em uma palavra: em uma idéia, enfim. É nesse sentido que, mesmo as mais legíveis, as que relutam em abrir mão de uma representação ainda identificável, devem ser consideradas paisagens incompletas: cabe sempre à imaginação do espectador completá-las, fazer com que vibre nelas a força da natureza.

Se, desde os tempos de Lascaux, os artistas sempre esperaram que os espectadores fossem seus cúmplices na tarefa de recriar o mundo, o caráter fragmentário dessas obras, e seu empenho em construir imagens e despertar sensações apenas por meio de alusões, citações e apropriações, as tornam retratos fiéis da pós-modernidade que tem, na incompletude, um de seus traços mais característicos. Talvez seja, esta paisagem incompleta, então, a mais realista, a única representação do mundo que podemos esperar.

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