4 perguntas ao novo curador do MAM
foto do site Maria-Brazil
Luiz Camillo está dando aulas na PUC hoje mas conseguiu uma brecha para responder umas perguntas por email. Lá vai:
1 – Como você ve o atual momento do MAM no cenário das artes plásticas brasileiras? Muitos acham que o museu vive uma crise, que já não tem a importância de outras épocas. Qual o seu diagnostico? Qual o grande desafio do MAM hoje?
O momento do MAM é reflexo do momento do Rio. Meu diagnóstico, todavia, é que é mais fácil transformar esta realidade do MAM, do que, por exemplo, a do futebol carioca. Muita coisa precisa ser feita, a primeira delas é tornar o museu mais acolhedor, pensar mais na recepção do público. Junto a isso, criar uma agenda mais propositiva de exposições que para se viabilizar precisa de captação. Dinheiro existe, há que se mostrar que ele ali é bem empregado e que dá visibilidade para quem investe. Não se muda o cenário da noite para o dia, mas pequenos sinais devem ser dados desde o primeiro momento. Quero também que os artistas sintam-se convidados a se mobilizarem e que terão ali uma interlocução digna e produtiva. Uma coisa é certa: o MAM tem história e uma excelente coleção (do museu + a do Gilberto); falta criar uma imagem mais oxigenada para se abrir horizontes de futuro. O sonho de qualquer museu é que as pessoas se dirijam a ele espontaneamente, sabendo que serão bem recebidos e com uma programação de qualidade.
2 – A cidade passará por mudanças na zona portuária, a Lapa já é uma realidade, a Praça Tiradentes dá sinais de revitalização. A Casa Daros está em obras e parece que o novo MIS, Pinacoteca do Município e Museu do Amanhã serao construidos de fato. Como o MAM se posiciona no meio desse cenário? Como você enxerga as conexões entre o MAM e a cidade?
Tudo que for feito é bom para o MAM. Investimento em cultura puxa mais investimento. Esta história da Pinacoteca, no entanto, independentemente de estar agora na curadoria do MAM, me parece uma enorme furada. É pior do que o Guggenheim, pois não tem nem a coleção deles por trás e nem a simbologia de novidade que haveria no tal projeto abortado. O nome já mostra que é uma idéia do passado. Pinacoteca é coisa do século XIX não do XXI; ficar copiando São Paulo é de um provincianismo anti-carioca. O MAM é o principal museu da cidade e todas as coleções que quiserem vir se agregar tenho certeza que serão bem vindas. Uma cidade que não cuida do seu museu de arte moderna não merece sediar uma olimpíada!
3 – Qual o público do museu? Que público você pensa em atrair para o museu?
O público do museu tem que ser trabalhado. Há que se abrirem novas frentes. Não pode ser um nicho das artes plásticas e sim um lugar de agregação dos vários segmentos da cultura carioca e brasileira. O público de dança, de teatro, de poesia, enfim, o público de arte tem que saber que ali é também a sua casa. Era assim no passado e iremos trabalhar para isso. O Frederico Coelho, que será meu assistente, fez o doutorado em letras sobre os escritos do Oiticica e o mestrado sobre música popular brasileira. É este universo ampliado que temos que resgatar, propor atividades combinadas, discussões que atravessem estes vários circuitos de criação. O exercício experimental é fermentado em um território poético comum e é isso que devemos viabilizar.
4 – Saiu na nota de hoje no Globo q você quer fortalecer as ações de educação e pesquisa no MAM. Fale um pouco sobre isso.
Esta resposta anterior já toca na pergunta sobre pesquisa e educação. O artista tem que perceber sua dimensão pedagógica, uma pedagogia não convencional. Além disso, o museu tem que ser uma mistura de laboratório e de escola, ou seja, é um lugar de experimentação e de formação. A atividade educativa com escolas está desmobilizada faz alguns anos e isso tem que mudar. São as escolas que habitam o museu durante a semana e criam um calor necessário para o visitante. Este calor é parte do que eu falava em relação ao acolhimento do museu. Há que se criar programas originais. Trabalhei no MAC com o Guilherme Vergara e quero muito desenvolver projetos com ele nesta área educativa. A educação e a pesquisa são braços fundamentais da curadoria. Outra coisa é este convênio que estou desenhando entre a PUC e o MAM. Sou professor da PUC de tempo contínuo, vou continuar dando aula na graduação e na pós-graduação, orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Acho que é uma parceria interessante para as duas instituições. Os alunos da PUC – de vários departamentos – podem ir para o museu fazer estágio, ajudar no trabalho e ganhar experiência. Quero incentivar também a discussão de arquitetura e design, além de criar um grupo de estudo em curadoria e para isso vou procurar alunos de pós-graduação e professores da PUC. Enfim, teremos muito trabalho e contamos com o apoio não só do meio de arte, mas de todos os cariocas.