Assembléia Geral
16h30, sábado, 9 de maio, ateliê da Rua Joaquim Silva, 71, Lapa, Rio de Janeiro, 18 pessoas se acomodam nas cadeiras do térreo. O pesquisador e ensaísta Frederico Coelho abre os trabalhos fazendo uma breve apresentação da ASSEMBLÉIA GERAL, seu formato, periodicidade, motivações e objetivos. Na sequência, inicia sua fala baseada na tese de doutorado: “Livro ou Livro-me: os escritos babilônicos de Hélio Oiticica (1971-1978)”. Em 40 minutos, Frederico apresenta no telão uma série de documentos que Hélio produziu em NY e que revelam uma quantidade insana de textos e mais textos. A turma mergulha de cabeça no universo de Oiticica: as referências musicais e literárias, a obsessão em registrar tudo minuciosamente, o pensamento, as leituras e a fala virando escrita, o nascimento das Cosmococas, a correspondência e a amizade com os irmãos Campos, Waly Salomão, Silviano Santiago e Carlos Vergara.
17h15, a jornalista Helena Aragão assume o microfone para uma apresentação sobre o Overmundo, o primeiro site de cultura brasileira da internet 2.0. Helena explica as ferramentas, possibilidades e resultados atingidos até agora, volta ao passado para contar também como surgiu, quem criou e abre o jogo revelando quantos trabalham, quanto custa e quem patrocinou. Ao fim, Helena falou do seu desligamento do projeto e das mudanças que acabaram de ser implementadas em prol de simplificar a participação dos usuários.
18h, os 40 lugares estão ocupados. Começo a entrevista com o escritor e compositor Fausto Fawcett perguntando sobre o início de suas experimentações artísticas ainda como aluno da PUC-Rio, no fim da década de 70. Fausto fala brevemente das radionovelas e das performances com som amplificado, projetores de slides e super 8,¬¬¬¬ e sai enfileirando diversas outras histórias: Robôs Efêmeros, Natasha Wertmuller, Dallas Melrose, butique Paulo Francis, Santa Clara Poltergeist, Império dos Sentidos, Falange Moulin Rouge, Cidade Vampira, Quinta dos Infernos, Katia Flavia, Garota Sangue Bom, Rio 40 graus, Básico Instinto e Copacabana Lua Cheia. Uma avalanche de espetáculos, discos, livros e casos de bastidores que enfeitiçam e atormentam a audiência. 19h30, a primeira edição da ASSEMBLÉIA chega ao fim, as cadeiras são recolhidas, a luz muda e o Dejota Charutinho assume o comando dos computadores.
Se de início não havia um planejamento de conectarmos as falas ao redor de um eixo comum, elas acabaram convergindo em torno de uma mesma direção, tornando a primeira ASSEMBLÉIA GERAL uma tarde/noite de reflexão sobre obsessões em se conectar, em interagir com o mundo, em expandir os espaços e sentidos da arte e da vida.
Esclarecimento: ASSEMBLÉIA GERAL é um fórum plural de idéias que estou organizando com Frederico Coelho no ateliê da Lapa. Ponto de encontros e conversas onde, ao redor de temas e questões amplas da contemporaneidade, novas cabeças e novos projetos possam estar frente a frente de forma criativa.
Raul Mourão
maio de 2009
Texto publicado no número 4 da revista DASartes.