Mistura

ROMARIO é o nome da exposição. Um trocadilho com o nome das 2 cidades onde moram os artistas em cartaz. Penso Roma e Rio e o mar no meio, penso Rio e Roma e uma terceira cidade inventada. Um mash-up urbano, uma mistura, uma fusão. Penso na brincadeira com o nome do grande ídolo e jogador de futebol. Então tudo parece piada e o humor contamina o pensamento. “Romário é o cara, Romário é o cara” a frase não me sai da cabeça. Talvez o futebol (que Giancarlo jogou profissionalmente no Cosmos de NY) seja um dos temas da exposição. Estou no taxi a caminho da galeria para acompanhar a montagem, conversar com os artistas e conhecer melhor os trabalhos que serão apresentados. Chove no feriado e o motorista aumenta o som, é um grito de estádio-guerra ofendendo torcedores, jogadores e diretoria do time adversário. O centro histórico está vazio e escuro. O motorista coloca agora o hino do Flamengo na versão funk do Mc Frank aos berros. O taxi me larga na Rua Primeiro de Março. Erro o caminho e depois acerto, chego na Progetti (a galeria mais bem localizada do Brasil) e as portas verdes de madeira estão fechadas. Lá dentro as pessoas gritam em italiano. Na fachada uma bola de futebol luminosa. Quando entro Marcos está sentado na pequena poltrona azul.

Primeiro andar. Um pedestal enorme aponta para cima, a princípio parece uma base gigante sem escultura, uma base só escultura como Faca só lamina de João Cabral (ou seria uma Faca só cabo?). Penso também no cachorro sem corpo de Eduardo Coimbra, na coluna infinita de Brancusi e nas falsas colunas de Jose Spaniol. Ao meu lado 3 pequenos bancos foram forrados com folhas de ouro e ganharam o nome de Loro (que em Italiano significa eles). O precário, o improviso, o ouro. Um pequeno barco-Bolinha navega parado na parede a minha esquerda. A deriva pede por socorro e sinaliza sua solidão piscando uma lâmpada verde. Barco-brinquedo sem mar, sem som, sem sal.

Segundo andar. O topo do imenso pedestal/base está ocupado por um balde onde pinga água sem parar. Quatro cadeiras amarelas no chão, paredes e teto. Como se tivessem sido deslocadas por rotação. Ao fundo as fotos onde agora tudo é chão. Vertigem. A exposição acaba em férias numa praia no sul da Itália. Rio na sunga de Marcos, Roma na camisa de Giancarlo.

Estou no centro do Rio e tento enxergar Roma. Todos os trabalhos agora apresentados na exposição foram realizados a 4 mãos. Trabalhos que combinam prazer, afeto, e afinidades. Marcos e Giancarlo se confundiram em um só para produzir obras impregnadas de alteridade e desprovidas da idéia de autoria individual. Vejo Rio, Roma, Giancarlo, Marcos, arte e diversão. Tudo misturado.

Preciso ir para casa, prometi um texto para o catálogo. A tela branca do computador é a próxima parada.

Giancarlo Neri e Marcos Chaves na Galeria Progetti
Abertura dia 25 de abril, sábado, 15h – 19h.
Visitação de 28 a abril a 13 de junho.
Travessa do Comércio 22 (próximo ao Arco dos Teles)
Rio de Janeiro, Brazil
Telefone: 22219893
E-mail: info@progettirio.com

2 comments
  1. juliana davies said:
  2. Tiago Mesquita said: